• Nenhum resultado encontrado

A abordagem que agora se inicia aos processos de partilha interorganizacional do conhecimento e de utilização intraorganizacional do conhecimento partilhado é introduzida considerando o seu contributo e impacto no valor instrumental das redes interorganizacionais (Balestro, 2006), quer estas tenham ou não como objetivo de formação o desenvolvimento de processos de gestão do conhecimento. Considera-se, assim, que subjacente ao reconhecimento (ou perceção) do valor instrumental das redes interorganizacionais reside não só o comprometimento dos seus membros, como também a existência de ligações de partilha de conhecimento e a utilização do conhecimento partilhado (Balestro, 2006; Ireland et al., 2002; Meier, 2011). Como referiram Chan et al. (2012) e Meier (2011), o valor e sucesso das redes não reportam apenas à dimensão de quanto conhecimento foi partilhado, mas também à valência que se prende com a sua utilização por parte dos parceiros. No presente trabalho, o valor instrumental das redes é definido como o valor acrescentado trazido (ou criado) por uma rede interorganizacional aos seus membros (Balestro, 2006; Hansen, Podolny, & Pfeffer, 2001; Inkpen, 2000; Ireland et al., 2002; Whetten & Leung,

1979). Traduz os benefícios e ganhos reconhecidos pelos membros integrantes, que representam assunções ou linhas orientadoras da missão global de uma rede interorganizacional e que podem envolver valências de acesso a novos mercados (nacionais e internacionais), recursos financeiros e de conhecimento, legitimidade e visibilidade (nacional e internacional), etc. Como referiram Balestrin e Verschoore (2010) e Pahalad, Ramaswamy, e da Cunha Serra (2004), para que as redes interorganizacionais sejam definidas e identificadas como contextos de aprendizagem, enriquecedores e contributivos de processos de melhoria, desenvolvimento e inovação, é fundamental criarem e fomentarem o acesso e a partilha de conhecimento entre os seus membros.

A partilha de conhecimento tem sido apontada por vários autores (e.g., Anand & Khanna, 2000; Arikan, 2009; Balestrin et al., 2005; Berg & Friedman, 1981; Gray, 2003, 2006; Kale et al., 2000; Khamseh & Jolly, 2008; Kogut, 1988; Meier, 2011; Soekijad & Andriessen, 2003; Wittmann et al., 2008) como o principal processo impulsionador da formação e manutenção de relações entre organizações, bem como facilitador de melhores resultados ao nível da aprendizagem e inovação. Por exemplo, Wittmann et al. (2008) verificaram que a troca de experiências e informações entre empresários constitui o fator apontado como principal impulsionador da criação de relações de associativismo, ao qual se seguem os fatores de redução de custos das empresas e o acesso a inovação e tecnologia. Adicionalmente, tal como se constatou pela revisão de literatura conduzida, o domínio que se prende com a partilha interorganizacional de conhecimento tem sido alvo de um crescente interesse por parte dos investigadores (Alves et al., 2013; Easterby-Smith et al., 2008; Khamseh & Jolly, 2008; Schildt, Keil, & Maula, 2012). Este processo de gestão do conhecimento desenvolvido no contexto de redes interorganizacionais define-se como mútuo, contínuo e interativo (Mu et al., 2008). Faculta potencialmente aos membros o acesso a conhecimento não apenas novo, como também redundante, sendo percebido e identificado como um fator que aumenta a possibilidade de ativação do processo de utilização desse conhecimento externo em prol do estímulo à mudança e melhorias intraorganizacionais importantes e do desenvolvimento das bases de conhecimento individuais (Ahuja, 2000; Corno et al., 1999; Hackney et al., 2005; Inkpen & Tsang, 2005; Mariotti, 2011; Pardini et al., 2009; Peña, 2002; Phelps et al., 2012).

Como referiram alguns autores (e.g., Belso-Martínez et al., 2011; Inkpen, 2000; Inkpen & Dinur, 1998; Inkpen & Pien, 2006; Kogut & Zander, 1992; Mariotti, 2011; Muthusamy & White, 2005; Nielsen, 2005; Rothaermel & Alexandre, 2009), as organizações com um nível mais elevado na sua capacidade de aprendizagem, refletido também no nível de atividade relacional que desenvolvem na rede, podem reestruturar o conhecimento existente, combinar o seu conhecimento interno com o conhecimento externo, transformar e expandir as suas bases de conhecimento. Preconiza-se assim que quanto mais central for uma organização na rede (i.e., com mais ligações de partilha de conhecimento), maior será o acesso a conhecimento em termos de quantidade, qualidade e diversidade (Corno et al., 1999; Franco & Barbeira, 2009; McLeod, 2010; Nielsen, 2005; Phelps et al., 2012), o que aumenta a probabilidade de utilização interna do conhecimento advindo de fontes externa (Nielsen, 2005; Phelps et al., 2012; Whetten & Aldrich, 1979).

Reafirma-se uma vez mais que a utilização do conhecimento partilhado interorganizacionalmente constitui um passo importante no âmbito da aquisição e reconhecimento de vantagens e benefícios trazidos às organizações através da sua integração em redes, bem como da avaliação à eficácia dessa mesma partilha (Alves et al., 2013; Ambos & Ambos, 2009; Bierly et al., 2009; Brachos et al., 2007; Chai, Yap, & Wang, 2011; Chan et al., 2012; Ghobadi & D’Ambra, 2011; Minbaeva et al., 2003; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Schildt et al., 2012). Neste sentido, os processos de partilha e utilização do conhecimento, considerando no presente trabalho o primeiro ao nível interorganizacional e o segundo ao nível intraorganizacional, encontram-se intimamente relacionados em prol da eficiência quer individual quer coletiva (Basadur & Gelade, 2006; Nesheim et al., 2011; Pais & dos Santos, 2015; Pardini et al., 2009). As palavras de Ghobadi e D’Ambra (2011) reflectem esta mesma compreensão: “a mere consideration of the extent of knowledge sharing without considering whether the shared knowledge was useful or applicable might bias the realistic results” (p. 311). Segundo Chai et al. (2011), “knowledge sharing only becomes an advantage if it can be applied and used” (p. 6). Neste âmbito, a utilização do conhecimento partilhado define-se pela internalização e aplicação do conhecimento partilhado na rede interorganizacional, considerando os benefícios, vantagens e mais valias daí advindos e/ou criados, quer pelas melhorias (e.g., decisões estratégicas; qualidade de produtos/serviços) (i.e., exploitation) quer pela criação de novas ou adicionais valências organizacionais (e.g., tecnologias de produção; mercados) (i.e., exploration).

Embora a literatura advogue e enfatize que após a partilha interorganizacional de conhecimento, este é (potencialmente) utilizado na obtenção de um determinado resultado, a realidade pode situar-se, contudo, numa dimensão que exige, para além de verificação empírica, um maior aprofundamento compreensivo (Cricelli & Grimaldi, 2010; Mariotti, 2011; McFadyen, Semadeni, & Cannella, 2009; Tortoriello & Krackhartdt, 2010). Neste âmbito, apresentam-se as reflexões tecidas que questionam a assumção de que a partilha de conhecimento com fontes externas se traduz (de forma quase inquestionável) na existência da sua utilização interna. A este propósito, apresentam-se e salientam-se três principais dimensões identificadas, igualmente relevantes para a intervenção e investigação no domínio das redes interorganizacionais de conhecimento.

Em primeiro lugar, em especial a literatura mais recente salienta que o acesso a mais e diverso conhecimento não garante (ou não é suficiente para garantir) a utilização deste pelas organizações que entre si têm ligações de partilha de conhecimento (Bierly et al., 2009; Cricelli & Grimaldi, 2010; Inkpen, 2000; Jiang & Li, 2008; Mariotti, 2011; McFadyen et al., 2009; Nesheim et al., 2011; Obstfeld, 2005; Tortoriello & Krackhardt, 2010). As evidências empíricas apresentadas na investigação de Mariotti (2011), onde a autora estudou as relações de partilha de conhecimento (e seus resultados) entre empresas do sector do automobilismo desportivo, vão neste mesmo sentido. Como referiram Mariotti (2011) e Tortoriello e Krackhardt (2010), ter novas ideias a partir de conhecimento disponibilizado e partilhado com fontes externas não significa necessariamente que a sua utilização se efetive.

Em segundo lugar, a literatura revista faculta um conjunto compreensivo de dimensões que procura trazer inteligibilidade ao processo de (não) utilização intraorganizacional do conhecimento partilhado interorganizacionalmente. Deste modo, o processo de utilização do conhecimento não deve ser desvinculado

da capacidade dos parceiros para reconhecerem e assimilarem o conhecimento com valor em áreas diversas e específicas de especialização (i.e., capacidade de absorção organizacional) (Cricelli & Grimaldi, 2010), diferindo esta de organização para organização, bem como de situação para situação (Snyman & Kruger, 2004). Em interligação com esta capacidade, encontra-se o conhecimento prévio detido pelas organizações, que se constitui como uma base angular para o valor atribuído ao conhecimento externo e sua utilização efetiva (e.g., Bierly et al., 2009; Boschma & Ter Wal, 2007; Cohen & Levinthal, 1990; Escribano et al., 2009; Inkpen, 2000; Inkpen & Pie, 2006; Khamseh & Jolly, 2008; Lane & Lubatkin, 1998; Nielsen, 2007; Nieto & Quevedo, 2005; Powell et al., 1996; Simonin, 1999; Zahra & George, 2002). Nas palavras de Powell et al. (1996), “knowledge facilitates the use of other knowledge; what can be learned is crucially affected by what is already know” (p. 120). Neste âmbito, o papel desempenhado pelos boundary-spanners deve ser igualmente enfatizado, na medida em que são os atores responsáveis não apenas por manter as ligações externas, como também por trazer para a organização o conhecimento partilhado e adquirido externamente. Como afirmaram Chai et al. (2011), “the knowledge transferred may not benefit the receiving organization if other employees who can put the knowledge transferred into good use are unaware of or have no access to the knowledge transferred” (p. 6). As considerações tecidas por Verburg e Andriessen (2011) vão também neste sentido ao apontarem que um dos problemas das redes de conhecimento reside no facto de o conhecimento aprendido ficar limitado ao conjunto de pessoas envolvidas. Segundo Sammara e Biggiero (2008), um fator que muito pode contribuir para as mais valias e resultados advindos da partilha interorganizacional de conhecimento pela utilização que estas lhe dão é o grau de heterogeneidade da base de conhecimento e de competências dos indivíduos que desempenham o papel de boundary-spanners77 (cf. Aiken & Hage, 1968;

Aldrich & Herker, 1977; Evan, 1965; Friedman & Podolny, 1992; Gray, 2006; Guetzkow, 1966; Mindlin & Aldrich, 1975; Schermerhorn, 1976; Van de Ven, 1976). As considerações tecidas por Cohen e Levinthal (1990), a este propósito, vão no mesmo sentido.

A literatura tem vindo ainda a destacar a necessidade de coexistência de mecanismos intraorganizacionais que facilitem e apoiem a disseminação do conhecimento adquirido interorganizacionalmente, no sentido de serem criadas e obtidas mais valias internas associadas à partilha de conhecimento entre organizações (e.g., Antonelli, 2005; Antonelli et al., 2008; Belso-Martínez et al., 2011; Chai et al., 2011; Chen et al., 2006; Cohen & Levinthal, 1990; Deci & Ryan, 2000; Dyer & Hatch, 2006; Easterby-Smith et al., 2008; Gagné, 2009; Ireland et al., 2002; Khamseh & Jolly, 2008; Ko, Kirsch, & King, 2005; Mariotti, 2011; Nesheim et al., 2011; Peña, 2002; Zahra & George, 2002; Zhao & Anand, 2009). Neste âmbito, alguns autores (e.g., Chai et al., 2011; Jiang & Li, 2008; Mariotti, 2011) salientaram a implementação de estratégias e processos de integração, (re)conciliação e (re)combinação do conhecimento acedido a partir das ligações externas com aquele que atualmente já possuem nas suas bases específicas de

77 No âmbito intraorganizacional, a considerável literatura que aborda os fatores catalisadores do processo de partilha de

conhecimento tem identificado e avaliado empiricamente um conjunto de características individuais dos colaboradores (e.g., Cabrera et al., 2006; Chennamaneni et al., 2011; Joia & Lemos, 2010; Lilleoere & Hansen, 2011; Matzler, Renzl, Müller, Herting, & Mooradian, 2008; Riege, 2005; Van Den Hooff, Schouten, & Simonovski, 2012; Vuori & Okkonen, 2012; Wang & Noe, 2010; Witherspoon et al., 2013; Zawawi et al., 2011). Ao nível interorganizacional, verifica-se a falta de literatura quer teórica quer empírica que permita compreender melhor as características e competências dos boundary-spanners, passíveis de facilitar os processos de partilha interorganizacional e utilização intraorganizacional de conhecimento.

conhecimento. Deste modo, estimula-se a criação de novo conhecimento, a sua conversão na melhoria e produção de bens e serviços, bem como a sua tradução na melhoria e criação de novos procedimentos organizacionais e formas de trabalhar (e.g., Bierly et al., 2009; Cohen & Levinthal, 1990; Jiang & Li, 2008; Nesheim et al., 2011; Nonaka & Takeuchi, 2005; Song et al., 2005; Sun, 2010; Verburg & Andriessen, 2011). Adicionalmente, reporta-se a necessidade de este conhecimento ser alvo de partilha e difusão no interior das organizações (e.g., Chai et al., 2011; Chen et al., 2006; Khamseh & Jolly, 2008; Zahra & George, 2002). Antonelli et al. (2008), Cohen e Levinthal (1990) e Easterby-Smith et al. (2008) referiram a necessidade de implementar e desenvolver esforços específicos que passam por investimentos em processos e infraestruturas de comunicação. Zhao e Anand (2009) reportaram a necessidade de atender não só às condições estruturais (e.g., níveis hierárquicos e flexibilidade da estrutura de decisão; rede de intranet, groupware, sistemas tecnológicos de informação e comunicação), como também às condições culturais

(cultura orientada para o conhecimento e aprendizagem; cultura empreendedora e cooperativa) enquanto mecanismos que permitem colmatar os desafios de comunicação e coordenação. Chai et al. (2011) e Zahra e George (2002) consideraram a relevância de mecanismos de integração social não só formais (e.g., infraestruturas e processos de comunicação), como também informais (e.g., redes internas de conhecimento).

O valor acrescentado e trazido pelo acesso e contacto com bases de conhecimento externas através de redes interorganizacionais de conhecimento parece estar igualmente dependente de uma estratégia global de gestão do conhecimento por parte das organizações participantes, onde são concebidas, implementadas e equilibradas práticas formais e informais quer ao nível externo quer interno (e.g., Belso-Martínez et al., 2011; Ireland et al., 2002; Peña, 2002). Nas palavras de Peña (2002), “an integrated knowledge management framework cannot be complete without any of the two perspectives (i.e., internal and external)” (p. 473). Este aspecto é refletido na literatura como fundamental não só ao nível da investigação teórica e empírica, como também ao nível interventivo e operacional das organizações. Por exemplo, Belso-Martínez et al. (2011) verificaram que os recursos internos exercem efeitos de mediação na relação entre os recursos externos e o desempenho organizacional. Para além de terem concluído que os recursos externos (particularmente o conhecimento) são importantes para o crescimento das organizações estudadas, os autores verificaram que os investimentos internos têm uma maior probabilidade de trazer benefícios quando esses esforços iniciais são complementados com recursos externos apropriados. Como os autores afirmaram, “internal and external resources should not be conceived as strictly independent spheres, conversely they are strongly interrelated” (p. 749). Em igual sentido, alguns autores (Boschma & Ter Wal, 2007; Caloghirou, Kastelli, & Tsakanikas, 2004; Chai et al., 2011; Hansen & Oetinger, 2001; Ireland et al., 2002; Rothaermel & Alexandre, 2009; Schroeder, Bates, & Junttila, 2002) defenderam que os gestores devem procurar equilibrar os seus esforços entre a construção de ligações interorganizacionais e a criação de mecanismos internos capazes de facilitar a utilização do conhecimento partilhado, na medida em que as capacidades internas e o conhecimento externo complementam-se e não conseguem substituir-se mutuamente. Como referiram Antonelli et al. (2008), quanto maior a rede de ligações externas de conhecimento, maior deve ser a complementariedade da capacidade e conhecimento internos. Por sua vez, é

através deste equilíbrio e complementariedade que uma organização é capaz de compreender e (re)combinar capacidades e conhecimentos externos. Este(s) processo(s) exige(m) inevitavelmente esforços e recursos significativos (e.g., Hansen, 1999; Inkpen, 2000; Mariotti, 2011; Rothaermel & Alexandre, 2009).

Em terceiro e último lugar, a literatura tem refletido, ainda que de forma ténue, os problemas que se podem colocar relativamente à qualidade do conhecimento partilhado, nomeadamente no que se refere à sua relevância, validade ou veracidade (Easterby-Smith et al., 2008; Gorla, Somers, & Wong, 2010; Steinel et al., 2010; Ho, Hsu, & Lin, 2011; Minbaeva et al., 2003; Nesheim et al., 2011; Pais & dos Santos, 2015). Como afirmam Pais e dos Santos (2015), “there is a possibility of the knowledge shared being of poor quality (useless) or even fake” (p. 291). A partilha, disponibilização e acesso a conhecimento de qualidade duvidosa coloca assim em causa a sua potencial utilidade, assim como a sua utilização efetiva. Atendendo à valência apresentada, menciona-se desde já que no presente trabalho a confiança interorganizacional constitui um fator determinante para a utilização intraorganizacional do conhecimento partilhado entre organizações (cf. secção 3.2.1.3. do presente capítulo).

3.2.1. Fatores Catalisadores

A literatura tem vindo a dar particular atenção às condições e fatores que facilitam a cooperação interorganizacional (Connell & Voola, 2007; Khamseh & Jolly, 2008; McLeod, 2010; Skyrme, 1999; Van Wijk et al., 2008), sendo identificada como uma importante área de investigação (Easterby-Smith et al., 2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008). Considerando especificamente os processos de partilha interorganizacional de conhecimento e de utilização do conhecimento partilhado, é possível reunir fatores que são apontados como catalisadores importantes da sua eficácia e eficiência.

O reconhecimento de uma ampla dispersão da literatura conduziu à necessidade de identificar, recolher e categorizar os fatores catalisadores da partilha e utilização de conhecimento envolvidos em contextos interorganizacionais. A grelha tipológica construída procura reunir compreensivamente a informação e conhecimento neste âmbito e resulta da revisão de literatura empreendida, bem como das abordagens apresentadas por alguns autores, especificamente: Easterby-Smith et al., 2008; Ko et al., 2005; Meier, 2011; Van Wijk et al., 2008. Desenvolveram-se, assim, cinco principais categorias de fatores catalisadores, nomeadamente: (i) fatores do conhecimento; (ii) fatores individuais; (iii) fatores organizacionais; (iv) fatores relacionais; e (v) fatores da rede interorganizacional. Cada categoria representa assim a natureza do conhecimento, as características específicas individuais dos atores que desempenham a função boundary-spanning, das organizações, das relações entre organizações e da rede. As cinco categorias resultam de um agrupamento de fatores de acordo com a sua similiaridade.

O Quadro 3.1 apresenta a tipologia construída, considerando as categorias de fatores, os fatores passíveis de ser enquadrados em cada categoria, bem como os autores que reportam os fatores apresentados.

Quadro 3.1

Tipologia de Fatores Catalisadores da Partilha Interorganizacional de Conhecimento e Utilização do Conhecimento Partilhado

Categorias Fatores Fontes bibliográficas

Fatores do conhecimento

Natureza do conhecimento Balestrin (2005); Bierly et al. (2009); Chen (2004); Dyer e Hatch (2006); Easterby-Smith et al. (2008); Evangelista e Hau (2009); Fey e Birkinshaw (2005); Hau e Evangelista (2007); Inkpen (2000); Inkpen e Dinur (1998); Inkpen e Pien (2006); Ireland et al. (2002); Khamseh e Jolly (2008); Meier (2011); Mentzas et al. (2006); McEvily e Marcus (2005); McLeod (2010); Narteh (2008); Nielsen (2005); Simonin, 1999; Van Wijk et al. (2008); Williams (2007); Zhao e Anand (2009).

Conteúdo do conhecimento Child (2001); Easterby-Smith et al. (2008); Khamseh e Jolly (2008); Minbaeva et al. (2003); Nesheim et al. (2011); Oxley e Wada (2009).

Fatores individuais

Características e competências dos boundary-spanners

Chai et al. (2011); Easterby-Smith et al. (2008); Sammara e Biggiero (2008).

Fatores organizacionais

Antiguidade organizacional Bell e Zaheer (2007); Chan et al. (2012); Gray (2006); Van Wijk et al. (2008).

Antiguidade de integração na rede

Bell e Zaheer (2007).

Base de conhecimento Bierly et al. (2009); Boschma e Ter Wal (2007); Chen et al. (2006); Child (2001); Cohen e Levinthal (1990); Giuliani e Bell (2005); Inkpen (2000); Inkpen e Pien (2006); Ireland et al. (2002); Khamseh e Jolly (2008); Ko et al. (2005); Lane e Lubatkin (1998); Nielsen (2005, 2007); Powell et al. (1996); Schoenmakers e Duysters (2006); Simonin (1999); Sun (2010).

Capacidade de absorção organizacional

Bierly et al. (2009); Boschma e Lambooy (2002); Boschma e Ter Wal (2007); Carlsson (2001, 2003); Chen (2004); Child (2001); Cohen e Levinthal (1990); Cricelli e Grimaldi (2010); Dyer e Hatch (2006); Dyer e Singh (1998); Easterby-Smith et al. (2008); Fey e Birkinshaw (2005); Giuliani (2007); Giuliani e Bell (2005); Gray (2006); Hau e Evangelista (2007); Huggins (2009); Inkpen e Pien (2006); Ireland et al. (2002); Jiang e Li (2008); Khamseh e Jolly (2008); Ko et al. (2005); Kumar e Nti (1998); Lan e Zhangliu (2012); Lane e Lubatkin (1998); Lane et al. (2001); Lane et al. (2006); Larsson et al. (1998); Lavie (2006); Lin et al. (2009); Meier (2011); Mowery et al. (1996); Nielsen (2005); Nieto e Quevedo (2005); Norman (2004); Østergaard (2009); Phelps et al. (2012); Rejeb-Khachlouf et al. (2011); Rothaermel e Alexandre (2009); Rothaermel e Hess (2007); Schoenmakers e Duysters (2006); Shenkar & Li (1999); Tsai e Wu (2011); Van Wijk et al. (2008); Zahra e George (2002); Zhao e Anand (2009).

Comprometimento para com a rede interorganizacional

Büchel e Raub (2002); Hackney et al. (2005); Mavondo e Rodrigo (2001); Peña (2002); Provan e Kenis (2008); Provan, Veazie, Staten, & Teufel-Shone (2005); Wu e Cavusgil (2006).

Dimensão organizacional Belso-Martínez et al. (2011); Bierly et al. (2009); Boschma e Ter Wal (2007); Chan et al. (2012); Chen et al. (2006); Cohen e Levinthal (1990); Huggins et al. (2012); Gray (2006); Meier (2011); Norman (2002, 2004); Phelps et al. (2012); Simonin (2004); Sparrow (2001); Van Wijk et al. (2008).

Categorias Fatores Fontes bibliográficas Fatores organizacionais

Experiências prévias em redes interorganizacionais

Bierly et al. (2009); Gulati (1995); Lane e Lubatkin (1998); Lavie e Rosenkopf (2006); Pardini et al. (2009); Powell et al. (1996); Simonin (1997); Zahra e George (2002).

Localização geográfica Bell e Zaheer (2007). Motivação para partilhar

conhecimento

Chen et al. (2006); Easterby-Smith et al. (2008). Orientação para o

conhecimento e aprendizagem

Chan et al. (2012); Hamel (1991); Hau e Evangelista (2007); Inkpen (1998a); Inkpen e Dinur (1998); Khamseh e Jolly (2008); Meier (2011); Norman (2004); Pérez-Nordtvedt et al. (2008); Simonin (1999); Wu e Cavusgil (2006); Zhao e Anand (2009).

Postura estratégica Bierly et al. (2009); Fey e Birkinshaw (2005); Zhao e Anand (2009).

Processos e práticas de gestão do conhecimento

Antonelli (2005); Antonelli et al. (2008); Belso-Martínez et al. (2011); Chai et al. (2011); Chen et al. (2006); Deci e Ryan (2000); Dyer e Hatch (2006); Easterby-Smith et al. (2008); Gagné (2009); Ireland et al. (2002); Khamseh e Jolly (2008); Ko et al. (2005); Mariotti (2011); Nesheim et al. (2011); Peña (2002); Zahra e George (2002); Zhao e Anand (2009). Recursos financeiros Bierly et al. (2009); Boschma e Lambooy (2002); Cohen e

Levinthal (1990).

Sector de atividade Chai et al. (2011); Rowley, Behrens, e Krackhardt (2000). Fatores relacionais

Confiança interorganizacional Archer e Wang (2002); Becerra et al. (2008); Beesley (2004); Bengtsson et al. (2010); Birru (2011); Carlsson (2001, 2003); Chai et al. (2011); Chen (2004); Cheng, Yeh, e Tu (2008); Connell e Voola (2007); Corno et al. (1999); Cross et al. (2000); Dahl e Pedersen (2005); Das e Teng (1998); Dyer e Hatch (2006); Dyer e Nobeoka (2000); Dyer e Singh (1998); Easterby-Smith et al. (2008); Evangelista e Hau (2009); Gulati (1995); Hansen (1999); Huppé e Creech (2012); Inkpen (2000); Inkpen e Dinur, (1998); Inkpen e Curral (1998); Inkpen e Pien (2006); Inkpen e Tsang (2005); Ireland et al. (2002); Jiang e Li (2008); Kale et al. (2000); Khamseh e Jolly (2008); Kitaoka et al. (2011); Ko et al. (2005); Lane et al. (2001); Lee e Cavusgil (2006); Levin & Cross (2004); Li (2005); Lippert (2007); Mavondo e Rodrigo (2001); McEvily e Marcus (2005); McLeod (2010); Meier (2011); Mu et al. (2008); Muthusamy e White (2005); Narteh (2008); Nielsen (2005, 2007); Niu (2010); Norman (2004); Pérez-Nordtvedt et al. (2008); Phelps et al. (2012); Powell (1990); Powell et al. (1996); Provan e Kenis (2008); Rindfleisch e Moorman (2001); Uzzi (1996, 1997); Van Wijk et al. (2008); Zaheer, McEvily, e Perrone (1998).

Frequência e duração das interacções entre os membros

Chan et al. (2012); Connell e Voola (2007); Dyer e Hatch (2006); Dyer e Singh (1998); Easterby-Smith et al. (2008); Evangelista e Hau (2009); Jiang e Li (2008); Kale et al. (2000); Khamseh e Jolly (2008); Khanna (1998); McEvily e Marcus (2005); Meier (2011); Nielsen (2005); Peña (2002); Phelps et al. (2012); Simonin (1999); Van Wijk et al. (2008); Williams (2007).

Relações prévias entre parceiros

Inkpen (1998a; 1998b; 2000); Ireland et al. (2002); Kale et al. (2000); Khamseh e Jolly (2008); Muthusamy e White (2005); Nielsen (2005, 2007); Norman (2004); Sampson (2004, 2005); Schoenmakers e Duysters (2006).

Categorias Fatores Fontes bibliográficas Fatores relacionais

Sobreposição competitiva Chen (2004); Child (2001); Easterby-Smith et al. (2008); Hamel (1991); Inkpen (2000); Khamseh e Jolly (2008); Khanna et al. (1998); Kogut (1989); Meier (2011); Mowery et al. (1996); Muthusamy e White (2005); Nielsen (2005, 2007); Schoenmakers e Duysters (2006); Simonin (1999).

Proximidade cognitiva Ahuja (2000); Bierly et al. (2009); Boschma (2005); Boschma e Lambooy (2002); Boschma e Ter Wal (2007); Broekel e Boschma (2012); Chan et al. (2012); Cohen e Levinthal (1990); Das e Teng (2003); Davenport (2005); Dyer e Singh (1998); Easterby-Smith et al. (2008); Hamel (1991); Hsu e Shen (2005); Inkpen e Pien (2006); Ireland et al. (2002); Kale et al. (2000); Khamseh e Jolly (2008); Ko et al. (2005); Lane e Lubatkin (1998); Mowery et al. (1996); Nielsen (2005, 2007); Nooteboom, Van Haverbeke, Duysters, Gilsing, e Oord (2007); Owen-Smith e Powell (2004); Petruzzelli (2008); Powell et al. (1996); Reagans e McEvily (2003); Salmi et al. (2001); Simonin (1999).

Proximidade cultural Archer e Wang (2002); Boschma (2005); Boschma e Ter Wal (2007); Broekel e Boschma (2012); Chan et al. (2012); Child (2001); Drejer e Lund Vinding (2007); Easterby-Smith et al. (2008); Evangelista e Hau (2009); Kale et al. (2000); Ko et al. (2005); Meier (2011); Mowery et al. (1996); Nielsen (2005, 2007); Simonin (1999); Van Wijk et al. (2008).

Proximidade geográfica Arikan (2009); Boschma (2005); Boschma e Ter Wal (2007); Broekel e Boschma (2012); Davenport (2005); Easterby- Smith et al. (2008); Huggins e Johnston (2009); Huggins et al. (2012); Iacono et al. (2012); Inkpen e Tsang (2005); Lan e Zhangliu (2012); Owen-Smith e Powell (2004); Petruzzelli (2008); Pittaway, Roberston, Munir, Denyer, e Neely (2004). Fatores da rede

Domínio funcional da rede Jiang e Li (2008); Khanna (1998); Khamseh e Jolly (2008). Estrutura e sistemas de

governança

Chen (2004); Corno et al. (1999); Das e Teng (1998); Dyer et al. (2001); Dyer e Singh (1998); Dyer e Nobeoka (2000); Easterby-Smith et al. (2008); Fey e Birkinshaw (2005); Gulati (1995); Inkpen (2000); Ireland et al. (2002); Jiang e Li (2008, 2009); Kale et al. (2000); Keil, Maula, Schildt, e Zahra (2008); Kogut (1988); Lee e Cavusgil (2006); Meier (2011); Mowery et al. (1996); Nielsen (2005); Norman (2004); Oxley e Wada (2009); Sampson (2004); Schoenmakers e Duysters (2006); Seufert et al. (1999); Uzzi (1996); Van Wijk et al. (2008).

Tecnologias de informação e comunicação

Jiang e Li (2008); Seufert et al. (1999); Zhao e Anand (2009). Visão e identidade partilhada Dyer e Nobeoka (2000); Van Wijk et al. (2008).

Posto isto, são abordados em seguida os fatores que, no presente estudo, foram considerados para avaliação e análise empíricas, especificamente o comprometimento na rede, a capacidade de absorção organizacional e a confiança interorganizacional.

3.2.1.1. Comprometimento na rede

A literatura tem vindo a afirmar que a eficácia e sucesso de uma rede interorganizacional requerem o comprometimento dos seus membros (Büchel & Raub, 2002; Clarke, 2006; Hackney et al., 2005; Hagedoorn, Link, & Vonortas, 2000; Ireland et al., 2002; Mavondo & Rodrigo, 2001; Morgan & Hunt, 1994; Nummela, 2003; Parker, 2000; Peña, 2002; Pesämaa & Hair, 2008; Provan et al., 2005; Provan & Kenis, 2008;Roxenhall, 2011; Sarkar, Aulakh, & Cavusgil, 1998; Wu & Cavusgil, 2006). Como afirmaram Morgan e Hunt (1994), o comprometimento, conjuntamente com a confiança, constitui um requisito para que uma organização seja um bom cooperador. Todavia, o desenvolvimento e consolidação teóricos deste constructo no âmbito interorganizacional, bem como a avaliação empírica do seu impacto nos processos e dinâmicas interorganizacionais têm sido escassos. Segundo Clarke (2006), a investigação do comprometimento nas redes encontra-se inclusivamente numa fase ainda embrionária. Os contributos teóricos e empíricos com maior proeminência advêm dos trabalhos de Clarke (2006), Morgan e Hunt