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GETÚLIO E O RÁDIO

II. 3.1 – Departamento de Imprensa e Propaganda

Como a propaganda virou uma das principais vitrines, era perceptível, dentro do governo, o aumento da disputa pelo seu controle. Por mais que Lourival Fontes tratasse o assunto com “mãos de ferro”, eram constantes as interferências ou as medidas individuais tomadas por outros setores da esfera pública.

Uma das providências para centralizar e ampliar os poderes do órgão de divulgação foi a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, através do decreto nº 5.077 de 29 de dezembro de 193944, para tentar unir todas as ações na área de divulgação. Seu objetivo era descrito da seguinte forma: “(...) elucidação da opinião nacional sobre as diretrizes doutrinárias do regime, em defesa da cultura, da unidade espiritual e da civilização brasileira”45.

No entanto, não era tão fácil adotar tais medidas. Vargas já tentara centralizar nas mãos de Fontes as ações de propaganda através dos órgãos anteriores e não conseguira obter êxito. Algumas mudanças radicais foram tomadas. Uma delas foi desvincular o novo Departamento de qualquer área governamental, ficando ligado diretamente ao gabinete presidencial e não mais a ministérios.

43 DICIONÁRIO HISTÓRICO BIOGRÁFICO BRASILEI RO ON -LINE, verbete DIP. 44 Cf. ARQUIVO GUSTAVO CAPANEMA. CPDOC-FGV. GCg 34.09.22.

Além disso, era preciso eliminar as forças paralelas que insistiam em se manter atuantes. Como vários ministérios e órgãos públicos tinham os seus próprios serviços de propaganda, começaram a ser registrados desencontros de informações e conflitos de interesses. Esses fatores poderiam expor a impressão de fragilidade, improvisação e a desarmonia entre os setores da máquina pública, maculando a imagem de força, centralização e harmonia que o governo procurava vender a população.

O DIP uniu diversos setores de propaganda que anteriormente estavam alocados em outros órgãos públicos e ministérios e passava a falar em nome de toda a esfera governamental. Incorporou as funções do Serviço de Divulgação (SD), ligado à polícia política de Filinto Müller, que tinha sido extinto em 15 de abril de 1939. Apenas um dos seus departamentos foi mantido na força policial, o Serviço Inquéritos Políticos Sociais (SIPS)46.

Com a implantação do DIP, Vargas ainda tentava pôr fim a uma guerra travada desde o governo provisório entre os Ministérios da Justiça, responsável até então pela propaganda governamental, e o da Educação e Saúde, que respondia por um dos mais poderosos meios de comunicação de massa, que era o rádio, além do cinema.

Irradiando de forma massificadora o discurso nacionalista, o DIP padronizava alguns pontos chaves, de interesse prioritário para o governo. Entre eles, a intensificação e o fortalecimento da imagem do presidente e da política trabalhista implantada por Vargas.

O órgão era dividido em cinco estruturas principa is: Divulgação, Radiodifusão, Cinema e Teatro, Turismo e Imprensa. Essas subestruturas abrigavam outros serviços, como Comunicações, Contabilidade e Tesouraria, Material, Filmoteca, Discoteca, Biblioteca, Garagem, Distribuição de Propaganda, Registro de Imprensa e Administração.

Com o agravamento da crise do Estado Novo, com o Brasil tendo aderido ao grupo dos Estados Unidos na II Guerra Mundial, uma pressão popular começou a exigir o afastamento de integrantes do governo que tinham as imagens associadas ao fascismo e ao nazismo. Este foi o motivo alegado na época para o pedido de demissão de Lourival Fontes, no dia 17 de julho de 1942, como lembra Luiz Mendes (2005): “O clima na época ficou insuportável. Antes que a crise contaminasse o governo, o mal que era identificado como o mal foi cortado pela raiz com o afastamento de Fontes”.

A partir daí, sem o seu “homem forte” na máquina da propaganda, Vargas tentou captar as forças armadas no sentido de manter a dura linha implantada. Assim, o DIP entrou na fase militar. Em agosto de 1942, foi nomeado o major Antônio José Coelho dos Reis47, que, no ano seguinte, foi substituído pelo major Amílcar Dutra Menezes, que foi promovido do cargo de divisão de Radiodifusão do DIP.

Sem o empenho pessoal de Fontes, o trabalho em torno da imagem de Getúlio Vargas perdeu destaque para a propagação das ações militares em defesa da Nação, o que contribuiu ainda mais para o enfraquecimento do Estado Novo. Se Vargas achava que poderia obter o apoio dos militares para garantir a sua manutenção no poder, como fez na ocasião do Golpe de 37, desta vez o “tiro saiu pela culatra” como define o radialista Luiz Mendes (2005): “Os militares não deram, desta vez, o apoio que Vargas teve em 37 e assim acabou caindo”.

Os militares trataram ape nas de reforçar a sua imagem, usando a poderosa máquina de propaganda estabelecida, e, na “hora H”, depuseram o presidente, como defende a historiadora portuguesa Heloisa Paulo (1994, p.149):

A marca militarista é imposta em definitivo ao DIP. As cerimônias do regime continuam a ser realizadas, mas a ênfase recai na “defesa da Pátria” e na mobilização para o esforço de guerra, temas que são repetidos nas publicações e nos apelos feitos em cartazes e nas emissões radiofônicas.

Pouco antes da queda do Estado Novo, o regime tentou adequar a sua máquina de propaganda ao cenário da época e, em março de 1945, o DIP foi transformado em Departamento Nacional de Informações (DNI).

A importância do órgão está ligada ao período ditatorial do Estado Novo. Com a abe rtura democrática, em março de 1945, ele não resiste às críticas e seu controle e censura deixa de existir. Nesse momento, o governo se antecede a qualquer medida mais radical e o transforma em Departamento Nacional de Informações. (CARONE: 1976, p. 172)