• Nenhum resultado encontrado

REDE AÉREA

III. 5 – REDE RURAL

7 O governo precisava também falar à distante população rural, política e economicamente controlada pelos “coronéis” que formavam uma das bases de sustentação da política oligárquica. Para atender a essa necessidade, contemplou o Ministério da Agricultura com um serviço de Publicidade Agrícola.85. Tratava-se de um sistema de radiodifusão, que começou a funcionar em dezembro de 1935 e que foi sendo desenvolvido durante o período do Estado Novo.

A programação era distribuída para ser veiculada por emissoras do interior, sendo produzida no Ministério da Agricultura como explica Luiz Mendes (2005):

Eram chamados de programas do Ministério da Agricultura. Não tinha um dial86, mas eram várias atrações que formavam uma programação que era

oferecida às emissoras do interior, como um serviço gratuito. Eram bem feitos e com temas e atrações ao gosto do público rural. No meio dessas atrações, o governo inseria as mensagens e a sua política para o campo, que no momento era estancar o deslocamento para as capitais.

Já para Luiz de Carvalho, mais do que estancar o deslocamento do homem do campo para as cidades, o projeto tinha como objetivo interligar essa afastada população à rede de comunicação do governo.

Vargas deu muito valor à programação voltada para a população rural, o trabalhador do campo. Era interessante para o regime falar diretamente para o povo do campo, que estava longe do governo. Além disso, precisava criar mecanismo para impedir que viessem para os grandes centros, que não tinham empregos para todos. Além disso, se não os mantivesse no campo, quem iria garantir a mesa do brasileiro? Por isso, foi criada essa rede de retransmissão e produção gratuita de programas que

85 Cf. GARCIA, 1982, p.99.

8 poderiam ser retransmitidos ou apresentados no horário que fosse mais conveniente por qualquer estação do interior. (CARVALHO, 2005)87

Uma das primeiras atividades desse sistema radiofônico voltado para o meio agrícola foi produzir mensagens de cunho ideológico, educativo e político. Em entrevista à revista estatal Cultura Política, o responsável pelo serviço, o Engenheiro R. Fernandes e Silva, contou que os programas eram produzidos pelo Serviço de Publicidade Agrícola e irradiados por emissoras da capital para serem retransmitidos para estações do interior através do qual foram irradiadas várias campanhas, programas e mensagens governamentais. “Tendo divulgado centenas de comunicados e outros assuntos relacionados às atividades do Ministério por quatro estações. Sob orientação direta do Ministério da Agricultura, os programas eram transmitidos na Capital Federal por quatro estações: Clube do Brasil, Jornal do Brasil, Rádio Escola do Distrito Federal e Rádio Nacional.” (FERNANDES E SILVA, 1945)

Defendendo a importância do serviço, o engenheiro R. Fernandes e Silva reivindicava um tratamento igual ao dado ao programa produzido pelo DIP, Hora do

Brasil, ou seja a obrigatoriedade da transmissão, já que a veiculação pelas estações dos

programas do Ministério da Agricultura era opcional. Segundo Luiz de Carvalho, o programa produzido pelo Ministério era gravado nos estúdios da Rádio Distrito Federal.

Era liderado pela Rádio Roquete Pinto [na época, chamada Rádio Distrito Federal]. Os programas eram produzidos e veiculados dos estúdios desta rádio,

9 para uma rede que começou com poucas emissoras, mas que foi aumentando e sendo repetidos por outras estações do interior do país. (CARVALHO, 2005)88

O radialista Luiz de Carvalho esclarece que, embora esses programas chegassem a ser veiculados em estações de grandes centros, sua receptividade era maior nos pontos mais remotos, atendendo assim o seu propósito.

Esses programas rurais praticamente passaram despercebidos aqui na Capital. Mas eram muito fortes na área rural. Eu lembro que alguns companheiros trabalharam nesse projeto. Na época, o governo pagava bem para que os programas fossem bem produzidos e não deixassem nada a dever aos que eram feitos para as grandes cidades. (CARVALHO, 2005)

A radialista Dayse Lúcidi (2005) ressalta a importância desses programas feitos no Rio e que eram voltados para a população rural, lamentando a falta de registro dessas emissões:

Aqui na capital, a população sequer tinha noção da existência desses programas, acho que por isso você encontrou dificuldades em encontrar registros sobre essa rede de distribuição de programas rurais. E com a transferência do ministério para Brasília, certamente esses registros se perderam. Mas eu me lembro é que tinham companheiros que foram trabalhar nesse projeto, mas não me lembro mais de nomes. (LÚCIDI, 2005)

0 O Serviço de Radiodifusão do Ministério ainda produziu uma versão rural do programa governamental do DIP. Tratava-se da Hora da Agricultura , que R. Fernandes e Silva lamentava não ser em rede nacional obrigatória. O radialista Luiz de Carvalho explicou que os programas eram feitos no Rio.

Com isso, criou-se essa que não era obrigatória, como a Hora do Brasil, mas espontânea. Os programas falavam sobre o plantio para que o sujeito não saísse do campo e viesse para a cidade. Procuravam doutrinar as pessoas e a ensinar formas de sobreviverem no próprio campo. Isso foi muito importante para a política rural de Getúlio Vargas. Eu me lembro que nós tínhamos o Zalacchio Diniz, que foi um dos primeiros contratados para fazer a Hora do Brasil e que depois trabalhou nesse projeto da Rádio Rural. Ele nos contava a preocupação do regime com esse projeto e os bastidores. (CARVALHO, 2005)89

Além desses, havia ainda os programas Agricultor, Rural, A Terra e o

Homem e Boletins Meteorológicos.90

Com a queda de Getúlio Vargas, o Ministério da Agricultura continuou produzindo esses programas, mas que foram perdendo o investimento e a força. Tentou-se retomar com o retorno de Vargas ao poder, e após o seu suicídio [1954], novamente foi relegado a segundo plano. Jango bem que tentou, já que tinha aquelas propostas de reforma agrária, mas a conturbação de seu governo não permitiu que fosse levado adiante. (CARVALHO, 2005)