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3. INCENTIVOS FISCAIS

3.3. Incentivos fiscais e algumas formas de manifestação

3.3.6. Depreciação acelerada

Máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamentos destinados à incorporação ao ativo imobilizado possuem um prazo de vida útil limitado e, em virtude do seu uso, entram em processo de desgaste. Tal deterioração, que resulta na diminuição da utilidade e também do valor dos mencionados bens, deve ser reconhecida por meio da depreciação contábil.

Uma vez que o valor da depreciação influi no resultado do exercício de uma empresa, pois se classifica como uma despesa, não há dúvidas de que, se esta for lucrativa, em termos tributários, será vantajoso que os abatimentos a título de depreciação sejam os maiores possíveis, reduzindo-se, assim, o montante do Imposto de Renda e da Contribuição Social.

Raciocínio diverso é aplicado à empresa com lucratividade tributária comprometida, sendo, em regra, mais conveniente que as despesas de depreciação sejam apropriadas em um intervalo maior de tempo, adiando-se o seu reconhecimento.

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Paulo de Barros Carvalho defende que a alíquota zero “é uma fórmula inibidora da operatividade funcional da regra-matriz, de tal forma que, mesmo acontecendo o evento tributário, no nível da concretude real, não pode o fato ser constituído e seus peculiares efeitos não se irradiam, justamente porque a relação obrigacional não se poderá instalar à míngua de objeto” (Op. cit., p. 930).

No Brasil, a legislação permite que o contribuinte utilize taxas de depreciação que reflitam a vida útil econômica dos bens. De tal maneira, caso a vida útil de determinado equipamento esteja indicada pela Receita Federal do Brasil como de 10 anos e a empresa entenda ser de oito anos, é possível a confecção de prova em contrário para demonstrar o seu posicionamento.

As provas devem ser realizadas com base em laudos técnicos especializados e, em caso de controvérsia, o contribuinte pode ainda requerer perícia do Instituto Nacional de Tecnologia ou de outra entidade oficial de pesquisa científica ou tecnológica, devendo, então, prevalecer os prazos de vida útil fixados pelas aludidas instituições (Lei 4.506/1964, art. 57, § 4.º).

Os referidos prazos, que refletem a vida útil do bem, podem vir a ser reduzidos, hipótese em que se estará diante da figura da depreciação acelerada. Há duas espécies de depreciação acelerada.

A primeira refere-se à possibilidade da depreciação acelerada contábil de máquinas e equipamentos quando as indústrias estabelecem turnos extraordinários para atender a sua demanda. A legislação permite realizar a depreciação acelerada em face do desgaste maior de tais bens de produção. Tal hipótese resulta do uso em regime de operação superior ao normal, dimensionado com base no número de horas diárias de operação. A dedutibilidade de tais despesas é prevista no art. 312 do RIR/1999228.

Há, também, a depreciação acelerada incentivada, que consubstancia incentivo fiscal e é reconhecida, tão somente, pela legislação tributária para fins da apuração do lucro real, sem nenhum registro contábil (RIR/1999, art. 313).

Por se pautar pela análise dos incentivos fiscais, o presente trabalho passa a tratar, a seguir, apenas da depreciação acelerada que busca o estímulo a determinada atividade por meio de tratamento fiscal diferenciado.

O estímulo decorre do fato de a depreciação acelerada provocar o diferimento da tributação para um período subsequente, agindo tal qual um empréstimo sem juros. Esses benefícios diminuem o custo de aquisição dos bens sujeitos à depreciação.

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O critério contábil para a aplicação da depreciação acelerada dos bens móveis é pautado no número de horas diárias de operação, aplicando-se os seguintes coeficientes de depreciação acelerada sobre as taxas normalmente utilizáveis: 1,0 – para um turno de oito horas de operação; 1,5 – para dois turnos de oito horas de operação e 2,0 – para três turnos de oito horas de operação (RIR/1999, art. 312). De tal maneira, se a taxa normal de depreciação de certo bem é de 10% ao ano, a depreciação será de 15% ao ano, caso haja operação de 16 horas por dia, ou de 20% ao ano, se esta for de 24 horas por dia.

Ao abordar essa espécie de depreciação acelerada, Elcio Fiori Henriques229 a inclui no rol das hipóteses gerais de concessão de prazos mais favorecidos para o pagamento de tributo para determinadas situações e contribuintes.

Segundo o referido autor, as normas favorecidas de depreciação são veiculadas por meio de mecanismos intrínsecos à sistemática de quantificação do dever tributário e possuem como característica a redução do prazo de amortização comum aplicável para certos investimentos, tendo como efeito financeiro a elevação artificial das despesas no início do período depreciativo, de modo a reduzir o valor amortizável dos momentos finais. Portanto, concede-se ao contribuinte a postergação do pagamento dos tributos sobre o lucro.

Com efeito, por intermédio de tal mecanismo, a dedução do imposto correspondente à depreciação do bem, que deveria ser fracionada ao longo do tempo, acaba sendo efetivada em menor tempo, aliviando, assim, o investidor que despendeu recursos ao investir em bens para sua operação.

Nesta diretriz, com o fim de estimular a ampliação, modernização ou diversificação realizadas em setores da economia tidos como prioritários para o desenvolvimento regional, a Lei n.º 11.196, de 21 de novembro de 2005, instituiu a depreciação acelerada incentivada para aquisições de bens de capital efetuadas por pessoas jurídicas estabelecidas em microrregiões menos favorecidas localizadas nas áreas de atuação das extintas Sudene e Sudam.

O incentivo previsto pela mencionada norma consiste na depreciação integral do bem adquirido no próprio ano da sua compra. De tal modo, o incentivo tem como consequência a redução do Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o lucro líquido do exercício, observado, no entanto, o limite do custo da aquisição do bem.

Verifica-se que tal alteração do prazo de depreciação constitui técnica que visa a reduzir antecipadamente a tributação daqueles que promovem investimentos considerados estratégicos para o Estado, consubstanciando estímulo àquele contribuinte que incorre em gastos que impactarão positivamente no desenvolvimento de regiões menos atrativas, por exemplo.

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