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4. INCENTIVOS FISCAIS AMBIENTAIS

4.2. Formulação implícita na Constituição

Por consubstanciar inequívoco vetor constitucional com impactos para a sociedade e para a economia, a preservação ambiental deve estar refletida na tributação, haja vista que o tributo, no Estado Social e Democrático de Direito, não tem meios de ser

eminentemente neutro, cabendo o manejo de instrumentos tributários, dentre eles, incentivos fiscais, para a consecução dos desígnios constitucionais, notadamente aqueles voltados ao desenvolvimento econômico e social.

É certo que só há previsão expressa na Lei Maior para criação de incentivos fiscais com o objetivo de “promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país” (art. 151, CF) e de estimular a proteção da família, mediante incentivos fiscais ao acolhimento, sob forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado (art. 227, § 3.º, VI). Contudo, não é necessário comando específico para que se lance mão dos mencionados estímulos tributários.

Deveras, apesar de o legislador constituinte ou reformador não ter estipulado a criação de incentivos fiscais ambientais, não se pode desconsiderar a parte final do comando extraído do art. 170, VI, da Carta Política, cuja norma, veiculada pela Emenda Constitucional n.º 42, de 2003, estabelece a promoção de um tratamento diferenciado de produtos e serviços, bem como dos seus processos de produção, de acordo com o critério de proteção ambiental.

Assim, as atividades sustentáveis devem ser estimuladas economicamente pelos mais diversos meios (financiamentos com taxas bonificadas, investimentos públicos, incentivos fiscais etc.), visto que a aplicação de tais instrumentos concretiza o referido comando constitucional.

Não bastasse a referida diretriz econômica, nos termos do art. 225 da Constituição Federal, as presentes e futuras gerações têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo atribuída a responsabilidade pela sua defesa e preservação à coletividade e ao Poder Público

Neste compasso, a Carta Magna atribui ao Estado e à sociedade a obrigação de cuidar da prevenção, controle, preservação, estímulo e reparo de danos causados no meio ambiente, a fim de que este se mantenha para gerações futuras.

Portanto, considerando que: i) há princípio específico da ordem econômica que aponta para tratamento diferenciado com base na redução do impacto ambiental; ii) o Poder Público é um dos responsáveis pela preservação do meio ambiente; e iii) o meio ambiente equilibrado é um direito das gerações presentes e futuras, claro está que o Estado não deve arcar de forma única e exclusiva com todos os ônus decorrentes da defesa do meio ambiente, sendo condizente com os objetivos constitucionais, todavia, que tal ente

abra mão de parcela das receitas tributárias com o intuito de estimular o desenvolvimento de atividades realizadas de forma sustentável por determinados particulares, o que resultará em efeitos positivos para a coletividade.

De fato, o incentivo de natureza tributária conferido àqueles que se movem de acordo com o viés ambiental une o dever de conceder tratamento benéfico à atividade econômica de reduzido impacto ambiental com o dever de atuação em conjunto dos particulares e do Poder Público, em nome da garantia de um meio ambiente equilibrado para as gerações presentes e futuras.

Sob a ótica do Estado, abrir mão de parcela das receitas tributárias decorrentes das atividades econômicas sustentáveis significa o reconhecimento concreto por tal ente de que é agente responsável pela defesa do meio ambiente. Uma vez sendo o tratamento econômico privilegiado para aqueles indivíduos que investem em redução do impacto ambiental uma diretriz expressa da Lei Maior (art. 170, VI, da CF/1988), tal forma de se desincumbir do dever de preservação ambiental revela-se constitucionalmente amparada.

Dessa maneira, para que se possa identificar o montante total despendido com a causa ambiental, deverão ser somados aos gastos diretos com a proteção do meio ambiente os referidos gastos tributários (indiretos) atrelados especificamente a tal fim.

Pelo prisma do indivíduo, verifica-se que, como os investimentos ambientais não significam necessariamente um correlato retorno econômico, podendo, ao contrário, trazer problema de competitividade ao produto ou serviço, porquanto é possível ter seu preço incrementado em proporção superior ao que os consumidores estão dispostos a pagar, afigura-se necessário que haja um compartilhamento de tais despesas, em que o particular e o Estado possam dispor de recursos em prol da proteção do meio ambiente.

Tal raciocínio estende-se aos consumidores, que devem incluir a questão ambiental no seu critério de escolha, para atender a essa responsabilidade constitucional que também lhe foi imposta pelo art. 225. Assim, os incentivos fiscais que permitem a mais célere expansão e propagação de bens e serviços de baixo impacto ambiental e a um custo razoável, estimularão os consumidores a enveredarem pela trilha da sustentabilidade, hipótese em que, de novo, se observará a participação conjunta da sociedade e do Estado com o intuito de defender o meio ambiente, como preconizado pelo art. 225 da Carta Magna.

O fundamento para a instituição do incentivo fiscal ambiental não repousa tão somente nas normas constitucionais contidas nos citados artigos 225 e 170, VI. Pauta-se no conteúdo que se extrai da Lei Maior acerca do desenvolvimento nacional propriamente dito. Os dispositivos constitucionais que tratam tanto da defesa do meio ambiente quanto do desenvolvimento nacional devem ser analisados em conjunto, porquanto já não se pode imaginar o desenvolvimento atual como o tradicional, repetido há duzentos anos.

Sobreleve-se que a realidade atual de crise ambiental e econômica internacional reforça essa interpretação e aplicação das normas constitucionais, porquanto uma concepção tradicional que culminou em crises, demanda que se pense em novas formas de superação dos problemas.

Portanto, a Lei Maior respalda novas ideias para o incremento econômico, ajustadas ao interesse das futuras gerações e comprometidas com a melhoria dos índices de desenvolvimento humano atuais. Com efeito, harmoniza-se com o arcabouço jurídico nacional programas de governo vinculados ao crescimento econômico sustentável.

Neste sentido, a criação de um programa estruturante de incentivos fiscais, lastreado em firmes alicerces e balizas jurídicas, poderá contribuir para o desenvolvimento sustentável de que trata a Carta Política de 1988.

Exposto o contexto em que se põe a autorização constitucional para a instituição de incentivos fiscais ambientais no país, apresentar-se-á, de modo panorâmico, incentivos de tal natureza e projetos de lei em curso.

Conforme se verá, embora se tenha evidenciado que as normas constitucionais ensejam a criação de programa estruturante, os exemplos levantados revelam que os incentivos fiscais ambientais vêm sendo criados de forma esparsa pelos entes tributantes. Tal característica também é verificada no Direito comparado.