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2. TRIBUTAÇÃO E PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

2.3. O tributo como instrumento de defesa do meio ambiente

2.3.1. A experiência brasileira e estrangeira

2.3.1.2. Tributos ambientais no Direito comparado

Na União Europeia, durante os anos 70 e 80, as diretivas dirigiam-se, primordialmente, à limitação das emissões poluentes. Em seguida, a estratégia de proteção ambiental passou a abarcar também o consumo de recursos naturais122.

Assim foi que, nos últimos vinte anos, a União Europeia ampliou o número de programas comunitários dedicados ao meio ambiente. Com efeito, o denominado “Quinto Programa de Ação Ambiental” já trouxe em seu bojo estratégia muito mais direta no que tange à proteção do meio ambiente e à preservação dos recursos naturais123.

Muitos fatores foram decisivos para que tal programa fosse menos programático do que os anteriores. Dentre eles, o fato de que o meio ambiente, apesar das normas ambientais precedentes, continuava a ser degradado, diante do que aumentava a responsabilidade da União Europeia perante os cidadãos em tal seara.

Contudo, foi o “Sexto Programa de Ação Ambiental”, designado como “meio ambiente 2010: o futuro está em nossas mãos”, que trouxe contribuições de maior relevo para este trabalho, porquanto, por intermédio do referido programa, foram delineadas as diretrizes cruciais para a política ambiental para 2001-2010, tendo como principal objetivo a construção de um meio ambiente sadio e uma melhor qualidade de vida para os cidadãos, propiciando, assim, que o desenvolvimento atingido fosse sustentável124.

E, o mais importante, o aludido programa contemplou os tributos ecológicos, sendo definido um conjunto de parâmetros para delinear um tributo ambiental apto a alcançar o respeito ao meio ambiente na maior medida possível.

122

SERRANO ANTÓN, Fernando. Op. cit., v. 2, p. 819.

123

Id. Ibid., p. 822.

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Nesse sentido, estipulou-se a necessidade de: i) análise da experiência em tributos ecológicos já instituídos para avaliação da estrutura básica da imposição, tais como o fato imponível, o método para valorar a base de cálculo e o custo administrativo do tributo ecológico; ii) estudo do grau de integração e aceitação dos tributos ambientais nos diferentes sistemas fiscais (progressividade, medidas de compensação e mitigação); iii) destinos dos ingressos (aumentar os gastos com iniciativas que aumentam o crescimento econômico e número de empregos, redução de outros impostos etc.); iv) elaboração de modelo teórico de políticas fiscais ambientais (reforma fiscal ecológica) que amplie o sistema existente125.

Herrera Molina, visando a facilitar a compreensão e a sistematização do tema, propõe a classificação dos tributos ambientais em sete categorias: contaminação atmosférica, automóveis, insumos agrícolas, água, resíduos, transporte aéreo e produtos específicos126.

Nesta altura, uma vez tecidas as referidas considerações gerais acerca da preocupação com o meio ambiente e o surgimento de diretrizes para a criação de tributos ambientais, passa-se a analisar a instituição concreta de tributos incidentes sobre condutas contrárias ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, nos mais diversos países.

Assim, por exemplo, a Áustria127 cobra impostos sobre veículos, seu seguro e o combustível por eles utilizados, na tentativa de influenciar os cidadãos a evitar esse tipo de meio de transporte, que contribui para a poluição do ar.

O imposto incidente sobre os veículos automotores nacionais ou importados possui valor baseado nas cilindradas das motocicletas e nos cavalos dos motores dos veículos.

No caso de veículos de passeio com peso bruto inferior a 3,5 toneladas, é cobrado um imposto sobre o seguro que deve ser obrigatoriamente realizado pelo proprietário.

Com base nessa mesma intenção, foi instituído imposto sobre o consumo de combustíveis, que varia de acordo com o tipo, a quantidade de combustível consumido e a quantidade de determinados componentes presentes, como, por exemplo, o enxofre.

Ademais, veículos menores que viajam em estradas da Áustria128 devem pagar também um pedágio, antecipadamente, por meio da compra de adesivos que devem ser

125

SERRANO ANTÓN, Fernando. Op. cit., v. 2, p. 824.

126

HERRERA MOLINA, P. Op. cit., p. 78.

127

Maiores informações em AUSTRALIAN GOVERNMENT. Australian taxation office. Disponível em: <http://www.ato.gov.au>. Acesso em: 30 jul. 2012.

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colocados no carro. O custo anual para cada adesivo varia, a depender do tamanho do veículo. No caso de caminhões, é cobrada uma taxa de pedágio por quilometragem.

Além das exações já citadas, a Áustria129exige impostos sobre áreas contaminadas, atividades de pesca e caça, desmatamento e conservação das paisagens e da natureza, tudo em prol do meio ambiente.

Por seu turno, a Dinamarca130 utiliza tributos para desestimular condutas contrárias ao meio ambiente. Esses tributos incidem sobre águas residuais, embalagens, louças descartáveis, produtos em PVC, enlatados, sobre o dióxido de carbono e certos produtos energéticos, pesticidas, nitrogênio, pneus de borracha, resíduos perigosos, solventes à base de cloro, baterias à base de níquel/cádmio, enxofre, fosfato em ração animal, dentre outros.

Da sua parte, a Inglaterra131 possui considerável gama de tributos tendentes a onerar condutas que impactam negativamente o meio ambiente.

Em 2001, foi instituído imposto sobre a mudança climática (“CCL” – Climate

Change Levy − United Kingdom), para incentivar as empresas a usarem menos energia

e/ou encorajá-las a utilizar energia proveniente de fontes renováveis. Esse imposto faz parte de uma estratégia do governo do Reino Unido quanto às mudanças climáticas, na tentativa de contribuir com as metas de redução de emissão dos gases do efeito estufa. Ele é cobrado dos fornecedores de energia e incide sobre a energia (eletricidade, gás, combustível sólido e gás liquefeito) utilizada por consumidores não domésticos. O “CCL” é aplicado a uma taxa específica por unidade de energia nominal.

Ademais, em fevereiro de 2003, o prefeito de Londres introduziu o Regime da Taxa de Congestionamento de Londres (“C-Charge”), para reduzir as emissões de dióxido de carbono. A taxa diária é cobrada sobre veículos que utilizam as estradas na zona C-Charge no centro de Londres entre sete da manhã e seis da tarde, de segunda a sexta-feira (exceto feriados). Em outubro de 2008, os carros menores, com emissões abaixo de 120 g de dióxido de carbono por quilômetro, ficaram isentos do C-Charge. Por outro lado, a C- Charge foi aumentada para veículos que emitem mais de 225 g de dióxido de carbono por quilômetro.

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AUSTRALIAN GOVERNMENT. Australian taxation office. Disponível em: <http://www.ato.gov.au>. Acesso em: 30 jul. 2012.

130

STATSMINISTERIET. Disponível em: <http://www.stm.dk/>. Acesso em: 15 out. 2012.

131

Ainda no âmbito da tributação ambiental, consta, na Inglaterra132, o imposto sobre o consumo de combustíveis, incidente sobre as empresas produtoras/importadores e sobre os compradores de óleos, hidrocarbonetos e outros produtos combustíveis, cujo valor é de £ 0,5795 por litro. Um imposto sobre o valor agregado (IVA) também é cobrado sobre o preço do combustível e no próprio imposto sobre combustíveis. Existe, ainda, um imposto especial adicional sobre a emissão de gás carbônico dos veículos.

Já o Imposto sobre aterros (“LFT”) incide sobre o lixo descartado em aterro licenciado. O referido imposto foi concebido para incentivar as empresas a produzirem menos lixo, reduzindo, assim, a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários. A cobrança depende do tipo de resíduo depositado: a menor taxa é de £ 2,50 por tonelada (rochas e solos naturais, cerâmica e concreto, minerais não utilizados, restos de carvão produzidos em fornalhas, cinzas etc.), e a taxa normal é de £ 64 por tonelada (de todos os outros resíduos tributáveis). O Departamento para o Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais anunciou que a taxa normal continuará a aumentar cerca de £ 8 a cada ano, pelo menos até 2014-2015, podendo chegar a £ 80 por tonelada.

Não poderia se deixar de tratar, por fim, da Cobrança sobre Agregados (“AGL”), imposto sobre a exploração comercial de vários agregados (incluindo cascalho, areia e rocha) que são extraídos do solo no Reino Unido133 (incluindo o fundo do mar em águas territoriais do Reino Unido). O objetivo da “AGL” é reduzir a demanda por agregados e, assim, reduzir o dano ambiental causado por essas atividades. A taxa básica da AGL está atualmente fixada em £ 2 por tonelada.

Também, no Canadá134, existem intervenções estatais previstas pelas suas províncias, relacionadas às emissões de gases do efeito estufa. A província de Quebec prevê um Imposto do Carbono (carbono tax), cobrado sobre uma determinada quantidade de emissão desses gases. A província de British Columbia, por sua vez, possui mecanismos semelhantes para dirimir a emissão desses gases.

Outras províncias do Canadá, da mesma forma, instituíram programas de manejo eletrônico que cobram uma taxa de manuseio ambiental (“EHF”) sobre alguns novos produtos elétricos e eletrônicos. As “EHFs” são normalmente pagas pela pessoa com uma conexão comercial mais estreita com o fornecimento dos produtos e que seja residente na

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HM REVENUE & CUSTOMS. Disponível em: <http://www.hmrc.gov.uk/>. Acesso em: 15 out. 2012.

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Id. Ibid.

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província (“Fornecedor”). O objetivo dos programas é cobrir o custo de reciclagem e eliminação de resíduos eletrônicos. Semelhantes programas de manejo provinciais têm sido criados para ajudar a pagar o custo da reciclagem e reutilização de embalagens de produtos, materiais impressos e resíduos perigosos.

Explorada, pois, a vertente da tributação ambiental que se destina à oneração daquele que polui, ou seja, a vertente da imposição fiscal, passa-se a abordar o lado inverso da moeda, relativo à desoneração fiscal.

Com efeito, adentrar-se-á na análise dos incentivos fiscais em geral, para, em seguida, investigar a aplicação do aludido instituto com o viés ambiental.