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2. TRIBUTAÇÃO E PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

2.3. O tributo como instrumento de defesa do meio ambiente

2.3.1. A experiência brasileira e estrangeira

2.3.1.1. Tributos ambientais no Brasil

Ainda não há, no Brasil, sistematização que permita defender a existência de uma tributação ambiental propriamente dita, de viés impositivo. Em verdade, são identificados tributos ambientais de forma esparsa e pontual.

Nesse sentido, verificam-se, por exemplo, taxas em função do poder de polícia ambiental pulverizadas pelo país e também de âmbito nacional.

Ressalte-se a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental− TCFA, instituída pela Lei n.º 10.165/2000, de competência federal. O fato gerador da taxa em foco é o exercício regular do poder de polícia conferido ao IBAMA para fiscalizar atividades poluidoras, que utilizam recursos ambientais (art. 1.º).

Encontram-se abrangidas pela norma em questão as atividades controladas pelo IBAMA (indicadas no seu anexo VIII). São elas: extração e tratamento de minerais, indústria de produtos minerais não metálicos, indústria metalúrgica, indústria mecânica, indústria de material elétrico, eletrônico e de comunicações, indústria de madeira, indústria de papel e celulose, indústria de borracha, indústria de couros e peles, indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos, indústria química, entre outras.

A sua base de cálculo combina o potencial de poluição da atividade (pequeno, alto e médio) com o porte do sujeito passivo (classificação, conforme a receita bruta, em microempresa, empresa de pequeno porte, empresa de médio porte, empresa de grande porte). Assim, por exemplo, uma empresa de médio porte, cuja atividade é classificada pela norma em destaque como de baixo potencial ofensivo, terá de recolher taxa em montante menor do que aquela cobrada de empresa de grande porte e de médio potencial ofensivo.

Vale ressaltar que a imposição em tela é extremamente criticada, sob o argumento de que falta contraprestação a embasar a sua cobrança (desconexão com o seu custo do serviço) e de que tal imposição está voltada exclusivamente ao incremento da receita da aludida autarquia federal.

Ademais, uma vez que sua base de cálculo veicula uma presunção absoluta, acaba por punir aqueles contribuintes que reduzem a poluição, por intermédio de investimentos em projetos de inovação tecnológica (energia renovável e para sequestro de gases de efeito estufa), porquanto todo o esforço para que seus processos produtivos tenham suas emissões neutralizadas é desconsiderado pela citada exação.

Deveras, nos termos em que se encontra formulada, a TFCA não estimula a adoção de comportamentos direcionados a mudanças no aparato produtivo e na exploração de recursos ambientais, podendo, ao contrário, seu adimplemento ser concebido pelos sujeitos passivos como verdadeira autorização para poluir118.

Por oportuno, mencione-se a Taxa de Preservação Ambiental − TPA, instituída pela Lei n.º 10.403/1989, para o Distrito Estadual de Fernando de Noronha, Estado de Pernambuco, que é calculada de acordo com o período de permanência no referido território.

Nos termos do art. 88 do citado diploma legal, a receita proveniente da TPA deverá ser aplicada “nas despesas realizadas pela Administração Geral para manutenção das condições gerais de acesso e preservação dos locais turísticos e dos ecossistemas naturais, existentes no Arquipélago de Fernando de Noronha, e para a execução geral de obras e

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Acerca das críticas à taxa em foco, consultar, por todos, OLIVEIRA, José Marcos Domingues de. Direito

benfeitorias em benefício da população local e dos visitantes, inclusive para remuneração de pessoal com exercício de função na execução das mencionadas atividades”119.

Constata-se, também, a criação de taxas florestais por diversos Estados brasileiros120, as quais, em geral, estão relacionadas ao exercício do Poder de Polícia realizado pelas autoridades ambientais, em relação a pessoas jurídicas que exercem atividades de exploração e consumo de produtos de origem florestal.

O Estado de Minas Gerais, por meio da Lei n.º 4.747/1968, estipulou que a taxa florestal estadual serviria “à manutenção dos serviços de fiscalização e polícia florestal, a cargo do Instituto Estadual de Florestas” (art. 58), sendo exigida à alíquota de 3% sobre o valor dos produtos ou subprodutos florestais e sobre o valor do desmatamento calculado segundo pauta publicada semestralmente pelo Instituto Estadual de Florestas.

Para fins de incidência da referida taxa, são produtos de origem florestal a lenha, a madeira apropriada à indústria, as raízes ou tubérculos, as cascas, folhas, frutos, fibras, resinas, seivas, sementes e, em geral, tudo o que for destacado de espécies florestais e que se preste diretamente ao uso do homem. Por sua vez, constituem subprodutos florestais o carvão vegetal e os resultantes da transformação de algum produto vegetal por interferência do homem ou pela ação prolongada dos agentes naturais.

A par das taxas, insta pontuar exemplos identificados em sede de tributo muito propício à veiculação de conteúdo ambiental, qual seja a contribuição de intervenção no domínio econômico – CIDE, de competência exclusiva da União (art. 149 da CF/1988), que possui caráter extrafiscal e arrecadação vinculada121.

Nesta perspectiva, a Lei n.º 9.433/1997, que dispõe sobre política de recursos hídricos, previu uma CIDE para concessão de direitos de uso desses recursos.

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De acordo com o Decreto Distrital n.º 18/2004, esta taxa foi criada em face da “necessidade de garantir a utilização, efetiva ou potencial, por parte das pessoas visitantes, da infraestrutura física implantada no Distrito Estadual e o acesso e fruição ao seu patrimônio natural e histórico”.

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Saliente-se, a título exemplificativo, a Lei n.º 5.440/1988 do Estado do Pará, que criou o Instituto Estadual de Florestas do Pará (IEF), órgão responsável pela realização da política florestal do Estado, e instituiu a Taxa Florestal incidente sobre as “atividades fiscalizadoras, administrativas e policiais de competência do Estado no setor florestal e aquelas oriundas da delegação federal para execução, através do Instituto Estadual de Florestas, das atividades decorrentes do Código Florestal, da Lei de Proteção à Fauna e de outros dispositivos legais pertinentes” (art. 4.º). Na mesma senda, o Rio de Janeiro introduziu taxa de tal natureza, veiculada pela Lei n° 3.187/1999, cuja arrecadação ocorre em virtude “do exercício do poder de polícia, que se manifesta através da fiscalização florestal e das atividades administrativas a ela vinculadas, exercidas pelo Estado do Rio de Janeiro” (art. 1.º).

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Sobre a contribuição em tela, ver: HORVATH, Estevão. Contribuição de intervenção no domínio

Há, ainda, a Lei n.º 10.336/2001, que introduziu a CIDE sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível (art. 1.º, § 1°, III). A esse respeito, registre-se que o inciso II do § 4° do art. 177 da Lei Maior (introduzido pela EC 33/2001), determina que os recursos arrecadados por meio da CIDE serão destinados ao financiamento de projetos ambientais relacionados à indústria do petróleo e do gás.