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Minist ro da Fazenda do Brasil de j aneiro de 2003 a março de 2006, Ant onio Palocci Filho é deput ado f ederal pelo est ado de São Paulo, cargo que ocupa pela segunda vez. É médico sanit arist a e membro da Comissão de Finanças e Tribut ação da Câmara dos Deput ados. Foi deput ado est adual, duas vezes pref eit o de Ribeirão Pret o (SP) e coordenador, em 2002, do programa de governo do president e Luiz Inácio Lula da Silva. No at ual mandat o, Palocci relat ou alguns dos proj et os mais import ant es do Congresso, como a criação do Fundo Social do Pré-Sal e a comissão especial do Sist ema Financeiro e Mercado, uma das quat ro comissões que f oram criadas para monit orar a crise econômica. Além disso, presidiu a comissão especial da Ref orma Tribut ária.

Deputado Antonio Palocci

A Lei de Responsabilidade Fiscal do Brasil

sob uma perspectiva internacional

RESUMO

Em um discurso breve e diret o, o Minis- t ro da Fazenda do primeiro mandat o do president e Luiz Inácio Lula da Silva, An- t onio Palocci Filho, reconheceu, depois

de experiment ar a boa gest ão fi scal do

Governo Lula, que a legislação, associada a out ros inst rument os de cont role – como acordos de dívidas e t ransparência – e à mudança de comport ament o da socieda- de, permit iu ao país um sólido equilíbrio econômico. Para ele, não é preciso mexer na legislação, mas assegurar os avanços j á conquist ados e, invés de buscar novas receit as, adequar as despesas exist ent es. Segundo Palocci, o sucesso alcançado é mérit o do país e f rut o do ciclo virt uoso que se f orma a part ir da legislação e do t rabalho das pessoas.

ABSTRACT

In a short and direct speech, t he Minist er of Finances of president Luiz Inácio Lul a da Sil va’s government , Ant onio Pal occi Fil ho, admit t ed t he mist ake of having been at fi rst against t he Fiscal Responsi- bil it y Law (LRF). Af t er experiencing t he good fi scal management of t he current government , he acknowl edged t hat t he l egisl at ion, combined wit h ot her inst ru- ment s of cont rol - such as debt covenant s and t ransparency - and t he change of be- havior in societ y, enabl ed t he count ry t o have a sol id economic bal ance. For him, t here is no need t o promot e changes in t he l egisl at ion, but t o ensure t he progress al ready achieved and, inst ead of l ooking f or new recipes, adj ust t he exist ing ex- pendit ures. According t o Pal occi, success is t he merit of t he count ry and t he resul t of a virt uous cycl e t hat is f ormed f rom t he l egisl at ion and f rom work.

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CONFERENCIAS

CONFERÊNCIA

Minha int enção é abordar a Lei de Responsabilidade Fis- cal (LRF) sob um aspect o mais abrangent e, que most ra um conj unt o de inst rument os que int erf ere no quadro fi scal de um país como o Brasil.

Assim como a LRF, os acordos de dívidas com os est ados f oram muit o import ant es para o Brasil e repre- sent aram um ref orço em relação à quest ão fi scal. O cri- t ério de t ransparência no orçament o público, que veio

ant es da LRF, f oi confi rmado e acent uado com ela. Es-

t as duas quest ões são muit o import ant es: a associação da Lei aos acordos de dívidas e a consolidação do crit ério de t ransparência.

Out ro aspect o que quero ressalt ar é relat ivo ao avanço int ert emporal na quest ão da responsabilidade fi s-

cal, que fi cou demonst rado na crise de 2008 e 2009. Em

1999, o Milt on Friedman afi rmou que o Brasil t inha um

problema fi scal grave e t eria que escolher ent re redu-

zir gast os, aument ar a poupança ou aument ar a receit a. Sempre me coloco à direit a do Friedman, ele não t inha que t er dado essas opções, ele deveria t er escolhido au- ment ar a receit a. Mas a verdade é que a quest ão ali era cort ar gast os, isso era o mais import ant e. Ele acert ou ao

afi rmar que a quest ão fi scal era o cent ro do problema

brasileiro na crise de 1999, mas disse que era possível resolver dos dois j eit os. E o administ rador procura o ca- minho mais f ácil, que é buscar receit as novas.

O esf orço de aument ar a poupança pública, em 1999, permit iu que na crise de 2008 e 2009 ent endêsse- mos o que era a polít ica fi scal ant icíclica porque sempre fi zemos a polít ica fi scal pró-cíclica. Em t oda crise, nós íamos ao Congresso para t omar mais receit a da socieda-

de. Não se t rat a de dizer que houve um Governo melhor que o out ro, t odos f oram ruins nessa mat éria. Nós íamos t omar da sociedade mais receit a para resolver a crise do

Governo, a crise das fi nanças públicas, e essa evolução

fi scal que t ivemos permit iu que em 2008 fi zéssemos de-

soneração t ribut ária e incent ivo ao set or privado, dado o equilíbrio das cont as públicas. É nessa quest ão que eu associo a LRF à t ransparência da poupança pública, à

ideia de cult ura de responsabilidade fi scal que se criou

no Brasil. No passado havia governant es que f aziam pia- das quando se quebrava o Est ado, e isso era glamouroso, esse era o Brasil.

Mas vemos que, j unt o com o cont role da infl a-

ção, nós conquist amos a opinião pública, inserindo uma

cult ura pela responsabilidade fi scal, que f az com que

hoj e a sociedade fi que at ent a. Se um governant e ou um

candidat o f alar que vai t olerar um pouco de infl ação e

aument ar gast os, eu t enho dúvida de que ele t erá algum sucesso e espaço público no Brasil. Essa é uma evolução que acont eceu em poucos anos, em menos de duas dé- cadas a infl ação e a quest ão fi scal eram irmãs gêmeas do nosso desast re econômico. Nós conseguimos um avanço de equilíbrio sólido do pont o de vist a econômico que nos permit iu lidar com a crise dessa maneira.

Que avanços nós ainda podemos t er? Eu diria que

o primeiro deles é f azer um esf orço para que as fi nanças

públicas dependam menos de novas receit as e mais de adequação de nossas despesas. É possível f azer isso. Des- de a Const it uição de 1988, est amos elevando os nossos gast os acima do Produt o Int erno Brut o (PIB). Se nós au- ment ássemos gast os ano a ano, mas um pouquinho abai-

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xo do PIB, t eríamos uma condição de equilíbrio macroeconômico de muit a qualidade, muit o consist ent e. E mais, em um país como o Brasil, que t em uma dívida elevada, a polít ica fi scal é cont radit oriament e uma polít ica de cresciment o.

Num país alt ament e endividado, quando você opera a poupança pública e a redução de dívida, o impact o que isso t em sobre a condição macroeconômica é de cres- ciment o e não de decréscimo da at ividade. Isso porque os indicadores do país melho- ram de uma maneira t ão excepcional que f avorece o processo de cresciment o do país. Quando se f az um compromisso de 20 anos, do t erceiro ano em diant e o cresciment o dá o result ado, o esf orço não precisa ser de 20 anos.

Eu acredit o que a quest ão fi scal no Brasil é um f at or de cresciment o, se a t ra- t armos de f orma adequada. Devemos ut ilizar as conquist as at é aqui e f azer avanços no sent ido de melhorar as qualidades das polít icas. Eu não f aria mudanças na legislação, como alguns sugeriram. At é porque, sej amos honest os, há riscos de se mudar a legisla- ção para pior, com a maior das boas int enções. São ideais t ot alment e legít imos e cor- ret os do pont o de vist a social, mas que precisam ser vist os sob uma perspect iva maior. Acho que nós t emos que assegurar as conquist as f eit as at é agora e t rabalhar para ent ender a administ ração pública para aperf eiçoar os result ados conquist ados,

visando a melhora da qualidade do processo fi scal brasileiro. O avanço que t ivemos

f oi ext raordinário, deixamos para t rás essa hist ória de hiperinfl ação e de descont role fi scal, e a cult ura brasileira mudou de procediment o.

Eu e minha bancada f omos cont ra a LRF, mas pagamos o nosso erro quando

fi zemos uma excelent e gest ão fi scal no Governo Lula que se encerra, que reduziu a

dívida pública. Uma conquist a que não é nossa, não é do governo, não é das pessoas, é do país.

Depois de anos que a nossa dívida parecia uma mont anha-russa, mas apenas com subida, ela volt ou por um caminho de pedra, consist ent e, result ado do t rabalho das pessoas com base na legislação vigent e. Eu ressalt o muit o essa quest ão do t rabalho das pessoas, pois com a mesma Lei se f az grandes coisas e grandes bobagens. Ent ão, é preciso associar a legislação aos at os prat icados, à t ransparência para a sociedade, e f azer disso um conj unt o virt uoso para que nós possamos t er novos valores.

CONFERENCIAS

Política econômica responsável e