• Nenhum resultado encontrado

90 | 91 C A D E R N O S F G V P R O J E T O S : L E I D E R E S P O N S A B I L I D A D E F I S C

RESUMO

Pref eit o de São Paulo, Gilbert o Kassab afi rma que est a- mos caminhando na direção cert a e ressalt a a import ân- cia da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para se admi- nist rar com mais qualidade e aust eridade. Ao comparar a cidade de São Paulo em 2011 e há dez anos, Kassab most ra que cont role orçament ário, int eligência dos gas-

t os e audit oria fi scal combinam sim, e muit o, com in-

vest iment os públicos para os cidadãos. Segundo Kassab, apenas uma administ ração organizada e t ransparent e t em condições de gerar recursos e dist ribuí-los de f orma efi cient e. Mas Kassab levant a um pont o f undament al: os encargos desproporcionais cobrados pela União no par- celament o do pagament o das dívidas públicas municipais e est aduais. At it udes imediat as são vit ais para dar cont i- nuidade aos progressos j á conquist ados.

CONFERÊNCIA

Vivemos num país que est á no rumo cert o. At ravés de uma série de leis, o Brasil f oi, ano após ano, década após década, const ruindo seu f ut uro. A Lei de Responsabilida- de Fiscal (LRF), da qual part icipei da graduação, é uma das razões do ext raordinário at ual moment o, com seus desafi os e problemas.

O pont o alt o nest e event o f oi quando o deput ado f ederal Palocci reconheceu publicament e que o seu par- t ido errou ao não apoiar a LRF. Uma manif est ação ver- dadeira, import ant e, do primeiro Minist ro da Fazenda do at ual governo.

Como pref eit o de São Paulo, sou benefi ciário des- sa lei e, depois de t ant os depoiment os sobre ela, quero f alar sobre a sua import ância para a maior cidade do país. Pret endo est abelecer um paralelo ent re as sit ua- ções ant es e depois da LRF. Trat a-se da conquist a da so- ciedade brasileira que deve ser permanent ement e valo- rizada. Graças a esse import ant e inst rument o de gest ão, f oi possível criar as condições para que o Est ado brasi-

ABSTRACT

São Paul o’s Mayor Gil bert o Kassab said t hat we are heading in t he right direct ion and highl ight s t he impor- t ance of t he Fiscal Responsibil it y Law (LRF) t o be abl e t o manage wit h more qual it y and aust erit y. When compar- ing t he cit y of São Paul o now and t en years ago, Kassab shows t hat budget ary cont rol , int el l igent spending and

fi scal audit ions combine a l ot wit h publ ic invest ment f or t he cit izens. Al so because, he said, onl y one organ- ized and t ransparent administ rat ion is abl e t o generat e f unds and dist ribut e t hem effi cient l y. But Kassab raises a f undament al issue: disproport ionat e cost s charged by t he Union in t he inst al l ment payment of st at e and l ocal government debt s. Immediat e act ions are vit al t o con- t inue t he progress al ready achieved.

leiro pudesse gerir de f orma responsável e t ransparent e. Falou-se muit o nest e event o sobre a quest ão da t ranspa- rência, mas, na prát ica, ela ainda é pouco aplicada. No ent ant o, em seus múlt iplos aspect os, ela é f undamen- t al. Não apenas na quest ão dos salários dos servidores, mas t ambém nos cont rat os e nas medições, é import ant e que a t ransparência sej a implant ada o mais rapidament e possível. At é mesmo porque a legislação impõe que sej a assim. O Est ado, obrigat oriament e, t em que dar publici- dade e visibilidade a t odos os seus passos.

O est abeleciment o de limit es para os gast os com pessoal e para a criação de despesas de carát er cont inu- ado é exemplo claro de regras que propiciaram um salt o na f orma de se administ rar com qualidade e responsabi- lidade. Quando a lei f oi propost a, alguns condenaram a

ideia com a afi rmação de que a aust eridade administ ra-

t iva e a responsabilidade fi scal não poderiam ser adot a-

das em harmonia com a necessidade de invest iment os na área social.

CONFERENCIAS

Mas posso afi rmar, como pref eit o de São Paulo, onde

t enho o grande desafi o de conciliar a capacidade de

produzir riqueza com a dist ribuição j ust a de seus re- cursos, que a LRF f oi uma excelent e f errament a para alavancar o invest iment o em polít icas sociais na nossa cidade. Não exist e nenhum ant agonismo ent re cont role orçament ário, int eligência dos gast os e audit oria fi scal com a at enção ao cidadão. Aliás, soment e uma adminis-

t ração organizada, com suas fi nanças em dia, t em con-

dições de gerar recursos para invest iment os sociais. É assim que, hoj e, São Paulo consegue invest ir 20% do seu orçament o em saúde, 31% em educação e, desde 2005, dest inar recursos da ordem de R$ 3 bilhões para a cons- t rução de moradias, urbanização de f avelas, eliminação de áreas de risco e melhorias de condições de habit ação. Pela primeira vez, depois de t rint a anos, invest imos na const rução de linhas do met rô, t aref a ant es dest inada ao governo est adual. Transport e rápido e seguro t ambém é polít ica social.

Tudo isso só f oi possível com uma prof unda reor- ganização da pref eit ura iniciada na gest ão de José Serra. A racionalização dos gast os, o rigor nas cont rat ações e a boa gest ão de recursos permit iram que ampliássemos nossas ações volt adas aos mais necessit ados. Port ant o,

não rest am dúvidas de que responsabilidade fi scal com-

part ilha com invest iment o social. Mas é preciso avançar e aprimorar os mecanismos que possibilit aram t odas es- sas conquist as.

O moment o é oport uno para resgat ar os prin- cípios e obj et ivos que mot ivaram e sust ent aram a im- plement ação de um amplo programa de reest rut uração

fi scal, cuj o maior marco é a LRF. Nessa época, a União

celebrou o cont rat o de refi nanciament o de dívidas com

est ados e municípios com a int enção de assegurar condi- ções adequadas para permit ir e sust ent ar a reest rut ura- ção fi scal nos diversos âmbit os do governo.

Em São Paulo, a pref eit ura fi rmou um acordo

com a União e assumiu a t ot alidade das dívidas muni-

cipais at ravés do programa de aj ust e fi scal que visava

reduzir os cust os de fi nanciament o da dívida pública dos

est ados e municípios. Ent ret ant o, t ranscorridos mais de dez anos, observa-se que o que era para ser um acordo que propiciaria e acent uaria o equilíbrio fi scal acabou se t ransf ormando no principal f at or de desaj ust e das fi nan- ças da pref eit ura de São Paulo.

Os dados são muit o import ant es para que essa

análise sirva de exemplo para import ant es refl exões e

decisões em relação ao f ut uro da lei, que deve e precisa ser preservada para o bem do país. Nos primeiros meses de 2010, a dívida que somava R$ 11, 3 bilhões, em 2000, alcançou R$ 39, 5 bilhões apesar do ef et ivo pagament o de R$ 11, 7 bilhões em parcelas durant e esse período. Não deixamos de pagar uma única parcela e nunca at ra- samos. E, apesar do pagament o nominal acima da t o- t alidade da dívida inicial, ainda rest a saldo devedor de quase quat ro vezes o valor original.

O Governo Federal cobra j uros capit alizados de 9% ao ano, acrescido de at ualização do IGP-DI, sobre o saldo da dívida da pref eit ura. Em 2010, o mercado pro- j et a o t et o para o IGP-DI em t orno de 7, 9% ao ano, o que acrescido dos j uros de 9% result ará em encargos próxi-

mos a 18% ao ano. Para fi ns de comparação, mesmo com

o aument o, a t axa do Sist ema Especial de Liquidação e Cust ódia (Selic) é inf erior a 10% ao ano. Essa dif erença irá gerar cerca de R$ 3 bilhões em encargos adicionais ao município soment e est e ano.

Apenas para se t er uma noção da grandeza, com a economia desses R$ 3 bilhões poderiam ser const ruídas

500 creches na cidade de São Paulo – o que signifi caria

at ender t oda a demanda de cuidado do município – ou 20 mil novas moradias para f amílias de baixa renda. Ou, ainda, seria possível a const rução de dez hospit ais seme- lhant es ao recém-inaugurado na cidade de Tiradent es, com 230 leit os de int ernação e capacidade para at ender 25 mil pessoas.

92 | 93 C A D E R N O S F G V P R O J E T O S : L E I D E R E S P O N S A B I L I D A D E F I S C

Ao proj et ar esse dif erencial at é 2030 –, pode-se t er a clara noção dos impact os negat ivos desses encargos desproporcionais, que irão int erf erir na implement ação de polít icas pú- blicas essenciais para o cidadão paulist ano. O problema adquire proporções ainda maiores quando se observa que as dist orções causam mais que danos present es e f ut uros. Isso porque, além de compromet er os invest iment os públicos, que deixam de ser realizados,

t ambém geram um ef eit o acumulat ivo que inviabilizará o pagament o da dívida ao fi m do

cont rat o. As proj eções indicam que, em 2030, haverá um saldo residual da dívida de cerca de R$ 105 bilhões. O cont rat o prevê 10 anos para amort ização de event uais resíduos e que não haverá mais defi cit com compromet iment o das receit as.

At ualment e, o t et o de compromet iment o é de 3%, mas as parcelas para o pagament o da dívida compromet erão nada menos do que 96% das receit as do município. Para viabilizar esses pagament os, simplesment e t odos os serviços públicos prest ados, como saúde, educa- ção, limpeza urbana e assist ência social, t eriam que ser int errompidos.

São Paulo vai honrar seus compromissos. Temos o propósit o de pagar nossa dívida com a União, mas isso t em que ser f eit o dent ro de condições que preservem a nossa ca- pacidade de invest iment o e pagament o. E esse é um problema que não at inge apenas São

Paulo, mas várias cidades e est ados do Brasil. Um desafi o que exige ações serenas e bem

pensadas, porém imediat as.

A dívida não pode ser paga com o est rangulament o dos municípios ou com compro-

met iment o das condições que benefi ciam populações. Os avanços que poderemos alcançar

não se rest ringem a essa urgent e necessidade de se renegociar os índices de correção da dívida. É j ust o, t ambém, que se refl it a sobre o dest ino desse dinheiro, porque part e dele poderia ser revert ida em desenvolviment o e melhorias para os est ados e municípios.

Esse moment o é de celebração e de congrat ulação de t odos aqueles que f oram responsáveis pela elaboração dessa import ant e lei. Mas, ao mesmo t empo em que devemos f est ej ar as conquist as proporcionadas, é oport uno resgat ar os obj et ivos que nort earam a

elaboração desse programa de ref ormas: permit ir e sust ent ar a reest rut uração fi scal dos

diversos níveis de governo. Port ant o, agora é a hora adequada para cobrar da União uma ef et iva responsabilidade f ederat iva. Se não f osse a LRF, a cidade de São Paulo est aria em sit uação caót ica. Todos nós sabemos o que era a cidade quando o Governo Federal assumiu as pesadas dívidas que exist iam no município e deu condições à cidade de ret omar um planej ament o. Port ant o, est ou aqui hoj e para f azer esse alert a. Não que se mude a lei, porque, assim como disse o deput ado Palocci e o Minist ro Gilmar Mendes, isso pode ser

muit o perigoso. Mas que se f aça uma prof unda refl exão em relação a esses aspect os, prin-

cipalment e no que diz respeit o aos j uros das dívidas, para que possamos t er preservada a cont inuidade desses invest iment os. Em pouco t empo, cidades como São Paulo est arão no limit e da sua capacidade.

CONFERENCIAS

Pesquisa de percepção sobre a