• Nenhum resultado encontrado

Iniciou-se na carreira polít ica em 1968, como vereador de Londrina, Paraná. At uou como deput ado est adual e como deput ado f ederal com a maior vot ação proporcional da hist ória do Paraná. Em 1982 f oi eleit o senador e vice-líder do Part ido do Moviment o Democrát ico Brasileiro (PMDB), e ent re 1987 e 1991 f oi governador do Paraná – at uação que lhe rendeu a indicação de melhor governador do país, segundo pesquisa do j ornal Folha de São Paulo. Deixou o PMDB em 1991 para f undar o Part ido Social Trabalhist a (PST) e, post eriorment e, fi liar-se ao PSDB. Seu segundo mandat o como senador ocorreu ent re 1999 e 2007. No ano de 2007 f oi eleit o, por unanimidade, vice-president e do Senado Federal e recebeu o diploma de dout or honoris causa em Administ ração Governament al pela Sout hern

St at es Universit y, em San Diego, na Calif órnia.

Senador Alvaro Dias

Histórico e perspectivas sobre a

Lei de Responsabilidade Fiscal

RESUMO

Segundo o senador Alvaro Dias, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) represent a a visão de f ut uro que muit os administ ra- dores públicos não t êm. O senador acre- dit a que, apesar da import ância da LRF e de sua boa aplicação nas esf eras munici- pais e est aduais, ainda f alt a rigor na fi s- calização dos gast os da União. O senador convoca os especialist as e a sociedade a debat erem proj et os que podem, de algu- ma f orma, compromet er o avanço da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ele def ende uma ref orma administ rat iva, em t odas as esf eras governament ais, e uma melhora

na qualifi cação e profi ssionalização do

f uncionalismo público.

ABSTRACT

According t o Senat or Al varo Dias, t he Fis- cal Responsibil it y Law (LRF) envisions t he f ut ure in a way t hat many publ ic admin- ist rat ors do not , and he bel ieves t hat , despit e it s import ance and t he proper impl ement at ion at municipal and st at e agencies it st il l l acks severit y in monit or- ing t he expendit ures of t he Union. The Senat or convenes expert s and societ y t o discuss proj ect s t hat may, somehow, compromise t he success of t he LRF. The Senat or al so def ends an administ rat ive ref orm in al l spheres of government , and an improvement in t he qual ifi cat ion and prof essional ism of civil servant s.

CONFERÊNCIA

É inevit ável dest acar a import ância da LRF. Ela f oi essencial para que alcançássemos

uma est abilidade econômica e fi nanceira, melhorássemos a imagem econômica do Bra-

sil no ext erior e, assim, reduzíssemos o risco-país.

Rui Barbosa j á dizia que o desequilíbrio ent re receit a e despesa é a doença crônica que af et a a nossa exist ência nacional. Port ant o, j á naquela época havia a preocupação com o desequilíbrio das cont as públicas do país. E at é o advent o da LRF, a irresponsabilidade – principalment e a pública em anos eleit orais – chegou a supe- rar t odos os limit es do bom senso e provocou o cresciment o avassalador da dívida pública brasileira.

Mas é bom ressalt ar que, apesar disso, a generalização é inj ust a. Alguns admi- nist radores j á prat icavam a responsabilidade fi scal – zelando pelo equilíbrio das cont as

públicas e cuidando dos aj ust es fi scais necessários – mesmo sem a exist ência de uma

legislação específi ca. Eu f ui governador ant es da LRF e, ao fi nal do meu mandat o,

56 | 57 C A D E R N O S F G V P R O J E T O S : L E I D E R E S P O N S A B I L I D A D E F I S C

CONFERENCIAS

pude ouvir com sat isf ação um coment ário do Joelmir

Bet ing afi rmando que um est ado brasileiro havia t ermi-

nado a gest ão com superavit , com um grande programa

de obras realizado e dinheiro em caixa. E isso acont eceu

depois de 20 anos de defi cit s e de elevação da dívida

pública no período. Tant o que pagamos US$ 329 milhões a mais do que o previst o pelos novos emprést imos que cont raímos para programas execut ados no est ado.

Lament avelment e, essa não era a regra. O opor- t unismo e o imediat ismo levavam os administ radores a t erem como horizont e apenas a duração do seu próprio mandat o, sem nenhuma visão est rat égica de f ut uro. Isso, evident ement e, det eriorava as fi nanças públicas do país e promovia o endividament o. Logo, a consequência ime-

diat a era uma infl ação galopant e. No meu período de

governo, chegamos a t er uma infl ação de 80% ao mês. E

é por isso que quando t ive a oport unidade de relat ar essa mat éria no Senado Federal, na Comissão de Just iça e Ci- dadania, procurei evit ar as pressões para a fl exibilização da lei. Hoj e, ela represent a a mudança na cult ura da administ ração pública, que est abeleceu planej ament o, t ransparência, cont role e responsabilização, ant es ine- xist ent es. Mesmo assim, a LRF sempre t eve adversários. Mas acredit o que agora, depois da experiência adminis- t rat iva vivida, at é quem era cont ra passou a ser a f avor.

E é por isso que, após o alert a do Minist ro Nelson Jobim com relação à Ação Diret a de Inconst it ucionalida- de (ADIN), que se encont ra no Supremo Tribunal Federal, vou f azer aqui uma sugest ão. Quem sabe, dest e f órum, nós possamos sugerir a arquit et ura de uma propost a que, alt erando a legislação vigent e, confi ra a nulidade à ADIN? Se aqueles que eram cont ra ant es agora def en- dem, cert ament e nós podemos, com f acilidade, art icular um grande acordo polít ico e aprovar uma alt eração na

lei at ual sem prej uízo do seu vigor e sepult ar essa ADIN. Seria um ret rocesso hist órico se t ivéssemos uma deci- são do Supremo Tribunal Federal que compromet esse o avanço da LRF. Uma Lei t ão import ant e para o país e que t raz, exat ament e, a visão est rat égica de f ut uro que f alt a a t ant os administ radores públicos. Precisamos t rabalhar cont ra os agressores da LRF, porque essa é uma propost a que vem lá de t rás e que, realment e, não t em sent ido.

Mas, mesmo assim, na cont ramão da LRF, o gover- no edit ou no últ imo dia 27 de abril, cinco meses ant es das eleições, a Medida Provisória nº 487 que perdoa os

est ados que descumpriram a met a de superavit primário

em 2009 ou aument aram os gast os com pessoal além do permit ido. A ref erida MP aut orizou os est ados a t omar

novos emprést imos fi nanceiros e liberou os governadores

das penalidades. Ou sej a, é um prêmio à irresponsabi- lidade e uma punição ao respeit o à lei. Porque, afi nal, aqueles que respeit am são punidos na medida em que os que a descumprem são perdoados e auf erem benef ícios que out ros não podem.

O prof essor Sergio Quint ella f ez ref erência ao Conselho de Gest ão Fiscal e eu t ambém considero da maior import ância a sua aprovação. Mas aqueles que são f ront alment e cont rários à LRF e exercem cargos execu- t ivos não est ão muit o dispost os a aprimorar a legislação. Segundo o Proj et o nº 3. 744, de 2000, o Conselho t em por

fi nalidade est abelecer diret rizes gerais para o acompa-

nhament o e avaliação permanent e da polít ica e da ope-

racionalidade da gest ão fi scal. Mas ele est á parado na

Comissão de Trabalho, Administ ração e Serviço Público, na Câmara dos Deput ados. Depois de 10 anos de apro- vação da LRF, algumas medidas complement ares ainda aguardam a apreciação do Congresso Nacional. E essa do Conselho é uma delas.

Tramit a ainda o Proj et o nº 54, de 2009, que est abelece que o mont ant e da dívida mo- biliária f ederal não pode ult rapassar 650% da receit a corrent e líquida.

A aprovação dessas medidas, além de ser f undament al para que o Execut ivo não ext rapole, impediria os desvios que t êm sido prat icados, como, por exemplo, a decisão do governo de abat er sem limit es os recursos dest inados ao Programa de Aceleração do

Cresciment o (PAC) na met a fi scal de 2011. At it udes como essa compromet em a credibi-

lidade fi scal conquist ada na últ ima década.

Out ra medida complement ar t ramit a na Comissão de Assunt os Econômicos do Senado Federal e t em por relat or um líder do governo. Trat a-se de um proj et o de reso- lução de 1984. Tais propost as são limit es globais para o mont ant e da dívida consolidada da União.

Exist e out ro expedient e ut ilizado, as t ransf erências do Tesouro para a Pet ro- bras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvi- ment o Econômico e Social (BNDES), que, a meu ver, deveriam ser cont abilizadas como dívida pública. Essa é uma quest ão para ser debat ida ent re os especialist as que aqui se encont ram. E nós est aremos sempre abert os a sugest ões que surgirem desse debat e. Considero esse assunt o f undament al, porque se o próximo president e da República não adot ar medidas rigorosas com relação a esse endividament o – medidas drást icas que podem gerar cert a impopularidade no início – t alvez o país sof ra graves consequências. Enfi m, a f alt a de uma t rava e de uma fi scalização mais ef et iva para os gast os da União podem compromet er o sucesso da LRF. Por isso, essas propost as elencadas devem ser agilizadas. Nós somos rigorosos em relação aos municípios e aos est ados, mas ainda est amos muit o complacent es em relação à União.

Quant o à fi scalização vej o os Tribunais de Cont as dos est ados cont aminados. Por isso, t enho um proj et o aprovado no Senado Federal que est á na Câmara dos Deput ados, que inst it ui o concurso público para o preenchiment o dos cargos de conselheiros dos nossos t ribunais com o obj et ivo de t orná-los mais qualifi cados. É f undament al premiar o t alent o, a pesquisa, o est udo e o preparo. Afi nal, há quem indique o irmão ou o genro para, depois, t er suas cont as j ulgadas por eles. E isso, realment e, precisa acabar.

Não incluí aqui o Tribunal de Cont as da União (TCU), porque acredit o que ele vem cumprindo rigorosament e o seu papel e merece aplausos por t ent ar cont er o pro- cesso de corrupção exist ent e no país. Mas, ainda assim, são várias as invest idas cont ra o TCU. A mais recent e delas f oi a Lei de Diret rizes Orçament árias (LDO).

58 | 59 C A D E R N O S F G V P R O J E T O S : L E I D E R E S P O N S A B I L I D A D E F I S C

CONFERENCIAS

A LRF não est imulou a ref orma administ rat iva dos est ados ou municípios e, muit o menos, da União. Ao cont rário, a União f az uma ref orma administ rat iva às avessas. Engordou a máquina pública de f orma exuberant e, criando minist érios, secret arias, diret orias, coordenadorias e cargos comissionados. As despesas corrent es cresceram assust adorament e e o Est ado se t ornou perdulário, est abelecendo paralelismos e su- perposições de ações que podem ser perf eit ament e eliminados por uma ref orma ad- minist rat iva que privilegie o aj ust e fi scal e a recuperação da capacidade de invest ir. São aspect os essenciais para melhorar a qualidade de vida da população. A ref orma administ rat iva é vit al, mas é uma expressão em desuso no Brasil ult imament e.

Aliás, quando o Joelmir Bet ing f ez ref erência ao superavit do Paraná, mencio-

nou t ambém um milagre operado por dois sant os: ref orma administ rat iva e aust erida- de. Com o primeiro deles, eliminou-se um t erço do Est ado. Mas cort amos 700 cargos comissionados, que depois f oram rest abelecidos por out ras gest ões. Port ant o, apesar de legislar sobre essa quest ão dos comissionados ser complicado, deveríamos buscar inst rument os para reduzi-los na administ ração pública. E t ambém para valorizar o con- curso público, o t alent o e a avaliação t écnica. Porque há t écnicos em f unções públicas f undament ais à vida das pessoas sendo subst it uídos por cargos eleit orais.

Quando era governador, lembro que o Banco Mundial (BIRD) fi nanciou um pro-

grama de qualifi cação t écnica dos quadros administ rat ivos do set or público, a f undo

perdido, e nós o fi zemos parar. Mas vamos f azer essa aut ocrít ica, pois est amos na

vida pública e é uma lást ima a qualidade dos f uncionários administ rat ivos das unida- des f ederat ivas. Os pref eit os são, muit as vezes, modest os, sem preparo, e acabam se submet endo a pessoas t ambém despreparadas. Por isso é import ant e que a legislação,

inclusive essa da responsabilidade fi scal, t enha sucesso. Quem sabe o governo f ederal

não possa liderar um programa de preparação de profi ssionais para o exercício da at i-

vidade pública nas gest ões municipais e est aduais?

E agora, para concluir, o nosso Minist ro Jobim, com muit a compet ência, f alou sobre a Const it uição de 1988, da qual eu f ui relat or. Essa Const it uição f oi um avanço inegável, mas há a necessidade t ambém de uma legislação complement ar. Isso result ou em quê? Muit os det alhes f oram repassados, principalment e aos municípios, sem que se t ransf erissem, em cont rapart ida, recursos para at endiment o das novas demandas

geradas. Hoj e, eles alegam difi culdade em respeit ar de f orma rigorosa a LRF porque

est ão ou f oram suf ocados.

Nós est amos rediscut indo o Sist ema Federat ivo e uma ref orma t ribut ária que t rat e, evident ement e, da arrecadação dos t ribut os. Mas que est abeleça t ambém um sist ema de dist ribuição da receit a de f orma econômica, equânime e corret a e que con- t emple igualment e t odas as unidades da f ederação.

A Lei de Responsabilidade Fiscal do Brasil