• Nenhum resultado encontrado

4 Descrição, análise e discussão dos dados

4.2 Divisões de Educação municipais

4.2.7 Desafios e planos de desenvolvimento para o ensino

Os desafios mencionados por todos os municípios são a heterogeneidade dos grupos, onde também devem ensinar-se alunos que precisam de ensino especial. Além disso, são indicados os problemas referentes ao recrutamento de professores qualificados e pedagogicamente competentes, ao caráter temporal dos contratos laborais e à não pertença dos professores à comunidade laboral. As constantes entradas e saídas de alunos nos grupos e a elaboração dos horários de aulas, principalmente nas escolas com um sistema periódico ou muitos alunos de LM, constituem um verdadeiro quebra-cabeças.

Em Vantaa, declara-se como uma urgência que se estabeleça um seguimento claro do financiamento e do funcionamento deste ensino, para além de se afirmar que é necessária a sua integração no resto do ensino básico. Contudo, não parece existir nenhuma estratégia para se alcançarem tais objetivos.

Em Helsínquia, pretende-se melhorar a coordenação, delegando a elaboração dos horários ainda mais ao nível local ௅ ao contrário da elaboração centralizada e eficiente praticada em Espoo. Veem-se como desafios difíceis de resolver o não funcionamento da Wilma e do sistema de inscrições.

Finalmente, em Espoo, onde a organização funciona bem, aponta-se para a desigualdade entre os falantes das diferentes LM, pois não se forma um grupo se não há suficientes alunos ou não se encontra um professor. Em 2016, faltava o professor para duas línguas. Além disso, não foi possível aumentar o número de grupos por causa dos cortes orçamentais, havendo turmas com mais de 20 alunos (com 20 perfis de aprendentes diferentes). O problema da falta de planificação do ensino está a ser parcialmente resolvido, pois os professores de LM participaram na elaboração do

Plano Municipal de LM e organizam-se sessões formativas e oficinas sobre a aplicação do novo Currículo.79

De entre os planos de desenvolvimento que recebemos, destacamos o de Espoo, na medida em que é o que apresenta a meta mais concreta. No seu Programa para a Pluriculturalidade (Espoo, 2014: 8), é apresentado como objetivo que se mantenha e se desenvolva a competência da LM das crianças e jovens de origem estrangeira, na educação infantil e no ensino básico. O cumprimento deste objetivo mede-se através dum indicador concreto e demonstrativo: a proporção de alunos que participam nas aulas de LM. Ou seja, em Espoo declara-se oficial e abertamente que se pretende que os alunos de origem estrangeira realmente participem nas aulas, e parece-nos que nesta cidade todas as entidades e agentes individuais envolvidas se esforçam para alcançarem esta meta comum.

4.2.8 Considerações parciais

Devido à posição legal da disciplina, a organização do ensino das LM depende dos municípios, além de algumas (menos de dez) escolas privadas. Podemos alegar que as práticas destes são claramente insuficientes, uma vez que a maior parte dos alunos com direito a assistir às aulas, não as frequenta. Baseando-nos nos exemplos acima referidos, podemos verificar que a organização do ensino das LM depende, em grande medida, dos recursos, do empenho e da vontade dos funcionários individuais das Divisões de Educação e das escolas. Em Helsínquia, a distribuição das tarefas é pouco clara, incluindo um grande número de funcionários dentro e fora da Divisão, ao contrário do que acontece em Vantaa e em Espoo, onde o ensino é dirigido e organizado de forma mais centralizada a partir da Divisão.

Comparando a organização relativa ao ensino das LM, podemos constatar, ainda, que em Helsínquia, com o maior número de línguas ensinadas, alunos, grupos e professores, é imprescindível estabelecer práticas mais eficazes para a informação, para a inscrição nas aulas e para a elaboração dos horários, independentemente de estas tarefas serem da responsabilidade da Divisão, das escolas ou de outras autoridades.

Em relação à informação, acreditamos que seria vantajosa a criação de uma página eletrónica nacional, plurilingue, dedicada às LM, na qual os funcionários municipais, professores, pais e todos os interessados pudessem encontrar, na sua própria língua, todo o tipo de informação prática e teórica. Na Suécia, é a própria Skolverket (Direção Geral da Educação) a entidade responsável por este tipo de página, premiada já em 2003 com The Best Global Website Award,80 a qual poderia servir como exemplo na Finlândia. Dado que Wilma é a única intranet disponível à comunidade escolar na sua totalidade, esta deveria poder utilizar-se também em Helsínquia no ensino de LM, como acontece em Espoo e Vantaa.

79 Informação da planificadora de Espoo (mensagem de correio eletrónico, 18.10.2016).

80 Informação disponível na página Best Global Website Award

(http://www.bestglobalwebsiteaward.com/2003.htm) e na página Tema modersmål, da Skolverket, consultadas a 11.9.2015 (http://modersmal.skolverket.se).

Para as inscrições, poder-se-ia aproveitar o formulário dos dados básicos do aluno, atualizado no início do ano letivo pelos pais, mas que igualmente poderia preencher- se com antecedência na primavera, antes da elaboração dos horários do ano letivo seguinte. Através do mesmo formulário, as escolas poderiam recolher informação valiosa e útil sobre todas as línguas faladas em casa dos alunos. No formulário deveria existir um campo dedicado a estas línguas – como existe um campo para as LE estudadas pelo aluno – com uma ligação direta à página na qual se encontrasse a informação sobre as aulas de LM, preferencialmente escrita nas próprias línguas, para assegurar a compreensão pelos pais não falantes de finlandês. Nesse campo figuraria a informação sobre a assistência do aluno, ou não, ao ensino e, ainda, a possibilidade de fazer a inscrição diretamente no formulário. A gestão das inscrições naturalmente seria mais eficiente caso esta fosse feita num formulário eletrónico, administrado a nível municipal.

Quanto aos horários, a distribuição do ensino por áreas, por dias da semana e por idades, praticada por Espoo, permite que as escolas reservem com antecedência certas horas para as aulas de LM. Este sistema poder-se-ia aplicar também nos outros municípios. Aos alunos que precisam de transporte público para irem às aulas de LM deveria fornecer-se o respetivo passe escolar, como em Helsínquia.

No que respeita aos materiais escolares básicos, todas as Divisões deveriam proporcioná-los para este ensino, como faz Espoo, do mesmo modo como jogos e demais materiais lúdicos, meios tecnológicos e salas devidamente equipadas. Além de facilitar a aquisição de materiais didáticos através de um orçamento digno, destinado para o efeito, deveriam promover a elaboração dos mesmos através de listas bibliográficas e bancos de materiais virtuais, adequados a este ensino.

Quanto ao recrutamento e orientação dos professores, acreditamos que o modelo centralizado de Espoo é o mais eficiente, dado que os próprios funcionários da Divisão de Educação e os professores coordenadores são quem melhor conhece todo o campo do ensino de LM no seu município, além de promover a colaboração com cada escola particular onde têm lugar as aulas.

Seria de suma importância a integração dos professores numa comunidade laboral, hoje inexistente, exceto em Espoo, na qual pudessem receber orientação e apoio pedagógico. Todas as sessões formativas poder-se-iam organizar conjuntamente na área metropolitana, até porque assim, por exemplo os professores de E/P teriam uma possibilidade de se encontrar com os seus colegas dos outros municípios para trocarem experiências e se entreajudarem. Neste momento, Espoo oferece uma quantidade muito maior de sessões formativas relacionadas com o ensino de LM do que os outros municípios.

Um dos maiores obstáculos para um ensino de qualidade é a falta de Planos Municipais adequados ao público a que se destinam, como verificámos ao analisarmos os Planos de Espanhol e de Português. Defendemos que estes Planos devem ser elaborados por equipas multidisciplinares competentes, sob a responsabilidade da Oph, pois consideramos pouco provável que haja, a nível municipal, especialistas em dezenas de línguas e na didática de LM, capacitados também para a planificação curricular. Lamentavelmente, não parece haver iniciativa neste sentido, da parte da

Oph, e também não parece existir nenhum município que tenha elaborado Planos específicos, baseados no novo Currículo Nacional.

Os professores de LM não podem influenciar nas práticas do município, mas podem e devem criar condições para que os alunos se sintam motivados a estarem presentes nas suas aulas, uma vez que estes encontrem o caminho até aí. No próximo subcapítulo, averiguamos que tipo de alunos frequentam o ensino de E/P.

4.3 Caraterísticas sociolinguísticas dos alunos de espanhol e de