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4 Descrição, análise e discussão dos dados

4.2 Divisões de Educação municipais

4.2.5 Recrutamento, orientação e formação dos professores

A existência ou não de critérios nacionais para uma qualificação formal dos professores é um assunto que se afigura contraditório. Segundo a informação da Oph, “não existem critérios específicos para o ensino de LM, de modo que se aplicam os critérios gerais para os professores, caso o município não apresente critérios locais (p.ex., qualificação de professor de língua materna e literatura, nos municípios da área metropolitana).”73

Pela bibliografia consultada, podemos constatar que até as mais altas autoridades educacionais74 lamentam a falta de critérios nacionais para uma qualificação formal (Lehikoinen, 2013: 5; Nissilä, 2010: 8). Uma vez que não existem, cada município acaba por ter requisitos diferentes para o recrutamento de docentes e, devido à falta de candidatos competentes, a maior parte destes não chega a corresponder a esses mesmos requisitos (Nissilä, 2010: 5).

Segundo a advogada de Kuntatyönantajat, KT Local government employers, 75pelo contrário, existem, sim, e devem aplicar-se no recrutamento de professores de LM os critérios do Artigo 5 sobre as qualificações dos professores de disciplina, do Decreto (986/1998) sobre os requisitos de qualificação do pessoal docente: um diploma de estudos superiores, com um mínimo de 60 créditos de estudos pedagógicos e de 60 créditos de estudos na disciplina a ensinar. Esta contradição – que interpretamos como resultado da incompatibilidade entre os requisitos e a pouca possibilidade de que os professores consigam (reconhecimento para) os 60 créditos de estudos na sua LM – precisaria de um esclarecimento aprofundado, a fim de que não haja situações de equívoco.

Há docentes estrangeiros qualificados na área da formação de professores, tendo efetuado os estudos no seu país (16% como professores de LM e 21% como professores) dos quais apenas 29% e 20%, respetivamente, conseguiram validar o seu diploma na Finlândia (Nissilä, 2010: 5). Isto deve-se ao facto de que a maior parte das LM ensinadas não podem estudar-se como licenciaturas ou mestrados na Finlândia, o que impossibilita a obtenção do reconhecimento do grau; para ser reconhecido, o curso realizado no estrangeiro deve equivaler a um curso superior finlandês em relação ao seu nível, duração e conteúdo programático.76

Em Vantaa, segundo o nosso informante da respetiva Divisão de Educação, o professor deve possuir a qualificação de professor de disciplina, na língua que pretende ensinar. Em Espoo, exige-se-lhe ao candidato a mesma qualificação, além de bons conhecimentos das respetivas culturas, de finlandês e de informática. Tem de ser, ainda, falante “nativo” da língua em questão. Em Helsínquia, o professor não precisa de ser falante “nativo”, ainda que, em muitos casos, este tenha sido o único critério de

73 Mensagem de correio eletrónico (18.3.2013).

74 A. Lehikoinen é a funcionária mais alta do Ministério da Educação e Cultura; L. Nissilä é a

diretora do Vapaa sivistystyö ja monikulttuurisuus -yksikkö (Departamento de Educação Não Formal e Multiculturalidade) da Oph.

75 Mensagem de correio eletrónico (28.9.2016).

76 Informação disponível na página da Oph, “Korkeakoulututkinnon tason rinnastaminen”

escolha, faltando aos candidatos possíveis tanto a formação pedagógica como a linguística.

Em Espoo, todo o processo de recrutamento e de orientação dos professores é executado pela chefe e pela planificadora de LM. Além da assistência personalizada destas duas funcionárias, que inclusivamente visitam as aulas de todos os professores novos no começo do ano letivo, Espoo fornece aos professores o apoio dos professores coordenadores, assim como vários manuais e folhetos informativos, pormenorizados e atualizados anualmente, e textos pré-fabricados que podem ser adaptados a cada língua, por exemplo no caso da informação dirigida aos pais. Entre estes materiais, mencionemos o ilustrativo ”Relógio do ano letivo do professor de LM”, ou o ”Formulário informativo do professor de LM”, assinado pelo professor e pelo diretor de cada escola onde trabalha, que contém toda a informação precisa relativa aos contactos, salas de aulas, chaves, armazenamento de materiais e objetos pessoais, fotocópias, meios tecnológicos, etc. Também existem manuais específicos que facilitam o trabalho docente, como o banco de frases em finlandês para a avaliação verbal ௅ os professores devem usar unicamente estas frases sem as modificar, enquanto que os helsinquienses são obrigados a inventá-las, além de não receberem nenhuma informação nem formação para a avaliação, apesar de serem obrigados a dar um certificado (em finlandês ou sueco) a cada aluno no fim do curso. Os professores de Espoo ainda recebem um cartão profissional com a sua respetiva foto, que podem usar para serem reconhecidos nas diferentes escolas.

O recrutamento dos professores de Helsínquia é feito pelos diretores das escolas, e a sua orientação também depende da boa vontade dos mesmos ௅ para quem muitas vezes as LM não representam uma prioridade, segundo a experiência dos nossos informantes. Apenas uma vez foi publicado um folheto informativo dirigido aos professores (Helsingin kaupungin opetusvirasto, 2011), o qual, infelizmente, não foi publicitado entre estes. Quando posteriormente, por casualidade, o encontrámos na Internet, verificámos que nem todas as informações correspondiam com a realidade. Para dar só um exemplo, no folheto afirma-se que na escola “os colaboradores [do professor de LM] são os professores de finlandês como L2, de turma e de disciplina, e os auxiliares. Se for preciso, o professor de LM também pode dirigir-se ao psicólogo, ao responsável pelo bem-estar dos alunos, ao orientador de estudos ou ao enfermeiro” (Idem: 8). Como veremos, os professores de LM raras vezes chegam a ver o resto do pessoal das escolas por onde circulam, não conseguindo entrar em contacto com os funcionários acima referidos que trabalham nas diferentes escolas de cada aluno.

Em relação à formação contínua, os três municípios organizam uma sessão anual para todos os professores da área metropolitana, que funciona rotativamente. Além desta sessão formativa, Vantaa parece não oferecer formações específicas para os professores de LM, na medida em que apenas menciona aquelas que não são da responsabilidade da própria Divisão: as obrigatórias para quem tiver um contrato coletivo de trabalho da função pública, as da Oph, e os estudos pedagógicos organizados pelas universidades. Espoo, além de dar apoio contínuo em informática e subvencionar através de bolsas a professores particulares que queiram frequentar cursos relacionados com o seu trabalho, organiza cerca de catorze diferentes formações por ano sobre temas que respondem às necessidades dos professores de

LM, como pode ver-se nesta lista de formações oferecidas em 2012/2013 (especificamente destinadas a eles ou não):

- curso de língua finlandesa

- Smartboard e elaboração de materiais didáticos

- plataforma virtual de aprendizagem Fronter - autoridade e responsabilidade do professor - gestão da dinâmica grupo

- professor de LM como orientador de grupo - princípios e frases da avaliação dos alunos de LM - alunos de LM com necessidades especiais - problemas de aprendizagem de imigrantes - jogos e brincadeiras didáticas nas aulas de LM - diferenciação do ensino

- método sugestopédico - método Reading to learn

- projeto nacional KiVa-koulu contra bullying escolar (‘kiva’ significa ‘porreiro’ e é abreviatura de ‘kiusaamisen vastainen’ que significa ‘contra o bullying’)

Neste ponto radica mais uma diferença, a nosso ver, significativa; pois, segundo a nossa experiência pessoal, no ano letivo 2012/2013, os professores de Helsínquia só assistiram a uma única formação específica, a conjunta com os municípios vizinhos, desta vez sobre os problemas de aprendizagem dos alunos de origem estrangeira. Organizou-se um seminário no início do ano e dois ”cafés pedagógicos”, nos quais participámos, não tendo sido discutidos aspetos de natureza pedagógica inerentes à prática letiva. O programa consistiu em palestras, cuja temática não se focalizava no ensino de LM, e em sessões de trabalho de grupo, solicitando-se aos professores, por exemplo, que fizessem uma análise “swot” (forças, oportunidades, fraquezas e ameaças) sobre o seu próprio trabalho, em vez de apresentarem o seu plano para o seguinte ano letivo, como lhes fora pedido com antecedência. Em Helsínquia, na teoria, os professores novos têm direito a quatro sessões gerais destinadas a todos os professores novos do ensino básico, além de outras formações organizadas pela Divisão. O problema é que não são informados sobre esta possibilidade ௅ não se sabe sequer de que tipo de eventos se trata. Note-se, ainda, que houve um curso destinado a todos os professores de línguas, da área metropolitana, a decorrer num fim de semana, no âmbito de métodos cinestéticos, tendo participado apenas nós e o professor de alemão, LM. Isto pode ser sinal de que os professores não tiveram conhecimento do curso, ou recearam não poder seguir a formação em finlandês ௅ ou simplesmente não estavam dispostos a perder o seu tempo livre.