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4 Descrição, análise e discussão dos dados

4.2 Divisões de Educação municipais

4.2.3 Organização das inscrições, grupos e horários

A divulgação da informação sobre as aulas, assim como o processo de inscrição nas mesmas, são primordiais, caso se queiram captar alunos. Em Helsínquia e Vantaa, mencionam-se as LM numa página eletrónica dificilmente localizável68 e no folheto (em finlandês) enviado aos pais dos alunos do 1º ano, mas, de resto, esta divulgação é delegada às escolas, dependendo dos diretores, dos secretários e dos professores de turma, a eficiência com que se faz publicidade ao ensino, e se se distribuem e pedem de volta os formulários das inscrições. No outono de 2013, pela primeira vez, em Helsínquia, nos formulários dos dados básicos do aluno perguntou-se aos pais se o filho frequenta aulas da LM. No entanto, mesmo que houvesse vontade na consecução desta aprendizagem, não seria possível fazer a inscrição através do mesmo formulário, não se sabendo quando e como esta deveria ser feita.

Em Espoo, as inscrições são em março, altura em que as informações precisas e a ligação para o respetivo formulário são publicados nas principais páginas eletrónicas do município, sendo acessíveis a toda a comunidade escolar. Além disso, é possível

67 Nós tivemos de procurar os endereços de todas as escolas dos alunos – não se nos facilitou uma

lista pronta –, para podermos enviar por correio os diplomas, já que não era permitido o professor entregá-los diretamente na aula de LM. Segundo um dos professores (mensagem de correio eletrónico, 10.10.2016), esta prática, que consome bastante tempo, ainda é corrente, em Helsínquia.

68 A página com a parca informação sobre as LM, “Finnish as second language and mother tongue

studies” (consultada a 7.1.2016) não se encontra facilmente na página oficial de Helsínquia, mas após algumas tentativas, conseguimos encontrá-la inclusivamente em inglês (http://www.hel.fi). Para se encontrar o formulário de inscrição, é preciso saber finlandês, mesmo que o próprio formulário esteja disponível em seis línguas diferentes (http://www.hel.fi/www/opev/fi/palvelut/lomakkeet/oma- aidinkieli).

fazer a inscrição através do formulário dos dados básicos do aluno e através dum formulário pré-preenchido, entregue aos alunos já inscritos pelo professor de LM. Em 2010, este tipo de formulário previamente preenchido foi enviado para casa de todos os alunos com direito a assistência. Os funcionários da Divisão de Espoo seguem pontualmente a evolução dos grupos, atualizando constantemente as listas de alunos.

A preparação dos horários para dezenas de línguas e professores, centenas de grupos e 2000௅3000 alunos de todas as idades, afigura-se como um enorme desafio. Em Espoo, a chefe e a planificadora são as responsáveis por elaborarem os horários das LM já antes de as escolas fazerem os seus próprios horários. Além de serem assim reservadas com antecedência as horas de aulas para as LM, os grupos das LM são distribuídos por distritos e por faixas etárias, de modo que cada um dos cinco distritos de Espoo tenha uma tarde específica dedicada a este ensino. As aulas dos alunos do 1º e do 2º ano são normalmente das 12h às14h, dos alunos do 3º ao 6º ano das 14h às16h, e dos alunos do 7º ao 9º ano das 16h às18h. Os pais recebem uma carta com as informações sobre os horários e o início das aulas já em junho, podendo assim planear, com antecedência, por exemplo os hobbies da criança. Acrescente-se ainda que, em Espoo, existe um sistema informático (Kurre) que permite incluir as aulas de LM no horário do aluno, juntamente com as outras disciplinas.

Em Vantaa, o responsável pelos horários também é o chefe, 69 e grande parte das aulas consegue organizar-se dentro de horários escolares normais, entre as 8h e as 14h. Em Helsínquia, pelo contrário, paga-se a responsáveis distritais (diretores ou demais funcionários das escolas) para coordenarem a preparação local dos horários, juntamente com a secretária e os quatro diretores distritais da Divisão. As escolas ௅ na prática, os secretários das escolas, para quem o ensino das LM pode representar mais uma tarefa extra que lhes é imposta ௅ são os responsáveis de informarem os pais sobre os horários. Temos conhecimento empírico de que este sistema não tem funcionado devidamente, pois não se têm publicado nem os horários nem a distribuição dos grupos atempadamente, o que tem atrasado o início das aulas e a integração dos alunos nelas. O modelo de Espoo aplica-se bem às línguas “grandes”, com muitos grupos. Contudo, resta o problema das línguas “pequenas”, com apenas um par de grupos, como é o caso do português. Se não se podem dividir os alunos pela idade e pelo distrito, qual a hora e o dia que se deveria escolher para a aula? Aqui, trata-se de uma simples questão de política. Se as LM fossem apreciadas na legislação e na prática, e não só nos discursos festivos,70 os municípios dedicar-lhe-iam uma manhã ou uma tarde livre de outras disciplinas. Numa situação parecida encontra-se a disciplina de educação moral e religiosa, que integra o Currículo Nacional. Apesar de serem muitos os grupos religiosos, além daqueles que se destinam a quem não pertence a nenhuma comunidade religiosa, os municípios são obrigados a organizar as aulas para grupos com três alunos, dentro do horário escolar normal, e conseguem fazê-lo.71

69 Reparámos que em Vantaa, adaptou-se posteriormente uma divisão por três distritos, cada um

com um responsável pela coordenação do ensino de LM no seu distrito. Informação disponível na página “Oman äidinkielen/ylläpitokielen opetus”, consultada a 25.9.2016 (http://www.vantaa.fi).

70 Como foi referido no seminário de encerramento do projeto Osallisena Suomessa (“Partícipe na

Finlândia”), 10.12.2013, do Ministério de Trabalho, Indústria e Comércio.

71 No município islandês de Kópavogur, começou a valorizar-se tanto o futebol, que todos os alunos

Mencione-se, ainda, que os alunos de LM são colocados numa posição desigual em relação aos outros alunos e inclusivamente entre eles, dependendo do seu município e bairro de residência, dado que em alguns municípios organizam-se aulas na sua LM, em outras não, às vezes perto de casa, outras não. De facto, ensina-se espanhol apenas em 15 municípios, e português em 3. Existe ainda um outro fator que cria desigualdade, nomeadamente o passe de transporte: em Helsínquia, os alunos recebem um passe para apanharem transportes públicos até às aulas de LM; em Vantaa, pelo contrário, os pais devem pagar os respetivos custos de transporte, e em Espoo, permite-se que os que já tiverem um passe escolar possam usá-lo para irem às aulas de LM.