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4 Descrição, análise e discussão dos dados

4.4 Experiências e atitudes dos alunos/pais perante o ensino

4.4.2 Organização das aulas na perspetiva das famílias

Seguidamente passaremos ao grupo de perguntas que medem o sucesso (ou insucesso) em como os diferentes municípios conseguem organizar o ensino das LM, do ponto de vista das famílias, de modo a que facilitasse a inscrição e a frequência dos alunos no mesmo. Verificamos que existe grande variação entre os resultados, destacando-se, também da perspetiva dos alunos e/ou pais, a cidade de Espoo como pioneira das boas práticas em cada um dos aspetos questionados.

A primeira condição para a frequência às aulas é que as famílias sejam informadas da existência das mesmas e do direito que o filho tem a receber ensino da LM. Por

138 Algumas vezes, os alunos de origem africana traziam amigos seus finlandeses às aulas de P, o

conseguinte, logo no formulário de inscrição no ensino pré-escolar e, no ano seguinte, no formulário de inscrição no ensino básico, deveria existir uma caixa para as LM, como vimos acima. Dado que esta prática não existe em nenhum dos municípios, as famílias têm conhecimento acerca do ensino através de diversas fontes, mais frequentemente (32%) através de outro, o qual se refere, por exemplo, aos amigos ou conhecidos. As escolas individuais conseguiram transmitir a informação a menos da terça parte das famílias (27%), e o resto dos pais foi informado através da Divisão de Educação, da Internet, do professor de turma ou do próprio professor de LM (Gráfico 4.27).

Gráfico 4.27 – Modo de informação acerca do ensino

Do mesmo modo, a inscrição faz-se através de diversos meios, em vez de um único; escola (39%), professor de turma (27%), Divisão de Educação (20%), professor de LM, Internet (Gráfico 4.28).

Apenas em Espoo, a maior parte das inscrições faz-se ou através da Divisão (40%) ou do professor da turma (40%). Devido ao facto de a Divisão ser a entidade responsável pelos horários e a escolha dos locais de ensino, além de dispor de todos os dados relativos aos alunos, deveria ser ela, na nossa opinião, também a responsável de fornecer a respetiva informação, nas suas páginas oficiais. No entanto, os horários são recebidos maioritariamente através do professor de turma (37%), do professor de LM (23%) e da escola (23%), recebendo-os apenas 15% através da Divisão de Educação (33% em Espoo, 0% em Helsínquia).

Existe ainda uma pergunta crucial relativa a este tema, que diz respeito à altura em que os pais receberam a informação sobre o horário e o local das aulas. Quase uma terça parte (27%) das famílias foi informada só depois de as aulas começarem; em Helsínquia, mais da metade das famílias (53%). Apenas em Espoo, todos foram informados antes do início do ano letivo, tendo, por conseguinte, os alunos espooenses mais aulas do que os helsinquienses (cujos professores são obrigados a ficar nas salas vazias em vão, à espera dos alunos), além de conseguirem adaptar as aulas ao seu programa semanal de hobbies – e ao horário normal da escola, já que este se elabora respeitando o horário das LM.

Como foi sugerido anteriormente, para o bom sucesso do ensino, é indispensável uma estreita colaboração entre pais e professores, famílias e escola. Para o efeito, o ensino básico da área metropolitana conta com o sistema Wilma. Para os professores seria simples se pudessem colocar no Wilma toda a informação relativa ao ensino, incluindo os contactos com os pais, em vez de informar e atendê-los por telefone e por correio eletrónico pessoal. Mesmo assim, para entrarem em contacto com o professor, apenas em Vantaa a maior parte dos pais (91%) usa Wilma. Em Espoo, 40% dos pais a usa, e em Helsínquia, onde os professores de LM não dispõem sequer desta ligação, os pais são obrigados a usar outros meios (40% usam o telefone). (Gráfico 4.29.)

Para casos de emergência, os professores deveriam ter sempre uma lista de telefones dos pais, como os outros professores, mas esta não lhes é fornecida.139

No tocante ao local das aulas, para 23% dos alunos este é de difícil acesso, tendo problemas quase a metade dos alunos para se descolarem até às escolas onde se organiza o ensino, na capital (Helsínquia 47%, Vantaa 9%, Espoo 7%). É de destacar que os únicos alunos que, inclusivamente, têm medo de ir às aulas são os que moram em Helsínquia. Segundo os pais, as crianças mais novas receiam utilizar transportes públicos e atravessar a pé estradas largas e congestionadas. Na maior parte do ano letivo, já é de noite à hora das aulas de LM. Como vimos, Espoo consegue facilitar o acesso dos alunos aos locais das aulas através dum sistema de ensino por zonas, permitindo que os alunos estudem a LM mais perto da sua casa, o que se reflete na percentagem acima.

Espoo também criou um sistema estruturado de horários segundo a idade dos alunos. Assim, se para 26% da totalidade dos alunos os horários das aulas são complicados, a percentagem em Espoo é consideravelmente mais baixa (14%) do que em Helsínquia (36%) e Vantaa (27%).

Na questão seguinte, perguntámos se o aluno e os pais foram informados sobre os objetivos do ensino, tendo recebido uma resposta positiva de apenas 40% dos inquiridos, enquanto que 60% responderam de forma negativa (Gráfico 4.30).

Gráfico 4.30 – Informação sobre os objetivos

Mais uma vez, em Espoo, os resultados são muito mais positivos do que em Helsínquia, tendo 64% dos informantes respondido que sim, vs. 20% em Helsínquia. No que refere a esta informação, a entidade responsável não é apenas a Divisão, à qual incumbe disponibilizar os objetivos gerais nos respetivos Planos, mas também o próprio professor, o único quem – em teoria – conhece os objetivos concretos de cada

139 Nós nunca conseguimos todos os números de telefone, apesar de várias tentativas, mas

felizmente também não tivemos urgências, como casos de acidentes graves ou más-disposições repentinas nas aulas.

grupo ou aluno individual, caso existam. Os superiores deveriam, por sua parte, requerer aos professores a apresentação explícita dos objetivos do ensino às famílias, seja em reuniões de pais ou encontros pessoais, seja através de uma mensagem por escrito. Apenas uma quinta parte (20%) dos pais sabe onde se encontra o Plano Municipal e 21% dizem que o viram. Como se verifica, Espoo e Vantaa disponibilizam os Planos de cada LM nas suas páginas eletrónicas, enquanto que Helsínquia não. Aparentemente, na página de Vantaa, o plano estava mais visível, ou então era mais publicitado, dado que as percentagens de informantes que sabem onde se encontra o plano são as seguintes: Vantaa (36%) Espoo (21%) Helsínquia (7%).

Deixámos ainda espaço para os pais poderem acrescentar o que sabem sobre os objetivos do ensino. As respostas demonstram que um dos professores organiza reuniões nas quais informa os pais, mas os outros não o fazem, apesar de os pais se lamentarem da falta de informação.

Lo que el profesor nos dice en las reuniones con los padres. Nada en absoluto.

Não nos deram nenhuma informação sobre os objetivos do ensino. Poderiam tentar melhorar isto. (Tr.)

Nao tenho informações, mas gostaria de saber.

Verificamos que alguns pais estão conscientes de que os objetivos são demasiados para serem cumpridos dentro das limitações de uma única aula semanal, como constata um dos informantes (ironicamente). Temos outro informante que chama a atenção para a necessidade de objetivos individuais, por causa da heterogeneidade de níveis de proficiência dos alunos.

El objetivo de la enseñanza es que los alumnos logran hablar, leer, escribir y entender el castellano. Esto lo encuentro formidable porque se logra con solamente una clase a la semana. Deberian tener a lo menos dos clases a la semana.

Os objetivos individuais também são importantes, dado que o nosso jovem não estuda a língua como língua materna. (Tr.)

Quanto à avaliação, é possível que os pais não conheçam bem os seus objetivos e critérios em nenhuma das disciplinas da escola, confiando no sistema finlandês e nos professores neste aspeto. Em média, uma terça parte (33%) das famílias foi informada acerca da avaliação do aluno em LM. Em Espoo, uma percentagem consideravelmente mais alta (57%) do que em Helsínquia (14%) conhece os critérios de avaliação. É na hora da avaliação que se tornam mais evidentes os resultados (estimados) do ensino e da aprendizagem, sendo que as notas e os certificados, geralmente, interessam tanto aos pais como aos próprios alunos. Se quase dois terços dos pais (67%) não sabem como os alunos são avaliados, além da falta de informação geral a este respeito, isto pode ser sinal de que a avaliação de LM não tem tanta importância como a das outras disciplinas, dado que não figura no certificado escolar. Neste ponto, também

possibilitámos que os pais escrevessem o que sabem sobre os critérios de avaliação e recebemos o mesmo tipo de respostas que na pergunta anterior.

Lo que nos cuenta el profesor en las reuniones periódicas que tenemos. Tampoco nos han informado.

Apenas aquilo que está escrito no certificado. (Tr.)

Há um informante que afirma que se usam os níveis definidos pelo QECR na avaliação da aprendizagem da LM, o que demonstra, a nosso ver, que o Quadro é conhecido por alguns pais, mesmo que, na realidade, como vimos, não se aplique na avaliação deste ensino.

O aluno avalia-se segundo os níveis de referência europeus. (Tr.)

Temos outro informante que tem consciência dos eventuais efeitos negativos da avaliação e que recomenda uma avaliação individualizada em que a aprendizagem do aluno seja medida em relação ao seu próprio nível anterior e não em relação ao nível do grupo (avaliação subjetiva vs. objetiva).

A avaliação não deve destruir o entusiasmo e a motivação, mas é possível avaliar certas coisas, segundo os objetivos do aluno. (Tr.)

Resumindo, podemos constatar que, do ponto de vista das famílias, existem grandes lacunas nas práticas municipais referentes à informação que circula (ou não) sobre o ensino e entre as partes nele envolvidos, assim como na organização dos horários e locais onde decorrem as aulas, principalmente na capital.