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Tratamento dos dados e a sua fiabilidade, questões éticas

2 Enquadramento teórico

3.3 Tratamento dos dados e a sua fiabilidade, questões éticas

Procurámos organizar e interpretar os nossos corpora de modo claro e sistemático, através de categorias de análise de conteúdos temáticos. Esta classificação foi facilitada pela estrutura temática e/ou enumerada dos próprios inquéritos. (Jyrhämä, 2004: 223–225.) Para sintetizar a informação contida nas respostas fechadas, recorremos à análise estatística e, ainda, apresentamos certos resultados ௅ numéricos e verbais ௅ em Figuras e Quadros, para facilitar a respetiva leitura e interpretação. Os dados quantitativos analisaram-se através de distribuição/frequência direta. A alguns aplica-se também a tabulação cruzada, a qual nos permite ver a relação entre as diferentes variáveis, tais como a língua (E/P), o município ou o sexo do aluno, com as questões tratadas. (Tuomi & Sarajärvi, 2009: 97–98.)

A vantagem das respostas abertas é que permitem ao informante expressar-se através das suas próprias palavras, destacando os aspetos que para ele são de importância e demonstrando o que ele próprio sabe. Também facilitam a interpretação das respostas às perguntas fechadas, permitindo-nos ver quais são os argumentos atrás destas. Ao se entrelaçarem as aproximações quantitativas com as qualitativas, estas completam-se mutuamente. (Hirsjärvi et al., 2009: 136௅137, 201.) Nas perguntas fechadas, por exemplo, procurou-se averiguar a frequência com que o aluno lê livros na LM e, nas abertas, que tipo de livros são do seu gosto.

O objetivo da análise de conteúdo é proporcionar uma descrição verbal clara do fenómeno estudado, sem perder a informação contida nos dados. É um método através do qual se procuram conclusões duma amostra verbal, de forma sistemática e objetiva (Tuomi & Sarajärvi, 2009.) A primeira fase do nosso processo de análise consistia na organização temática dos dados. A seguinte fase, a da eliminação de tudo quanto não era essencial para o estudo, obrigou-nos a “silenciar a voz” dos informantes, resumindo as suas respostas através das nossas próprias palavras. Tentámos, contudo, incluir o maior número possível de citações diretas, sem que estas nos impedissem de apontar os fenómenos gerais atrás das respostas individuais. Acreditamos que através das citações, os leitores poderão ter uma “experiencia vicária” (vicariously

experience) dos fenómenos observados e compreender melhor o respetivo significado

(Simons, 2009: 23). Além da análise do conteúdo das repostas abertas, explorámos algumas através de uma análise do discurso, demonstrando como os funcionários das Divisões, os professores e os pais produzem significados a partir da linguagem que empregam nas respostas (Tuomi & Sarajärvi, 2009: 104).

O nosso processo de análise é principalmente indutivo, partindo dos próprios dados, mas também dedutivo, baseando-se em teorias, no sentido de que os próprios inquéritos foram elaborados a partir do nosso conhecimento prático e teórico sobre o ensino, o que influenciou e de certo modo limitou as respostas (Idem: 113௅119). Isto é, os inquéritos não permitiram aos informantes responder àquilo que não lhes foi perguntado ௅ ainda que lhes oferecêssemos várias oportunidades para acrescentarem livremente informações adicionais. A nossa abordagem também poderia definir-se como abdutivo, dado basear-se tanto nos dados como nos modelos já existentes (Idem: 97௅100).

No tocante à credibilidade de qualquer estudo de caso, pelo seu próprio caráter de

caso único, é difícil que englobe em si dois dos três critérios clássicos da qualidade de

um trabalho de investigação – a validade externa ou a possibilidade de generalização dos resultados e a fiabilidade ou replicabilidade do processo de recolha e de análise dos dados – embora o terceiro sim, nomeadamente a validade interna ou o rigor das conclusões a que conduz (Coutinho & Chaves, 2002: 231; Thomas, 2011: 63).

Um dos maiores contratempos durante o nosso processo de investigação foi o facto de não termos conseguido mais do que 41 respostas ao inquérito dirigido aos pais. Segundo Thomas (2011: 63௅71), porém, as noções de amostra, fiabilidade e validade são menos importantes ou até podem desaparecer num estudo de caso, dependendo a sua qualidade mais da relevância das conclusões, além da conceção, a construção e o modo como é conduzido o estudo: escolha e delimitação do caso, explicação e justificação do contexto, adequação dos métodos usados, suficiência mas não excedência de dados e informação, formulação e pertinência dos argumentos, e claridade da escrita e da terminologia usada.

Estamos conscientes de que os dados estatísticos relativos aos alunos não permitem extrapolar para a restante população de alunos de E/P, e muito menos para todas aquelas crianças e jovens que não participam no ensino, uma vez que as respostas obtidas são em número reduzido. Contudo, consideramos legítimo traçar um perfil aproximado dos filhos deste grupo de famílias ativas e empenhadas na educação linguística dos seus filhos que, primeiro, os levam ou mandam às aulas de LM e, segundo, têm tempo e interesse para preencher formulários, sós ou acompanhados pelos familiares, e assim partilhar as suas opiniões e ideias sobre o assunto.

Na análise dos resultados, além desta especial motivação inerente aos nossos informantes, é preciso ter em conta que se trata principalmente de respostas dos pais, e não dos próprios alunos, mesmo que em 22% dos casos, os alunos tenham participado no preenchimento do formulário. Quanto mais pequeno o aluno, menos provável se torna que este consiga opinar sobre as diferentes questões colocadas. A formulação de grande parte das perguntas, porém, permite tomar em consideração toda a família: “Leia as seguintes afirmações e escolha a opção que melhor se adequa à situação do aluno / da família (mesmo que o aluno já não assista às aulas de LM)”.

Quanto à replicabilidade, tentámos descrever com pormenor todos os passos operacionais (Yin, 2014), embora não faça muito sentido que outro investigador os repita exatamente da mesma forma. No que toca à validade interna da investigação, julgamos que estudámos aquilo que nos propusemos estudar, isto é, conseguimos, através dos métodos escolhidos, responder às questões de investigação. Os inquéritos eram longos, e alguns dos funcionários municipais e um dos professores eram muito parcos nas suas respostas. É possível que os pais também se cansassem e começassem a responder com descuido às perguntas na escala Likert. Aliás, podem ter querido dar uma imagem embelezada por exemplo sobre o uso da LM, respondendo várias vezes

por semana em vez de às vezes. Também podem ter interpretado as escolhas de formas

diferentes, ou seja, às vezes e poucas vezes podem ter significados diferentes para diferentes informantes. A credibilidade das nossas conclusões aumenta, todavia, pelo facto de termos usado triangulação das perspetivas, dos corpora e dos métodos. Apesar da nossa observação participante ao longo do trabalho, acreditamos que as

conclusões obtidas representam e explicam a realidade, em vez de serem apenas interpretações subjetivas nossas. (Coutinho & Chaves, 2002: 234௅235; Hirsjärvi et al., 2009: 231, 233; Metsämuuronen, 2011: 35, Tuomi & Sarajärvi, 2002: 141௅142).

Finalmente, seguindo as diretrizes éticas da investigação educacional (Tutkimuseettinen neuvottelukunta, 2009), e como referimos acima, obtivemos a autorização dos organizadores deste ensino para realizar a pesquisa, além do consentimento dos informantes para a divulgação dos dados. As respostas de todos os informantes foram processadas de forma que estes não sejam reconhecidos. Os dados referentes a indivíduos e famílias foram tratados sigilosamente. Devido ao reduzido número de informantes, tivemos especial atenção para que os dados fossem tratados confidencial e anonimamente. Assim, por exemplo, o município onde cada professor trabalha e as informações pessoais básicas não se relacionarão com as respostas. Para impedir a identificação pela língua, algumas das respostas em espanhol – não todas – foram traduzidas para português. Os dados adquiridos permanecerão na nossa posse, inclusivamente aqueles que se guardaram em formato digital, acessíveis apenas através do nosso código e senha.

Os resultados da investigação serão usados para o benefício de todas as partes envolvidas ௅ e para o desenvolvimento do ensino e da aquisição/aprendizagem de todas as LM ௅ pelo qual serão publicados também em finlandês. Existindo atitudes contrárias às línguas dos imigrantes, na Finlândia, escolheremos com cuidado a maneira de apresentar, ao público nacional, os resultados negativos, isto é, os aspetos que deveriam ser desenvolvidos. Em português, ousamos formular críticas mais mordazes e usar uma linguagem mais combativa.

Estamos conscientes de que no formato de uma tese de doutoramento, os dados acumulados são tantos que nem sempre permitem uma leitura rápida e fácil, porém, acreditamos que nos concentrámos no essencial e nos exprimimos da forma mais clara e concisa possível. No capítulo final das conclusões, esperamos ainda conseguir conectar os diferentes elementos observados e transmitir a informação central, as suas implicações e as sugestões nela baseadas, para os diferentes públicos. (Thomas, 2011: 13; Simons, 2009: 24, 132).

Alguns dos resultados – e partes destes capítulos – já foram divulgados em português, num formato mais acessível, em simpósios, seminários e livros, e outros foram aceites para publicação: Piippo & Teixeira (2013), Piippo (2015, 2016, no prelo), Piippo & Espada (no prelo). Tencionamos também escrever artigos em espanhol e em inglês, esperando, assim, poder contribuir para a discussão internacional na área da educação para a diversidade.