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MERCADO INTERNACIONAL

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Volumes em milhares de toneladas

7.5. Desafios para a indústria brasileira de confecção de vestuário

Os novos condicionantes da concorrência internacional não foram suficientes para que se observasse uma maior desverticalização produtiva, pelo menos no que se refere aos elos da cadeia têxtil responsáveis pela fiação, tecelagem e acabamento. Como mencionado no início deste capítulo, estas atividades são muito sensíveis a economias de escala e, portanto, incompatíveis com uma estrutura produtiva pulverizada. Contrariamente a isso, a indústria de confecção de vestuário concentra características favoráveis à produção dispersa em unidades independentes e de menor porte (CAMPOS, CÁRIO E NICOLAU, 2000). A grande diversificação dos produtos associada à volatilidade da moda requer freqüentemente elevados níveis de flexibilidade produtiva para ajustar-se a novas condições da demanda, favorecendo, por um lado, a atuação das empresas de portes reduzidos, em que tais ajustes podem ser mais facilmente conseguidos com menores impactos econômicos.

Essas mesmas características particulares determinam uma grande complexidade para a gestão das empresas que nele atuam. Como já mencionado, a confecção de vestuário e acessórios corresponde a um setor de baixas barreiras de entrada para novos participantes, configurando assim um ambiente favorável à hiper-competição. A demanda, por sua vez, apresenta forte sazonalidade e é extremamente diversificada, exigindo grande variedade de produtos e modelos. Além disso, é direcionada por aspectos sociais, culturais e subjetivos, difíceis de serem controlados e previstos. Ou seja, as características específicas do mercado para os itens de vestuário e acessórios configuram um cenário de instabilidade mais difícil de ser administrado por estruturas enxutas, normalmente pouco profissionalizadas e carente de fontes de financiamento, como as que tipicamente se encontram no universo das MPME.

Em termos de estrutura produtiva, pode-se avaliar então, que a indústria brasileira de confecção de vestuário e acessórios pode alcançar um desempenho externo superior ao que tem atingido historicamente. A oferta interna de matéria prima, o parque industrial renovado e

a inexistência de barreiras tecnológicas no setor de confecções são fatores favoráveis a isso. As questões que se apresentam como obstáculos a serem contornados têm outra natureza.

Ainda que o AMF se encontre em fase de extinção, o uso de cotas de exportação aliada às sobretaxas de importação, restrições a determinados produtos, entre outras, são práticas ainda comuns no comércio mundial e “muitas das decisões são tomadas em acordos internacionais, reforçando o consenso em torno desta prática” (CAMPOS, CÁRIO E NICOLAU, 2000).

No que diz respeito à ação das empresas, se a competitividade é normalmente avaliada pela capacidade de colocar no mercado produtos com menores preços, para a indústria de vestuário, em muitos dos seus segmentos, a regra é outra: “a capacidade de exportar itens de maior valor unitário freqüentemente indica uma maior competitividade. Deste modo, preços não constituem indicadores adequados à avaliação da competitividade nesta indústria (BASTOS, 1993: p.18)”.

O estilo e o design dos produtos são fatores fundamentais para a composição de valor, que sob uma perspectiva mais ampla, podem determinar a trajetória de penetração dos produtos brasileiros no exterior. Se a qualificação do país se concentra nos aspectos de qualidade intrínseca ao produto e à operação, seu papel no comércio mundial corresponderá ao de fornecedor por subcontratação e/ou vinculado a canais de distribuição independentes, como as grandes redes varejistas, por exemplo. Mas, nesse caso, o produto nacional teria qualidade, mas não teria nome.

Já foi comentado que países desenvolvidos têm obtido vantagens no comércio internacional pelo domínio de fatores dinâmicos, tais como moda, estilo e marketing. Assim, a criação de um design genuinamente brasileiro que incorpore os estereótipos culturais positivos do país, possibilitaria a esta indústria “competir internacionalmente através de variáveis mais dinâmicas, como moda e estilo, em contraste com a simples exploração do diferencial de salários” (BASTOS, 1993: p.8).

Pelo lado da produção, são as formas de organização produtiva que contam. E, se a imagem externa brasileira possui apelos culturais que podem abrir portas em mercados internacionais, é preciso criar condições para satisfazer tais mercados também pelo lado da operação dos exportadores nacionais. Um ponto a ser tratado refere-se à informalidade da produção.

Qualquer que seja a trajetória possível para a indústria brasileira de confecção e vestuário, é necessário que as empresas incorporem padrões de produção consistentes com as demandas por qualidade e eficiência do contratante. Isso implica, por exemplo, a sensível redução dos índices de informalidade na contratação de mão-de-obra e de evasão fiscal nas obrigações com os governos. Não obstante, prazos de entrega, índices de rejeição, diversidade de estilos e flexibilidade no atendimento de pedidos são pilares igualmente importantes na capacitação das empresas para o mercado externo e, por que não, interno também.

Mesmo que o nível salarial vigente no Brasil possa ser considerado baixo em termos internacionais, há outros países em que a remuneração do trabalho é ainda menor. Logo, este não há de ser o diferencial positivo da indústria brasileira no mercado externo. Bastos (1993:21) lembra que há situações em que a subcontratação muitas vezes é a única possibilidade de inserção internacional, mas que, sem dúvida, “limita a atividade produtiva local às etapas de menor valor adicionado e retira do país o comando da dinâmica do processo industrial, mantido pelas empresas do país contratador”.

Assim, o desafio presente da indústria de confecção nacional é encontrar fórmulas de organização que tratem eficientemente das dificuldades próprias à atividade e em dimensões que abrangem não só os aspectos de design e estilo, mas fundamentalmente os modelos de gestão e de tecnologia, que lhe permitam também oferecer resposta eficiente em tempo e qualidade compatíveis com os padrões imperativos do mercado global e, assim, garantam sustentabilidade continuada aos resultados mais que positivos já conquistados.

Cumpre lembrar que o atendimento pleno do mercado interno brasileiro já representaria um avanço importante para a indústria local. Os volumes importados de vestuário e acessórios estão longe de serem desprezíveis. Assim, mesmo que o país não alcance nenhuma posição de liderança mundial em vestuário e acessórios – o que tampouco parece ser o objetivo da indústria, superar os problemas endógenos é tarefa igualmente importante para a sua competitividade interna e externa, dimensões essas que, em ambientes globalizados, perdem significância.

Dessa forma, reforça-se a importância de encontrar formas de fortalecer o potencial competitivo das confecções brasileiras. O levantamento do perfil exportador divulgado pelo SEBRAE (2004) relaciona a “criação de consórcios de exportação, desenvolvidos pela

Agência de Promoção de Exportações – APEX” (p.14) como um dos mecanismos e ações responsáveis pelo recente crescimento do número de micro e pequenas empresas brasileiras ativas no comércio exterior. Em termos específicos, a confecção de artigos do vestuário e acessórios é o 5o setor de atividade mais importante para as exportações das micro empresas, em valor. Com isso, uma investigação dos consórcios de exportação na sua dinâmica de funcionamento se apresenta como uma forma adequada de contribuir para que os desafios propostos à indústria nacional sejam enfrentados com maior vigor.