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3. OBJETO DE PESQUISA

3.4. Justificativa da pesquisa

A justificativa para a presente investigação se encontra nas respostas a quatro questões básicas: por que a ação cooperativa? Por que empresas de menores portes? Por que os consórcios de exportação como referencial? E por que a indústria de confecção e vestuário?

O ambiente competitivo atual é marcado por características como competição globalizada, formação de blocos econômicos, acentuada diversificação e desmassificação da demanda, acelerada evolução tecnológica e menor ciclo de vida dos produtos, entre outras. Por isso requer respostas rápidas e flexíveis às exigências do mercado. As formas de organização produtiva baseadas na cooperação surgem como opções estratégicas no contexto das escolhas de adaptação das firmas a este ambiente. Portanto, responsividade e flexibilidade são conquistas fundamentais para alçar o nível de competitividade em âmbito internacional. No que se refere à prática cooperativa, a fundamentação teórica do capítulo anterior deixa clara a

forte inclinação das ações empresariais contemporâneas em direção a alianças das mais diversas naturezas com o objetivo de incrementar a competitividade das partes justamente no tocante à flexibilidade, ou seja, buscando combinar a produção em grande escala com a diversificação de produtos que mercado global exige.

A opção por empresas de menores portes se explica por um lado, pela capacidade que têm de atender adequadamente os requisitos de flexibilidade e diversificação, conforme já mencionado anteriormente na avaliação de Powell (1987), para quem não faltam evidências de que muitas firmas têm preferido “encolher” suas operações como forma de contornar as principais fontes de rigidez da grande empresa verticalizada: incapacidade de resposta rápida às mudanças no cenário competitivo, resistência à introdução de novos produtos e a inovações que alteram a relação entre os diferentes estágios do processo de produção.

Além disso, elas se destacam por sua capacidade de gerar empregos e riqueza, amplamente reconhecida tanto no Brasil como internacionalmente. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE divulgados na página virtual do SEBRAE ([200? b]), o número total de indústrias formais em atividade no Brasil em 2001 era de 589 mil unidades, sendo que as micro e pequenas empresas representam 98,3%% desse total, empregando 47% do pessoal ocupado na indústria. Conforme visto anteriormente, a relevância do pequeno empreendimento na geração de emprego não é fenômeno recente e, como mostra o relatório do Observatório das Pequenas e Médias Empresas Européias, tampouco é particular ao Brasil. Esse relatório revela que no espaço econômico europeu e na Suíça, cerca de 99% das empresas empregam até 49 trabalhadores e apenas 0,2% são grandes empresas com mais de 250 empregados. Além disso, dois terços do emprego total encontra-se nas empresas de menor porte (SNIJDERS e VAN DER HORST, 2002), reconhece-se também que este universo de empresas tem demonstrado maior agilidade de resposta às crescentes variações de exigências de mercado.

Segundo Veiga e Markwald (1998), as iniciativas internacionais bem sucedidas de apoio às exportações por pequenas e médias empresas têm em comum a existência de uma coordenação inter-institucional para manter coesão de esforços e, assim, potencializar a geração de externalidades em aspectos como por exemplo a aprendizagem e a difusão de práticas produtivas adequadas às exigências dos mercados externos. A principal lição que daí se tira é a necessidade de uma implementação coordenada das ações que visam incentivar a

entrada e a permanência das micro, pequenas e médias empresas na exportação na atividade exportadora. Neste sentido, a experiência representada pelo Texbrasil e, em particular, os consórcios de exportação, é bastante representativa. Em especial, os consórcios de exportação são tomados como um pilar referencial, em razão de que se admite serem uma expressão organizada de arranjo cooperativo e no qual as questões de competição ficam mais aparentes. A união das partes se faz justamente para a atividade em que a rivalidade se acentua, ou seja, na colocação de produtos no mercado.

Além disso, como propõem Koza e Lewin (1999), os consórcios podem ser entendidos como uma organização racional com função instrumental para objetivos específicos e que tendem a ser mais comuns em indústrias com maiores estabilidades em termos de modelos de negócios, funções de produção e das direções de mudança, características da indústria de confecção. Neles, a colaboração é formal e compulsória. Sem ela, o arranjo não subsiste.

Em relação ao fato de o objeto de pesquisa ser concentrado na indústria de confecção de vestuário, justifica-se tal escolha por vários ângulos. Destaca-se, por exemplo, a notável recuperação de toda a indústria têxtil que seguiu ao baque da entrada agressiva de produtos importados nos anos 1990. Esta recuperação, entre outras coisas, inclui a conquista de um melhor desempenho externo no comércio de itens confeccionados. Assim, entende-se que atualmente no Brasil este seja um setor com forte dinamismo, a ser no mínimo documentado.

No que se refere à importância econômica deste segmento, um ponto expressivo refere-se ao seu potencial como gerador de novos postos de trabalho. Najberg e Pereira (2004) são responsáveis pela atualização mais recente do Modelo de Geração de Empregos – MGE, desenvolvido pelo Departamento Econômico do BNDES visando quantificar os empregos gerados a partir de um aumento da demanda final em cada setor da economia. Considerando o emprego direto, indireto e o emprego “efeito-renda5”, a produção de artigos de vestuário se destaca como o 2o maior gerador de postos de trabalho entre 41 setores econômicos, perdendo apenas para o setor de serviços prestados à família. O modelo aplicado admite a Matriz Insumo-Produto como parâmetro da estrutura produtiva dos diferentes setores e, além disso, que os setores produzem com retornos constantes de escala. A partir desses parâmetros,

5 O emprego efeito-renda decorre do fato de que parte da receita das empresas obtida em decorrência da venda de seus produtos se transforma em renda dos trabalhadores ou dos empresários, na forma de salários, dividendos, comissões ou remunerações outras. A parcela dessa renda será gasta no consumo de bens e serviços diversos, estimulando a produção de outros setores e realimentando o processo de geração de emprego.

estimou-se que para um aumento de R$10 milhões na demanda por artigos de vestuário, 1.000 novos postos de trabalho seriam criados, sendo 61% de empregos diretos, 14% de empregos indiretos nas indústrias à montante da cadeia produtiva e 25% de empregos efeito-renda.

Também importante é o fato de que o mercado de vestuário é caracterizado pela demanda instável e exigente de contínua renovação de produtos. Além de variações climáticas que determinam a sazonalidade da demanda por produtos de características distintas, há também o sentido da moda, calcado na renovação de estilos, cores e tendências. Formas atuais de moda decrescem em valor e são abandonadas para a emergência de outras. Isso tudo se traduz em necessidades de freqüentes adaptações das empresas às exigências do mercado. Portanto a moda acontece em um ambiente plenamente favorável para se obter superioridade competitiva a partir da flexibilidade operacional. O setor é dominado por uma estrutura de produção que se sustenta nas pequenas unidades de facção. Ou seja, a indústria de vestuário é um “habitat natural” do pequeno empreendimento, o que remete novamente à questão da importância econômica deste perfil de empreendimento na economia brasileira. E, conforme pode ser evidenciado na Tabela 1, pouco mais de 65% dos projetos atualmente apoiados pela APEX na cadeia têxtil e de confecções, em número, envolvem a figura dos consórcios de exportação. Além disso, os consórcios desta única cadeia receberam até o momento a maior parte do apoio geral da APEX a projetos envolvendo consórcios de exportação.

Tabela 1 –Participação da cadeia têxtil e de confecções nos projetos apoiados pela APEX

TOTAL DE PROJETOS COM APOIO APEX 305

TOTAL DE PROJETOS CONCLUÍDOS ATÉ MARÇO/2004 157

TOTAL DE PROJETOS EM ANDAMENTO EM MARÇO/2004 148

TOTAL DE PROJETOS EM ANDAMENTO, LIGADOS À CADEIA TÊXTIL & CONFECÇÕES 26 % DOS PROJETOS LIGADOS À CADEIA TÊXTIL & CONFECÇÕES SOBRE OS PROJETOS

EM ANDAMENTO 17,6%

PROJETOS DE FORMAÇAO DE CONSÓRCIOS DA CADEIA TÊXTIL & CONFECÇÕES EM

ANDAMENTO 1

PROJETOS DE EXPORTAÇÃO CONSORCIADA DA CADEIA TÊXTIL & CONFECÇÕES EM

ANDAMENTO 16

% SOBRE OS PROJETOS EM ANDAMENTO NA CADEIA TÊXTIL 65,4%

TOTAL DE PROJETOS ENVOLVENDO CONSÓRCIOS APOIADOS PELA APEX

(CONCLUÍDOS E EM ANDAMENTO) 42

PROJETOS JÁ CONCLUÍDOS DE FORMAÇÃO DE CONSÓRCIO OU EXPORTAÇÃO

CONSORCIADA DA CADEIA TÊXTIL 2

PROJETOS ENVOLVENDO CONSÓRCIOS NA CADEIA TÊXTIL (CONCLUÍDOS E EM

ANDAMENTO) 19

% SOBRE TOTAL DE PROJETOS ENVOLVENDO CONSÓRCIOS APOIADOS PELA APEX

(CONCLUÍDOS E EM ANDAMENTO) 45,2%

Soma-se a isso tudo o fim do sistema de cotas do General Agreement on Tariffs and Trade – GATT para janeiro de 2005 que recomenda urgência nas medidas que visam fortalecer este segmento, assunto que será apresentado em maior detalhe no capítulo 7. Finalmente, não se pode desprezar o momento positivo que a produção de moda nacional vem passando. O São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio, por exemplo, são os principais eventos da moda nacional. Estes eventos não apenas servem como vitrine aos principais produtores de moda nacional, como também contribuíram para a organização de um calendário de moda no país e, a partir daí, uniformizar as iniciativas antes isoladas, afirmar um padrão estético brasileiro, valorizar a moda como negócio e promover todo o setor têxtil nacional. Paralelamente, também se observa o sucesso das top-models nacionais e a entrada progressiva de marcas brasileiras em mercados desenvolvidos, como Estados Unidos e França.

Assim, as justificativas para a realização desta investigação podem ser sumarizadas nos seguintes pontos principais. Em primeiro lugar, coloca-se a sua relevância, por tratar de uma indústria importante na estrutura econômica nacional e com prioridade a um perfil de empresas ainda carente de melhores perspectivas de fortalecimento. É também um tema atual, que se encaixa tanto nas principais formulações de políticas públicas para o desenvolvimento do país, como também no fenômeno da globalização econômica ainda em consolidação.

4. ALINHAMENTOS COOPERATIVOS SIMULTÂNEOS ENTRE VÁRIAS