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5.3 PESQUISA ANALISADAS

5.3.4 Métodos e técnicas qualitativas utilizadas

5.3.4.8 Design Participativo

Complementar à outras técnicas utilizadas como o Diário de Fotos, Mapeamento participativo e as entrevistas, em que os próprios participantes apontavam onde ocorriam os problemas mais relevantes, eles eram incentivados também a darem sugestões e opiniões (CINDERBY et al., 2018). As soluções desenvolvidas após o processo foram avaliadas através de uma ampla distribuição de um questionário, para verificar se as soluções identificadas pelos participantes, correspondiam também às necessidades de outros tipos de usuários (CINDERBY et al., 2018).

5.3.4.9 GPS tracking em conjunto com entrevistas

O GPS tracking é uma técnica que se registra o trajeto dos participantes, através da tecnologia GPS. Foi utilizada como um importante suporte para as entrevistas na identificação de situações ocorridas em determinados percursos, sendo permitida a correspondência do que era relatado pelos participantes com as

características do trajeto (MEURER et al., 2018). As duas técnicas nesse estudo foram utilizadas de forma subordinada uma com a outra.

A partir da aplicação dos métodos e técnicas descritos, permitiu-se um entendimento detalhado da relação de diversos tipos de deficiências e limitações com as questões do entorno, no contexto dos deslocamentos urbanos. São descritas e contabilizadas a seguir cada tipo de deficiência ou limitação abordado nas pesquisas.

5.3.5 Tipos de deficiências e limitações analisadas

Embora existam vários tipos de deficiências e distintas maneiras de classificá- las, para fins de sistematização adotou-se um modelo simplificado, dividindo-se as deficiências em três tipos diferentes, com base em Dischinger, Bins Ely e Piardi (2012) e The City of Calgary (2010). Além dos três tipos, incluiu-se também um quarto tipo de limitações, que se refere às questões de saúde mental. Utilizou-se essa classificação focando nas habilidades funcionais humanas e sua relação com o entorno, sem, no entanto, uma descrição aprofundada das causas dessas deficiências (DISCHINGER; BINS ELY; PIARDI, 2012).

Sendo assim, os tipos de limitações abordados nas pesquisas foram:

• Deficiências/Limitações Físico-motoras: compreendem limitações na mobilidade, incluindo o uso de dispositivos assistivos como cadeiras de rodas e andadores devido à ausência, má-formação, lesões ou paralisia de membros, envolvendo excesso de dor, redução de tônus muscular, e ocorrência de tremores musculares (DISCHINGER; BINS ELY; PIARDI, 2012; THE CITY OF CALGARY, 2010). Foram contabilizadas também as limitações motoras decorrentes de deficiências ou doenças de origem neurológica como AVC (Acidente Vascular Cerebral), Traumas Cerebrais e Parkinson, sendo que essas também entram na contagem das Deficiências Neurológicas de acordo com a Figura 20.

• Deficiências/Limitações sensoriais: envolvem limitações nas capacidades de percepção dos indivíduos, com prejuízos em absorver as informações do entorno, compreendendo as deficiências visual, auditiva e relacionadas ao sistema de orientação e equilíbrio (DISCHINGER; BINS ELY; PIARDI, 2012; THE CITY OF CALGARY, 2010).

• Deficiências/Limitações neurológicas e cognitivas: embora Dischinger, Bins Ely e Piardi (2012) e The City of Calgary (2010) se referem apenas como Deficiências ou limitações Cognitivas, alguns autores usam o termo “Neurológicas”, pelo fato de que muitos problemas como AVC (Acidente Vascular Cerebral), Traumas Cerebrais, Parkinson, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Dislexia, são estudados pela Neurologia.

• Questões relacionadas à saúde mental: se referem às limitações causadas por barreiras psicológicas, depressão e fobias.

Ao realizar o levantamento dos números das pesquisas por deficiências, optou- se por contabilizar tanto as denominações referentes à natureza da deficiência, quanto ao tipo específico de deficiência ou transtorno. Foi feito dessa maneira, porque em algumas pesquisas, os autores fazem referências apenas como “Deficiências motoras”, “Deficiências neurológicas”, “Deficiências Sensoriais” ou “Doenças relacionadas à Saúde Mental” não as especificando. Portanto, nessas denominações referentes à natureza da deficiência (os quatro tipos), foram contabilizadas tanto as pesquisas em que os autores não as especificam, quanto aquelas em que são detalhadas as limitações e doenças ligados aos respectivos tipos. No gráfico (Figura 20), aparecem em ordem decrescente o número de pesquisas por cada deficiência ou limitação abordada, sendo em negrito os quatro tipos básicos de limitações mencionados.

Durante a RSL, embora não se tenha incluído nas palavras-chave os idosos, 37 das pesquisas abordaram sobre questões que estão relacionadas à idade avançada. Optou-se por manter esses artigos por dois motivos: o primeiro deles é que mesmo quando o foco era em uma deficiência ou limitação específica, parte dos usuários analisados possuíam idade acima de 65 anos, sendo que a idade avançada poderia ter relação com a questão.

O segundo motivo, é que em boa parte das pesquisas que os idosos aparecem, foram relatadas dificuldades relacionadas aos quatro tipos de deficiências e doenças, levantando questões pertinentes também aos usuários mais jovens com deficiências. As limitações mais comuns apresentadas nas pesquisas pelos idosos, foram as de natureza físico-motora. No entanto, assume-se que os idosos muitas vezes podem ter uma combinação de deficiências, conforme apontado nas pesquisas, devido à

redução natural de suas capacidades, ou ainda serem afetados por outras questões específicas, como fatores culturais e sociais. Foram assim também contabilizadas entre os quatro tipos de deficiências/limitações, as questões referentes aos idosos, desde que mencionadas de forma explícita pelos autores. O tipo de deficiência/limitação que não fosse abordado nesses artigos dos idosos, não foi contabilizado, mesmo assumindo-se a possibilidade que os participantes pudessem ter outros tipos de deficiências além daquelas explicitadas no texto.

Figura 20 - Tipos de deficiências e limitações analisadas

Fonte: O autor

Por último incluiu-se a Hanseníase (antigamente chamada de Lepra), que aparece em apenas uma pesquisa, realizada na Nigéria (BOMBOM; ABDULLAHI, 2016). Constitui-se de uma doença transmissível (embora não seja altamente contagiosa) e de origem bacteriana em que os pacientes sofrem com lesões neurais, podendo ser bastante perceptíveis na pele, causando um alto estigma e levando à diminuição da capacidade de sentir dor, com a possibilidade de acarretar na perda de membros devido às complicações não tratadas (BOMBOM; ABDULLAHI, 2016; EICHELMANN et al., 2013; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

Limitações da idade Deficiência visual Uso cadeira de rodas Deficiência auditiva Pós-AVC Surdo-cegueira Dislexia Espectro Autista Hanseníase Parkinson TDAH Trauma cerebral nº de pesquisas

Nº de pesquisas em que e sse tipo de deficiência é foco principal do estudo

A Nigéria, por ser um país em que as condições socioeconômicas são precárias o que exerce um alto impacto na falta de acesso e informação da saúde, muitos dos habitantes acabam adquirindo deficiências pela ausência de tratamentos. Além disso, existe uma forte questão cultural. Pacientes com Hanseníase, sofrem de um alto nível de estigma e preconceito. Mesmo quando estes possuem condições econômicas para se deslocarem, muitos operadores de transportes (deve-se destacar que se trata de um transporte clandestino devido à ausência de um serviço de transporte público regular) se negam a transportá-los (BOMBOM; ABDULLAHI, 2016). As pessoas também ao redor se negam a aproximar destes pacientes e de prestar assistência, causando um grande isolamento social (BOMBOM; ABDULLAHI, 2016). Tal questão reforça ainda mais a necessidade de uma análise abrangente e sistêmica por parte das entidades ligadas à gestão e ao planejamento urbano e dos sistemas de transportes.

5.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PCD NOS DESLOCAMENTOS URBANOS NO CONTEXTO DO TRANSPORTE PÚBLICO

Esse capítulo detalhou todo o processo de seleção e busca dos estudos, bem como características fundamentais ligadas aos participantes das pesquisas e ao processo de levantamento dos dados. Tais características estão diretamente relacionadas com os fatores (e suas respectivas categorias) que afetam os deslocamentos urbanos no contexto do transporte público. Portanto, seu levantamento foi essencial para a construção da proposta do modelo de categorização que é apresentado no próximo capítulo.

A identificação dos países onde foram realizadas as pesquisas levantou a possibilidade da influência dos contextos social, cultural, econômico e político sobre os comportamentos dos usuários com deficiência em relação ao seu entorno, o que inclui a atitude de outras pessoas, as políticas e ações de inclusão social e o modo como uma determinada sociedade encara as pessoas com deficiências e limitações. Em seguida, analisar os métodos e técnicas utilizadas, possibilitou verificar que tipo de dados as pesquisas levantaram, o que permitiu-se identificar os fatores e variáveis e estabelecer inter-relações de forma detalhada. Por fim apontar os tipos de deficiências ou limitações abordados pelos autores, permitiu-se fazer associações

entre os problemas enfrentados e os grupos de usuários. Muitas vezes, percebeu-se que mesmo pessoas com tipos diferentes de deficiência podem enfrentar algumas das mesmas questões, comprovando-se que as condições da inclusão social nos deslocamentos urbanos não se resumem a existência de soluções pontuais de acessibilidade. Sendo assim, o Capítulo 6, a seguir, detalha a construção desse modelo de categorização, definindo-se as categorias, os fatores, as problemáticas e estabelecendo-se inter-relações.

6 MODELO DE CATEGORIZAÇÃO DOS FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR O COMPORTAMENTO DAS PCD NO USO DO TRANSPORTE PÚBLICO