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Fora as peculiaridades individuais, certos aspectos nas interações humano- ambiente são universais e comuns, existindo determinados fatores que são associados às preferências e à agradabilidade, que permitem além da atração, o envolvimento. Diante disso Nasar (1998, 2008) apontam como características relacionadas às preferencias e às experiências positivas com o ambiente:

• Ordem: ritmos, uniformidade, baixos contrastes e variação de elementos, tornando a informação do entorno rápida de ser captada.

• Complexidade moderada: número moderado de elementos, variedade e assimetrias, possuindo a capacidade de prender a atenção, sem, contudo, sobrecarregar o usuário.

• Naturalidade: presença de elementos como árvores, fontes d’água ou formas, texturas que remetam à natureza.

• Abertura: redução da sensação de enclausuramento (tendo como variáveis área e altura dos ambientes) e permitindo a permeabilidade das barreiras físicas (aberturas em paredes, que permitam a percepção do ambiente externo à volta).

• Boa conservação: qualidade dos elementos, materiais e manutenção, otimizando a percepção de ordem e cuidado deste ambiente.

• Novidade: nível moderado de incertezas que estimula o interesse e a atenção humana.

Elas, por sua vez, se relacionam com as principais tendências humanas na interação com os ambientes, descritas por Juneja (2016), sendo condizentes com conceitos apresentados por Heath (1988), Kaplan (1988) e Nasar (2008):

• Orientação: conhecimento da interação com o entorno e senso de direção através da diferenciação de ambientes e de estruturas que auxiliam a navegação, controlando assim sentimentos de ansiedade e angústia, cumprindo um importante papel para o wayfinding (HEATH, 1988).

• Ordem: se relaciona à coerência, legibilidade e boa estrutura, facilitando a percepção das informações, no entanto, é preciso haver um equilíbrio entre ordem e complexidade, para que o ambiente consiga estimular e prender a atenção (KAPLAN 1988; NASAR, 2008).

• Exploração: curiosidade para se entender e compreender o entorno, constituindo uma experiência estimulante. Para isso torna-se necessário, um grau de mistério, para que os usuários sejam instigados a continuarem a se envolver com o entorno (KAPLAN, 1988).

• Comunicação/Expressão: compreende o compartilhamento de pensamentos, sentimentos e informações. A linguagem pode ser tanto descritiva quanto generativa, uma vez que tem o poder de criar situações e alterá-las. Sendo assim, ela consiste em um importante recurso para os designers, quando se deseja permitir determinadas experiências em um local.

• Atividade: está ligada às tarefas e aos objetivos que as pessoas cumprem em determinado local. Ao se planejar as funções de determinado ambiente, deve ser dado a atenção nos tipos de decisões que os usuários normalmente podem ter. Sendo assim, deve haver a preocupação de desenvolver um local que facilite e acomode determinada atividade, permitindo que as pessoas permaneçam fisicamente ativas e mentalmente engajadas.

• Manipulação: como uma continuação da tendência de exploração e após os usuários manifestarem o interesse, essa tendência se refere ao uso e apropriação desses espaços por eles.

• Trabalho: relaciona-se à sua natureza de ser uma fonte de recompensa e realização para os humanos. Por isso devem ser criados ambientes que favoreçam a atividade, permitindo uma atmosfera de foco, concentração e produtividade.

• Repetição: compreende a existência de padrões, favorecendo assim, o aprendizado, a retenção de informações, bem como a percepção da importância de determinada mensagem.

• Exatidão: complementar à curiosidade, compreendendo a meta da realização de atividades, de se achar respostas e resolver desafios, de modo correto, o que resulta em satisfação e auto realização, além de provocar a geração de novos conhecimentos no processo.

• Abstração: refere-se a criar versões da realidade, personalizá-la, ou ainda, criar imagens mentais antes que elas de fato aconteçam, com uma reflexão.

• Perfeição: é tido como uma referência, um ideal para ser alcançado e que serve como base e critério para as decisões e situações.

• Biofilia: refere-se à preferência das pessoas de locais que possuem alguma conexão com natureza, ou aqueles com a presença de elementos naturais, como água e árvores, remetendo às experiências consideradas calmantes e restauradoras. Ainda pode se referir também, à presença de formas que remetem a naturalidade, com transições suaves e fractais, aumentando a percepção da agradabilidade e de envolvimento através de níveis desejáveis de ordem e complexidade de acordo com Nasar (2008).

• Adaptação Hedônica: relaciona-se à familiaridade diante de um ambiente novo, que embora resulte em um efeito positivo, como um maior conforto, a sensação de mistério diminui, tornando aquele entorno menos estimulante. Sendo assim as pessoas continuam se interessar por tais locais, unicamente se as fazem sentir bem, mesmo quando a sensação de novidade acaba.

Além da influência dessas características estéticas dos ambientes sobre as percepções e comportamentos humanos, podem ser também desencadeados ciclos de emoções, que serão abordados no tópico seguinte.

2.4 AS EMOÇÕES NA INTERAÇÃO HUMANO-AMBIENTE

Além dessas tendências citadas, os usuários ao serem expostos aos estímulos, respondem a eles por meio de ciclos em que emoção, cognição e ação se interagem entre si em diferentes níveis, que serão afetados por determinados simbolismos, significados, cultura e experiências prévias (JUNEJA, 2016). Uma simples apreensão, pode, por exemplo, se desdobrar em medo, que desencadeará uma sensação de terror, que, por sua vez, provocará um determinado comportamento ou ação do indivíduo. Sendo assim, Juneja (2016), relaciona as sensações comuns diante de determinadas caraterísticas ambientais e experiências:

• Apreensão – Medo – Terror: ambientes muito altos, corredores escuros longos, labirintos sem uma rota clara de escape, e locais fechados com saídas muito espaçadas e distantes.

• Distração – Surpresa – admiração/perplexidade: experiências estimulantes, envolventes que promovem sentimentos contraditórios e “frio na barriga”.

• Pensatividade – tristeza – dor: experiências e ambientes monótonos, repetitivos, que não engajam, estimulam e inspiram, tais como locais fechados e claustrofóbicos.

• Tédio – aversão – repugnância: locais monótonos e pouco estimulantes, que provocam um aumento da percepção do tempo, e estresse.

• Irritação – Raiva – Fúria: experiências diante de elementos com formas angulosas e pontiagudas, ou que causem ruídos, como obstruções, desarmonia, desestruturação. Para se evitar tais sensações, são preferidas formas suaves e curvas.

• Interesse – Antecipação – Vigilância: experiências agradáveis e envolventes, a partir de elementos que favorecem o foco e a atenção, com apresentação da informação, iluminação, disposição dos espaços de forma adequada.

• Serenidade – alegria – êxtase: ambientes que promovem sensações positivas, desencadeando determinados comportamentos.

• Aprovação – verdade – admiração: ambientes e experiências com informações atrativas, singulares e com novidade, que cativam a atenção e favorecem a busca e criação de novos conhecimentos, tais como projeções dinâmicas, interativas e obras de arte.

Diante disso, nota-se a importância de se entender as tendências, comportamentos e reações comuns das pessoas frente a determinados estímulos e características ambientais ao se propor determinadas experiências a um espaço. Algumas dessas reações se devem às construções sociais e culturais, mas também podem ser guiadas pelo instinto de sobrevivência e adaptação. Apesar de não se poder determinar com exatidão como serão as respostas aos estímulos, é possível configurar o ambiente de forma propícia a promover sensações, envolvimento e as mensagens que se deseja transmitir.

2.5 A EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO NOS ESPAÇOS RELATIVOS AO CONTEXTO