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Problemática P 7.1: Facilidades e dificuldades físico-motoras

6.3 INTER-RELAÇÃO ENTRE FATORES E PROBLEMÁTICAS

6.3.7 Categoria 7: Indivíduo ‘Funcional’ – aspectos físico-motores,

6.3.7.1 Problemáticas da Categoria 7 (Indivíduo – aspectos físico-

6.3.7.1.1 Problemática P 7.1: Facilidades e dificuldades físico-motoras

As dificuldades físico-motoras são as mais citadas nas pesquisas, sendo que algumas delas são decorrentes de questões neurológicas, tais como AVC, Traumas Cerebrais e Doença de Parkinson. Embora a deficiência possa desempenhar uma importante influência, destaca-se que a grande maioria das dificuldades motoras, não são um problema das restrições do indivíduo, mas sim resultado de questões ligadas ao entorno, conforme as descrições das questões das Categorias 1 a 6 apresentaram. Muitos usuários relatam dificuldades na caminhada, sendo realizada de forma mais lenta afetando a utilização do transporte público (LAMONT et al., 2012; LEFEBVRE; LEVERT, 2014; RUGGIANO et al., 2015). É comum para alguns grupos como aqueles com Trauma Cerebral e idosos se cansarem rápido, acarretando na dificuldade de se ficar de pé (LEFEBVRE; LEVERT, 2014; RUGGIANO et al., 2015) e de se realizar caminhadas por um período mais longo (MARSDEN et al., 2010; NORDBAKKE, 2013; RUGGIANO et al., 2015; SCHWANEN; BANISTER; BOWLING, 2012). Aqueles com doença de Parkinson por sua vez, possuem extrema dificuldade com superfícies inclinadas, especialmente nas descidas (LAMONT et al., 2012).

Associado às limitações motoras, o excesso de pessoas nos espaços públicos e a baixa qualidade das trilhas de pedestres, devido ao mal dimensionamento, com superfícies irregulares e com desníveis e inclinações inadequadas, resultam em grandes dificuldades na mobilidade e circulação. Tais questões ainda se relacionam com à baixa qualidade dos serviços de manutenção, que afetam o bom estado e limpeza dessas estruturas e dos equipamentos como elevadores - essenciais em muitos locais públicos como as estações de metrô.

A ampla presença de assentos também é bastante mencionada e considerada importante, tanto nos espaços públicos, quanto nos transportes, auxiliando usuários que se cansam rápido e que possuem problemas de equilíbrio. Um outro ponto que

os usuários chamam atenção são as travessias. Muitos reclamam do tempo escasso para realizá-las, ou a necessidade de terem que percorrer uma longa distância. Por possuírem mobilidade mais lenta, eles relatam se sentir ansiosos e com medo mesmo onde há semáforos, sendo o problema agravado pelo mau comportamento e impaciência dos motoristas nas ruas.

No transporte público, usuários relatam terem dificuldades no embarque, sendo feito muitas vezes de maneira mais lenta (AARHAUG; ELVEBAKK, 2015; BOMBOM; ABDULLAHI, 2016; RISSER; IWARSSON; STAHL, 2012). Mesmo em veículos com rampa, alguns passageiros apontam a inclinação inadequada dos equipamentos, sendo difícil ter força em se embarcar com uma cadeira de rodas não motorizada (GAETE-REYES, 2015). Associados às limitações físicas, à reduzida força muscular e ao uso de recursos assistivos como andadores e bengalas, alguns usuários mencionam também a dificuldade de se embarcar nos veículos em viagens com compras, sendo necessário a ajuda de funcionários ou de pessoas ao redor (ASPLUND; WALLIN; JONSSON, 2012; BJERKAN; NORDTØMME; KUMMENEJE, 2013; BROOME et al., 2010; SCHWANEN; BANISTER; BOWLING, 2012; STROBL et al., 2016; SUNDLING et al., 2014; SUNDLING, 2015; WONG 2018).

Outro problema relacionado é a dificuldade de se acomodar nos assentos em tempo hábil, antes dos motoristas arrancarem (RISSER; IWARSSON; STAHL, 2012), bem como de se chegar a porta de saída a tempo para desembarcar (NORDBAKKE, 2013; ØKSENHOLT; AARHAUG, 2018; RISSER; IWARSSON; STAHL, 2012). Tais problemas estão ligados às dificuldades em se permanecer de pé e mover com o veículo em movimento, sendo motivo de grande preocupação, podendo ter relação tanto com questões motoras, como a redução da capacidade muscular, quanto com dificuldades sensoriais, como problemas de equilíbrio (LAW; EWENS, 2010; LOGAN; DYAS; GLADMAN, 2004; ØKSENHOLT; AARHAUG, 2018; NORDBAKKE, 2013; RISSER; IWARSSON; STAHL, 2012; SOORENIAN, 2013; SUNDLING et al., 2014; SUNDLING, 2015). Veículos cheios, juntamente com o excesso de balanços e trepidações e o mau comportamento de motoristas, podem expor os usuários a quedas, sendo assim importante a presença de assentos prioritários e o respeito pelos demais passageiros, já que o fato de estarem assentados representa uma viagem com maiores condições de segurança.

Ainda se tratando da infraestrutura, usuários chamam atenção para os veículos, como a presença de condições acessíveis, associados com o planejamento e qualidade dos serviços de sistema de transporte público, manutenção e comportamento dos motoristas em operar corretamente os equipamentos acessíveis dos coletivos. A abrangência, frequência, adequação dos veículos à demanda e investimentos de acessibilidade pelas empresas de ônibus ganham grande relevância.

Além das questões relacionadas à infraestrutura e aos serviços, as pessoas ao redor ainda desempenham um importante papel nas dificuldades físicas dos usuários. Por estacionarem automóveis sobre calçadas e nas paradas de ônibus, por exemplo, é comprometido a mobilidade, segurança, embarque e desembarque de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Uma outra questão muito mencionada, como abordado na Categoria 4, é a ocupação indevida dos espaços reservados e a recusa em deixá-los, dificultando uma acomodação rápida dos passageiros com deficiência ou mesmo impedindo-os de usar o veículo.

Por sua vez, o sistema de informações adquire uma grande importância: por meio dele os usuários podem consultar as rotas e condições em que existam as melhores condições de acessibilidade, conforto e segurança, no entanto, informações incorretas ou desatualizadas podem os colocar em apuros. As políticas públicas bem como sua divulgação e efetividade também são essenciais, para serem oferecidos recursos assistivos gratuitamente tais como cadeiras de rodas e bengalas, (especialmente para pessoas com baixo poder aquisitivo), veículos com melhores condições de acessibilidade, espaços prioritários e maior inclusão. A ausência de tais políticas causa exclusão social, especialmente em países com um baixo desenvolvimento humano, como abordado em relação à Nigéria. Usuários deixam de ter uma vida de qualidade, por não terem condições econômicas de adquirir uma cadeira de rodas e não haver um serviço de transporte público regular.

Em vista dos problemas mencionados, muitos usuários reduzem o uso do transporte público de forma geral ou em situações específicas como em horários de pico e viagens com compras. Outros precisam recorrer a soluções improvisadas como, construir triciclos com cadeiras de rodas (BOMBOM; ABDULLAHI, 2016), utilizar andadores com assentos (RUGGIANO et al., 2015) ou ainda levar uma rampa portátil (VELHO, 2018).