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6.3 INTER-RELAÇÃO ENTRE FATORES E PROBLEMÁTICAS

6.3.7 Categoria 7: Indivíduo ‘Funcional’ – aspectos físico-motores,

6.3.7.1 Problemáticas da Categoria 7 (Indivíduo – aspectos físico-

6.3.8.1.1 Problemática P 8.1: Medo e ansiedade

O medo e a ansiedade dos usuários, problemática frequentemente mencionada pela sua influência nos deslocamentos, são reações antecipatórias do futuro, sendo na maioria das vezes citados como sendo respostas às más experiências vividas anteriormente ligadas às questões que ocorrem no entorno (BJERKAN; NORDTØMME; KUMMENEJE, 2013). Muitas vezes as experiências negativas são muito mais determinantes para os comportamentos dos usuários do que aquelas que

Ansied. estres. identificar estímulos Ansiedade instabilidades deficiência Conforto/agradabilidade (ou afalta) Ansied. estres.condições acessibilid. Confiançaconhecimento trajeto Autoconfiançaresiliência Constrangimento visib. deficiência Confiança disponib. equipamentos

Frustraçõesfalta autonomia Ansied. estres. horários de pico

Ansied. estres. estímulos, multidões Desmotivaçãoexp. negativas Medo decair machucar Medo situaçõesconstrangedoras Ansied. medo-ficar sem assistência PânicoFobias

Ansiedade medo sentir vulnerável Confiançater assistência

Constran. frustração - sentir incapaz Constran. - pedir ajuda, incomodar

Desmotivação devido depressão Desmotiv.Frustra.- sentir humilhado Frustração - se sentir invisível Frustração - ser tratadocomo vítima Motivaçãoexp. positivas,facilid. uso Motivação/desmotiv. grau incl. social Confiança -controletempo e trajeto Medo atravessar ruas

foram positivas, ainda que as primeiras sejam casos isolados e com uma baixa gravidade (BJERKAN; NORDTØMME; KUMMENEJE, 2013; ØKSENHOLT; AARHAUG, 2018).

Os medos também podem ser promovidos por questões individuais tais como, fobias, intolerância a estímulos, percepção estética do ambiente e ainda relatos de terceiros. Nem sempre portanto, estão ligados a algum evento que o usuário tenha passado. Sendo assim, as causas citadas pelos usuários para sentimentos de medo e ansiedade são ligadas às seguintes questões:

• Experiências de dificuldades físico-motoras: a constante falta de condições acessíveis do entorno, gera preocupações e incertezas como a possibilidade do não funcionamento de equipamentos acessíveis em estações e veículos, a ocupação indevida dos espaços prioritários e a disponibilidade nem sempre constante de veículos acessíveis (BJERKAN; NORDTØMME; KUMMENEJE, 2013; LEFEBVRE; LEVERT, 2014; SUNDLING, 2015; SOORENIAN, 2013; SUNDLING et al., 2014; VELHO, 2018).

• Experiências de dificuldades sensoriais: a ansiedade é provocada pelas dificuldades ocorridas anteriormente ligadas à percepção dos estímulos e da informação do entorno, devido à falta de condições acessíveis. Sendo assim, ocorrem problemas já mencionados, como a dificuldade de identificação das linhas que se aproximam e do reconhecimento ambiental, que por sua vez, provoca o medo da desorientação (CASEY; BRADY; GUERIN, 2013; HERSH, 2016; KONG; LOI, 2017). Um sistema de informação de qualidade, com dispositivos, sinalização acessível, e informações em tempo-real com boa sincronização, se relacionam com a problemática, por darem condições de compreensão do entorno e de seus eventos. Possuem assim uma função moderadora, amenizando a ansiedade do usuário (LANZONI; SCARIOT; SPINILLO, 2011).

• Experiências de dificuldades cognitivas: complementar às questões sensoriais, as preocupações podem estar ligadas às questões neurológicas dos usuários, como, por exemplo, dificuldades em planejar um deslocamento e a possibilidade de ocorrerem instabilidades provocadas pelo não efeito da medicação, em pessoas com doença de Parkinson

(LAMONT et al., 2012). Uma segunda causa mencionada é a automatização de processos, somado com questões como, falta de usabilidade e ausência de um atendimento alternativo ou assistência humana, por exemplo. Geram assim, o receio de os usuários se sentirem constrangidos e de poderem receber multas por não se conseguir adquirir e validar os bilhetes (ØKSENHOLT; AARHAUG, 2018). E, por último, locais com muitos estímulos também são vistos com muita ansiedade, podendo acarretar episódios de desorientação, estresse e problemas na marcha para alguns usuários.

• Preocupações com a ausência de assistência; se sentir desamparado

e desorientado: associado à possibilidade de que se viva as dificuldades

anteriores mencionadas, alguns usuários se sentem receosos em não terem assistência durante o percurso em caso de dificuldades, especialmente em ambientes onde nem sempre as condições de acessibilidade são garantidas (CASEY; BRADY; GUERIN, 2013). O medo da desorientação é outra questão levantada (CASEY; BRADY; GUERIN, 2013; HERSH, 2016; KONG; LOI, 2017). Outros ainda consideram o transporte público como inseguro e perigoso (NORDBAKKE, 2013). Sendo assim, é comum as menções de medo e de pouca confiança em se deslocar sozinho e de forma independente (CARLSTEDT et al., 2017; HOLMES et al., 2016). Além das condições de acessibilidade, a ampla presença de funcionários aliada com um sistema de informações abrangente e de qualidade, podem reduzir a ansiedade, trazendo mais confiança aos usuários, por conseguirem evitar ou lidar melhor com situações difíceis e de desorientação.

• Segurança Pública: questão frequentemente mencionada pelos usuários, é associada ao sentimento de se sentir vulnerável ou intimidado (BROOME et al., 2010; GRANT et al., 2010; MARSDEN et al., 2010; NORDBAKKE, 2013). Pode estar relacionada aos eventos vividos, mas também às questões já abordadas anteriormente, como, a percepção estética do ambiente, notícias e boatos, período do dia, quantidade de pessoas ao redor e ainda um contexto social marcado pela ocorrência de crimes na região. Mulheres com deficiência e idosas podem se sentir especialmente vulneráveis (HERSH, 2016).

• Integridade Física: a preocupação é decorrente do medo de acidentes, especialmente de quedas, relacionados principalmente às condições do entorno como, a qualidade das rotas de pedestres, proteção contra o trânsito, quantidade de pessoas nos espaços, e comportamento de pessoas ao redor. Sendo assim, o medo das travessias é uma preocupação constante, reforçando a importância de se haver uma infraestrutura urbana acessível, segura e conveniente, para que de fato a utilização do transporte público seja atrativa e viável para esses usuários. Também podem estar associados às limitações do indivíduo, de origem motora, sensorial e cognitiva, já abordadas na Categoria 7, como redução da força muscular, sensibilidade de estímulos e a maior suscetibilidade a desequilíbrios ou vertigens.

• Se sentir frustrado e constrangido: devido às experiências anteriores, usuários relatam a preocupação de se passar por novos momentos frustrantes e constrangedores, como a ocupação indevida dos locais prioritários, equipamentos quebrados, mau atendimento e comportamento de motoristas (como a impaciência e a queima de paradas) e dificuldades em lidar com o entorno, fazendo-os sentir incapazes, invisíveis e desconsiderados. Em relação aos motoristas de ônibus, as experiências negativas resultam na queda de confiança nesses profissionais (CARLSTEDT et al., 2017), e somados com outros problemas humilhantes e estressantes, os usuários se sentem ansiosos, provocando em muitos casos a desistência de se utilizar o transporte público (SUNDLING et al., 2014). São apontados também o receio das reações das pessoas à volta, como intimidações, intolerância e julgamentos (RISSER; IWARSSON; STAHL, 2012). Os usuários mencionam duas situações comuns: os demais passageiros se incomodam com a presença das pessoas com deficiência e idosos em horários de pico; esses passageiros descontam a insatisfação na ocorrência de problemas com rampas e elevadores veiculares sobre aqueles com deficiência. Além da falta de empatia, são menosprezados assim seus direitos de ir e vir e de inclusão social. Por fim, outra situação que faz as pessoas se sentirem ansiosas é a utilização da tecnologia, como por exemplo em totens de autoatendimento de bilhetes de transporte

público, causando sentimentos de incapacidade e frustração. Soma-se esses problemas ao fato do constrangimento de alguns usuários em pedir ajuda à outras pessoas (ØKSENHOLT; AARHAUG, 2018). A problemática P 8.2 (próximo tópico) continua a questão abordando sobre como esses sentimentos de frustrações e constrangimentos são constituídos.

• Fobias e intolerâncias a estímulos: alguns usuários relatam medos generalizados ou fobias específicas, como aquelas associadas aos locais fechados (claustrofobia em metrô e passagens subterrâneas, por exemplo), locais muito cheios ou desordenados (estações e veículos), e passarelas (medo de altura, sendo agravado pelas vibrações e boatos de colapso de outras estruturas). O metrô, por sua vez, combina uma série de medos: espaço fechado e cheio; possibilidade de parar no meio do túnel, ou chegar nas estações e não abrir as portas; maior sensação de vulnerabilidade a crimes e abusos, especialmente pelas mulheres e idosos. A presença de locais cheios e multidões também combinam vários tipos de questões: ansiedade, ou pânico em espaços e locais cheios (LAW; EWENS, 2010; LEFEBVRE; LEVERT, 2014; RAPP et al., 2018; SUNDLING, 2015); medo de cair, machucar, ser derrubado (LAYTON; STEEL, 2015; RISSER; IWARSSON; STAHL, 2012; SUNDLING et al., 2014); medo de desordens sociais (CECCATO; BAMZAR, 2016); e medo da desorientação devido ao excesso de estímulos (LAMONT et al., 2012; RAPP et al., 2018). Tanto os locais cheios quanto aqueles muito estimulantes, são fonte de grande ansiedade em especial para pessoas com deficiências ou transtornos neurológicos como o TEA. Devido a esses medos, alguns usuários alteram seu comportamento, como por exemplo, passam a evitar o metrô e preferir transportes de superfície, evitam vagões com a presença de muitos homens, procuram se deslocar próximo de casa e em locais onde conhecem plenamente suas condições.