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DIÁLOGO ENTRE NOSSAS ANÁLISES E NOSSOS QUESTIONAMENTOS DE PESQUISA

6. PENSANDO A FORMAÇÃO HUMANA À LUZ DA DÁDIVA DE S

7.8. DIÁLOGO ENTRE NOSSAS ANÁLISES E NOSSOS QUESTIONAMENTOS DE PESQUISA

Como o espírito criador transforma o mundo!

Hyde

Em nossa análise, procuramos elucidar falas e retratar observações que permitissem uma aproximação com as categorias que emergiram do campo de pesquisa e que estavam relacionadas ao nosso objeto de estudo. Durante a escrita da análise, tivemos a sensação de que muito do que vivenciamos no campo se perdia ao ser traduzido em texto, ao ser resumido em fragmentos de falas e observações. Temos a certeza de que tudo o que está contido nesta análise está muito aquém do que tivemos o privilégio de viver. Cada educador, ao abrir para nós a porta de sua sala de aula, permitiu-nos partilhar um mundo. Ao narrarem partes de suas vidas, permitiram que nos tornássemos mais próximos. Sendo assim, em nossa pesquisa, compartilhamos com esses educadores sorrisos, reclamações, lágrimas, momentos de cólera, brilho no olhar, momentos de silêncio, esperança, sonhos; compartilhamos a vida. E apreendemos que a vida não pode ser traduzida nem limitada a meras questões de pesquisa. A vida é simplesmente vivida e partilhada com quem permitimos estreitar laços, com quem nos aproximamos, com quem confidenciamos passos. Sendo assim, procuramos deixar nossa análise transcorrer sem, necessariamente, remontarmos a nossos questionamentos e nossos objetivos de pesquisa, posto que gostaríamos que ela fosse o menos engessada possível e que ela, mesmo que de forma ínfima, traduzisse um pouco a vida que presenciamos.

Contudo, sabemos que esse é um trabalho acadêmico e, como tal, necessita de certa objetividade. Assim, utilizamos as próximas linhas para fazer algumas breves considerações que acreditamos poderem esclarecer alguns pontos de nossa pesquisa e tornar nossos resultados de análise mais esclarecedores.

Em nossa pesquisa, buscamos responder às seguintes indagações:

A dádiva de si presente na prática pedagógica de educadores de espaços formais e não formais de educação tem que, necessariamente, estar desvinculada de alguma remuneração financeira?

Como se manifesta a dádiva de si por parte de educadores em espaços educacionais formais e não formais de educação?

 De que forma essas manifestações contribuem para o processo de formação humana dos educandos?

Procuramos responder, logo no primeiro parágrafo de nossa análise, à primeira indagação. Justificamos, portanto, que não iríamos tratar cada sujeito de modo em particular, haja vista que todas as nossas categorias perpassavam as práticas pedagógicas e falas de todos os educadores pesquisados. Desse modo, queríamos evidenciar que, independente de ser remunerado ou não, os educadores demonstram momentos de doação, doaram o que tinham de melhor em si.

Acreditamos ter respondido à segunda indagação ao longo da análise, quando suscitamos as falas e observações que denotam o empenho dos educadores em acolher seus educandos; em fazer com que eles entendam os conteúdos através de variadas metodologias; em assumir sua responsabilidade diante à tarefa pedagógica; em buscar se vincular a seus educandos; em não limitar suas práticas às deficiências das conjunturas externas (família, escola, sociedade); em buscar confiar em seus educandos; em não impor seus modos de ver o mundo, mas compartilhar com eles aquele mundo de sala de aula; em respeitar suas singularidades.

Respondendo à terceira indagação, pensamos que as manifestações da dádiva de si por parte dos educadores investigados, expressas em valores como acolhimento, abertura, cumplicidade, vínculos, valorização das singularidades, compromisso etc., contribuíram para a formação humana de seus educandos através do convite/chamamento à vivência de seus próprios valores. Acreditamos que os educandos só apontaram esses educadores por terem sido, em certa medida, afetados por eles, por terem recebido de herança algo que durou e que fez com que pudessem – em um universo de tantos outros educadores – apontar esses seis como preocupados com o seu desenvolvimento pessoal.

Lembramos aqui o que nos diz Bergson em relação ao poder de afetação dos seres excepcionais, da força que têm suas ações em colocar as pessoas em movimento com os valores propriamente humanos. Nesse sentido, acreditamos que os educadores, ao acolherem, abrirem-se, vincularem-se, criarem uma cumplicidade, confiarem, valorizarem as singularidades de seus educandos, acabam por doar a eles o que têm de melhor. Assim, podem ser considerados, em certos momentos, também como seres excepcionais, como diria Bergson. Preferimos dizer que esses educadores possuem momentos de excepcionalidade a dizer que são excepcionais, posto que, a partir de nossa pesquisa, observamos que nem sempre os educadores encontram-se movidos por uma dádiva de si, por seus valores mais humanos, pelo encontro com sua moral dinâmica. Há também momentos em que eles se veem

imersos nas vicissitudes e fragilidades da sociedade, na sua moral estática e nas linhas singulares de seu desenvolvimento. Mas, para nós que escutamos, convivemos e observamos esses educadores, fica a lição de suas buscas constantes pela coerência entre o pensar, o falar e o agir; ficam suas práticas pedagógicas fecundas de valores humanos; ficam suas doações sem maiores pretensões; ficam os momentos de felicidade irradiados de suas vozes e de seus olhares quando recordam as conquistas de seus educandos; ficam esses modos peculiares de acreditar nos seres humanos.

Gostaríamos de ressaltar, também, a influência das memórias de educadores significativos na ação pedagógica dos educadores de nossa pesquisa. Todos os educadores relataram vivências importantes com alguns educadores ao longo de suas trajetórias estudantis. Essa questão permeou todas as falas dos educadores, embora não tenha sido possível contemplá-las em toda a sua totalidade. Atentamos para essa questão de modo particular, posto que, assim como quando analisamos a vida de Mauss, achamos também indícios da dádiva de si durando na vida desses educadores e possibilitando que o espírito criador se propague, transforme e anime o mundo com o bem, com o que de fato é humano.

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