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A EDUCAÇÃO NOS LIMITES E POTENCIALIDADES DA DIVERSIDADE HUMANA: A IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DAS SINGULARIDADES

6. PENSANDO A FORMAÇÃO HUMANA À LUZ DA DÁDIVA DE S

7.4. A EDUCAÇÃO NOS LIMITES E POTENCIALIDADES DA DIVERSIDADE HUMANA: A IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DAS SINGULARIDADES

Este tópico surgiu a partir da ênfase que os educadores, de uma forma geral, deram à questão da diversidade na relação pedagógica. Eles chamaram a atenção para que pudéssemos refletir sobre as singularidades de cada educando, e sobre a importância de incentivarmos essas singularidades, mantendo sempre em mente a questão do coletivo, que seria, portanto, o conjunto das diversas singularidades.

Nesse sentido, quando perguntamos se Aline sentia-se magoada quando seus educandos se opunham às suas intencionalidades pedagógicas, ela nos disse:

De jeito nenhum, porque acho que é das diferenças que se constrói uma coletividade. Eu não estou 100% certa; eu cometo falhas também. E o fato deles discordarem de mim e mostrarem porque discordam faz com que a gente possa rever, faz com que possamos melhorar.

Aline nos deixa a certeza de que, como nossos educandos, somos humanos e passíveis de falhas. Esse já é um primeiro elemento que valoriza as individualidades envolvidas no processo educativo, pois a ―verdade‖ não se encontra apenas no educador. Além de valorizar as individualidades, Aline nos diz que elas também auxiliam o educador em seu processo de formação docente. Também diz que o coletivo se constrói a partir dessas diferenças.

Caio aprofunda essa discussão e nos diz que é a partir das mudanças pessoais que conseguimos as mudanças coletivas. Enfatiza, assim, as individualidades existentes no processo educativo e enriquece o debate a partir de sua experiência junto à Instituição C:

Com o [curso] Educador Holístico, a gente dá um salto em relação à proposta formativa, por colocar como eixo axial dessa proposta a espiritualidade, a transformação de fato pessoal. Acho que o que a gente percebeu nessa passagem [da proposta pedagógica] de Educador Social para Educador Holístico foi exatamente a nossa capacidade de apostar na transformação pessoal, na transformação interior como uma das estratégias mais potentes de mudança coletiva. A gente percebeu que para mudar – por exemplo, provocar mudanças sociais, como era o caso do Educador Social – a gente precisava antes de tudo transformar-se pessoalmente, interiormente.

A fala de Caio está em harmonia com a fala de Aline e a fala dos demais educadores. Por isso, refletimos sobre a importância que há em acolher bem aquele que chega, de recebê- lo como ele é e, assim, poder proporcionar vivências pedagógicas visando seu desenvolvimento. Dessa forma, é imprescindível falar do respeito aos limites de cada um de nossos educandos. Bruno lança elementos importantes para essa reflexão, problematizando que, mais do que cobrar resultados dos alunos, é levar em consideração o esforço empenhado por eles na tentativa de apreender. Observemos a sua fala:

[...] embora a gente sempre queira que o aluno faça o seu melhor, a gente também tem que entender as limitações de cada aluno [...] então sempre estou falando isso para eles [os educandos]: ―você não é obrigado a fazer o melhor trabalho do mundo, mas faça o trabalho; não importa se ele vai ser o melhor ou o pior, mas faça, porque o ato de fazer já é uma aprendizagem‖ (BRUNO).

Röhr (2013) defende que a Educação deve buscar desenvolver as múltiplas dimensões de nossos educandos de forma proporcional. Sendo assim, pensamos que é importante, em nossas práticas pedagógicas, ir além dos conteúdos a serem ensinados/aprendidos e enxergarmos também o que precisa ser desenvolvido em nossos educandos, considerando suas singularidades e limitações. Essa é uma reflexão que achamos relevante para problematizarmos os rumos de nossos processos educativos: o redirecionar do foco do ―ter/criar expectativas para que os educandos possam corresponder a elas‖ para o ―doar-se da melhor maneira para que eles possam se desenvolver de acordo com suas condições‖. A fala de Cláudio é mister para ilustrar o que acabamos de comentar:

[falando sobre a tristeza que o abate quando os educandos não dão o retorno que esperaria para suas atividades] A tristeza também bate nesse momento. [...] Não a desistência, como eu falei, mas a tristeza. São esses momentos que mais têm me

ensinado nos últimos tempos. [...] É aprender onde cada aluno pode ir, onde cada educando pode chegar [...]. Cada um tem um limite próprio, uma disponibilidade interna. [...] Eu não preciso colocar minhas expectativas nos ombros deles [...]. Talvez esse tenha sido o meu exercício principal enquanto educador nos últimos tempos: é aprender exatamente a partir desse lugar, que não é o lugar de colocar nossas expectativas como professores nos ombros deles, mas de oferecer o nosso melhor para eles, e ver o que eles conseguem a partir do nosso melhor [...]. A gente tem que aprender enquanto professor a ir além do nosso querer e saber o tamanho da passada que cada um pode dar, que cada um pode oferecer, sem esquecer nunca do potencial imenso que eles têm. [...] Que eles cheguem onde podem chegar, que o potencial deles para chegar em qualquer lugar é imenso.

O respeito ao lugar do outro, a seus condicionantes e disponibilidade interna deveria fazer parte, portanto, do trabalho do educador. Nesse sentido, resgatamos uma de nossas reflexões situadas no capítulo sobre formação humana. Naquela ocasião elucidamos o pensamento de Röhr sobre o fato de o educador reconhecer suas limitações e entender que, em última instância, é o educando quem decide se quer ou não aderir à proposta pedagógica. E é justamente isso que vemos explicitado na fala de Cláudio.

Concluímos o presente tópico com as falas dos educadores Bernardo e Caio, pois eles sintetizam a consciência de que todos nós somos diferentes uns dos outros, e, por isso, é importante considerar que cada indivíduo deve trilhar um caminho próprio, desenvolver suas potencialidades e descobrir seus valores próprios. Perguntamos, nas entrevistas, se os educadores sentiam-se realizados quando seus educandos aderiam a seus valores mais profundos. Destacamos as falas de Bernardo e Caio:

De jeito nenhum. Gosto de ver a diferença e a discordância, o estilo do outro, a opinião, a palavra diversa. A cumplicidade permite a escuta de um pensar diferente, de uma visão diferente. Eu fico animado quando eles [os educandos] se batem contra minhas proposições. [...] Que eles encontrem os valores mais profundos deles (BERNARDO).

Se forem os valores deles, está ótimo, me sentirei realizado. [...] eu espero que assumam os valores deles (CAIO).

Bernardo relata que gosta de ver a diferença, a discordância; essa é uma forma de valorizar as individualidades e suas potencialidades, pois parte do pressuposto de que o outro é um ser diferente de nós e do que achamos que ele é; não há um pré-julgamento. Também percebemos a importância da cumplicidade para a relação pedagógica, pois ela possibilita a ―escuta de um pensar diferente‖ (BERNARDO). Caio também demonstra essa consciência em ver a autenticidade do outro, em ver que o outro trilhou seu próprio caminho e encontrou seus próprios valores profundos. As falas proferidas por Bernardo e Caio sinalizam uma concordância com o que pontuamos em um dos capítulos teóricos em que falamos que o

educador comprometido não impõe suas ideologias a seus educandos, mas os incentiva na busca dos valores propriamente humanos.

Apesar de esses dois educadores evidenciarem que cada um tem um caminho próprio, singular e diverso, ambos concordam que acima de nossas diferenças está algo que nos assemelha, que é a nossa humanidade. São essas reflexões que encerram o presente tópico. Passamos à reflexão sobre o elemento confiança.

7.5. CONFIANÇA: CONSTRUÇÃO COLETIVA QUE RETROALIMENTA OS SERES E

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