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DIAGNÓSTICO DAS MANIFESTAÇÕES OROFACIAIS

No documento ODONTOLOGIA Uma visão contemporânea (páginas 96-101)

Gessica Dutra Santos Mayara Silva Reis

4. DIAGNÓSTICO DAS MANIFESTAÇÕES OROFACIAIS

A anamnese é o passo inicial diante de qualquer situação que denote a ex-periência de maus tratos. Nos casos em que houver suspeita de maus-tratos, os exames extra e intra-oral devem ser realizados de forma minuciosa, criteriosa e completa, no sentido de possibilitar a obtenção do maior número de informações,

permitindo o correto diagnóstico e também observar aparência geral da criança, vestimenta, estatura, comportamento (depressão, destemia, ansiedade, rebeldia, agressividade, delinquência, interação com o responsável); sinais e sintomas físi-cos e registrar tudo na ficha de anamnese.

Segundo Cavalcanti (2001) enfatizou que os odontopediatras, por atenderem a criança desde muitos bebês e a acompanharem durante a infância e a adoles-cência, podem ser os primeiros a identificar manifestações físicas e emocionais do abuso infantil.

Diagnosticar maus-tratos baseia-se em sinais e sintomas físicos comuns e no reconhecimento dos indicadores comportamentais ligados às crianças abusadas e negligenciadas (CARVALHO et al., 2006). De acordo com Massoni e colaboradores (2010) expõem que para diagnosticar abuso infantil o foco não deve ser apenas nos ferimentos traumáticos (fraturas, marcas de mordida, queimaduras, lacera-ções), mas também no comportamento da criança e dos pais.

O diagnóstico precoce impede que novos episódios de violência aconteçam, o cirurgião dentista tem que estar qualificado para identificar os ferimentos e saber quando suspeitar, principalmente quando aparecem lesões diferentes, mal escla-recidas e que não condizem com a explicação dos pais. Dar-se aí a relevância de um exame intra-oral e extra oral bem detalhado (CAVALCANTI et al., 2009; LIMA et al., 2011).

Um completo diagnóstico diferencial é essencial quando estamos diante de ca-sos potencialmente suspeitos de violência infantil. Ele proporcionará ao profissional da saúde a oportunidade de comparar as características das lesões presentes com a história relatada pelos pais ou responsáveis. Permite delinear o tipo de injúria, o local da ocorrência, características clínicas e instrumentos que possam ter sido utilizados quando da agressão (CAVALCANTI, 2001).

Caso haja desconfiança de abuso físico na criança, o cirurgião dentista deve realizar uma inspeção rigorosa durante o exame clínico, incidindo principalmente nas regiões da face, das orelhas, do pescoço, dos ombros e dos antebraços, a fim de diagnosticar se trata de uma lesão intencional ou acidental da região orofacial. A detecção e identificação precoces destas lesões constituem um passo fundamen-tal no registo e respetiva documentação, antes que se dissipe o seu significado ou valor médico-legal (NUZZOLESE et al., 2009).

4.1 Exame Intra-Oral

Durante a agressão sexual as vítimas choram e gritam apelando por socorro. Para que tal comportamento seja evitado, o agressor utiliza a sua mão para tapar a boca da criança, pressionando os lábios contra os dentes, podendo exercer forças

excessivas, de tal intensidade que são capazes de gerar hematomas na face inter-na do lábio. Estas são bem visíveis quando é realizado o exame intra-oral (CRANE, 2013).

Deve-se ficar atento para queimaduras ou contusões perto das comissuras dos lábios se nos lábios a cicatrização, língua, palato ou frênulo lingual o freio la-bial rasgado é um indicativo de alguma prática sexual havendo algumas exceções quando a criança está na fase de aprender andar pois pode acontecer acidente e ruptura do mesmo. E se há algum aparecimento oral de doenças sexualmente transmissíveis que podem indicar abuso.

4.2 Exame Extra-Oral

Após essa suspeita, o cirurgião dentista tem o dever de avaliar criteriosamente as lesões achadas, registrando-as em formulários nos quais deve também constar a história da lesão descrita pela criança e pelo seu responsável. Se as lesões tive-rem ocorrido no prazo de 72 horas, deve ser realizado de imediato o exame físico, sendo fundamental fotografar todas as lesões, que com o tempo cicatrizam e de-saparecem (MAGALHÃES, 2010).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazer o diagnóstico de maus tratos, para os cirurgiões dentistas especialmente aos odontopediatras ainda pode ser difícil já que a maioria não se sente aptos a fazer o mesmo, pois, receberam pouco treinamento ou não tem nenhum conheci-mento sobre o assunto por ser um tema abordado na graduação.

É necessário que os cirurgiões dentistas recebam mais instruções sobre as principais manifestações e características são provenientes de abusos, e que te-nham mais conhecimento como notificar os casos, sendo assim seria imprescin-dível que o assunto fosse abordado na graduação nas cadeiras de patologia ou de atendimento a criança.

Referências

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CAPÍTULO 8

TRATAMENTO ORTODÔNTICO COM

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