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Dificuldades dos estudantes e a formação dos docentes

CAPÍTULO 3 TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA: DESAFIOS NO

3.1 PRIMEIRO MOMENTO DA ANÁLISE: AMBIÊNCIA DA

3.1.6 Dificuldades dos estudantes e a formação dos docentes

Dentre as dificuldades dos aprendizes, segundo os professores, se destaca a relação entre pronúncia e escrita e oralidade, seguidos por leitura, vocabulário e, por último, tradução, como mostra a figura 20.

Figura 20. Figura que representa a dificuldade dos estudantes com a Língua

Inglesa, segundo os professores pesquisados (PF1; PF2, 2011, 2012).

É compreensível que o quadro esteja representado dessa forma, uma vez que o ensino da língua ignora etapas essenciais, como a categorização funcional da língua. Também fica evidente a omissão em focar a audição e a fala, que determinam a construção de aspectos linguísticos reais como ritmo, entonação e compreensão da articulação. Isto porque, na LI, a diferença entre pronúncia e escrita é vasta dificultando o processo de reconhecimento do som das letras e, por consequência, da pronúncia. Desta forma, fica impróprio e ineficiente iniciar o ensino dessa língua pela escrita. Nesta fase, a criança usa o referencial da LP na aquisição da LE e está apenas iniciando a compreensão do processo de alfabetização no idioma materno. Tanto o português quanto o inglês são línguas “alfabético- ortográficas”101 (MASSINI-CAGLIARI, 1999, p.115), mas com processos de constituição diferentes, que podem interferir de forma negativa na aprendizagem, caso não seja conduzido de forma apropriada e eficiente.

É o resultado de um ensino formal que se inicia no meio do processo. Começa pela leitura e escrita, mesmo que o faça principiando pelas unidades menores – letras, alfabeto – o foco permanece na leitura e escrita. Parte para a decifração sonora da escrita ignorando os princípios da

101 Massini-Cagliari (1999, p. 115) explica que a Língua Portuguesa e a Língua Inglesa são escritas a partir da representação dos sons da língua através das letras e é a ortografia que estabelece as relações entre letras e sons, e não o alfabeto. Assim, segundo a autora, partindo do reconhecimento dos sons representados pelas letras, por meio da ortografia, chegamos ao reconhecimento da palavra (unidade básica de todos os sistemas de escrita) e ao seu significado lexical.

constituição da língua – audição, visão e fala – base da formação da consciência fonológica. As dificuldades dos estudantes desta fase comprovam que “sem a formação da consciência fonológica que leva à consciência linguística não há aprendizagem de um idioma” (ADAMS et al., 2006, p. 26). É uma reação negativa em cadeia: um ponto de dificuldade leva a outro. Nos “anos iniciais” 102 não há a preocupação com a construção da consciência fonológica do idioma, o que desencadeia na não aprendizagem da fala, nem da leitura e da escrita. A ausência de vocabulário inibe a comunicação oral, pois não há conhecimento construído e armazenado que dê suporte para o ato comunicativo. Os dados analisados em consonância com o suporte teórico revelam que há um equívoco nos documentos oficiais ao recomendarem que se priorize a leitura. Essa orientação está contribuindo com a manutenção do quadro que mostra fracasso na aprendizagem de inglês nas Escolas Públicas.

Podem ser apontadas algumas razões para se chegar a esse ponto. O professor tem dificuldades com a língua e com os pressupostos teóricos e, encontrando apoio nos documentos oficiais, evita a oralidade e passa a trabalhar com leitura, tradução e escrita, que são habilidades nas quais se expõe menos. Mesmo os anos iniciais são submetidos à ênfase na escrita, tradução e exercícios estruturais.

Diante das diferenças observadas entre os métodos e das constatações dos professores, este estudo entende que, com o uso das TCD, essas dificuldades podem ser amenizadas e o processo de aprendizagem acontecer de forma mais eficaz. Um Objeto Digital de Ensino- Aprendizagem auxilia na redução das dificuldades relacionadas à identificação de letra e som, uma vez que se utiliza de diferentes linguagens. Pode criar possibilidades interessantes para o desenvolvimento da linguagem verbal-oral e, posteriormente, para a leitura e a escrita por meio do desenvolvimento da consciência fonológica.

Em se tratando da LE, um ODEA é constituído de conteúdos mais atraentes, por envolver, a um só tempo, as linguagens verbal-oral, visual, sonora e verbal-escrita – um cenário multicolorido, que aguça os diversos sentidos, tende a despertar mais acentuadamente o interesse do aprendiz e auxilia no ensino da língua com qualidade e proficiência. Um material educacional dessa natureza valoriza, segundo Piaget (1970), as experiências

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Cabe explicar que algumas crianças passam a ter contato com o idioma estrangeiro apenas quando iniciam o segundo ciclo do Ensino Fundamental – do 6o ao 9o ano. Mesmo assim, é necessário o tempo reservado para a audição do idioma. Caso contrário, o quadro das dificuldades retratado na pesquisa continuará fazendo parte do processo de ensino-aprendizagem de LI.

primárias do sistema sensoriomotor e suscita, segundo Lakoff e Johnson (1980), os esquemas de imagem na categorização dos sentidos. É o processo natural rumo à linguagem formalizada.

Para que os ODEA sejam elaborados de maneira a atender às necessidades de um modelo de ensino que dê vazão ao desenvolvimento da construção da consciência fonológica e, por consequência, da oralidade, da leitura e da escrita, são necessárias três condições básicas: a) domínio tecnológico, b) conhecimento e fluência na língua e c) embasamento teórico – linguístico, pedagógico, psicológico e filosófico. Todavia, a pesquisa mostrou que a base teórica dos professores de inglês está centrada com maior ênfase na Pedagogia Crítica de Paulo Freire, seguida do Sociointeracionismo de Vygotsky e da filosofia de linguagem de Bakhtin, com destaque nos gêneros textuais. Alguns se limitaram a concluir que seu referencial teórico é o livro didático. Apenas 3% mencionou o autor que discute as questões atuais do mundo digitalizado e alguns disseram não ter nenhuma referencia teórica, conforme mostrado na figura 21. Nenhum professor nem acadêmicos citam autores ligados ao ensino-aprendizagem de língua estrangeira.

Pelas respostas, conclui-se que tanto os professores quanto os acadêmicos apresentaram a mesma formação teórica, referenciada num discurso sincronizado entre professores da universidade e professores da Educação Básica. Isto é um sinal da ausência de estudos relacionados à aprendizagem de LE, fator que poderia amenizar os problemas enfrentados por esta área. Em razão desse quadro, as ações da Pesquisa-Ação tiveram seu foco alterado para promover discussões acerca das teorias de aquisição da linguagem, da Linguística Cognitiva, das tecnologias, da pedagogia, do ensino-aprendizagem de LE e da cognição. Só assim seria possível elaborar ODEA que contemplassem a experiência humana na construção de sentido, considerando a mente corporificada – projeções temporais, corporais e espaciais.

Figura 21. Base teórica dos professores e acadêmicos (PF1; PF2, Q, 2010, 2012).