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Modelos Cognitivos Idealizados e conceito de tipicidade

CAPÍTULO 2 OS CAMINHOS DA LINGUAGEM: SER, PENSAR E

2.5 COGNIÇAO, EXPERIÊNCIA HUMANA E CONSTRUÇÃO DE

2.6.8 Modelos Cognitivos Idealizados e conceito de tipicidade

Como exposto, os conceitos de “Frame” e de “Modelos Cognitivos Idealizados” apresentam semelhanças. Contudo, Lakoff (1987) expõe uma concepção que abarca diversas possibilidades de explanação. Para o autor, trata-se um de estado inicial, de uma sequência de eventos e de um estado final. Assim, os conceitos podem ser tomados como elementos constituintes de um modelo cognitivo.

Para Lakoff (1987), o conhecimento é organizado por meio de estruturas, as quais são denominadas de Modelos Cognitivos Idealizados (MCI). São estruturas cognitivas que constituem domínios onde os conceitos adquirem significação e, esta, deriva da experiência da atuação do ser humano. É o resultado da interação entre o aparato cognitivo humano e a realidade, por meio da experiência corporalizada – social, cultural e histórica. Para isso, os MCI têm um estatuto cognitivo que resulta da capacidade de categorização humana, sendo usados [...] “for understand the world and for create theories about the world” 68 (LAKOFF, 1987, p. 134).

Para compreender os MCI necessita-se, primeiramente, conhecer a teoria dos protótipos – conceito de tipicidade no fenômeno da categorização.

Wittegenstein exerceu influência na Psicologia Cognitiva por meio da teoria de semelhança de família, a qual inspirara Rosch na criação da teoria dos protótipos. O modelo propõe o conceito de tipicidade – que é aplicado a uma entidade em certo grau – admitindo a existência de casos mais típicos e de casos menos típicos, o que significa assumir o caráter de

fluidez das categorias. Para Rosch, os conceitos têm uma estrutura de protótipos que aparecem como membros de categorias que melhor refletem a estrutura redundante da categoria como um todo.

As hierarquias conceituais estão presentes na teoria dos protótipos. Essas estão estruturadas em três planos, convencionadas como a forma adequada de organização de um conjunto de categorias utilizado para conceitos exclusivos. Segundo Lima (2009), as hierarquias conceituais são empregadas pelos indivíduos na representação mental das relações de inclusão de classe entre as categorias, como nos planos: a) superordenado, b) básico e c) subordinado. Para melhor compreensão, observa-se o exemplo com o substantivo “cachorro”. A categoria cachorro está na categoria dos animais. No nível básico está a família “cachorro”; no nível subordinado, a raça “pintcher” e no nível superordenado, a classe “mamífero”.

As categorias de nível básico são as primeiras a serem assimiladas pelo ser humano, desde a mais tenra infância, pois apresentam imagens mentais e estruturas de conhecimento mais ricas. É o nível em que a maior parte do conhecimento humano se organiza.

Uma expressão de significado mais concreto, mais significativo ou de maior prototipicidade, como “cachorro” e “gato”, ou outro animal ou coisa mais familiar à criança, dá pistas para que ela possa identificar e associar a palavra ao seu sentido, partindo da construção da imagem. A associação da imagem do animal ao som do miado, do latido ou de um ruído, como o ronco de um carro, dá uma boa indicação do contexto, pois antes de articular e pronunciar “gato”, “cachorro” e “carro” a criança aprende e se sintoniza à sonorização produzida por esses elementos básicos. A expressão “miau” ou “mi, mi” e o latido “au, au” antecedem o nível básico “cachorro”, “gato”, “carro”. É a categorização do ser ou do objeto conforme seu conhecimento de mundo adquirido.

Outro exemplo concreto desse processo é registrado quando um professor dos anos escolares iniciais solicita aos alunos que façam o desenho de uma “ema”. Uma aluna de oito anos, cuja língua materna é o alemão, imediatamente consultou seu background e desenhou um “balde” – “ema” em alemão significa balde e não determinada ave, como em português. Tem um significado diferente daquele solicitado pelo professor de alfabetização em língua portuguesa. A criança externa a categorização já formulada em sua mente no idioma materno. São as categorias básicas, categorias de nível primário que nesse momento são acionadas na busca do significado. No início da aquisição de um idioma, prevalece a construção de categorias básicas, de nível primário, tanto para o sentido concreto quanto para o abstrato.

Com a LE não é diferente. O aprendiz – seja criança ou adulto – inicialmente remete-se a palavras e a situações de significado concreto, sobre os quais facilmente associa uma imagem, um som ou algum vestígio que dê sustentação à categorização de nível básico. Nesse contexto, assegura-se que a Tecnologia Digital pode proporcionar a visualização de expressões multiformes, colaborando positivamente com a aquisição da língua. A associação a imagens, atos e convenções pode levar ao desenvolvimento de categorias, ou seja, ao desenvolvimento da linguagem voltada para expressões e palavras com forte significado, mais prototípicas, que, a partir dessa ocorrência, desenvolve possibilidades de compreensão de significados menos prototípicos e até mesmo abstratos. A partir deste ponto, abre-se a possibilidade para ampliar as redes de conexões, criando suas próprias ligações, seus próprios hipertextos, seus mapas e frames com base em seu mundo pessoal.

Ao aprender um novo idioma, em qualquer situação, a categorização da língua materna estará presente, tanto na aquisição do vocabulário quanto na pronúncia. Com efeito, as TCD, por meio dos ODEA, exercem a função de ampliação dessa categorização, que pode ser expandida, contribuindo para a aprendizagem de outro idioma.

Naturalmente, os substantivos exercem a função de maior prototipicidade, o que pode facilitar na aprendizagem. Além de apresentar significado, em geral concreto, é mais fácil e atrativo associá-los a imagens e sons. Nessa fase, as linguagens sonora e visual, juntas, exercem o mesmo status na ordem da aprendizagem. Para Lakoff (1987, p. 45), os efeitos prototípicos resultam da natureza de Modelos Cognitivos Idealizados, por meio dos quais as teorias ou matérias subjetivas podem ser compreendidas. A Semântica Cognitiva é experiencialista e tem base prototípica, já que os protótipos fazem uma grande porção do trabalho efetivo da mente e tem um amplo uso em processos racionais. Assim, a pessoa é dotada da aptidão de conceitualização, uma ideia central para o experiencialismo, a qual, por sua vez, é defendida como a capacidade geral para os MCI. Para Lakoff (1987, p.34), os modelos cognitivos não são representações internas da realidade externa. Primeiramente, porque são entendidos em termos de corporalidade e não em termos de uma conexão direta com o mundo externo e, depois, porque incluem aspectos imaginativos da cognição, como a metáfora e a metonímia.

A construção das categorias está intrinsecamente ligada à inter- relação entre os modelos experienciais cognitivos e o mundo. São, portanto, estruturas constituídas de símbolos, enquadrando-se como estruturas

gestálticas69, que, conforme Lima (2009) é um tipo de estrutura complexa e simbólica, em que os elementos não existem independentemente do todo e a estrutura global não deriva dos significados de suas partes nem da forma como essas partes são agrupadas. Portanto, o experiencialismo é que guia essa construção e não o objetivismo cartesiano.