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Dignidade da pessoa humana: imbricações com o Direito

A dignidade é um princípio jurídico e a base de todos os direitos fundamentais no Estado moderno e na época contemporânea.

Toda Constituição de um Estado Democrático de Direito moderno, especialmente daqueles que se dizem Estado social e de Direito, tem como pretensão fundamental, de um lado, organizar o exercício do Poder Público e, do outro, assegurar aos seus habitantes o exercício de direitos que lhe são inerentes, de natureza individual ou social (REIS, 1997, p. 15).

Mesmo que de forma superficial, antes de tratar da dimensão jurídico-constitucional da dignidade da pessoa humana, objeto deste item, será interessante abordar, como a noção de dignidade da pessoa humana evoluiu no tempo, uma vez que já era reconhecida antes mesmo de ser dada a tal atributo a sua importância no Direito positivo.

Na Antiguidade, as noções de dignidade e dos direitos do ser humano já estavam registradas no Código de Hamurabi e no Código de Manu, e a ideia do valor intrínseco da pessoa humana tem seus fundamentos no pensamento clássico do mundo ocidental e no ideário cristão, sem se omitir a contribuição de outras religiões, como o budismo e o islamismo (REIS, 1997).

No Budismo, por exemplo, que não é uma religião revelada, como são as outras, Sidarta Gautama ensinava que a busca da verdade absoluta poderia ser exercitada por qualquer homem, pois todo ser humano pode ter acesso a esta verdade, com o participar da verdade absoluta que tem em si mesmo (LECLERC, 2003).

Neste caso, continua o citado autor, a dignidade humana é o único fundamento da verdade interior, suficiente para fazer reinar os direitos naturais. A partir de uma análise da verdade é que se pode resolver os problemas da liberdade perfeita, da paz e da felicidade do homem.

Leclerc (2003) ainda ensina que o Islamismo, como o Cristianismo, tem sua origem como uma religião revelada, principalmente através do Corão, seu livro sagrado. E, do mesmo modo que no Cristianismo, a sua base se encontra na vocação espiritual do homem, e todos os direitos humanos decorrem do valor sagrado que lhes é dado por Deus. O Islã deu à humanidade um código ideal de direitos do homem, os quais têm como objeto conferir honra e dignidade à humanidade e eliminar a exploração, a opressão e a injustiça (LECLERC, 2003).

Na Antiguidade ocidental, o reconhecimento da personalidade, mecanismo de consideração e garantia de certos direitos que, nos tempos de hoje, podem ser qualificados como os de cidadania, era deferido apenas aos homens livres. “A ideia da dignidade desenvolveu-se vinculada à tradição grega e judaico-cristã. Para um segmento da tradição grega, o homem tem uma dignidade própria e independente, que o coloca acima das demais criaturas” (GOSDAL, 2006, p. 67).

Neste período, a dignidade estava relacionada a determinados estamentos sociais, como foi dito. Restringia-se aos participantes do grupo mais destacado da comunidade, como ocorria, por exemplo, nas cidades-estados gregas e em Roma.

Nas primeiras, que se diferenciavam umas das outras neste aspecto, era mais facilmente encontráveis dois grupos: de um lado os cidadãos (politikos) e os demagogos (orientadores do povo) que se reuniam em praça pública em Assembleia Política (ecclesia). No outro grupo estavam os metecos (estrangeiros), as mulheres e os escravos, que não tinham direitos políticos (REIS, 1997).

Em Roma, continua o mesmo autor, existia a distinção entre os patrícios (o termo deriva de Patres Familiae – Pais - o que remete a sua origem à fundação de Roma), os plebeus e os estrangeiros. Estavam estes últimos desprovidos da dignitas, e por decorrência, dos direitos políticos. Também na mesma situação se encontravam as mulheres, os menores e os escravos.

Para os judeus coube a reverência a um Deus, supremo, criador, autor da construção de tudo o que existe, anterior e superior à história do Mundo. Deus único, diferente de todas as outras bases religiosas, politeístas. Por esta concepção “o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus”, sendo, por este motivo, detentor de dignidade. Deus teria atribuído ao homem um lugar privilegiado dentre as demais espécies, visto ser este um ser superior (REIS, 1997).

Ainda nessa época, baseado no princípio da igualdade de todos os homens perante Deus, se assentaram os pilares da liberdade e da dignidade da pessoa humana, e incentivou-se a luta pela concretização desses parâmetros, continua o citado autor.

Com o advento do Cristianismo, já nos textos dos evangelistas aparece a universalidade da igualdade para todos, onde todos os seres humanos, sem exceção, são dotados de valor próprio que lhe é intrínseco.

Para os evangelistas, a dignidade do homem nasce do fato de ter sido criado por Deus à sua imagem e semelhança, de ter sido reconciliado por Cristo e de estar chamado, mediante a graça, a alcançar sua plenitude na bem-aventurança do céu. A sua vida tinha um valor sagrado e, ademais, havia em torno do indivíduo uma zona espiritual que se apresentava imune ao Poder político. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, como está nas escrituras (REIS, 1997).

Nessa fase, alega o citado autor, foi atribuído o sentido de que nenhum homem possui e tem reconhecida a dignidade em maior ou menor grau que os demais. Deus teria feito todos

os homens livres, dignos e iguais. Por isso se diz que o conceito de dignidade humana, isto é, de toda a humanidade, é uma doutrina criada por Jesus. Os filósofos que vieram a seguir apenas ajustaram e divulgaram as suas ideias fundamentais.

Tomás de Aquino chegou a mencionar expressamente o termo "dignitas humana". Ele formulou um novo conceito de pessoa, diferente do antigo (homens livres e escravos), e neste se considerou o homem como um ser de origem divina, o que acabou influenciando a noção contemporânea de dignidade e de igualdade, ao definir a pessoa como substância individual de natureza racional (SARLET, 2010).

Esta noção, mais tarde, passou a ser a base de um processo generalizado, atingindo todos os povos da Idade Média europeia, sob a influência do Cristianismo e da Igreja Cristã.

Para Jacques Maritain, filósofo cristão (1947, p.12),

a pessoa tem uma dignidade absoluta porquanto está em relação direta com o absoluto, no qual somente ela pode encontrar sua plena realização; sua pátria espiritual é todo o universo de bens que têm um valor absoluto, que refletem de algum modo um Absoluto superior ao mundo e que são atraídos por ele. Por outro lado, esta descrição não é privilégio da filosofia cristã. É comum a todas as filosofias que dessa ou daquela maneira reconhecem a existência de um Ser Absoluto superior à ordem total do universo e o valor supratemporal da alma humana.

Esta moral cristã é a base de toda a tradição humanista do Mundo ocidental, e que fundamenta todo o sistema político-jurídico dos direitos humanos hoje reconhecido. No caso, a noção de Mundo ocidental abrange não só o Ocidente europeu como também aqueles países que receberam influência do mundo ocidental e adotaram os princípios do Cristianismo. (REIS, 1997).

Ainda no Mundo Ocidental, alega o autor, desde o início do Século V a. C., destaca-se outra herança dos romanos, consubstanciada na fixação das normas jurídicas em textos escritos, começando pela Lei das Doze Tábuas, texto este cujo conteúdo ainda hoje é conhecido e estudado, para evitar que o Direito fosse aplicado com entendimento não uniforme pelos magistrados patrícios.

Foi ainda na Idade Média que começou o processo de positivação e documentação dos direitos fundamentais, com o sentido de reconhecimento de situações concretas do que adotando um caráter generalizador e abstrato, produto de um pensamento filosófico de uma época determinada. O maior exemplo está na Magna Carta do Rei João (Inglaterra, 1215), que era um dos documentos existentes nos reinos europeus, destacando-se destes porque as suas normas chegaram até os tempos presentes, lá e na influência que teve nos ordenamentos jurídicos do resto do mundo ocidental (REIS, 2012).

A concepção de dignidade, de inspiração cristã, continuou prevalecendo até a Renascença, onde se abandona a ideia de dignidade dependente de Deus, prevalecendo a dignidade inerente à condição humana. Rocha (2004) identifica a obra do humanista renascentista Giovanni Pico della Mirandola, a "Oratio de hominis dignitate", como sendo o primeiro escrito sobre a dignidade.

Esse filósofo italiano, nascido em 1463, partiu da racionalidade como qualidade peculiar inerente ao ser humano, onde o homem pode com a razão construir de forma livre e independente sua própria existência e seu próprio destino, seguindo uma linha de raciocínio relativa à questão do homem e do seu valor. Deste modo, seguia a orientação socrática, pois este centrava sua orientação na ideia de que o homem é um ser diferenciado de todos os outros seres vivos, por ser o único a possuir uma psyché, uma alma, que o torna capaz de pensar e, consequentemente, de querer. E, por consequência, o homem deve ter reconhecida a sua dignidade e esta deve ser socialmente protegida (PICO DELLA MIRANDOLA, 2008).

O que diferencia Giovanni Pico della Mirandola de outros pensadores do Cristianismo está no fato de que o seu discurso não estabelece a então habitual relação de subordinação entre o Criador e a criatura. No seu trabalho está a ideia de que o Criador dotou o homem de liberdade, fazendo deste último um ser que tem possibilidade para triunfar, crescer e desenvolver-se como bem o desejar. O Criador teria feito o homem como ser livre e autor do

próprio destino, responsável por suas escolhas e por sua história. A dignidade deixa de ser uma exclusiva manifestação conceitual do direito natural, onde a racionalidade era a qualidade peculiar inerente do ser (PICO DELLA MIRANDOLA, 2008), passando a ser um atributo reconhecido e protegido pelas leis.

Apesar da grande contribuição dos pensadores cristãos para a formação de uma concepção humanista sobre a dignidade, foi baseada no pensamento jusnaturalista dos Séculos XVII e XVIII que a concepção da dignidade da pessoa humana, como uma ideia do direito natural, passou por um processo de racionalização e laicização, mantendo-se a noção fundamental da igualdade de todos os homens em dignidade e liberdade (SARLET, 2010).

Foi com Samuel Pufendorf, jurista alemão e expoente da corrente jusnaturalista, no Século XVII, que se constatou o primeiro passo para uma ruptura com a tradição anterior. Pela primeira vez podia se considerar a concepção de dignidade da pessoa humana, com fundamento na liberdade moral como característica distintiva do ser humano. Ou seja, a dignidade está vinculada à liberdade moral, pois é esta – e não a natureza humana em si – que confere a dignidade ao homem, no ensinamento de Sarlet (2010). Assim, a noção de dignidade não estava fundada numa qualidade natural do homem e tampouco poderia ser identificada como sua convicção e prestígio na esfera social. Pufendorf defendia que até “o monarca deveria respeitar a dignidade da pessoa humana, considerada esta como a liberdade do ser humano de optar, de acordo com a sua razão e agir conforme o seu entendimento e a sua opção” (SARLET, 2010, p. 36), o sentido de vida que escolheu.

No Século XVIII, com o Iluminismo, movimento cultural de uma elite de intelectuais da Europa, que procurou mobilizar o poder a fim de reformar a sociedade e o conhecimento, foi o responsável pelo desenvolvimento da ideia de dignidade humana atrelada aos direitos individuais do homem e teve de Immanuel Kant sua maior contribuição (CALMON, 1952, p. 180)

Para Kant, havia duas categorias de valores: o preço e a dignidade. Dizia ele que as coisas têm preço e as pessoas dignidade, ao afirmar que “no reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode pôr-se em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e, portanto não permite equivalente, então, tem ela dignidade”. (SARLET, 2010, p.38). Ou seja, para Kant, a dignidade passa a ser vista como um valor não mensurável, diferente das coisas, que são passíveis de quantificação.

“Construindo sua concepção a partir da natureza racional do ser humano, Kant sinaliza que a autonomia da vontade, entendida como a faculdade de determinar a si mesmo e agir em conformidade com a representação de certas leis, era um atributo apenas encontrado nos seres racionais, constituindo-se o fundamento da dignidade da pessoa humana” (SARLET, 2010, p. 37). Então, para ele, o homem é dotado de dignidade, não por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus e, sim, em razão da sua capacidade de formular regulações para o convívio humano e de usar tais normas para desenvolver um plano consciente para sua vida (SARLET, 2010).

A importância de Kant para a análise da dignidade evidencia-se pelo fato de que suas ideias continuam presentes em quase todos os conceitos relativos à dignidade humana. A doutrina jurídica, somada às ideias de Kant, até hoje parece estar identificando as bases de uma fundamentação e, até certa forma, de uma conceituação da dignidade da pessoa humana. A concepção kantiana de dignidade marcou uma guinada decisiva no âmbito do pensamento filosófico e passou a influenciar profundamente também o entendimento jurídico (SARLET, 2010).

A evolução histórica dos direitos e da proteção à dignidade humana, continua o autor, evidencia que esses temas não podem ser compreendidos como imutáveis ou desvinculados do contexto social em que se originaram e se desenvolveram. E o fato de se reconhecer que os

seres humanos (todos) são dotados de razão e consciência representa justamente o denominador comum, expressando em que consiste sua igualdade.

Esta noção de dignidade humana, afirma Reis (1997) está vinculada à liberdade moral e aos direitos individuais, os quais, juntamente com as suas garantias, hoje reconhecidos no mundo contemporâneo, resultam da influência dos mecanismos de proteção originários das Revoluções inglesa, norte americana e francesa, pois são ideias que, além das proposições originadas do direito inglês, a partir da Magna Carta de 1215, do direito dos Estados Unidos da América, no Mayflower Compact e na Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia, de 1776, se consubstanciaram ainda na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1791, documento do direito francês. Pela qualidade e dimensão dos seus enunciados, estes textos tiveram reconhecimento como linha mestra de pensamento em diversos Estados, daquela época e posteriores.

A estes direitos individuais se somaram os direitos sociais e coletivos a partir do fim da I Guerra Mundial, formulados pela primeira vez na Constituição alemã de 1919, conhecida como a Constituição de Weimar. Se, em alguns desses documentos o termo dignidade não aparece expressamente, a ideia serve de fundamento para o enunciado dos direitos individuais e coletivos ali registrados (REIS, 1997).

Após o término da II Guerra Mundial, durante a qual houve uma série enorme de violações da dignidade da pessoa humana, neste ponto sendo de se destacar o holocausto, com a morte de mais de 6 milhões de pessoas nos campos de extermínio, o mundo inteiro se preocupou com o respeito e a proteção da dignidade da pessoa humana. Neste sentido, é de se ler o preâmbulo da Carta das Nações Unidas, assinada em São Francisco em 1945, logo depois do término da guerra, a qual expressamente se refere que “Os povos das Nações Unidas, decididos em reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade

e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas”. (Carta da ONU, 1945).

A este documento internacional se seguiram diversos outros formulando o mesmo compromisso, o de proteger a dignidade da pessoa humana, de modo a demonstrar a preocupação mundial com esta proteção. Assim, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 e outros documentos de alcance mundial do mesmo porte (SARLET, 2010).

Como se trata de uma declaração e não de um tratado, não é um documento que estabeleça uma obrigatoriedade de acatamento com base legal. Todavia, além de ser um texto respeitado mundialmente, a Declaração serviu como base para os dois tratados sobre direitos humanos da ONU, a saber, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Diferentemente da citada Declaração, estes tratados têm força legal depois de ratificados, passando a valer no Direito Interno dos Estados que os assinaram. A citada Declaração, portanto, é um documento de intenção, capaz de orientar, como vem fazendo, todos os membros da ONU a adotar tais princípios nas Constituições e no âmbito do seu direito interno (VELASCO, 2003, p. 588).

No Direito Internacional, várias referências à dignidade da pessoa humana foram encontradas em documentos, geralmente em seu preâmbulo [Quadro 1(2)].

Quadro 1(2): Referências à dignidade da pessoa humana.

Datas Referências à dignidade da pessoa humana

26/06/1945 na Carta das Nações Unidas

16/11/1945 no Estatuto da Unesco

10/12/1948 na Declaração Universal dos Direitos Humanos

19/12/1966 no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos

No Brasil, assegura Gosdal (2006), tais direitos estão enunciados e reconhecidos desde a Constituição de 1824, outorgada por Pedro I. Naquela época havia a coexistência entre a liberdade e a escravidão, que vinha desde os tempos iniciais da colonização portuguesa, e somente desapareceu com a abolição em 13 de maio de 1888. Desde então e até a atual Constituição, de 1988, sempre foram reconhecidos os direitos do homem, mas nem sempre apareceu o termo “dignidade da pessoa humana”. A Constituição de 1946 foi a que recebeu mais influências das ideias de Kant, compreendendo o Estado não como um fim em si mesmo, mas como meio para um fim, que é sempre o homem. No Quadro 2(2) a seguir, é sinetizada a menção do termo “dignidade da pessoa humana” nas Constituições brasileiras:

Quadro 2(2): Menção do termo “dignidade da pessoa humana” nas Constituições brasileiras.

Constituições

do Brasil Menção do termo dignidade da pessoa humana

1824 (Imperial)

Não havia menção à dignidade da pessoa humana, mas havia um vasto elenco de direitos civis e políticos dos cidadãos.

1891 Não havia menção expressa à dignidade da pessoa humana.

1934

Introduziu os direitos socias no constitucionalismo pátrio, contemplando vários dispositivos relativos às relações de trabalho, condicionando a ordem econômica ao atendimento do objetivo de possibilitar a todos uma existência digna. É o primeiro texto a mencionar expressamente a existência digna como um objetivo da ordem econômica e social.

1937 Suprimiu a menção à existência digna como fundamento da ordem econômica

1946

Assegurava a todos trabalho que possibilitasse existência digna, sendo o trabalho compreendido como uma obrigação social.

O texto constitucional voltava a mencionar o direito à existência digna por meio do trabalho, mas vê no trabalho não apenas um direito, mas, sobretudo uma obrigação social.

1967 É o primeiro texto constitucional a mencionar a expressão dignidade humana,

porém, associando-a ao trabalho.

1988

Estabelece a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado democrático de direito. Afasta a compreensão meramente

individualista da dignidade, onde permeia todo o texto constitucional. Esta compreensão da dignidade como fundamento do Estado democrático de Direito reflete as aspirações e conquistas sociais

A Ordem Constitucional vigente, no seu artigo 1º, inciso III, dispõe que a República Federativa do Brasil tem como um dos seus fundamentos na dignidade da pessoa humana. Tal ideia é um princípio fundamental que está expresso em seu dispositivo inaugural:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - (...) II - (...)

III - a dignidade da pessoa humana; IV - (...)

V - (...)

Os constituintes de 1987-1988 deixaram transparecer, de forma inequívoca e clara, a sua intenção de outorgar aos princípios fundamentais a qualidade de normas embasadoras e informativas de toda ordem constitucional, instituidora de um Estado Democrático de Direito (REIS, 2012).

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é o mais amplo dos princípios constitucionais, por ser considerado um dos fundamentos da nova ordem constitucional. Exige dos nacionais e estrangeiros residentes no país o cumprimento de um dever de abstenção de atitudes negativas contra a dignidade humana expressamente reconhecida e a efetivação de condutas positivas tendentes a concretizar e proteger a pessoa humana. É imposição que recai sobre o Estado, a de respeitar tal princípio constitucional, protegê-lo e promover as condições que viabilizem a vida com dignidade, pois o respeito à dignidade de qualquer pessoa interessa à coletividade, por consistir no princípio máximo do ordenamento jurídico pátrio, de embasamento constitucional (REIS, 2012).

A Dignidade da Pessoa Humana, no Direito brasileiro deve ser examinado não só pelo seu caráter principiológico, mas também, no presente estudo, pelo seu relacionamento com os direitos sociais e os do trabalhador. Assim, a nossa Constituição de 1988 se refere à dignidade, não só no seu art. 1º, mas igualmente, no art. 170, quando preceitua que a ordem

econômica deve assegurar a todos uma existência digna,5 no art. 226, ao tratar da paternidade