2.4 Valores organizacionais
2.4.2 Instrumentos brasileiros para mensurar valores organizacionais
2.4.2.3 Inventário de Perfis de Valores Organizacionais (IPVO)
2.4.2.3.1 Teoria dos Valores Humanos de Schwartz
Os valores humanos são definidos como “princípios ou crenças, sobre comportamentos ou estados de existência, que transcendem situações específicas, que guiam a seleção ou a avaliação de comportamentos ou eventos e que são ordenados por sua importância” (SCHWARTZ; BILSKY, 1987, p. 551).
Para os citados autores, os valores são:
Representações cognitivas de três exigências humanas universais: necessidades biológicas do organismo; necessidades sociais de interação social para a regulação das relações interpessoais; e, finalmente, necessidades socioinstitucionais de sobrevivência e bem-estar dos grupos.
Têm, assim, um caráter transcultural. (SCHWARTZ; BILSKY, 1987).
A partir desses três requisitos universais, Schwartz (1992) teorizou os dez tipos motivacionais de valor, onde cinco desses valores servem a interesses individuais - Poder, Realização, Hedonismo, Estimulação e Autodeterminação. Outros três tipos de valores servem a interesses coletivos, que são: Benevolência, Tradição e Conformidade. Os tipos motivacionais - Universalismo e Segurança - servem a interesses mistos.
Os dez tipos motivacionais de valor estão relacionados na primeira coluna do Quadro 6(2), sendo cada um deles definido por sua meta central, conforme se observa na segunda coluna. A terceira coluna apresenta exemplos de valores específicos que representam, em
especial, cada tipo. Quando as pessoas agem para expressar seus valores específicos ou se orientam para consegui-los, elas estão promovendo a meta central do tipo de valor. Na quarta e última coluna comparecem os requisitos universais da existência humana, dos quais derivam cada tipo de valor (SCHWARTZ, 1992).
Quadro 6(2) – Definição dos tipos motivacionais da teoria de valores de Schwartz
Tipos
Motivacionais Definição Exemplo de valores específicos Fontes
Autodeterminação Independência de pensamento,
ação e opção. Liberdade, Criatividade, Curiosidade e Independência. Organismo Interação
Estimulação Excitação, Novidade, Mudança e
Desafio. Vida variada, Ousado.
Hedonismo Prazer e Gratificação sensual para
si mesmo.
Prazer e autoindulgência.
Desfrutar a vida Organismo
Realização
Sucesso pessoal demonstrado por meio de competência, segundo critérios sociais
Bem sucedido, ambicioso, Capaz.
Interação Grupo
Poder Controle e status social sobre
pessoas e recurso, prestígio. Poder, Riqueza, autoridade.
Interação Grupo Benevolência
Promoção do bem estar das pessoas íntimas (com as quais se está em contato pessoal frequente)
Prestativo, leal, que perdoa. Ajuda, Honesto, não rancoroso.
Organismo Interação
Grupo Conformidade
Controle de impulsos e ações que podem violar normas sociais ou prejudicar, ferir ou incomodar os outros e contrariar expectativas e normas sociais. Obediência, polidez, autodisciplina. Interação Grupo Segurança
Integridade pessoal, estabilidade da sociedade, do relacionamento e de si mesmo.
Ordem social, segurança familiar, limpeza.
Organismo Interação
Grupo
Tradição Respeito e aceitação dos ideais e costumes da sociedade. Respeito à tradição, moderação, devoção Grupo
Universalismo
Tolerância, compreensão e promoção do bem estar de todos e da natureza.
Igualdade, justiça social, sabedoria, respeito à natureza.
Grupo Organismo Fonte: Schwartz, 1992.
Apesar dos dez tipos motivacionais de valor não esgotarem todos os valores específicos existentes reconhecidos nas diferentes culturas, entende Schwartz (1992) ser possível classificar todos eles em uma dessas dez categorias de valores.
“A chave para identificar a estrutura das relações entre os valores é a pressuposição de que as ações empreendidas para realizar cada tipo de valor têm consequências psicológicas, práticas e sociais, que podem entrar em conflito ou ser compatíveis com a realização de outros tipos de valor”, como diz Schwartz (1992, p. 60). Assim, levar até o fim os valores de realização poderá gerar conflito com os valores de benevolência; ir atrás do sucesso pessoal poderá obstruir as ações voltadas para melhorar o bem-estar daqueles que precisam de nossa ajuda; a busca de valores tradicionais esbarra com a procura dos valores de estimulação; aceitar os costumes culturais e religiosos, assim como as ideias transmitidas do passado, poderá inibir as novas ideias, a novidade, o desafio e o entusiasmo (SCHWARTZ, 1992).
Por outro lado, existem valores, como o de benevolência e conformidade, que se forem seguidos, acabam sendo compatíveis, uma vez que ambos são aprovados pelo grupo, na maioria das vezes, afirma o mencionado autor.
A partir das relações de compatibilidade e conflito, Schwartz (1992) propôs uma estrutura onde os valores ora têm metas relacionadas, ora tem metas opostas, derivando um formato circular [Figura 2(2)], mostrando que (I) os tipos de valores compatíveis estão próximos ao longo do círculo e (II) os tipos em conflito estão dispostos em direção opostas, resultando uma organização dos tipos motivacionais em quatro polos, também chamados polos motivacionais (SCHWARTZ, 1992).
Figura 2(2): Estrutura bidimensional dos tipos motivacionais de valores
Fonte: Schwartz (1992).
A primeira dimensão, definida como Abertura à mudança versus Conservação, opõe valores que enfatizam pensamento e ação independentes e aqueles que favorecem a manutenção do status quo. Encontram-se ligados ao primeiro os tipos motivacionais de Estimulação e Autodeterminação. No polo oposto, encontram-se os valores que dão destaque a auto-restrição, preservação de práticas tradicionais e proteção da estabilidade, contemplados nos tipos motivacionais da Segurança, Conformidade e Tradição.
A segunda dimensão é formada pelos polos Autopromoção versus Autotranscendência. O primeiro apresenta os valores relativos aos tipos motivacionais Poder e Realização, privilegiando os interesses do indivíduo, mesmo à custa dos outros. Em oposição, no polo da autotranscedência, estão os valores de Universalismo e Benevolência, que refletem a preocupação com o bem-estar dos outros e da natureza.
O Hedonismo pode ser componente tanto da abertura à mudança quanto da autopromoção (SCHWARTZ, 1992).
processo de vai e vem, que incluiu a dedução teórica e a avaliação empírica da teoria; os tipos de valores ou tipos motivacionais básicos (conteúdo) e as relações que se estabelecem entre eles (estrutura) foram confirmados ao longo de várias pesquisas transculturais (SCHWARTZ, 2005). Diferenças na localização de alguns tipos motivacionais foram encontradas eventualmente, dependendo da amostra. No Brasil, por exemplo, alguns tipos motivacionais complementares se misturam em uma única região do espaço (TAMAYO; PORTO, 2009). No entanto, a oposição entre os polos segundo as duas dimensões bipolares manteve-se ao longo dos estudos.
A teoria de valores básicos pretendeu unificar as diversas teorias no campo da motivação humana, organizando as diferentes necessidades, motivos e objetivos propostos em teorias anteriores, observa Tamayo (2008). Também procurou identificar aquelas categorias de valores (tipos motivacionais) da estrutura psicológica humana, presumivelmente comuns a toda humanidade, portanto potencialmente aplicáveis a todas as culturas (TAMAYO, 2008).