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A dimensão ético-política nas atividades do magistério superior: possibilidades de prazer e sentido no trabalho

ANO DOCENTES

6. ENTRE AGRURAS E DELEITES: O SENTIDO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES ENTRE SOFRIMENTO E PRAZER NO OFÍCIO DO PROFESSOR DA

6.3 O ofício do professor da pós-graduação da UNESP: as relações dialéticas e contraditórias entre sofrimento-prazer e as (im)possibilidades de construção de sentido

6.3.2 A dimensão ético-política nas atividades do magistério superior: possibilidades de prazer e sentido no trabalho

O trabalho do professor da pós-graduação tem a dimensão formativa e de construção do conhecimento científico como pilares para a mobilização de um sentido social autêntico no trabalho, a que chamamos de sentido ético-político. Tal sentido social configura-se pelo desejo essencialmente humano de cooperar para a transformação do mundo. No caso do professor ele se apresenta pela garantia de uma formação de qualidade para os alunos e orientandos, como também por auxiliar o progresso científico. Mas, cabe antecipar, que este sentido tem sido fragilizado na universidade em decurso das prescrições e constrangimentos que acompanham o atual modelo de gestão educacional (SILVA, 2015a). Todavia, ele se mostra na essência inalienável, pois subjaz na transmissão do saber e na construção do conhecimento, ainda que a eficiência para sua obtenção esteja limitada em muitas situações.

O trabalho de formação desenvolvido pelo professor nas múltiplas configurações do magistério superior tem inscrito em si uma dimensão ético-política bastante significativa. Esta, congrega os valores políticos e sociais do indivíduo e tem a dimensão intelectual e criativa do fazer como ferramenta e aliada. Este sentido, intrínseco ao dom de ensinar, efetiva- se no cotidiano da sala de aula e no convívio com os orientandos, retribuindo ao professor tal investimento afetivo por meio do reconhecimento do progresso dos alunos e orientandos. Fato mobilizador do sentido e do prazer para continuar trabalhando, como se alude no relato:

Minha maior paixão em relação ao meu trabalho é a de modificar a cabeça das pessoas em relação ao conhecimento. Isso eu acho que eu consigo fazer, então, é por isso que eu estou te falando que meu trabalho motiva, me motiva muito, né, porque se eu fizesse um trabalho que eu não percebesse esse retorno, eu não aguentaria. Por exemplo, eu comecei a dar aula pra um grupo de primeiro ano aqui e hoje é o segundo ano deles e vi um crescimento enorme e você fica pensando: “nossa vocês aprenderam tudo isto?”. Eles tiveram aula comigo no primeiro ano, no segundo ano estão tendo aula comigo novamente e já estão perguntando se terão aula novamente comigo no terceiro ano. Então, a evolução que você sente neles é bacana, inclusive a evolução no processo acadêmico. Às vezes eu falo: 'gente vocês são os meus orgulhos‟. (...) Vi todo esse processo, então, esse tipo de coisa te dá muito prazer. Ou então, por exemplo, um aluno meu de graduação acabou de passar no mestrado e, ele foi na minha sala várias vezes para me pedir ajuda em relação à escrita, em relação a prova do mestrado: „'professora como que eu estudo?' (...) Ele leu tudo que eu falei, ele foi bem na prova, e ele aprovou e acabou me escolhendo como orientadora né. Então, assim isto é super bonitinho porque você fala assim: “poxa vida né ele fez um projeto super lindo, fez uma coisa super bem estruturada, é uma pessoa que tinha chegado lá sem saber como se construía um projeto”. Outro exemplo, meu aluno de PIBIC me apresentou um relatório final que eu falei para ele: 'isso é tese de mestrado, tá pronta'. Sabe assim, você olha e fala assim: ' você que fez isso?' Nossa está brilhante, demonstra uma maturidade do primeiro texto que ele fez para o último texto. Aí você percebe que tudo que você fez durante o processo ele levou em consideração, porque tem gente que você fala e entra por aqui e sai por ali. (..). É esse é o melhor reconhecimento, né, o maior prazer que a profissão te dá. (...) A partir do momento que você escuta os meninos falando alguma coisa, dizendo que vão brigar por alguma coisa, que acham que alguma coisa está errada por algum motivo específico, você já percebe que eles já estão mudados, que já houve algum tipo de transformação, eles já estão muito diferentes da forma com que eles entraram né (VILMA, 2014).

Aqui verifica-se a dimensão ético-política envolta no ensino e na orientação tem o potencial de ao transformar a realidade dos estudantes, permitir que o professor obtenha rico sentimento de valorização de si. A mobilização autêntica da subjetividade em uma tarefa somente se efetiva de forma plena caso acompanhado da cooperação haja uma retribuição:

A questão prática é antes procurar as condições que permitam não quebrar a dinâmica da mobilização "espontânea", findada na conquista da identidade individual. Segundo esta perspectiva, o sujeito mobiliza sua inteligência e sua personalidade em função de uma racionalidade subjetiva particular. A dinâmica da mobilização apoia-se essencialmente no par contribuição-retribuição. As contribuições singulares são espontâneas, na medida em que o sujeito espera em resposta à sua contribuição para a organização real do trabalho uma retribuição simbólica em ter- mos de reconhecimento de sua identidade. A racionalidade aqui observada é a racionalidade da ação em relação à realização de si mesmo (DEJOURS, 2011i, p. 159).

Como recompensa à dedicação às aulas e à orientação, a professora percebe o progresso dos estudantes, o progresso dos orientandos e o convite para ser orientadora como uma forma de reconhecimento, sendo-o um reforçador de sua mobilização subjetiva e de sua identidade – dimensão a ser abordada posteriormente. Reconhecido e identificado com uma tarefa, realizá-lo pode contribuir para a canalização de energias pulsionais em prol de um trabalho sublimatório e dotado de sentido, como se viu anteriormente com base em Dejours (2011b; 2011i).

Na perspectiva adotada pela Vilma, trazemos outro relato que mostra o sentido ético- político envolto no processo de formação de pesquisadores, de alunos e no compromisso com o progresso científico:

Então, como eu disse, eu gosto disso. Eu gosto disso que eu faço, eu gosto de estudar, gosto de descobrir coisas novas e gosto de saber que isso serve para, pode ser útil para alguma coisa, que pode contribuir para que um dia alguém descubra alguma coisa, encontre uma melhor forma para lidar com um problema, seja na C, seja da B, porque a minha área faz interfaces. Então, é isso, o progresso da ciência. (...) Hoje veio uma aluna conversar comigo que ela estava desistindo do curso, mas ela adorou a disciplina, na disciplina ela viu algo interessante que ela pudesse fazer. Então, para mim isso é um trabalho de formiguinha, é uma aluna. Foram dois, esse que veio discutir ciência comigo na aula e depois ele veio continuar a discutir comigo e falar: “poxa, as coisas que você falou no curso me fizeram pensar a minha vida na universidade” (...) O que me move é isso, saber que eu estou trazendo uma informação nova ou que estou aproximando uma informação de alguém que tinha essa informação muito distante e fazer isso vai contribuir para melhorar alguma coisa social, na educação. Assim, como eu disse é um trabalho de formiguinha, porque a gente não consegue ver, assim, o impacto do que a gente faz, numa cidade, não consegue, mas eu acho que o trabalho de formiguinha ele tem (BRUNA, 2014).

O sentido ético-político se faz vivaz na prática da pesquisa e produção acadêmica. O gosto pelo desafio e pelo descobrimento se imiscui com a importante relevância social do trabalho de pesquisador para o progresso científico, tecnológico, cultural e social. Importância igual ocorre com a formação dos estudantes, pois é no caminho da aquisição do conhecimento que tanto o aluno quanto o professor vêm a se transformar.

A educação torna-se importante arma de transformação da pessoa quando a prática docente possui uma intencionalidade libertadora (FREIRE, 2016). A dimensão ética no ato de formar (aqui compreendido na sua ampla acepção: ensino, pesquisa, orientação, extensão etc.) está na potencialidade de transformar as pessoas, de ensinar-lhes valores éticos e outras formas de conceber o mundo. Fato depreendido ao Bruna expressar satisfação de ter contribuído para a aluna não desistir do curso e pelo outro estudante que atribuiu às discussões na sala de aula a função de ressignificar seu papel na universidade. Vilma mencionou a felicidade de cooperar para a transformação dos alunos pela via educativa, seja quando dizem que brigarão por alguma coisa que consideram errada, seja quando identifica o

progresso dos alunos e dos orientandos. Nesse sentido, vê-se que o ato de construir e transmitir conhecimento possui uma dimensão ética e prazerosa envolta ao docente poder contribuir, ainda que de forma individual e singela, para a melhoria da educação e da sociedade.

Tais aspirações humanas são legítimas e importantes, pois o sentido advindo torna-se a propulsão para a inscrição subjetiva autêntica no trabalho, ainda assim, veremos posteriormente, que ideologicamente as atuais práticas gerenciais visam transviá-los, criando- se uma confusão de valores para que o indivíduo introjete e se identifique com aqueles advindos do universo institucional.

A extensão, dimensão da universidade que por excelência está encarregada de estabelecer parcerias entre a universidade e a sociedade, possui importante sentido ético- político. O envolvimento com o trabalho de extensão permite ao professor criar um contato significativo com a realidade social brasileira e suas carências, podendo cooperar para sua transformação. Esse fato se torna mais aglutinador de sentido e de prazer se estiver imbuído de valores íntimos que remetam à história familiar e correlacionem a percepção de mundo do profissional, daí a importância de certas filiações teóricas, como se percebe na narrativa:

O Foucault me ajuda a entender o mundo (...), a entender esse olhar sobre o histórico, sobre as relações de poder, por exemplo, uma das coisas que me inquietam muito é o pouco acesso que as pessoas de fato têm à universidade, entendeu? (...) É uma pena. Então, o que a gente faz no projeto X? Exatamente romper com isso, é uma estratégia de resistência a esse sistema, é mostrar para o nosso aluno que vem de uma realidade econômica, cultural e social muito dura que existe a possibilidade de entrar neste mundo não porque ele é melhor, mas porque ele te abre um espectro de visibilidade, de um todo, no qual ele faz parte desse todo, que ele merece, que ele tem condições de ter acesso a tudo isso, entendeu? Então, nesse sentido a (área subtraída) me dá essa perspectiva, aí eu tento unir ao trabalho, ao projeto X, sempre com muita paixão (...). [P: Parece que tem alguma coisa no próprio sentido que você atribui a vida...] E. É exatamente isso, por isto a questão do sócio histórico, pois eu acho que a gente tem uma raiz humana que é pautada por uma instância social, econômica e política, e que existem fissuras nesse sistema. Eu acho que não é no sentido de que ser professor universitário é melhor, que ser engenheiro é melhor, não, não; quer dizer de repente eu quero ser mecânico e é tudo de bom, mas eu sei que existiu, por exemplo, um escritor chamado Fernando Pessoa, que tem essa possibilidade do conhecimento, sabe? (...) Eu acho que isso está muito atribuído aos valores que meus pais me deram, né? O meu pai no sentido da fortaleza, no sentido do brilho de ser honesto, de ser conquistante, de ser perseverante; e a minha mãe no sentido de ser lutadora, de ser guerreira, de ir atrás, né? Acho que isso é uma herança de família (PAULA, 2014).

O desejo de auxiliar na transformação da sociedade por meio dos projetos de extensão pode vir a permitir a extração de um sentido ético-político e a canalização de energias pulsionais no trabalho. A origem deste sentido para Paula advém de sua concepção teórica, a que Foucault vem denunciar as relações de poder na sociedade e suas fissuras,

sendo-a reafirmada, em grande medida, por sua origem familiar humilde40

que concebe a educação como forma de ascensão social e cultural. A correspondência do fazer com sua história de vida permitiu que se pusesse em ação o funcionamento de uma ressonância simbólica no trabalho:

Quando a ressonância simbólica existe entre teatro do trabalho e teatro do sofrimento psíquico, o sujeito enfrenta a situação concreta sem necessidade de deixar sua história, seu passado e sua memória no "vestiário". Pelo contrário, investe a situação de trabalho da força de engajamento que implica a reatualização pelo trabalho de sua curiosidade e de sua epistemofilia. O trabalho lhe oferece uma oportunidade a mais para prosseguir o seu questionamento interior e para delinear a sua história. Por meio do trabalho, o sujeito engaja-se nas relações sociais nas quais enxergará as questões herdadas de seu passado e de sua história afetiva. A ressonância simbólica aparece, assim, como condição necessária à articulação entre a diacronia singular e a sincronia coletiva. Este ponto é essencial, pois em relação à produtividade e à qualidade do trabalho, a ressonância simbólica permite beneficiar o trabalho da força extraordinária que confere a mobilização dos processos psíquicos provenientes do inconsciente e que se atualizam como inteligência astuciosa (DEJOURS, 2011b, p. 400).

A compatibilização entre as representações simbólicas de Paula e a realidade do trabalho permite uma autêntica inscrição da subjetividade, extraindo daí um foco de desejo, engenhosidade e sentido social.

Os trabalhos administrativos e burocráticos, conforme expostos em subseção anterior, são considerados, por boa parte dos professores, como desinteressantes (faceta a ser ainda melhor explorada). Ainda assim, ecos sublimatórios e geradores de sentido fazem-se presentes nesse fazer. O trabalho administrativo e burocrático pode permitir ao professor inscrever sua subjetividade autêntica na realização da tarefa quando ela mobiliza importante sentido ético- político, por exemplo, ao cooperar para o bom funcionamento da instituição – dimensão que será examinada com maior vagar na seção 8. Descontentamentos coexistem com tal potencial sublimatório, como se percebe na narrativa:

Agora, antes disso, é uma coisa que claro, pra organizar um evento, pra organizar um processo seletivo que não te dá produto nenhum que não seja fazer a coisa funcionar, a sensação é a de que você está numa seção burocrática, você faz um papel de secretaria. Por exemplo, eu participo da seleção da pós. A seleção te dá um trabalho imenso, você tem que arrumar as questões da prova, você tem que designar as pessoas que vão corrigir, você tem que corrigir, você tem que depois

40 A origem familiar foi apontada pela entrevistada no seguinte relato: “eu vim de uma família muito simples, assim, meus pais não estudaram: minha mãe fez o antigo ginasial só depois de adulta e meu pai terminou o segundo grau também depois de adulto, aos 40 anos. Então, na minha família eu fui a primeira a ter acesso à universidade pública [pausa] e era um sonho que eu estava realizando na família, tanto do lado de pai, quanto da mãe” (PAULA, 2014).

processar o resultado, e é um negócio super angustiante, é uma coisa que decide vida e tal, é uma coisa muito complicada. Agora que retorno que dá isso para mim academicamente? Assim, no caso de você ser vice aqui na UNESP você não tem nem a verba de representação. O retorno é de ficar feliz que as coisas estão funcionando, que você não deixou a peteca cair. Isso não faz diferença se eu for pedir um auxílio para FAPESP, isso não faz diferença se eu for pedir uma bolsa PQ, não vão falar: “ah, quantos processos seletivos você fez?”, “nenhum”, “Ah, tudo bem.”, “ah, eu fiz cinco processos seletivos, eu sou ótimo nisso”. Paciência, bom pra você, porque não vale. Não vale como produto de pesquisa, não te faz um pesquisador mais competitivo, muito pelo contrário. Isso é uma coisa que é ruim. Agora, quando você assume um cargo desse, você tem que estar ciente que você vai... Aí é que tá. Assim, o que é importante? O cargo da coordenação é importante. Isso é importante colocar na bolsa PQ, na livre docência, essa experiência, mas o trabalho, se você for um coordenador que não dá a mínima pra isso, faz um processo seletivo que não te dê trabalho, não faz um evento centralizado, como a gente faz, faz um evento... o professor que quiser fazer o evento faz, o programa não vai fazer. Esse coordenador vai ter menos trabalho, mas talvez seu programa não vai ter a consistência que é exigida pela CAPES e tal. Então todo esse trabalho também tem a ver com esse possível prêmio, subir de nota ou de não cair, ser bem avaliado pela CAPES. Agora, o que que isso faz de diferença pontual, não faz diferença nenhuma pra carreira, que não seja ter um cargo de chefia. Evento é uma coisa que não compensa fazer também pensando nisso. Agora, você tem 100 alunos de pós, você tem a oportunidade de fazer um evento em que eles apresentem trabalho, você tem a oportunidade de convidar colegas de outros lugares pra vir pra cá conversar com os alunos, você tem a possibilidade de gerir uma verba governamental, um apoio pra isso, que é importante. Agora, isso dá um trabalho que... eu falei que dessas 16 horas, que sobram oito pra coordenação, e quando tem uma coisa dessas, das 16 que sobram, sei lá, vinte é da coordenação. É uma coisa que você leva pra casa, e aí tem o durante o evento, depois o pós-evento, fazer relatório então... São coisas complicadas. Essa é uma parte que o único prazer que dá é ter um reconhecimento externo da CAPES (CARLOS, 2015).

Adversidades decorrentes do trabalho administrativo e burocrático, como a sobrecarga e a percepção do entrevistado de haver um desestímulo institucional no desempenho da função de vice coordenador na pós-graduação, coexistem de forma dialética e contraditória com o prazer e sentido autêntico que podem vir a ser mobilizados na realização de tal tarefa. Aqui configura-se um exemplo de que o individualismo e a competitividade fragilizam, mas não eliminam a existência de um coletivo de trabalho. Isto porque, em prol do bem-estar coletivo e do pleno funcionamento da instituição, o entrevistado mobiliza o seu agir afetivo e sua engenhosidade para garantir o êxito do trabalho de todo grupo, como também para fornecer condições adequadas para a boa formação dos estudantes. Dentro da perspectiva da Clínica da Atividade (CLOT, 2010), vemos que o poder de agir do profissional é mobilizado tanto por uma lógica pragmática (preservação de si), quanto por outra mais autêntica e colaborativa ao visar o bem-estar dos colegas, dos estudantes e a manutenção, por exemplo, de uma formação de qualidade, como o entrevistado expressou.

A síntese disso é que sentido ético-político mantém-se vivaz nessas atividades. Inclusive, elas têm conseguido angariar não apenas um sentido social ao trabalho, mas canalizar energias pulsionais na atividade em decurso de sua finalidade útil e socialmente reconhecida, como argui Dejours (2011b; 2011c). A mobilização autêntica da subjetividade, a

engenhosidade e a inteligência astuciosa voltam-se a busca por rearranjos à lógica prescritiva do sistema universitário, estando no âmbito do que se compreende pelo sofrimento criativo:

Em função deste percurso pela inteligência prática e pelo sofrimento no trabalho, podemos facilmente compreender por que a mobilização psíquica dos sujeitos diante da organização do trabalho adquire tal força. É espontaneamente que os sujeitos investem no trabalho: sob o efeito de "pulsão" a ser investida como inteligência astuciosa, de um lado, sob o efeito do sofrimento em busca de sentido, de outro (DEJOURS, 2011b, p. 401).

Tanto o trabalho de construção e transmissão do conhecimento científico, quanto o que assume viés mais administrativo são aglutinadores de sentido ético-político por se relacionarem às aspirações humanas elevadas, com a formação dos estudantes, com o progresso científico nacional e com o fazer colaborativo para o bom funcionamento da universidade. Veremos a posteriori que esse potencial é parcialmente amputado pelas ingerências institucionais - capitaneadas pela racionalidade gerencial presente no âmbito universitário. Ainda assim, ela subjaz, de forma dialética e contraditória, no fazer acadêmico. Para ter-se um trabalho sublimatório, que em tese surge com a inscrição da subjetividade autêntica no ofício (engenhosidade, afetividade etc.), necessita que haja uma retribuição social – dimensão que será a partir de agora examinada no ofício do professor da pós-graduação.

6.3.3 O reconhecimento nas atividades do magistério superior: possibilidades de prazer

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