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Capítulo

2 O ENSINO DO DESIGN

2.6 O currículo do curso de Design

2.6.2 Desenhos curriculares

2.6.3.2 Diretrizes Curriculares (1997 a atual)

No ano de 1997, o Ministério da Educação - MEC, por intermédio da Câmara de Educação Superior – CES, estabelece que as Diretrizes Curriculares Nacionais devem se constituir em orientações para elaboração dos currículos - a serem respeitadas por todas Instituições de Ensino Superior – IES, e assegurar a flexibilidade e a qualidade da

formação oferecida aos estudantes. A partir da aprovação das Diretrizes, o MEC convoca as instituições de ensino superior a encaminhar as propostas de currículo para os cursos de graduação já em vigência.

O Quadro 13 apresenta as principais diferenças entre Currículo Mínimo e Diretrizes Curriculares Nacionais, com o propósito de mostrar os avanços e as vantagens proporcionadas por estas últimas.

Quadro 13 – Diferenças entre o Currículo Mínimo e as Diretrizes Curriculares

O Edital 004/97 e o Modelo de Enquadramento das Propostas de Diretrizes Curriculares possibilitaram um alto nível de participação de amplos segmentos sociais e institucionais. Desse procedimento advieram, não somente ricas e ponderáveis contribuições da sociedade, das universidades, das faculdades, de organizações profissionais, de organizações docentes e discentes, enfim, da comunidade acadêmica e científica - com a ampla participação dos setores públicos e privados em seminários, fóruns e encontros de debates -, como também resultou na legitimação das propostas do MEC/SESu, aprovadas.

Estabeleceu-se, então, um roteiro, de natureza metodológica - por isso mesmo flexível - de acordo com as discussões e encaminhamentos das Propostas das Diretrizes Curriculares Nacionais de cada curso, sistematizando-as, segundo as grandes áreas do conhecimento, nas quais os cursos se situam, resguardando, conseqüentemente, toda uma congruência daquelas Diretrizes, por curso, e dos paradigmas estabelecidos para a sua elaboração.

Para o desenvolvimento das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação de Design, a CEEDesign adotou o seguinte método de trabalho:

1. Realização do I Fórum de Dirigentes de Cursos de Desenho Industrial, em abril de 1997, em Recife, com a participação de várias IES, a Associação de Ensino de Design do Brasil - AEnD-BR e quatro Associações Independentes. Os participantes elaboraram um primeiro esboço sobre o perfil, as competências e habilidades do profissional em Design, bem como a definição das áreas de conhecimento envolvidas na formação do profissional;

2. Realização do II Fórum de Dirigentes de Cursos de Desenho Industrial, durante o VII Encontro Nacional de Ensino Superior de Design - ENESD, em novembro de 1997, em Curitiba, com a participação de diversas IES, a Associação de Ensino de Design do Brasil - AEnD-BR e do Conselho Nacional dos Estudantes de Design - CONE Design. Nesse estágio foi possível determinar um modelo básico que relaciona quatro grandes áreas de conhecimento relativas à formação do designer: (1) fundamentação, (2) planejamento e configuração, (3) sistemas de utilização e (4) sistemas de produção;

3. Realização do III Fórum de Dirigentes de Cursos de Desenho Industrial, durante o VIII Encontro Nacional de Ensino Superior de Design - ENESD, em novembro de 1998, no Rio de Janeiro, com a participação de IES e da Associação de Ensino de Design do Brasil - AEnD-BR. O modelo básico anteriormente desenvolvido recebeu pequenos ajustes, de modo a atender às diferentes demandas enviadas por escrito à CEEDesign.

Gustavo A. Bonfim, um dos integrantes da CEEDesign, em seu artigo ‘Atualidades do currículo mínimo de Desenho Industrial: considerações para reflexão’,

de 1997, aponta diversos indicadores na necessidade da reforma curricular.

- Com relação às habilitações, a reforma deve contemplar novas possibilidades, tais como: Design de Interiores, Design de Interfaces, Design de Moda (vestuário, calçados, jóias e gemas), dentre outras. Deve ser flexível para permitir a inclusão de novas habilitações, no futuro.

- Cada instituição deve estabelecer, através das ênfases, seu perfil próprio, de acordo com vocações regionais e características institucionais.

- A reforma deve favorecer a interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento, evitando a compartimentação do saber em matérias pulverizadas ao longo do curso. Assim, deve permitir novas estruturas curriculares, em que as matérias sejam combinadas, integrando vários conhecimentos.

- O currículo deve estar comprometido com os diversos outros fatores que interferem na formação: infra-estrutura adequada, corpo docente com formação compatível e disponibilizar bibliografia especializada. Além disso, sua implementação deve ser de responsabilidade de todos, participativa e em constante avaliação.

- A formação de um profissional deve estar em sintonia com a demanda do mercado, seja ele: empresas privadas, instituições de pesquisa, organizações não governamentais ou a própria comunidade.

- Os currículos devem, sim, considerar o passado - fazer uso de experiências concretas de sucesso – mas, também, prognosticar ou considerar cenários futuros. Devem, não somente considerar a universalidade do conhecimento, mas as diferenças geo-econômicas e regionais.

- Novas áreas do conhecimento foram consolidadas nas últimas décadas, sendo que algumas já foram agregadas aos cursos de Design e muitas outras certamente serão desenvolvidas no futuro. As demandas do mercado podem também gerar necessidade de se incorporar novas disciplinas e conhecimentos. Os conhecimentos emergentes na área do Design são:

a) Meio ambiente;

b) Ciências da computação; c) Novas mídias e tecnologias; d) Novos materiais;

e) Gestão do Design; f) Empreendedorismo; g) Globalização.

É importante ressaltar que todo o processo de desenvolvimento das diretrizes educacionais para a área do Design contou com a participação e aval de representantes

de expressiva parcela da comunidade acadêmica (docentes e discentes) e da Associação de Ensino de Design do Brasil - AEnD-BR.

O parecer CES/CNE 0146, de abril de 2002, aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Design, as quais passam a orientar a elaboração de novos cursos. De acordo o Art. 8º desse parecer,

[...] o curso de graduação em Design é responsável pela formação do designer, capaz de produzir projetos que envolvam sistemas de informações visuais, artísticas, culturais e tecnológicas, observado o ajustamento histórico, os traços culturais e de desenvolvimento das comunidades e as características dos usuários e de seu contexto sócio-econômico e cultural (BRASIL, 2002).

O Art. 9º estabelece as competências e habilidades do designer e que devem ser considerados na sua formação, e serão detalhadas no capítulo 5: Análise da Disciplina de Projeto em Design.

Com relação aos conteúdos, a CEEDesign havia apresentado, em 1999, uma proposta que seria o resultado dos três Fóruns promovidos pelas CEEDesign e pela AEnD-BR em 1997 e 1998, além de contribuições individuais de especialistas na área de ensino de Design. Ficou consensualmente acordado:

[...] 3.1 que se mantenha um núcleo básico comum de conteúdos do DESIGN, por área de conhecimento, seguido de habilitações e ênfases, quando for o caso;

3.2 que o núcleo básico comum de conteúdos seja dividido em quatro blocos:

Fundamentação: Estudo da história e das teorias do design e de seus contextos filosóficos, sociológicos, antropológicos, psicológicos, artísticos, assim como de outras relações usuário-objeto-meio ambiente;

Planejamento e Configuração: Estudo de métodos & técnicas de projeto e pesquisa, meios de representação, comunicação e informação;

Sistemas de Utilização: Estudo das relações usuário-objeto, incluindo aspectos bio- fisiológicos, psicológicos, sociológicos, filosóficos e outros;

Sistemas de Produção: Estudo de materiais, processos, gestão e outras relações com a produção e o mercado.

3.3 que o conjunto formado pelo núcleo básico comum de conteúdos, pelo conteúdo das habilitações e das ênfases, esquematizado abaixo, não seja entendido como uma composição de blocos de conteúdos fechados e separados e, conseqüentemente, trabalhados de forma linear a compartimentada dentro dos currículos plenos dos cursos;

3.4 que o núcleo básico comum de conteúdos do DESIGN, complementado pelas habilitações e/ou ênfases, seja entendido como indicação de áreas de conhecimento a serem desenvolvidas e não como matérias e/ou disciplinas pré-determinadas, como estabelecido no currículo mínimo em vigor;

3.5 que os currículos plenos dos cursos de Design do Brasil sejam compostos em função do núcleo básico comum;

3.6 que a carga horária mínima recomendável dos cursos de Design seja de 3200 horas. O currículo pleno dos cursos não deve exceder a 50% do total de carga horária (Núcleo Comum e Habilitação);

3.7 Ficará a critério das instituições incentivar e estabelecer a carga horária máxima de participação do estudante em atividades extradisciplinares, tais como projetos de pesquisa, estágios, monografias e/ou projetos de conclusão de cursos e demais atividades que integrem o saber acadêmico à prática profissional valorizando, também, as habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar, desde que não ultrapasse o limite de 50% da carga total de horas do curso, conforme item 3.6;

3.8 que os currículos plenos dos cursos considerem a possibilidade da educação especial e dos cursos seqüenciais previstos no Artigo 44, inciso I, da LDB (BRASIL, 2002).

No entanto, o Parecer aprovado, em seu Art. 10 apresenta algumas alterações com relação a essa proposta já descrita. Foram eliminadas as divisões em blocos: Fundamentação, Planejamento e configuração, Sistemas de Utilização, e Sistemas de Produção; foi acrescentado o item de Conteúdos Teórico-Práticos; e a definição da ênfase do curso passa a ser definida do Projeto Pedagógico de cada curso.

Assim, a legislação aprovada, e em vigor, resolve que: O curso de graduação em Design deverá contemplar em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que atendam aos seguintes eixos interligados de formação:

I - Conteúdos Básicos (são obrigatórios): Estudo da História e das Teorias do Design em seus contextos Sociológicos, Antropológicos, Psicológicos e Artísticos;

Métodos e Técnicas de Projetos; Meios de Representação; Comunicação e Informação; Estudos das Relações Usuário/Objeto/Meio Ambiente; Estudo de Materiais; Processos; Gestão e outras relações com a produção e o mercado.

II - Conteúdos Específicos (se referem às Habilitações do curso - obrigatório e variável): Estudos que envolvam Produções Artísticas; Produção Industrial; Comunicação Visual; Interface; Modas; Vestuários; Interiores; Paisagismos; Design e outras produções artísticas que revelem adequada utilização de espaços e correspondam a níveis de satisfação pessoal.

III - Conteúdos Teórico-Práticos (são obrigatórios): Domínios que integram a abordagem teórica e a prática profissional, além de peculiares desempenhos no Estágio Curricular Supervisionado, inclusive com e a execução de atividades complementares específicas, compatíveis com o perfil desejado do formando.

Muitas instituições de ensino estão, atualmente, se adequando à nova legislação, sendo que todas elas, com cursos já em funcionamento ou novos cursos, deverão apresentar, para aprovação, o Projeto Pedagógico do curso.

O Projeto Pedagógico deverá conter, além da clara concepção do curso de graduação, com suas peculiaridades, seu currículo pleno e sua operacionalização, os seguintes elementos estruturais: (I) objetivos gerais do curso, contextualizados em relação às suas inserções institucional, política, geográfica e social; (II) condições objetivas de oferta e a vocação do curso; (III) cargas horárias das atividades didáticas e da integralização do curso; (IV) formas de realização da interdisciplinaridade; (V) modos de integração entre teoria e prática; (VI) formas de avaliação do ensino e da aprendizagem; (VII) modos da integração entre graduação e pós-graduação, quando houver; (VIII) cursos de pós-graduação lato sensu, nas modalidades especialização integrada e/ou subseqüente à graduação, de acordo com o surgimento das diferentes manifestações teórico-práticas e tecnológicas aplicadas à área da graduação, e de aperfeiçoamento, de acordo com as efetivas demandas do desempenho profissional; (IX) incentivo à pesquisa, como necessário prolongamento da atividade de ensino e como instrumento para a iniciação científica; (X) concepção e composição das atividades de estágio curricular supervisionado, suas diferentes formas e condições de realização, observado o respectivo regulamento; e (XI) concepção e composição das atividades complementares.

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