• Nenhum resultado encontrado

Capítulo

Nível 4 pré-expert: o profissional ganha uma visão integral e a capacidade de perceber traços salientes; e

3. Evidenciar os diversos níveis de inter-relações existentes, ou não, das áreas do conhecimento entre si, bem como as relacionadas com as disciplinas projetuais.

4.6.3 As IRD da Problematização

Após a formulação do projeto conforme procedimentos relatados anteriormente, se inicia o Projeto de Produto propriamente dito, prosseguindo com a etapa da Problematização, que consiste de: (1) Identificar a necessidade dos seguintes tipos: (a) uma necessidade insatisfeita no nível social ou emergencial, podendo ser de um grupo ou de uma coletividade, (b) uma necessidade de mercado detectada a partir de pesquisas de mercado, (c) uma necessidade tecnológica a partir de uma inovação científica ou técnica, (d) uma oportunidade de mercado, dentre outros; (2) Avaliar a necessidade tomando como base os resultantes de pesquisa de mercado, estudos de viabilidade técnica, estudos de viabilidade econômica, decisões estratégias, análise de riscos, dentre outros; (3) Especificar o problema contendo os requisitos detalhados para a solução do problema em questão, que podem ser: funcionalidade, culturais, simbólicos, estéticos, durabilidade, qualidade, performance, de uso, de segurança, conforto, ambiental, custo, comercial, dentre outros; (5) Subdividir o problema em subproblemas para facilitar o tratamento das informações e resolução dos problemas. Geralmente os subproblemas podem ser

resolvidos independentes uns dos outros; (6) Hierarquizar os subproblemas para priorizar as ações por importância, tempo, custos, etc; e (7) Analisar as soluções existentes e similares ao problema proposto, verificar as estratégias utilizadas pelas empresas concorrentes; identificar os pontos fracos e fortes, as vantagens e desvantagens dos seguintes fatores – complexidade, custos, produção, segurança, precisão, factibilidade técnica, confiabilidade e fisionomia do produto.

As principais competências e habilidades que os alunos devem adquirir ou aperfeiçoar durante a prática dessas etapas da Problematização são:

- Visão histórica e prospectiva, centrada nos aspectos sócio-econômicos e culturais, revelando consciência das implicações econômicas, sociais, antropológicas, ambientais, estéticas e éticas de sua atividade;

- Capacidade de trânsito interdisciplinar, interagindo com especialistas de outras áreas de modo a utilizar conhecimentos diversos e atuar em equipes interdisciplinares na elaboração e execução de pesquisas e projetos; e

- Visão sistêmica de projeto, manifestando capacidade de conceituá-lo a partir da combinação adequada de diversos componentes materiais e imateriais, processos de fabricação, aspectos ergonômicos, psicológicos e sociológicos do produto. A etapa de problematização pode ser sintetizada na resposta a uma série de questões dirigidas para a equipe de trabalho (seja ela em nível didático ou profissional): O produto serve para quê? É necessário esse produto? Porque fabricar esse produto? O produto é inovador? O produto possui um valor social, cultural? Onde, quando e como será utilizado? O Produto traz algum prejuízo social, ambiental ou à saúde? O Produto enaltece preconceitos? Quanto custará? Quem comprará? Quem utilizará? Ele é realizável na empresa? Necessita de investimentos? Conheço a concorrência? Quais os riscos em investir?

São questões amplas, mas trazem à tona a necessidade de uma reflexão maior com relação à problematização.

Nas empresas, essa etapa é amplamente discutida para evitar erros e equívocos conceituais futuros. Geralmente as etapas iniciais do projeto são as mais baratas. Desta forma, mudanças, alterações e até mesmo o cancelamento do projeto não trarão tantos danos, ao contrário do que acontece, no caso deste mesmo projeto estar nas suas etapas finais. Além disso, a prática tem demonstrado que quanto mais detalhado e definido for o problema, mais fácil será a resolução deste. De acordo com Baxter (1998), os produtos cujo desenvolvimento se inicia com uma especificação discutida e acordada com todas as pessoas de decisão da empresa, e cujos estágios iniciais do projeto sejam bem acompanhados, têm três vezes mais chances de sucesso que aqueles com especificações vagas e mal acompanhadas.

Os conhecimentos e as habilidades empregadas nesta etapa resultam das disciplinas: [1] História da arte, tecnologia e design; [2] Antropologia e identidade cultural; [5] Sociologia; [6] Economia; [32] Mercadologia; [9] Filosofia e [28] Ecologia e impacto ambiental.

Os conteúdos acadêmicos dessa etapa devem oferecer perspectivas claras sobre a atividade contemporânea, no sentido de ajudar e orientar os alunos a situar a sua prática nos contextos históricos, intelectuais, filosóficos, sociais, antropológicos, culturais e ambientais. O ensino da ética e dos valores, como já vimos, também colabora no sentido do aluno adquirir uma sólida noção do papel do design na sociedade em que vive e que pretende trabalhar, e também do desenvolvimento e de sua evolução. De acordo com Whiteley (1998), é a partir da perspectiva histórica que o aluno irá compreender as transformações do design, de como ele se transformou em uma atividade cultural e não somente comercial e utilitária. Deve também estar consciente dos impactos da prosperidade, da globalização, do consumismo e da questão do ‘estilo de vida’ como forças sociais e culturais no sentido mais amplo e não somente em termos da segmentação e colocação de produtos no mercado.

Figura 15 - Na etapa da Problematização, as inter-relações das sete disciplinas são identificadas como interdisciplinares, em relação à Disciplina de Projeto de Produto e entre elas. I= interdisciplinaridade

Todas as áreas do conhecimento desenvolvidas nessa etapa se caracterizam por seu caráter teórico e, segundo a tipologia empregada por Berger (apud Santomé, 1998) elas estariam reagrupadas de forma homogênea, por tratarem somente das ciências sociais. Sob a ótica das inter-relações, as sete disciplinas são identificadas como interdisciplinares em relação à Disciplina de Projeto de Produto e entre elas.

Conforme o grau de integração das diferentes disciplinas reagrupadas em um determinado momento, pode-se estabelecer diferentes níveis de interdisciplinaridade. Identificadas segundo os tipos de interdisciplinaridade propostos por Marcel Boisot (apud Santomé, 1998), as disciplinas em questão se enquadram na interdisciplinaridade restrita, onde o campo de aplicação de cada disciplina é definido conforme um objetivo concreto de pesquisa ou um campo de aplicação específico. No caso da Disciplina de Projeto de Produto, cada uma das áreas do conhecimento entra com sua colaboração esporádica, não produzindo obrigatoriamente modificações conceituais ou permanente nos seios das disciplinas.