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Implementação da Interdisciplinaridade nos cursos 1 Currículos integrados

Capítulo

Nível 4 pré-expert: o profissional ganha uma visão integral e a capacidade de perceber traços salientes; e

5. As parcerias institucionais, nos níveis intra e inter-institucional, nas esferas de graduação, extensão e pós-graduação não são uma meta fácil de ser alcançada.

5.2.2 Implementação da Interdisciplinaridade nos cursos 1 Currículos integrados

O modelo clássico de organização do conteúdo – currículo de disciplinas – que apesar de todos os problemas é a forma predominante usada pelas instituições. Em oposição a este conceito, se propõe que as instituições adotem o currículo integrado, que também é ser conhecido como ’currículo interdisciplinar’, ‘currículo globalizado’ e ‘integração curricular’.

A interdisciplinaridade é fundamentalmente um processo e uma filosofia de trabalho que entra em ação quando há necessidade em enfrentar problemas, no caso desse trabalho, um problema de ensino. Embora sendo um processo, não existem etapas rígidas a seguir, existem sim passos, que utilizados de forma flexíveis, costuma estar presentes em qualquer tipo de ação interdisciplinar. Santomé (1998) lista esses passos:

- Definir o problema;

- Determinar os conhecimentos necessários;

- Desenvolver um marco integrador e as questões a serem pesquisadas; - Especificar os estudos ou pesquisas concretas que devem ser empreendidas; - Reunir todos os conhecimentos atuais e buscar nova informação;

- Resolver os conflitos entre as diferenças disciplinas implicadas, tratando de trabalhar com um vocabulário comum e em equipe;

- Construir e manter a comunicação através de técnicas integradoras (encontros, intercâmbios, interações freqüentes, etc.);

- Comparar todas as contribuições e avaliar sua adequação, relevância e adaptabilidade;

- Integrar os dados obtidos individualmente para determinar um modelo coerente e relevante;

- Ratificar ou não a solução ou resposta oferecida; e

Davini (1984) sugere uma outra seqüência de procedimentos úteis para a elaboração do currículo integrado, a ser adaptado a cada realidade.

- É aconselhável partir para a elaboração de uma clara definição de atribuições que estão e deveriam estar implicadas na prática social de uma profissão. Chamaremos de Perfil Profissional a resultante deste processo de debate, que inclui atribuições profissionais legitimadas pela prática da atual profissão e atribuições desejáveis em condições de serem incorporadas e aceitas. Na definição deste perfil devem também ser levada em conta as características do meio social onde a profissão se desenvolve, e as características dos alunos;

- Com o perfil em forma de lista de atribuições, pode reuni-las em áreas ou conjuntos de atribuições, referindo-se cada um tipo genérico de atividades. Esta classificação pode adotar diversas formas, segundo o que se quiser destacar, devendo-se optar pela que reúna mais consenso e seja mais adequada ao exercício da profissão;

- De cada área de atribuição deverão ser detectadas as competências necessárias e os conceitos, processos, princípios e técnicas para o desenvolvimento de tais competências;

- O passo seguinte será cotejar as diferentes listas de conceitos e processos para o desenvolvimento das competências, estabelecendo relações entre elas, detectando conhecimentos comuns e hierarquizando-os. Trata-se de um processo de síntese e classificação dos conhecimentos necessários que dará como resultado uma árvore de conhecimento encadeados e relacionados como em uma rede. Chamaremos esta rede de estrutura de conteúdos. Aos conceitos, processos ou princípios mais gerais ou englobados chamaremos de assuntos-chave, sendo provável que existam vários assuntos-chave na estrutura total;

- Cada assunto-chave e sua correspondente rede de conhecimentos teóricos e práticos dará lugar a uma unidade de ensino-aprendizagem. Esta se define como uma estrutura pedagógica dinâmica, orientada por determinados objetivos de aprendizagem, em função de um conjunto articulado de conteúdos e sistematizado por uma metodologia didática. Cada unidade guarda certa autonomia com respeito às demais, porém, ao mesmo tempo, se encontram articuladas com as outras com vistas à totalização das áreas de atribuições e do perfil profissional.

- Resta referirmo-nos ao outro elemento central na elaboração das unidades curriculares: a metodologia. É neste ponto que se opera uma profunda mudança no processo pedagógico, já que o currículo integrado representa a integração teoria e prática.

- Ao coordenador cabe orientar sistematicamente a reflexão e análise a partir das próprias percepções iniciais dos educandos, estimulando a observação, a indagação e a busca de resposta. Durante este processo corrigirá desvios e junto

com seus alunos avaliará seus avanços e dificuldades. Deverá sempre respeitar o ritmo de aprendizagem e os padrões culturais de quem aprende, não para ficar no imobilismo, mas, sim, para que os alunos produzam seus próprios conhecimentos e mudanças com um sentido de integração e compromisso com seu projeto.

Poderíamos definir o currículo integrado como um plano pedagógico e sua correspondente organização institucional que articula dinamicamente trabalho e ensino, prática e teoria, ensino e comunidade. Assim, construir currículos integrados para os cursos de graduação em Design pressupõe um trabalho conjunto, em níveis da área pedagógica da instituição, coordenação e docentes. Este plano pedagógico deve definir os objetivos, áreas de interação, formas e mecanismos para efetivar a interdisciplinaridade no currículo.

Ao adotar a interdisciplinaridade como metodologia no desenvolvimento do currículo não significa o abandono das disciplinas, e nem supõe professores “pluri- especializados” com o risco do sincretismo e da superficialidade. Para maior consciência da realidade, para que os fenômenos complexos sejam observados, vistos, entendidos e descritos torna-se cada vez mais importante a confrontação de olhares plurais na observação da situação de aprendizagem. Daí a necessidade de um trabalho de equipe realmente interdisciplinar.

Os princípios da identidade, diversidade e autonomia redefinem a relação a ser mantida entre os sistemas de ensino e as instituições. É importante ressaltar que a autonomia implica em planejamento conjunto e integrado da instituição, expressão de um compromisso entre os agentes envolvidos sobre objetivos compartilhados, considerando a especificidade, as necessidades e as demandas de seu corpo docente e discente, criando expressão própria.

Esses pressupostos justificam e esclarecem a opção pela organização do currículo em áreas que congregam disciplinas com objetos comuns de estudo, capazes, portanto de estabelecer um diálogo produtivo do ponto de vista do trabalho pedagógico, e que podem estabelecer também um diálogo entre si enquanto áreas.

Uma articulação possível é a de diversos campos de conhecimento, a partir de eixos conceituais. É necessário um planejamento conjunto que possibilite a eleição de um eixo integrador, que pode ser um objeto de conhecimento, um projeto de intervenção e, principalmente, o desenvolvimento de uma compreensão da realidade sob a ótica da globalidade e da complexidade, uma perspectiva holística da realidade.

É importante lembrar que a interdisciplinaridade é uma filosofia que requer convicção, e mais que isso, a colaboração. Para a implantação de um currículo integrado é necessário um ‘articulador’, que seria um profissional interno da instituição que faz o

papel coordenador das atividades. O elemento central na elaboração deste processo deve ser a metodologia.

5.2.2.2 Temas transversais

A transdisciplinaridade consiste na forma superior da interdisciplinaridade e de coordenação, em que os limites entre as diversas disciplinas desaparecem e se constitui um sistema total que ultrapassa o plano das relações e interações entre essas disciplinas.

Através da análise, verificou-se a presença de algumas disciplinas que pelo seu caráter amplo e abrangente, como as Metodologias (Científica e Projetual) e a Ética e Valores, ultrapassam os limites de interferência e se diluem quando colocadas no contexto, por exemplo, no Projeto em Design. Nesse caso, sugere-se a implementação destes temas nos cursos, assim como de outros com as mesmas características transdisciplinares.

Para Gadotti (2000), ao pensar na educação do futuro devemos lembrar das categorias nascidas ao mesmo tempo da prática da educação e da reflexão sobre ela, e sugere as seguintes: Cidadania - Planetaridade - Sustentabilidade - Virtualidade – Globalização.

Experiências recentes implementadas no Curso de Design Industrial da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) ratificam a necessidade da inovação no ensino. Foram adotados como “temas de ênfase” que apresentam características próximas ao conceito da transdisciplinaridade: os conceitos de ‘estética’ e ‘uso’, por exemplo, são temas de trabalho nas disciplinas do primeiro ano do curso, enquanto que temas, como a ‘tecnologia’ e ‘gestão’ são trabalhados nas disciplinas mais avançadas.

Estudos voltados para a criação de uma teoria do Design têm sido explorados há algum tempo por pesquisadores brasileiros. Gustavo Bonfim (1999) defende a idéia de uma teoria do Design de constituição transdisciplinar, que mescle conhecimentos pertencentes a diversas áreas científicas. Uma teoria que não tenha campo fixo de conhecimentos, e que percorra por sistemas lineares-verticais (disciplinares), ou lineares-horizontais (interdisciplinares). Isto é, uma teoria do Design instável, que se mova entre as disciplinas tradicionais, dependendo da natureza do problema tratado.

Santomé (1998) conclui seus comentários sobre a transdisciplinaridade da seguinte forma: cabe notar finalmente que, embora haja notável convergência entre os que se dedicam à temática, ainda não existe um modelo de transdisciplinaridade suficientemente elaborado e desenvolvido. Deve-se lembrar ainda que a evolução não ocorre necessariamente de forma progressiva, dos níveis mais baixos de

interdisciplinaridade aos mais integrados, isto é, da multidiscipliranidade até a transdisciplinaridade.