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3.1 Sistematização

3.1.2 Sistema Linguístico

3.1.2.1 Sistema Linguístico Avaliação do Texto

3.1.2.1.3 Discurso Citado e Transitividade Verbal

Conforme anteriormente mencionado, a citação do discurso alheio não é desinteressada e visa a fins específicos percebidos nas formas de diálogo entre o contexto transmissor e o discurso citado, segundo Bakhtin (1993, p. 140). O autor considera o discurso citado – citações, relatos ou discursos híbridos – uma forma de manifestação da polifonia, sendo, simultaneamente, ―um discurso sobre o discurso, uma enunciação sobre a enunciação‖ (BAKHTIN, 2006, p. 147). Entretanto, nesse caso, as vozes trazidas à tona não estão em contradição ideológica com a voz do(a) autor(a) do texto. É, pois, um texto que tende à monologia e ao fechamento.

De acordo com Acosta-Pereira, ―o discurso citado apresenta-se como a confluência de discursos os quais, por sua vez, se integram na construção de sentido do discurso da notícia‖ (ACOSTA-PEREIRA, 2008b, p. 86). O autor (id., p. 85) ainda lembra que o discurso do outro, incluído na situação enunciativa, sempre se transforma em relação ao seu significado primeiro, influencia na credibilidade do texto, e produz efeitos diversos de significação no texto em que está inserido.

Por ser um texto midiático, de função informativa e persuasiva, justifica-se o grande número citações – DD -, com tendência para representar como ―verdadeiras‖ as palavras dos interlocutores, de modo a demonstrar credibilidade no discurso - TABELA 4, GRÁFICO 4, QUADRO 9.

Citações Relatos Discursos Híbridos

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TABELA 4: Ocorrências de Citações, Relatos e Discursos Híbridos.

GRÁFICO 4: Citações, Discursos Híbridos e Relatos.

Citações (15 ocorrências)

Exs. 59-6049 "O infarto em quem usa cocaínaé diferente do habitual na meia-idade, que acontece por causa do entupimento de uma artéria do coração" (DD), explica Dartiu Xavier da Silveira, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e diretor-geral do Programa de Orientação e

Atendimento a Dependentes (Proad).

Exs. 61-62 "No caso da cocaína, acontece um espasmo, uma contração abrupta de artérias do coração, e o sangue deixa de circular." (DD) [explicaDartiu Xavier da Silveira]

Exs. 95-99 Antes da reconciliação com Fernanda, [Marcelo] disse que "ela foi muito fácil, esfregava na minha cara;se eunão chegasse,seria chamado de gay‖ (DD).

Exs. 100-104 Em relação à atriz, a crueldade [de Marcelo]foi inconsciente: "Perdi a melhor mãe que já tive" (antes) (DD). "Agradeço tudo o que a Susana fez por mim, mas as coisas têm início, meio e fim;eue Fernandaestamos felizes" (depois) (DD).

Exs. 110-112 "Nunca aprovamos a união deles, Mas era um ser humano que estava com nossa filha" (DD), diza mãe de Fernanda, a psicóloga Terezinha Cunha.

Exs. 113-114 "Fernanda deu sorte de não ter sido morta por ele durante o surto" (DD),afirmao irmão dela, Cristiano.

Exs. 137-143 "Ela pegou um cara do subúrbio, trouxe para a Barra da Tijuca, deu a ele uma vida deslumbrante, algo meio Disney,depois tirou.Elenão tinha base e pirou" (DD),descreve,sem meias palavras, uma pessoa que conheceu os dois.

Exs. 149-151 "Ele tinha um comportamento autodestrutivo, e os riscos de recaída eram visíveis" (DD), descreve a psiquiatra Magda Vaissman, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que cuidou de Marcelo durante três meses.

Exs. 152-153 "Ele era fascinado pela exposição em que vivia, pelo espetáculo. O que aconteceu foi uma tragédia, causada por uma doença difícil e traiçoeira." (DD) [descreve a psiquiatra Magda Vaissman]

Exs. 166-168 "Susana Vieira tem uma grande e rara comunicação com o público porque é muito forte e corajosa como mulher e como intérprete" (DD),dizo autor Silvio de Abreu.

Exs. 169-170 "O público vai sempre acompanhar seus trabalhos porque, como na vida real, Susana é muito sincera consigo mesmae não tem medo de expor suas fraquezas ou suas virtudes." (DD) [dizo autor Silvio de Abreu]

Exs. 172-173 Quando a notícia da morte de Marcelo Silva chegou, todos se lembraram da invectiva da apresentadora Ana Maria Braga, antes da tragédia: "Se você desaparecesse da face da Terra agora, seria uma coisa maravilhosa para todo mundo" (DD).

Exs. 179-182 "Ela pode escolher um mais jovem pelo puro prazer físico, um desejo respeitável, mas passível de riscos. Ou pode escolher um homem da sua idade, mas, além de raros, uma vez que também querem moças mais novas, esses homens envelheceram muito pior do que elas‖ (DD), diz a psicóloga Lidia Aratangy.

Exs. 191-192 "Nunca tive um homem que ganhasse mais do que eu" (DD), diz realista, Ana Maria, atualmente casada com Marcelo Frisoni.

Discursos Híbridos (3 ocorrências - 2 DD + 4 DI)

Exs. 6-11 O carro onde Marcelo morreu:segundo a namorada [Fernanda] (DI), ele [Marcelo] dizia (DI) estar sendo perseguido, procurava um inimigo invisível; no final, aquietou-se e [Marcelo] disse: ―Te peguei‖ (DD)

Exs. 40-42 Antes de morrer, no começo da manhã de quinta-feira ele se jogou no banco do carro estacionado na garagem do prédio onde morava, "como se estivesse atracado com alguém‖ (DD), disse a namorada, Fernanda Cunha (DI), com quem dividiu os últimos e escandalosos dias.

Exs. 44-46 "Tepeguei, Tepeguei",gritou [Marcelo] (DD), segundo Fernanda contou à polícia (DI).

Relatos (6 ocorrências)

Exs. 14-15 Mesma praia, mulheres diferentes: Marcelo com Susana, em agosto, e com Fernanda, em novembro; enquanto o caso foi clandestino, ele [Marcelo] dizia que ia às reuniões dos Narcóticos Anônimos para se encontrar com a outra (DI)

Exs. 63-67 A jornada de Marcelo rumo a esse espasmo fatal começou no início da tarde de quarta-feira, quando comprou cocaína de ex-colegas de farda num estacionamento no centro do Rio de Janeiro. Foi o que disse Fernanda (DI), segundo o depoimento no qual ela aparece dormindo em diversos e convenientes momentos – no caso, só aparece dormindo a tempo de vê-lo conversando com dois policiais ao lado de um carro da PM.

Exs. 69-72 No começo da noite, Fernanda conta (DI) ter presenciado o comportamento transtornado pela primeira vez. Ele [Marcelo] dizia (DI) estar sendo perseguido, falava sozinho, olhava nos cantos do quarto.

Ex. 76 Às 4h30 da madrugada, segundo as contas de Fernanda (DI), voltaram para o apart-hotel onde moravam havia um mês, na Barra da Tijuca.

relação, mesmo se sentindo desejada e amada de verdade, como testemunham amigos que acompanharam o envolvimento (DI).

QUADRO 9: Citações, Discursos Híbridos e Relatos.

Halliday (id., p. 443) aponta três modos de diferenciação dos níveis de projeção: 1º o nível - ideia versus locução; 2º o modo – que indica se a projeção é um relato (DI) ou uma citação (DD) -; e, 3º a função discursiva - que indica se o conteúdo do que é projetado é uma asserção ou uma proposta.

Quanto à função discursiva, o modo de projeção em relato é considerado um Processo Mental (PME) que representa um significado ou uma ideia em modo hipotático, limitando-se a asserções e propostas - a oração que projeta contém um verbo de Processo Mental. O modo de projeção em citação é um Processo Verbal que representa uma locução e permite uma grande variedade de formas a serem projetadas, desde asserções e propostas até exclamações e saudações, segundo Halliday (id., p. 448-449). Entretanto, pode haver uma representação hipotática de um Processo Verbal, mas nesse caso não devemos esquecer que nos Discursos Indiretos o que é reportado não é necessariamente o que foi realmente dito, pois a perspectiva da oração projetada é a do autor do texto. Na citação paratática, a perspectiva central da oração projetada é aquela marcada pela pessoa que pronunciou aquelas palavras, lembra Halliday (id., p. 452-453).

Considera-se, então, que a presença do relato no texto faz parte também de Processos Mentais do(a) autor(a), que refletem principalmente sua opinião pessoal e/ou da instituição jornalística que representa (vide QUADRO 9 – anterior - e item 3.2.1), podemos afirmar que esses PME permeiam quase que sublimarmente toda extensão da reportagem (vide Exs. 23, 25, 26, 32, 33, 35, 43, 73, 89, 102, 110, 134, 135, 136, 158, 159, 163, 171, 172, 174, e 186 – APÊNDICE 1).

Nesse caso, a escolha léxico-gramatical dos Processos Verbais de Transitividade justifica-se também através da análise semântica em nível de metafunção ideacional, como em:

Ex. 2550

É por isso que o público a ama,

T R (PME)

Experienciador: público Fenômeno: amor à Susana

Ex. 43

Nos momentos derradeiros, imaginava ter finalmente agarrado o algoz imaginário, o fantasma que o perseguia.

T R (PME)

Experienciador: Marcelo

Fenômeno: imaginação de agarrar o algoz imaginário

Ex. 136

E é impossível que ele não se deslumbrasse com a nova vida, de súbita notoriedade e múltiplas benesses.

T R (PME)

Experienciador: Marcelo

Fenômeno: deslumbramento com a nova vida

Ex. 158

Os probos e sérios riram-se do mau gosto dele e do pouco juízo dela.

T R (PME)

Experienciador: probos e sérios

Fenômeno: riso do mau gosto de Marcelo e do pouco juízo de Susana

Ex. 163

e não é preciso nem falar mais nada para saber o que acontece.

T R (PME)

Experienciador: [?]

Fenômeno: ciência do que acontece quando uma mulher mais velha se envolve com um homem mais novo