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Embasado pela abordagem funcional, esse estudo analítico insere-se em uma perspectiva polifônica de análise discursiva que parte do contexto e segue em direção ao texto, adotando-se uma visão interfocal que inclui simultaneamente o discurso e a ideologia e a lexicogramática que os constitui.

A partir da ―Composição da Rede Sistêmica‖ que divide a linguagem em dois sistemas, o ―Sistema de Dados do Contexto Social‖ e o ―Sistema Linguístico‖, a metodologia combina vertentes sociais de estudos da linguagem com enquadres teóricos convergentes das relações entre contexto e texto: a ACD, que aborda a sociedade em relação dialética com práticas discursivas (autores inspirados na teoria crítica de Fairclough - vide item 1.1); a ADD, em que o gênero discursivo é considerado enquanto prática sócio-ideologicamente situada (autores inspirados no princípio dialógico de Bakhtin - vide item 1.2); e LSF, em que o gênero discursivo é constituído na dimensão semiótica da interação social (autores inspirados na Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday e Martin - vide item 1.3).

2.1.1 Análise Sistêmica

Devido à adesão à metodologia sociológica de Bakhtin (2006, p. 127), inicio pelo estudo do contexto – demarcado no item 1.5 – para posteriormente chegar à base linguística – ―[...] A partir daí, exame das formas da língua na sua interpretação linguística habitual‖. - requerida também por Fairclough e Halliday.

A partir do ―Sistema de Dados do Contexto Social‖, começo essa análise qualitativa estudando os significados do contexto expressos pelas formas da linguagem, ou seja, pelas escolhas dos falantes nas variáveis contextuais Campo, Relações e Modo. No que concerne ao Campo, considera-se a natureza da prática social, o que está sendo promovido e com quais propósitos naquela situação de uso da linguagem; sobre as Relações, evocam-se os papéis dos participantes da atividade social e a conexão entre eles, quem são os participantes, e qual sua distância social; o Modo refere-se ao modo simbólico e aos canais retóricos que são adotados para a transmissão da mensagem.

A partir do ―Sistema Linguístico‖, dentro do Subsistema Semântico (vide item 1.3.3), estudo:

a) a metafunção ideacional (vide item 1.3.3.1), a qual deve expressar o conteúdo do texto através das escolhas feitas por seu autor - e que Fairclough (2001, 2003a) relaciona a significados representacionais (vide item 1.3.1) ou ―sistemas de conhecimento e crença‖ (FIGUEIREDO & MORITZ, 2008, p. 57) -, com base em van Leeuwen (1997), identificando como os principais atores sociais estão representados – incluídos e/ou excluídos;

b) a metafunção interpessoal (vide item 1.3.3.2), a qual deve expressar a maneira como o autor do texto usa a linguagem para interagir socialmente, posicionando-se em relação ao seu leitor - e que Fairclough (2001, 2003a) relaciona a significados acionais/relacionais e identitários (vide item 1.3.1) ―relativos às formas de ser, às identidades sociais construídas pelos textos‖ (Figueiredo & Moritz, 2008, p. 56) -, com base em White (2004) e Martin & White (2005), para, através da Teoria da Avaliatividade, identificar caracteres avaliativos atitudinais de Afeto, Apreciação e Julgamento (vide item 1.3.3.2.1);

c) a metafunção textual (vide item 1.3.3.3), com base em Halliday (2004), relacionando aspectos semânticos e gramaticais, e identificando, a partir da organização das orações baseada nas estruturas de Tema e Rema, relativas regularidades que o processo de ausculta crítico, dialógico e polifônico deve trazer à tona.

Por fim, a partir do ―Sistema Linguístico‖, dentro do Subsistema Léxico-Gramatical (vide item 1.3.4), o qual está condicionado às escolhas do Subsistema Semântico, e organizado, entre outros, pelo Sistema de Transitividade, verifico escolhas léxico-gramaticais de Processos Verbais de Transitividade presentes no texto, bem como, com base em Cunha & Souza (2007) e Halliday (2004), identifico suas circunstâncias e participantes - FIGURA 7.

LINGUAGEM

CONTEXTO SOCIAL SIST LINGUÍSTICO

CAMPO RELAÇÃO MODO SEMÂNTICA LÉXICO-GRAMÁTICA FONOLOGIA

TRANSITIVI DADE M IDEACIONAL M INTER PESSOAL M TEXTUAL ATORES SOCIAIS ENVOLVIMENTO AVALIATIVI DADE NEGOCIAÇÃO ENGAJAMEN TO GRADAÇÃO ATITUDE AFETO APRECIAÇÃO JULGAMEN TO TEMA / REMA

FIGURA 7: Composição da Rede Sistêmica - adaptado de Almeida (2002)37.

2.1.2 Análise Dialógica

Baseada nas reflexões da ADD (vide item 1.2), a qual, segundo Rodrigues (2008, p. 69-70), não possui categorias prévias estabelecidas para classificar os dados, mas pressupostos metodológicos e teóricos de análise que trazem à tona relativas regularidades, realizo um estudo metalinguístico (vide item 1.2.3) do texto, considerando:

a) o discurso bivocal, pois ―o extraverbal não é a causa exterior do enunciado e sim um constituinte necessário de sua estrutura semântica‖, conforme Amorim (2004, p. 107); então, essa análise deve revelar também a maneira como as vozes de outrem se misturam com a voz do sujeito no enunciado;

b) as vozes valorativas presentes também em outras reportagens da mesma instituição midiática que veicula o corpus da presente pesquisa, partindo do dialogismo de Bakhtin, que diz que ―todo enunciado é dialógico e constitui-se a partir de outro enunciado, é uma réplica a outro enunciado‖ (FIORIN, 2006, p. 24), a fim de verificar o processo de mudança do imaginário social em relação ao estereótipo da atual mulher madura e a construção identitária dessa mulher através das vozes da sociedade refletidas e refratadas na mídia.

2.1.3 Análise Crítica

Lazar (2005, p. 05) entende que uma analista crítica e feminista do discurso deve estar comprometida em analisar discursos que sustentam uma ordem social patriarcal, ou seja, relações de poder que sistematicamente privilegiam os homens como grupo social e excluem e enfraquecem as mulheres como tal. Sendo a ACD parte de uma ciência social crítica e emancipatória comprometida com uma ordem social mais justa através de uma crítica do discurso, começo a parte final da análise pela identificação do tipo da reportagem, baseada em Bonini (2009, no prelo, p. 28, apud MOREIRA & MOTTA-ROTH, 2008).

Finalmente, sigo o ―Modelo Analítico de Fairclough‖ (2003b, p.184) para resumir a investigação das relações existentes entre os eventos sociais, as práticas sociais e as estruturas sociais, baseada nos resultados obtidos nas etapas analíticas anteriores, que inclui:

1º focalizar um problema social e seu aspecto semiótico;

2º identificar seus obstáculos para poder abordá-los, seja através da análise da rede de práticas nas quais estão localizados, seja através da relação semiótica que eles mantêm com outros elementos da(s) prática(s) social (ais) onde se inserem no discurso (isto é, da própria semiose), o que inclui a análise linguística anterior;

3º considerar se a ordem social (a rede de práticas) depende desse problema para existir;

4º identificar as possíveis formas de superar os obstáculos; 5º refletir criticamente sobre a análise.