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Capítulo IV – Estudo

4.1 A origem sócio-educacional dos estudantes da UTAD

4.1.5 Discussão e Conclusões

Tendo em consideração os resultados obtidos com este estudo, que aborda questões como a democratização do ensino superior, o acesso e o sucesso escolar no ensino superior, podemos dizer que os resultados apontam para diferenças significativas considerando o género e o capital sócio- educacional das famílias de origem, na qualidade do percurso escolar, na escolha dos cursos a frequentar, assim como, na situação socioeconómica das próprias famílias.

Os estudantes que ingressam no ensino superior são provenientes de famílias com origem sócio- educacional mais elevada do que a população em geral. Isto pode significar que muitos estudantes do ensino secundário poderão não conseguir chegar ao ensino superior, eventualmente por dificuldades económicas, visto que existe uma relação direta entre o capital sócio-educacional e o capital económico das famílias, mas também porque o seu rendimento escolar será menor e poderá contribuir para mais dificuldades no acesso ao ensino superior e, no caso de conseguir ingressar, estará mais sujeito ao insucesso e ao abandono escolar.

Considerando que os estudantes provenientes de famílias de origem sócio-educacional mais baixo têm rendimentos escolares mais fracos não chegam aos cursos pretendidos ou aos destinados vocacionalmente.

Na europa, mais de metade de todos os estudantes não possuem pais com um background de ensino superior, em Itália e Malta os valores chegam a ser superiores a 70%. Por outro lado, países como a Alemanha ou a Dinamarca possuem um background de ensino superior de 74% (Eurostudent V, 2012- 2015). Portugal não se encontra representado neste relatório de 2012-2015, no entanto, no relatório de 2008-2011, apresenta um background de ensino superior de 24% (Eurostudent IV, 2008-2011). Estudantes com baixo background de ensino superior têm probabilidades mais elevadas de ingressarem mais tarde no ensino superior e, nesse sentido, serem mais velhos do que os outros estudantes. Além disso, na maioria dos países europeus, o background dos estudantes também influencia na hora da tomada de decisão da área científica a seguir, nomeadamente, se escolhem a área das engenharias ou das humanidades (Eurostudent V, 2012-2015).

Estudantes sem origem sócio-educacional no ensino superior, são um grupo que ainda participa de forma desigual no ensino superior, no entanto, deve ser mantido em mente que a participação limitada

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destes estudantes pode não ser um resultado das políticas do ensino superior, mas pode ter as suas raízes em processos que ocorrem muito antes dos estudantes chegarem ao ensino superior. Estudantes sem background no ensino superior podem nem pretender ingressar no ensino superior e assim, esta questão da sua não participação nem ser relevante (Eurostudent V, 2012 – 2015).

As questões relacionadas com o acesso ao ensino superior também são relevantes para o debate sobre o insucesso e o abandono escolar. A par da crescente massificação do ensino superior, importa reter que uma percentagem considerável de estudantes não entra num curso de formação correspondente às suas primeiras opções vocacionais. No caso da UTAD, menos de metade dos estudantes ingressaram na 1.ª opção (49%, 1011 estudantes em 2015)

A taxa de abandono escolar de todos os níveis de ensino em Portugal, em 1992 era de 50%, em 2000 era de 43,6%, em 2010 era de 28,3%, em 2014 de 17,4% (20,7% sexo masculino e 14,1% sexo feminino) e o último registo em 2015 indica ser de 13,7% (16,4% m. e 11% f.) (PORDATA, 2016-02-10). Os resultados nos últimos 15 anos foram muito bons, pois nos últimos 23 anos a taxa de abandono escolar diminuiu 36,3%, no entanto, quando comparado com o resto da europa, os últimos registos definitivos encontrados são de 2014, indicam que a média europeia (EU 28) é de 11,2% (12,8% m. 9,6% f.). Portugal encontra-se com o quinto pior resultado, sendo apenas ultrapassado pela Espanha com 21,9%, pela Malta com 20,3%, pela Islândia com 19% e pela Roménia com 18,1 (PORDATA, 2016-04- 22). A taxa de abandono escolar em Portugal está ainda 2,5% acima da média europeia e a 3,7% da meta estabelecida para Portugal em 2020, que é de 10%. Assinale-se que em 2014, 18 países europeus têm já uma taxa de abandono escolar inferior a 10%, destacando-se a Eslovénia com uma taxa de 4,4% e a Polónia e a Suíça com uma taxa de 5,4% cada. É ainda de salientar que a amplitude da taxa de abandono escolar em Portugal entre sexos, em 2014, é de 5,4% enquanto na europa é de 3,2%, deverá ser também um motivo de preocupação a percentagem muito superior da taxa de abandono escolar entre os estudantes do sexo masculino.

No caso da UTAD, a taxa de abandono escolar em 2013/2014 foi de 1,84%, aparentemente um valor residual quando comparando com a taxa de abandono escolar em todo o ensino, no entanto, é um valor que tem aumentado nos últimos anos, visto que em 2009/2010 foram registados 55 abandonos enquanto em 2013/2014 foram registados 137 casos, de um universo de 7079 estudantes. Quanto aos motivos do abandono são os mais variados, os mais significativos são as seguintes: o curso não ter correspondido às espectativas, dificuldades económicas, inadaptação à cidade e vida académica e conciliação com a vida profissional (2014, Ribeiro, Fernando Bessa).

Há vários fatores que podem afetar o sucesso escolar do estudante e que estarão também relacionados com os motivos de abandono escolar, nomeadamente, a indecisão vocacional, o ingresso

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em cursos que não são a sua primeira opção, desmotivação, falta de bases de conhecimento, métodos de trabalho pouco apropriados, ou mesmo, o facto de nunca ter tido contacto, através da família ou amigos, com as instituições de ensino superior, assim como com as praxes, e a própria localização, estrutura e condições físicas da instituição.

Importa, colocar a questão da origem social do estudante e o seu impacto no problema em análise. Se podem ser muitas as variáveis a afetar o desempenho do estudante, importa saber qual é o impacto destas junto dos menos favorecidos em termos sociais.

Como se pode constar através da exploração deste indicador sócio-educacional, a sua origem indica que apesar da massificação do acesso ao ensino superior este ainda é discriminatório, pois quando analisamos a origem sócio-educacional dos estudantes podemos retirar algumas conclusões.

Estudantes com origem sócio-educacional mais baixo tendem a ingressar em cursos da área das ciências sociais e humanas, com uma nota média de acesso ao ensino superior inferior, possuem uma bolsa média é mais elevada, logo serão economicamente mais carenciados, possuem um rendimento escolar inferior, visto que a bolsa de estudo é percentualmente indeferida em maior número por “Sem aproveitamento escolar”, e os pais destes estudantes tendem a ter uma situação na profissão mais instável, ligada ao trabalho mais precário e com mais desemprego.

Estudantes com origem sócio-educacional mais elevada tendem a ingressar em cursos com médias mais elevadas, possuem uma bolsa média mais baixa, assim como, as suas bolsas de estudo são percentualmente mais indeferidas por excederem a capitação limite para a atribuição de bolsas de estudo, logo serão economicamente menos carenciados e os pais destes estudantes têm tendência a possuir uma situação na profissão mais estável.

O sexo também influencia a decisão dos estudantes quanto ao curso, pois os estudantes do sexo feminino tendem a escolher mais os cursos da escola de ciências sociais e humanas enquanto os estudantes do sexo masculino escolhem mais cursos da escola de ciências e tecnologia. O sexo feminino tende a ter notas médias de acesso ao ensino superior mais elevadas que o sexo masculino, tendem a obter melhores resultados e são tanto melhores quanto mais elevado for a origem sócio- educacional da estudante, assim como, o seu rendimento escolar também se reflete nos motivos de indeferimento, porque os seus processos são menos indeferidos percentualmente por “Sem aproveitamento escolar” que os estudantes do sexo masculino. As estudantes do sexo feminino possuem bolsas médias mais elevadas que os estudantes do sexo masculino, independentemente da origem sócio-educacional.

Em suma, a origem sócio-educacional para além de influenciar a tomada de decisão do estudante quando se candidata ao ensino superior impede-o inclusive de ingressar no ensino superior, visto que

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os estudantes que frequentam a UTAD possuem níveis sócio-educacionais muito superiores aos da restante população. Os estudantes da UTAD com origem sócio-educacional mais elevada são tendencialmente provenientes de famílias economicamente mais favorecidas e obtêm um melhor aproveitamento escolar mais elevado e vice-versa. Deste modo, a origem sócio-educacional, só por si, não define o caminho que cada estudante vai percorrer ao longo do seu percurso escolar e académico ou até profissional ou pessoal, mas é um elemento com peso considerável na definição do seu futuro, visto que para além de outros fatores sociais, a proveniência dos estudantes, no que se refere ao seu meio familiar e social é ainda decisivo e percursor de desigualdades múltiplas que teimam em perdurar nos percursos dos estudantes.

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