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Capítulo III – Dinâmicas no Apoio Social

3.1 Bolsas de Estudo

3.1.7 Entrevistas

A entrevista é um instrumento de trabalho, no processo de atribuição de bolsas de estudo, que é utilizado pontualmente em determinadas situações, apenas quando o Assistente Social tem dúvidas na análise do processo ou quando solicitado pelo candidato. Tendo em consideração a natureza do deste apoio, nem sempre é necessário entrevistar o estudante, porque na maioria das situações as famílias dos estudantes candidatos a bolsa de estudo, apesar de serem famílias economicamente carenciadas, tendo em consideração o conceito de carenciado para efeitos de bolsa de estudo, são famílias economicamente e socialmente organizadas.

Como referido por Richmond (1950), na sua obra “Diagnóstico Social”, é através da técnica da entrevista que se faz o diagnóstico social. Considerava-a um procedimento difícil, porque era ali que se estabelecia o entendimento mútuo e a avaliação para o “juízo final”. Recomendava que nesta técnica o Assistente Social deveria ser delicado, paciente e escutar largamente o entrevistado. Carvalho (1991) refere que é na entrevista que se realiza a leitura da verdade, mas é apenas mais um instrumento de trabalho, onde através da experiência do Assistente Social, este executa a compreensão na leitura da fala originária do gesto do entrevistado.

Segundo Lewgoy (2007, p. 239) “o assistente social utiliza um conjunto de técnicas que serão selecionadas de acordo com o momento ou finalidade da entrevista, mas nenhuma técnica é empregada excluindo as demais. O que se modifica é a intensidade e a frequência, de acordo com a etapa do desenvolvimento da entrevista”.

22 Divisão de Apoio ao Estudante.

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A entrevista para conseguir atingir os seus objetivos deverá ser constituída pelas seguintes etapas (Lewgoy, 2007):

- Planeamento: pressupõe uma organização e estabelecimento de diretrizes que permitirão conduzir a entrevista, de forma a recolher informação pertinente e evitar dispersões;

- Recolha de dados: esta exige habilidade do Assistente Social, já que este deve saber identificar e selecionar as necessidades do entrevistado, tendo de assegurar a compreensão do conteúdo comunicado, através da linguagem verbal e não-verbal, procurando sempre não descriminar o entrevistado, um dos princípios do Código de Ética do Profissional (APSS, 2016). Nesta fase o Assistente Social deverá ainda explicar ao candidato os objetivos da entrevista e fazer uma avaliação e revisão dos dados recolhidos com vista ao seu registo;

- Registo: o registo dos principais dados obtidos na entrevista é um direito do entrevistado, assim como, contribuir para a integralidade da entrevista e compartilhar a informação com os restantes Assistentes Sociais. Deve ser efetuado logo após o atendimento e deve ser de linguagem clara, objetiva e evitando-se o uso de adjetivos os quais expressam juízo de valor, assim como, deverá cumprir com as exigências técnico-administrativas dos serviços.

Durante estas etapas serão ainda aplicadas várias técnicas de entrevista, tendo sempre por base um dos pontos mais importantes que é a capacidade de escuta, onde o Assistente Social deverá ter uma escuta ativa ao que o entrevistado diz e não diz, através de gestos, atitudes e emoções.

As técnicas de entrevista poderão ser as seguintes (Lewgoy, 2007):

- Acolhimento: apresentação de entrevistador e entrevistado, e onde este último refere o objetivo da entrevista e suas etapas, sobre a sua duração, sobre o preenchimento de formulários de identificação e sobre o registo da evolução da entrevista;

- Questionamento: exige alguma habilidade e experiência por parte do entrevistador, onde as perguntas devem ser feitas de forma clara e precisa, fechadas ou abertas de acordo com o objetivo da entrevista;

- Reflexão: refere-se à habilidade do Assistente Social em provocar a reflexão e a necessidade em que o entrevistado medite sobre as suas ações;

- Clarificação: o Assistente Social deve ajudar o entrevistado a compreender o que diz, encorajando-o a ser preciso nos seus relatos, para que o Assistente Social não tenha de subentender o que o entrevistado diz;

- Exploração ou Aprofundamento: é uma técnica a que o Assistente Social recorre quando se revela necessária, uma abordagem mais profunda acerca de uma determinada área da vida do entrevistado,

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no entanto, deverá ter-se algum cuidado para que não se explorem assuntos não relevantes para os devidos efeitos e sejam do fórum intimo do entrevistado;

- Silêncio Sensível: refere-se aos momentos de silêncio, que poderão dizer mais algo do que o próprio silêncio em si mesmo, que é uma forma de expressão não-verbal que às vezes comunica mais do que as próprias palavras;

- Apropriação do conhecimento: refere-se ao conhecimento que o Assistente Social detém, e como pode contribuir para que o entrevistado e a sua situação problemática, possa ser usada como instrumento de investigação, indagação e reflexão, derrubando afirmações e crenças negativas; - Síntese integradora: consiste no encerramento da entrevista em que o Assistente Social efetua uma síntese, não um resumo, onde extrai um denominador comum entre as inúmeras comunicações provindas durante a entrevista, que muitas vezes aparentam diferenças entre si mas na realidade possuem muito em comum.

No caso dos SASUTAD, no âmbito da atribuição das bolsas de estudo, como já foi anteriormente referido, as entrevistas são solicitadas pelos Assistentes Sociais ou pelo próprio candidato a bolsa de estudo, através da plataforma de atribuição de bolsas, onde possui um campo específico para os devidos efeitos. Podem ainda ser solicitadas por outros meios, nomeadamente através de outros meios, tais como o correio eletrónico, contacto telefónico ou pessoalmente na sede dos SASUTAD ou em outros contextos académicos.

As entrevistas são registadas em impresso próprio, no “Registo de Entrevista”, que se encontra no Anexo 3, onde o Assistente Social efetua o registo daquilo que é fundamental para a avaliação do processo de candidatura a bolsa de estudo, é assinado por ambas as partes, pelo candidato e pelo Assistente Social, e não há suporte em papel o documento é digitalizado, adicionado ao processo do candidato, e o original é entregue ao candidato.

Não existe um registo do número de entrevistas efetuadas por ano letivo e por cada Assistente Social, procedimento, eventualmente, a desenvolver e a aplicar nos próximos anos. O ideal seria entrevistar todos os estudantes candidatos a bolsa de estudo, pelo menos, na primeira candidatura a bolsa de estudo, no entanto, não sendo possível, devido ao elevado rácio de processos por Assistente Social, todas as situações em que surgem dúvidas sejam elas do foro económico ou social, são convocados para entrevista. Assim como, o candidato sempre que julgue ser relevante para a avaliação do seu processo de candidatura a bolsa de estudo ou possua alguma dúvida, pode solicitar uma entrevista com o Assistente Social que está avaliar o seu processo.

No contexto da ação social no ensino superior, a entrevista é utilizada principalmente para o esclarecimento da situação socioeconómica do agregado familiar do candidato a bolsa de estudo.

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Pontualmente, é utilizada ainda noutras situações, nomeadamente, para o encaminhamento para outros apoios no âmbito do ensino superior, no caso de estudantes bolseiros ou não bolseiros, como os complementos de bolsa, outras bolsas, empréstimos bancários, o Fundo de Apoio Social, Serviços de Saúde dos SASUTAD e o ActiveGym dos SASUTAD. Assim como, no encaminhamento para outros apoios no âmbito geral, apoios disponíveis para todos os cidadãos portugueses, como o Rendimento Social de Inserção, Pensão de Alimentos e o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores, e qualquer outro subsídio ou apoio a que a família em causa tenha direito ou dever de cumprir.

No caso dos estudantes com deficiência, a entrevista com o Assistente Social, de preferência é realizada ainda antes do estudante ingressar na UTAD, serve para elaborar um plano individual de apoio e, caso seja necessário e o estudante necessite de alojamento nas Residências Universitárias dos SASUTAD, são efetuados ajustamentos nos quartos adaptados e nos respetivos equipamentos. O apoio aos estudantes com deficiência é feito em parceria com os Serviços da Segurança Social e das IPSS do Distrito de Vila Real, bem como em colaboração com outras Unidades Orgânicas da UTAD.

É ainda aqui, no âmbito das entrevistas, que muitas das vezes, são sinalizadas situações de elevada carência económica ou de outro tipo de dificuldades ou problemas, como por exemplo, doenças do foro psicológico ou psicopedagógico ou outros problemas como dificuldades de adaptação á universidade, ao curso ou cidade/região, problemas pessoais ou familiares.