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Capítulo III – Dinâmicas no Apoio Social

3.1 Bolsas de Estudo

3.1.6 Um Olhar por Dentro das Bolsas de Estudo

Com a informatização do processo de atribuição de bolsas de estudo através de uma plataforma nacional gerida pela DGES, os SAS deixaram de ter acesso a muitos dos dados gerais numa base de dados única, tendo acesso a apenas parte dos dados exportáveis em vários formatos, incluindo em

0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Evolução Bolsa Média na UTAD e em Portugal

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Excel. Como nem o candidato nem o Assistente Social classificam muitos dos dados na plataforma informática, nomeadamente, a origem dos rendimentos do agregado familiar ou a tipologia de atividade, para se apurar estes dados apenas é possível através da consulta do IRS do agregado familiar de cada candidato ou, se for esse o caso, consultando o declarado sob compromisso de honra pelo candidato.

Deste modo, com vista a percebermos qual a origem dos rendimentos dos estudantes candidatos a bolsa de estudo e qual o impacto dessa origem no resultado final, assim como, tendo em consideração esta informatização, para percebermos até que ponto a intervenção do Assistente Social influencia o resultado final e em que casos, vamos tentar apurar estes dados através da reavaliação individual de vários processos de candidatura a bolsa de estudo.

Quadro 8 – Novas variáveis apuradas após a reavaliação dos processos de candidatura a bolsa de estudo.

Variáveis Níveis Descrição

Atividade

Dependente Trabalho por conta de outrem, subsídios e pensões Empresarial Atividades empresariais, em nome individual ou sociedade Não Declarado Rendimento do trabalho, não declarado no IRS

Origem dos Rendimentos

Por Conta de Outrem Rendimento do trabalho por conta de outrem

Independente Atividade em nome individual sem contabilidade organizada Independente (Organizada) Atividade em nome individual com contabilidade organizada Sociedade (IRC) Sociedade coletiva ou unipessoal

Rendimentos Prediais Rendimento proveniente de rendas de casa

Rendimentos Mobiliários Rendimento de investimentos em ativos financeiros Pensões Pensões de reforma, velhice, invalidez e alimentos

Apoios da Segurança Social Subsídios e outros apoios provenientes da Segurança Social

Fator que motivou a alteração do

resultado

Ajudas Ajudas provenientes de terceiros

Bolsa da Madeira Bolsa do Governo Regional da Madeira não declarada Bolsa de Formação Bolsa de formação não declarada

Empresarial Atividade em nome individual ou em sociedade

Imobiliário Rendimento proveniente dos imóveis não declarados (5%) Mobiliário Rendimento de investimentos em ativos financeiros Instrução incompleta Não entregou total ou parcialmente os documentos Pensão de alimentos Pensão de alimentos não declarada em IRS

Pensão de Sobrevivência Pensão de sobrevivência não declarada em IRS

Rendimentos Estrangeiro Rendimento do estrangeiro não declarado no IRS Português Trabalhos Esporádicos Trabalhos esporádicos não declarados em IRS

Serviço Doméstico Serviço doméstico não declarado em IRS RSI Rendimento Social de Inserção

Bolsa Inicial Montante da Bolsa Montante da bolsa sem intervenção do Assistente Social

À data da realização deste estudo a 31-03-2016, constavam da plataforma de atribuição de bolsas de estudo SICABE, 2841 candidaturas à bolsa, referentes ao ano letivo 2015/2016. Foram importadas na totalidade para o Excel, foram ordenadas por número de candidato e foram reavaliadas manualmente a cada 5 candidaturas. No total foram reavaliadas 581 candidaturas, ou seja, uma amostra de 20,45%.

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As variáveis importadas foram reclassificadas e os dados transferidos para o International Business Machines - Statistical Package for the Social Sciences (IBM SPSS Statistics 23). Na reavaliação das candidaturas apuraram-se novos dados, que foram classificados em novas varáveis descritas no quadro 8. É importante salientar que na definição da atividade que define o tipo de origem dos rendimentos para cada candidatura, como em determinadas situações as famílias possuem mais que uma tipologia de atividade, foi considerada aquela cujo rendimento é mais elevado.

Após a consulta destes dados no quadro 9, constatou-se que relativamente à atividade predominante das famílias dos estudantes candidatos a bolsa de estudo, verifica-se que a maioria são famílias com atividades dependentes, 74,9%, enquanto apenas 17,7% das famílias possuem atividades empresariais, no entanto, corresponderá a cerca de 503 famílias do total de candidatos a bolsa de estudo, e 7,4% das famílias dos candidatos possuem atividades não declaradas, ou seja, os seus rendimentos não estão declarados nas Finanças, o que equivale a cerca de 210 famílias do universo dos estudantes da UTAD.

Quadro 9 – Número e percentagem de candidatos a bolsa de estudo por atividade das suas famílias.

Atividade Frequência Percentagem Percentagem

Válida Percentagem Cumulativa Válido Dependente 435 15,3% 74,9% 74,9% Empresarial 103 3,6% 17,7% 92,6% Não Declarado 43 1,5% 7,4% 100% Total 581 20,5% 100%

Omisso Não se aplica 2260 79,6%

Total 2841 100%

Relativamente à origem dos rendimentos das famílias dos estudantes candidatos a bolsa de estudo, ver quadro 10, estas estão diretamente relacionadas com as categorias indicadas no quadro anterior, onde se constata que mais de metade das famílias dos candidatos obtêm os seus rendimentos através do trabalho por conta de outrem (66,4%), seguido das famílias que trabalham por conta própria, atividade em nome individual sem contabilidade organizada (10,3%), depois das famílias com rendimentos não declarados (7,1%) e das famílias com rendimentos provenientes de sociedades (5,2%). As restantes tipologias de rendimentos representam as restantes famílias dos candidatos a bolsa de estudo, 11%.

Ao efetuar esta análise, reavaliação de 581 processos, constatou-se que 373 processos não sofreram alteração do resultado, mantiveram o mesmo resultado que aquando da submissão da candidatura, e 208 sofreram alteração do resultado, o que equivale a 35,8%. Do total de processos com o resultado

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alterado, 176 viram a bolsa diminuída (84,6%), 31 perderam a bolsa de estudo (14,9%) e apenas 1 viu o montante da bolsa aumentada (0,5%).

Quadro 10 – Percentagem de candidatos a bolsa de estudo em função da origem dos rendimentos das famílias dos estudantes candidatos a bolsa de estudo.

Origem dos Rendimentos Frequência Percentagem Percentagem Válida Percentagem Cumulativa V ál id o

Por conta de outrem 386 13,6% 66,4% 66,4%

Independente 60 2,1% 10,3% 76,8% Independente (Organizada) 11 0,4% 1,9% 78,7% Sociedade 30 1,1% 5,2% 83,8% Prediais 2 0,1% 0,3% 84,2% Estrangeiro 11 0.4% 1,9% 86,1% Mobiliários 1 0,4% 0,2% 86,2% Não declarados 41 1,4% 7,1% 93,3% Pensões 22 0,8% 3,8% 97,1%

Apoios da Segurança Social 17 0,6% 2,9% 100%

Total 581 20,5% 100%

(Omisso) Não se aplica 2260 79,6%

Total 2841 100%

Como se pode constatar no quadro 11, após o cruzamento dos dados entre a tipologia de atividade das famílias dos candidatos com o facto de o resultado se alterar após a avaliação dos Assistentes Sociais, verifica-se que o resultado altera-se sobretudo nos casos de famílias cujos rendimentos provêm de atividades empresariais (68,9%) e, ainda mais, nos casos com rendimentos não declarados em IRS (76,7%), no entanto, nestes últimos já seria espetável, porque os rendimentos não se encontram declarados nas Finanças, são declarados sob compromisso de honra.

Quadro 11 – Percentagem e número de processos cujo resultado é alterado após a intervenção do Assistente Social.

Tipologia de Atividade Resultado alterado após avaliação Total

Não Sim

Válido Dependente 76,1% (331) 23,9% (104) 100%

Empresarial 31,1% (32) 68,9% (71) 100%

Não Declarado 23,3% (10) 76,7% (33) 100%

Total 64,2% (373) 35,8% (208) 100%

Mas estes rendimentos podiam e deveriam ter sido declarados no formulário de candidatura a bolsa de estudo, em campo próprio para o efeito (no separador “4.Rendimentos”, em “Outros rendimentos no ano civil 2014”).

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Desta reavaliação manual das candidaturas a bolsa de estudo, verificou-se que em 35,8% das candidaturas a bolsa de estudo, o seu resultado é alterado após a avaliação dos Assistentes Sociais e em 64,2% o resultado não sofre qualquer alteração. Importa referir que considera-se alteração do resultado sempre que, após a avaliação do processo pelo Assistente Social, o resultado final é alterado, ou seja, sempre que o montante da bolsa é diferente ou sempre que o estudante perde ou ganha o direito à bolsa, isto porque em algumas situações o valor do rendimento per capita do agregado familiar é alterado mas o valor da bolsa mantém-se o mesmo porque consta do último escalão de rendimentos, entre €4.611,42 e €7.770,99, em que o valor da bolsa é sempre o mesmo (no valor da propina suportada pelo estudante).

Relativamente à bolsa média (consultar quadro 12), neste momento, constatou-se que o valor relativo aos estudantes bolseiros da UTAD é de €1.985,60 (2.253 estudantes) e dos processos reavaliados é de €1.986,54 (451 estudantes), um valor muito semelhante. Antes da avaliação dos processos pelos Assistentes Sociais, esta seria de €3.248,77, ou seja, 63,6% mais elevada que o valor apurado no final. Relacionando-a com a atividade predominante das famílias dos estudantes bolseiros, antes e depois dos processos serem avaliados, constata-se que em média, o valor da bolsa de estudo diminui após a avaliação dos Assistentes Sociais. O impacto no valor da bolsa de estudo é maior nas famílias dos bolseiros cujos rendimentos não são declarados, logo seguido das famílias cujos rendimentos provêm de rendimentos empresariais. Relativamente às famílias cujos rendimentos provêm de rendimentos dependentes a bolsa de estudo também diminui, mas esse impacto é muito menos significativo.

Quadro 12 – Bolsa média por atividade antes e depois da avaliação dos processos pelos Assistentes Sociais.

Tipologia de Atividade Bolsa Média

Depois da Avaliação Antes da Avaliação

Válido Dependente €1.798,21 €2.023,58 (+12,5%)

Empresarial €1.641,03 €2.716,05 (+65,5%)

Não Declarado €2.530,23 €4.246,00 (+67,8%)

Total €1.985,60 €3.248,77 (+63,6%)

No quadro 13 tentamos perceber o que motivou a alteração dos resultados após a avaliação dos Assistentes Sociais e conseguiu constatar-se que no caso das famílias com rendimentos empresariais o fator que mais motivou a alteração dos resultados, e de forma bastante destacada, foram precisamente os rendimentos provenientes da sua própria atividade empresarial, 85,9% dos casos, o que significa que, considerando que são atividades declaradas em sede de IRS (Anexos B e/ou C) e/ou IRC (sociedades), apesar terem os seus rendimentos declarados nas Finanças, em pelo menos 85,9% das situações estes rendimentos não refletem a realidade dos rendimentos auferidos por essas famílias.

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Assim, apesar das alterações introduzidas pelo último regulamento de atribuição de bolsas de estudo21, nomeadamente, alterações ao artigo 36.º, rendimentos empresariais apurados com base em

contabilidade organizada, onde se passou a considerar 20% do total dos proveitos, em vez do lucro apurado, e ao artigo 37.º, rendimentos de capitais que resultem de sociedades, onde passou a considerar-se 50% dos resultados líquidos anuais vezes a percentagem de participação social, em vez do lucro distribuído pelos sócios, ainda muito há a fazer, visto que, em, pelo menos, cerca de 86% das candidaturas com rendimentos empresariais não declaram a realidade dos rendimentos obtidos. O problema não estará apenas do lado da ação social, mais precisamente nas bolsas de estudo, estará também do lado das Finanças, que não consegue sinalizar ou controlar a realidade dos rendimentos das empresas, assim como, da população em geral que não contribui para a eficácia do sistema fiscal.

Quadro 13 – Fator que motivou a alteração do resultado após avaliação do Assistente Social.

Atividade Fator que motivou a alteração do resultado

Total Outros Rendimentos Empresarial Instrução incompleta Pensão de Alimentos Trabalhos Esporádicos Serviço Doméstico Dependente 18,3% 2,9% 11,5% 28,8% 11,5% 26,9% 100,0% Empresarial 1,4% 85,9% 5,6% 0% 4,2% 2,8% 100,0% Não Declarado 15,2% 0% 9,1% 9,1% 57,6% 9,1% 100,0% Total 12,0% 30,8% 9,1% 15,9% 16,3% 15,9% 100,0%

No caso das famílias com rendimentos dependentes, o fator que mais motiva a alteração do resultado são na maioria as pensões de alimentos (28,8%), seguido do serviço doméstico 26,9% e apenas 2,9% tem como motivo de alteração do resultado devido a rendimentos empresariais.

No caso dos processos com rendimentos não declarados a maioria das alterações do resultado deve- se aos rendimentos com origem em trabalhos esporádicos (57,6%), seguido de outros rendimentos (15,2%).

Em modo de conclusão, constata-se, no caso da UTAD, que grande parte dos estudantes que concorrem a bolsa de estudo são provenientes de famílias cujos seus rendimentos têm origem no trabalho por conta de outrem, cerca de 66%, as restantes famílias possuem rendimentos com origem empresarial, cerca de 18%, e entre outros rendimentos (16%). Apesar do sistema de atribuição de bolsas de estudo estar, aparentemente, muito informatizado, a intervenção do Assistente Social é importante, até porque intervém diretamente em, pelo menos, cerca de 36% das candidaturas, essa intervenção é mais significativa nas candidaturas cujos rendimentos provêm de rendimentos empresariais ou rendimentos não declarados em IRS.

21 Despacho n.º 7031-B/2015, de 24 de junho.

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Este ano letivo, nos SASUTAD, temos, até à presente data, 2841 candidaturas para 4 Assistentes Sociais, que dá um rácio de cerca de 710 candidaturas por Assistente Social. A informatização de todo o processo de atribuição de bolsas de estudo é essencial, se contribuir para eliminar ou diminuir os atos administrativos, que permitir-nos-á disponibilizar mais tempo para intervirmos naquelas situações realmente necessárias, tanto na análise e fiscalização de processos, nos cerca de 36% de intervencionados, como no acompanhamento individual de estudantes e suas famílias.

No entanto, não nos devemos esquecer que para além das bolsas de estudo, os técnicos têm outras atribuições, como por exemplo a atribuição de outros apoios no âmbito do Fundo de Apoio Social (Subsídio de Emergência e Bolsa de Colaboração), gestão das residências de estudantes (cerca de 523 camas), gestão de toda a DAE22, apoio individualizado aos estudantes da UTAD, colaboração com a

UTAD em feiras do ensino superior, entre outras atividades ou tarefas.