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VI. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

6.4. Discussão dos Resultados

O resultado deste percurso formativo caraterizou-se por alguma ambiguidade a nível de certeza de resultados. Se por um lado se verificaram alguns pensamentos críticos em relação a certos módulos formativos, do outro verificou-se satisfação geral. Deve-se ter ainda em conta que, em tom de crítica construtiva, foi tão fácil apontar os aspetos negativos como os positivos, principalmente por ter sido dada a liberdade total de expressão sobre cada um dos tópicos e de não existir a participação de nenhum formador ou trabalhador da Maisformação. No entanto, o valor de um comentário que afirme “que todos os formadores estiveram bem, menos um…”, o que ilude ser negativo, é, na verdade, um comentário positivo a nível de resultado final sendo apenas seguido de uma posição crítica a algum ponto menos bem concretizado. Este resultado é algo complexo e torna-se, de certa forma, dependente de uma questão de perspetiva. E, se por um lado o focus group proporciona um acesso a informação dificilmente alcançável por outros meios, por outro lado peca na definição de um resultado concreto, isto traduzindo-se numa impossibilidade de definir se algo foi “bom” ou “mau” ou em definir percentagens de satisfação. Fazendo uma análise crítica aos resultados foi possível verificar uma satisfação geral acompanhada de um descontentamento, ou melhor, uma desilusão em relação aos tópicos explicitados.

É necessário recordar que no focus group as perguntas são sempre abertas. Não se

procura obter apenas “sins” e “nãos”, mas respostas com o maior e melhor conteúdo possível. O moderador tem a função de apresentar os assuntos e as questões para que os participantes respondam livremente e com o tempo que necessitem, desde que não fujam do tema central. Por isso, não há respostas simples e diretas às questões de investigação. Vejamos o exemplo da primeira questão de investigação que incide na capacidade deste percurso formativo ter ou não

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conseguido colmatar as dificuldades que os formandos tinham antes da frequência do mesmo. Para obter resposta a este tópico procurou-se saber informações relativas à aprendizagem e perguntou-se: “E o que gostaram mais de aprender? Quais foram os módulos em que sentiram que aprenderam mais? Qual foi o formador que mais vos ajudou a compreender a matéria? De que forma?” As respostas não foram totalmente claras porque foram direcionadas pelos formandos para os temas emergentes. A resposta mais próxima foi com a pergunta: “sentem que a missão foi cumprida? Sentem que valeu a pena participar neste percurso formativo?” Em que obtive a seguinte resposta: “sem dúvida, valeu a pena, aprendemos sempre algo novo e útil”, no qual todo o grupo evidenciou palavras ou gestos de concordância.

O segundo objetivo foi um dos que mais presente esteve na discussão, isto é, a questão da metodologia de ensino e de avaliação. Vários foram os comentários mencionando os pontos positivos: “todos ajudam, mesmo as apresentações nos ajudam e vê-se uma evolução” (G2). Ou ainda: “houve uma colega que evoluiu muito com os trabalhos de grupo e com as apresentações” (G2). E, por outro lado, referindo os pontos negativos: “quando nos falam em trabalhos de grupo eu só digo ‘ai meu deus’” (G1). Ou ainda: “é em relação aos trabalhos de grupo…fomos tão massacrados” (G1). Além dos tópicos propostos, emergiram outros, direcionando em discussões críticas em que todos os formandos participaram.

Com este estudo procurou-se conhecer também a importância que o percurso formativo teve para os formandos e de que forma poderia impulsionar na sua reinserção no mercado de trabalho. No entanto, não obtive resposta direta a esta questão sendo absorvida pelas discussões

dos temas emergentes. No entanto, foi-me possível captar ao longo do focus group, algumas

preocupações em relação à reinserção no mercado de trabalho. Por exemplo, uma formanda menciona que “os módulos de micronegócios e inglês são úteis e importantes para um futuro investimento ou negócio por conta própria”. Outro formando menciona que “se as pessoas estão aqui é porque querem integrar o mercado de trabalho porque a diferença de 35% do IAS (Indexante dos Apoios Sociais) em relação ao emprego é muito pouco para viver com isso” e outro formando acrescenta “e quem ganha RSI (Rendimento Social de Inserção) nem a bolsa ganha”. Estes dois comentários demonstram um desejo de mudança de vida profissional e de independência de apoios que recebem neste momento, neste caso da bolsa de formação que é de 35% sobre o valor de 421,32 euros (valor de 2017). A discussão sobre o módulo de língua inglesa revelou, também, alguma preocupação com o seu futuro. Os formandos usaram exemplos hipotéticos de emprego -

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“quando tiveres num emprego em que tenhas que falar inglês…”(G2), como com a emergência do tópico sobre o módulo de língua inglesa – “Eu acho que a formadora Fátima deveria ter menos horas. Como há pessoas em ‘inglês’ que estão em diferentes níveis, considerando o ‘inglês’ importante, tem que ser muito falado” (G1). Menciono ainda um segundo exemplo, que foi de uma formanda preocupada com a discrepância das bases escolares a nível de inglês entre formandos e as possíveis aprendizagens com o módulo de língua inglesa – “As que não sabem nada não conseguem acompanhar, porque é curto, é pouco tempo. E quem está à ‘frente’ como eu não aprendem nada a ver com técnicas de venda” (G2). Estes dois comentários demonstraram a preocupação com os conhecimentos que não foram desenvolvidos e o impacto que este pudesse vir a ter no reingresso no mercado de trabalho. E, este desejo ou, alguns casos de maior fragilidade, este desespero, contribui para existência de um mercado de formação onde há compromissos e exigências. Se por um lado o formando quer “transformar-se” por vontade de desenvolver as suas capacidades para si, por outro quer desenvolver para produzir conhecimento e demonstrar esse conhecimento perante o mercado de trabalho. Muitas vezes é o próprio mercado de trabalho que insiste na formação do indivíduo, não como forma de o emancipar enquanto ser, mas com uma visão utilitarista cujos objetivos se centram no desenvolvimento dos recursos humanos e na produtividade. Por isso que Estevão refere que a “institucionalização de um mercado de formação intenta inverter a lógica de serviço a favor da lógica de mercado” (Estevão, 2001, p.194).

Percursos constituídos por um leque de módulos formativos como este contém podem ser de facto a solução para muitas dificuldades educativas e formativas da atualidade e colmatando a necessidade mencionada no Eixo 3 do Programa Operacional Capital Humano (POCH) apostando na aprendizagem, qualificação ao longo da vida e no reforço da empregabilidade. A formação funciona como uma atividade de melhoria da qualificação dos recursos humanos. E com esta melhoria pode ser possível marcar “um fenómeno de mobilidade social que conduz alterar, de forma significativa, as relações entre a formação e o trabalho” (Canário, 1999, p.41). No entanto, poderão existir frequências no percurso com objetivos que se afastam aos objetivos da formação em si, por exemplo, em ganhar o valor da bolsa do IEFP., ou porque o amigo está a fazer ou até mesmo, porque “precisa de sair de casa” e “passar o tempo” e o fenómeno de mobilidade social fica posto em causa.

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Relativamente à última questão de investigação que consiste em perceber o quão satisfatório foi a frequência neste percurso formativo, os formandos foram respondendo cada um da sua forma, mais ou menos com as suas preferências, mas submetendo na mesma premissa que originou o tópico emergente da formadora Fátima – “Todos os formadores foram muito bons, cada um com a sua maneira de dar, no entanto, este percurso teve um formador que deixou muito a desejar”. Vários foram os argumentos que validam a satisfação no percurso formativo, tais como “temos formadores excelentes, têm uma capacidade de formação muito elevada” (G1), as “instalações são boas” (G2) e ainda “o coordenador aqui do Pólo é uma pessoa acessível, qualquer coisa podemos falar com ele” (G1).

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