• Nenhum resultado encontrado

V. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

5.9. Focus Group: a técnica perfeita?

Paul Geoffrion (2003, pp.320-323) aclara modelarmente as vantagens e as desvantagens

da técnica de focus group. O autor cita esta técnica como facilitadora “da compreensão do

comportamento e das atitudes do grupo alvo” (idem, p.320) mencionando como técnica eficaz perante as técnicas de investigação quantitativas e outras técnicas qualitativas – “a sua eficácia resulta das suas numerosas vantagens em relação às técnicas de investigação quantitativas (tais como sondagens) ou as outras técnicas de investigação qualitativas (tais como as entrevistas não diretivas). E este mesmo autor (Geoffrion, 2003, pp.320-323) enuncia as seguintes vantagens:

 “As questões são abertas.”

No focus group as perguntas são sempre abertas. Não se procura obter apenas “sins” e “nãos”, mas respostas com o maior e melhor conteúdo possível. O investigador/moderador tem a função de apresentar os assuntos e as questões para que os participantes respondam livremente e com o tempo que necessitem (“os participantes podem portanto tomar o tempo necessário para estabelecer as suas respostas, enunciar as condições de um ‘sim’ ou de um ‘não’, ou explicar o porquê de um ‘talvez’”). E esta liberdade não se cinge apenas à resposta dos temas, mas também à apresentação de novos assuntos e temas. É aqui que o moderador tem que guiar os participantes, permitindo o surgimento destes novos tópicos, mas sem nunca perder o seu foco. Podem apresentar novos assuntos e lançar a discussão sobre uma nova via. Esta flexibilidade, controlada pelo moderador produz uma riqueza de dados que é difícil obter pela utilização de outras técnicas.

 “O moderador pode verificar se os participantes têm uma compreensão comum da questão colocada.”

O investigador/moderador pode confirmar através de todas as formas de interação e comunicação (tom de voz, gestos, postura, entre outros) se o outro lado entendeu o tópico que foi colocado “em cima da mesa”. Assim, o moderador pode “corrigir o lançamento da questão, reformulando-a”.

57

 “Compreensão mais aprofundada das respostas fornecidas.”

Tal como o autor afirma “é muitas vezes mais importante, em investigação, compreender os motivos de uma resposta do que obter a própria respostas. É a diferença entre saber que um problema existe e compreender porque ele existe”. Na ótica deste autor o conhecimento produzido é de maior relevância quando sabemos o porquê, o que levou a ocorrer tal acontecimento/comportamento. Assim é possível “sondar o porquê das respostas” e obter explicações sobre o que foi dito na discussão e fazer o “levantamento das experiências vividas que contribuíram para formar as opiniões, elucidar as emoções e os sentimentos subjacentes a certos enunciados.”  “Por uma interação controlada entre os participantes recria um meio social (…)

um meio em que os indivíduos interagem.”

Uma das caraterísticas determinantes do focus group é a interação entre todos os participantes. O que um indivíduo enuncia gera reações e envolve os outros participantes e estes poderão argumentar favoravelmente ou contra a perspetiva ajudando “certos participantes a formarem uma opinião sobre um assunto pelo qual, possivelmente, não tinham senão pouco interesse.” Para além disso, o ponto de vista de um participante pode, de certa forma, elucidar, levar à razão, tanto quem ainda não tinha refletido sobre essas perspetiva, como quem discordara e “mudou de ideias” ao ouvir o outro. “Tanto como na sociedade, os participantes mudam por vezes de opinião ao ouvirem os pontos de vista sustentados, por outros participantes.” O autor menciona ainda que uma boa forma de controlar a animação é a de determinar os motivos que originaram essa mudança de opinião. A interação controlada faz surgir um sentimento de segurança aos participantes. “Um moderador pode julgar o grau de convicção dos participantes em relação às opiniões expressas. O grupo favorece um sentimento de segurança aos participantes. A abertura demonstrada por uns convida à participação dos outros. Seria por vezes impossível obter as mesmas confidências numa entrevista face a face”.

58

O autor (Geoffrion, 2003, pp. 321-322) menciona ainda mais algumas vantagens relacionadas com o número reduzido de colaboradores; a facilitação que o focus group proporciona na participação do investigador/moderador nas diversas etapas da investigação – porque “o comanditário está habitualmente em melhor posição de compreender e de avaliar um guia de discussão do que avaliar um questionário elaborado para uma sondagem quantitativa” (idem,

p.321); o focus group permite colher resultados de forma rápida e concisa, tornando-se um

método prático e eficaz para ser empregue em situações mais urgentes; e, por último, o focus

group possui igualmente “um método cuja flexibilidade se manifesta a vários níveis” (idem). Existe uma flexibilidade única com este método, onde o “moderador pode a seu bel-prazer alargar ou restringir o âmbito das discussões” (idem). O moderador possui poder. E, esse poder, consiste na possibilidade de alterar, de sugerir, e mudar a ordem dos assuntos a discutir. Esta mudança pode ocorrer devido a uma nova ideia que tenha surgido para ser explorada pelo grupo. Além disso, o moderador pode ter outros motivos para alterar ‘o rumo’ em situações especiais, tendo em conta

as caraterísticas do grupo. O focus group surge como solução à exploração de “temas delicados”

(idem) tais como problemas pessoais relacionados com a saúde e/ou sexualidade – “certos

assuntos delicados tais como problemas de saúde ou de sexualidade são dificilmente abordados

em entrevista individual ou por sondagem telefónica, mas o focus group permite tratar estes

assuntos porque se pode estabelecer gradualmente uma atmosfera favorável a este género de discussão” (idem). Outra vantagem do focus group é o alcance que ele detém. Ele permite estudar certos indivíduos que outras técnicas não conseguem. Tal como refere Geoffrion (idem) o focus group “permite estudar certos indivíduos que outras técnicas não podem juntar. É o caso de pessoas analfabetas e crianças. É uma das raras técnicas que permitem estudar estes indivíduos”.

No entanto, se há “prós” pode haver “contras”. E, tal como qualquer método e técnica de

investigação, o focus group não é perfeito – ele tem as suas desvantagens. E, inicia-se já com um

problema que abrange os vários métodos e técnicas qualitativos que é a falta de representatividade tendo em conta o pequeno número de participantes da amostra. Como afirma Geoffrion (2003, p.322) “os participantes não são estatisticamente representativos do conjunto da população estudada e o investigador não pode extrapolar os resultados para esta população”. Outra desvantagem que pode ocorrer é a influência que o moderador pode ter nos resultados do focus group. A flexibilidade supracitada já neste estudo pode não ser totalmente positiva porque ao colocar as questões segundo o seu próprio estilo e ordem, variando de grupo em grupo, poderá influenciar as respostas obtidas pelos participantes. Além de que pode ainda ocorrer influência

59

dos preconceitos pessoais do moderador – “os preconceitos pessoais do moderador podem também ter um impacto sobre a análise e sobre a redação do relatório. Um moderador pode, por exemplo, dar mais peso às opiniões que correspondem aos seus próprios pontos de vista e minimizar a importância das opiniões contrárias” (idem, p.323); se por um lado, o focus group permite abordar temas delicados porque pode gerar-se uma atmosfera favorável ao tema em discussão, por outro pode criar uma certa timidez nestes mesmos temas. E esta reticência pode resultar ou na não participação ou em comunicar um pensamento que não é seu, mas sim do grupo – “um participante pode voluntariamente, ou não, apresentar um ponto de vista que o valorizará aos olhos dos outros participantes, em vez de comunicar o seu verdadeiro pensamento. Certos participantes têm tendência a ligar-se à maioria. Indivíduos que têm mais facilidade em se exprimir podem influenciar as opiniões do grupo de forma indevida, se não são bem controlados pelo moderador” (idem). Por fim, o último ponto mencionado pelo autor é a influência do comanditário (investigador) no momento de interpretação e análise dos resultados, porque “pode- se com efeito encontrar, nos grupos de discussão, matéria para sustentar vários pontos de vista” (idem). Assim, é possível que o investigador possa olhar com maior importância aos resultados que coincidam com a opinião inicial dele, por exemplo. “Sem um suporte quantitativo, decisões importantes correm o risco de serem tomadas a partir de dados que são menos completos ou menos representativos” (idem).