• Nenhum resultado encontrado

CONTRA LEG EM

DISPOSIÇÕES LEGISLATIVAS SOBRE INTERPRETAÇÃO

100 - P arece constituírem m aioria os jurisconsultos, que não acham bem - colocados num C ódigo os preceitos de H erm enêutica97 (1). O assunto é exclusi­ vam ente doutrinai, científico; enquadra-se, à m aravilha, em um com pêndio; fica deslocado em um repositório de norm as obrigatórias (2).

Não é possível fazer regras gerais para o que é, na essência, contingente e relati­ vo. Só mesmo no campo da doutrina se realiza bem a interpretação, sem o caráter de preceito universal e imutável no tempo; só ali atinge a sua alta, delicada e complexa finalidade; porque deve variar conforme o ramo do Direito e as condições sociais em perpétuo evolucionar (3). Demais o legislador não pode fazer obra completa, e da es­ pecificação resultará a dúvida sobre a aplicabilidade dos preceitos não compreendidos em a norma positiva (4). A ele compete apenas concretizar um a regra; a maneira de a com preender é condicionada e dirigida pelas leis sociais, lógicas, psicológicas, lingüís­ ticas e outras (5). Enfim, as disposições sobre exegese encerram princípios gerais por todos aceitos; pelo que parece ociosa a sua inclusão em um a norma coercitiva (6).

Os argum entos resum idos aqui levaram a expungir da parte prelim inar dos Códigos Civis francês e germ ânico as disposições reguladoras da interpretação, e foram inutilm ente vulgarizados quando se elaborou o repositório italiano (7).

101 - D efende-se a m inoria divergente com alegar, por sua vez, que a inser­ ção de um preceito num código dá àquele m aior prestígio e força a especial aca-

97 100 - (1) Geny, vol. I, p. 224.

(2) G iu se p p e S are d o -T raítato delle Leggi, n~ 526-535; Ehrlich, in "Sc. of Legal Method", p. 67; W alter Jellinek, op. cit., p. 158; Crome, vol. I, p. 97 e nota 1; Giorgi, vol. IV, n9 181.

(3) Jandoli, op. cit., p. 30; Degni, op. cit., p. 44-46. (4) Saredo, op. cit., ne 533.

(5) Wurzel in revista cit., vol. 21, p. 674. "A chave para entender um Código deve ser procu­ rada antes em qualquer outro lugar do que nele próprio" (Unger - Prefácio do System, des

O esterreichischen Rechts).

(6) Comissário Niutta, apud De Filippis, Corso Completo di Diritto Civile Italiano Comparato, 1908-1910, vol. I, p. 68.

(7) Tanto o Projeto alemão como o francês continham regras de Hermenêutica. O Código japonês seguiu os modelos francês e alem ão; o argentino e o brasileiro preferiram o italiano.

O suíço também se refere a exegese, porém num dispositivo destinado, sobretudo, a adotar um sistema novo de Aplicação do Direito (Vede n® 72).

lam ento no prelório"" ( I ) l’oi oiilm Indo n eivn mais visível e tem ida desaparece, desde que o legisladoi não piclcudii .ulistiliui se ao hom em de ciência, não edite as suas regras com o únicas; Imiile se a apresentá-las com o principais, diretas, preci sas, generalizadas, sem prejuízo dc outras porventura obtidas pela pesquisa livre c proteiform e da doutrina (2). L o t|tte sucede no Brasil, R epública A rgentina e Itália: ao lado da norm a legal pululam os frutos da indagação científica, excelentes e va riados; a ideia concretizada cm preceito obrigatório não im pede o surto espontâneo de m uitas outras, igualm ente dom inantes graças ao prestígio dos seus autores ou a irradiação da verdade que encerram (3).

102 - N os países, com o a F rança, onde prevaleceu a doutrina de não tornai

com pulsórias as regras de H erm enêutica e as expungiram do livro prelim inai dn Código Civil, escritores de nom eada apresentam as disposições escritas, referentes à interpretação das O brigações, com o sim ples conselhos dados ao ju iz, desprovi tias de caráter im p era tiv o " (1). Este m odo de pensar encontra, ali m esm o, oposilo res, talvez em m aioria (2); entre os povos que se orientaram diversam ente, aquele estranho p arecer não encontra o m enor ponto de apoio. N ão é possível confundii um repositório de norm as legislativas com um livro de instrução; a este, e ndo

11 !■ 11.. I . l i i ■. I < n l •. I . i i I v . r . M i b i e I l l l P I | ) I I ' Ii1(,.1<) I

98 101 - (1) Laurent, vol. I, n9 268; Caldara, op. cit., p. 33-39. (2) Geny, vol. I, p. 232-233.

(3) Quando traçam regras sobre interpretação e aplicação do Direito, fazem-no os Códi/.n-. modernos em tom discreto, a fim de reservar à doutrina o campo mais vasto. O br.islleim contém as disposições seguintes:

A rt. 69 (da antiga Introdução) - A lei que abre exceções a regras gerais, ou restringe diroiius, só abrange os casos que especifica.

A rt. 78 (da antiga Introdução) - Aplicam-se nos casos omissos as disposições concernente-, aos casos análogos, e, não as havendo, os princípios gerais de Direito.

A rt. 85 - Nas declarações de vontade se atenderá mais à sua intenção que ao sentido tilei.it da linguagem.

Art. 1.090 - Os contratos benéficos interpretar-se - não estritam ente.

Art. 1 .6 6 6 -Q u a n d o a cláusula testam entária for suscetível de interpretações diferente-., pie valecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.

Há outros dispositivos sobre interpretação de atos ou contratos; porém à mesma se n.io ie le rem direta e explicitam ente, como os cinco transcritos.

Vede n9 289-B, onde são feitos comentários à nova Lei de Introdução.

99 1 0 2 - fl ) Huc, vol. VII, n9 175; Aubry & Rau, Conselheiros da Corte de Cassação, de I i.iih, .i, v. il IV, § 347, nota I; Ehrlich, in "Sc. of Legal Method", p. 67.

(2) Geny, vol. I, p. 226-229. (3) Giorgi, vol. IV, n" 181.

Na própria Fr.un,,i a-, io k i.i-, lo m iul.id.is para a exegese das convenções aplicam se, pm .m.i logia, à interpretai,:to d,r. lei-. (Auhiy K. K.ui, vol. I, § 40).

(4) Ernst R. Ilieilin n lnil-.lh h r l'iIn/liileiilehrt', 1911, vol. IV, p. 226-27/; W alter lellinek, op

80 Hermenêutica e ApllcaçSo do Direito | Carlos Maximiliano

àquele, incum be fornecer conselhos, enunciar oportunas advertências, indicar o rum o a seguir, sem revestir de caráter obrigatório as suas prescrições (3).

As regras de H erm enêutica incluídas em um C ódigo têm a m esm a força com ­ pulsória que os outros preceitos ali consolidados, isto é, variável segundo a evolu­ ção; porquanto devem ser interpretadas tam bém de acordo com as condições so­ ciais. O brigatórias em teoria, sofre alterações sutis a sua aplicabilidade, à m edida das necessidades e conjunturas im previstas e m ultím odas da prática e conform e a índole dos dispositivos em cuja exegese se em pregam (4).

103 - R esta liquidar um a dúvida: os preceitos antepostos a um C ódigo apli­

cam -se exclusivam ente ao repositório ju n to ao qual se acham ?

P ortalis resolveu a dificuldade j á levantada a propósito do Livro Prelim inar do Projeto de C ódigo N apoleão. Se determ inadas circunstâncias históricas levaram a form ular certas regras legais a propósito de um repositório, com o poderiam ter feito ao elaborar outro qualquer, nem por isso a sim ples circunstância da colocação e data obriga a tom ar os preceitos com o incorporados ao C ódigo referido. C onsti­ tuem um a lei à parte, com objetivo distinto, espécie de lex legum, destinada a regu­ lar a aplicação de todas as outras. Ficaram m elhor ao lado do C ódigo C ivil, porque este abrange um cam po jurídico incom paravelm ente mais vasto do que qualquer outro conjunto de preceitos sistem atizados100 (1).

Os discordantes deste parecer objetam que o art. 6o da Introdução de 1916 se não aplica ao D ireito Penal (2). O argum ento não procede; porque tam bém não em pregam o m encionado dispositivo em m uitos casos de D ireito Civil; e o art. 4o do Título Prelim inar do C ódigo C ivil Italiano de 1865, correspondente ao 6o do brasileiro, referiu-se explicitam ente às leis penais, m andou interpretá-las do m es­ m o m odo que as excepcionais.

N o Brasil, as considerações sob núm eros 6 e 7 acham -se num conjunto de 21 artigos; a lei não fez a m enor distinção quanto à aplicabilidade dos m esm os; logo não pode fazê-la tam pouco o ju iz. N a prática se tem entendido assim ; por exem plo: o prazo para entrar em vigor qualquer ato do C ongresso ou do Executivo é o fixado

100 103 - (1) Caldara, op. cit., n - 40-41; Coviello, vol. I, p. 69.

Em Coimbra chamam oficialm ente Direito Pátrio ao só Direito Civil.

(2) Raymundo Salvat - Tratado de Derecho Civil Argentino, vol. 1,1917, n5 94, b. Aliás o Código argentino contém, sobre interpretação, apenas o art. 18, muito semelhante ao 72 brasileiro. A nova Lei de Introdução suprime a matéria do art. 6S; mas contém a do 7®, e manda, no seu art. 5e, atender aos fins sociais do Direito positivo.

(3) Os artigos acima referidos aplicam-se habitualmente às disposições de Direito Civil, Co­ mercial, Crim inal, Judiciário e Administrativo.

(4) Será oportuno o estudo comparativo entre os artigos da Lei de Introdução de 1916 e de 1942, para tanto transcreve-se no final do Apêndice os textos de ambas lado a lado (Nota da Editora).

I iK|.m Ii iíi l i'H|..l.itiVBk •.«>hi«• In le i |)iel.i(,,1o 81

pelo art. 2”; o m esm o se ditii dos itilx I " ,-1", II. 12, 15, 16, 17, 1K, 19 c 21, obriga tórios tanto no cível eom o no eiim e. Iodos du Lei tle Introdução de 1916 (3) (■!).

Do que se necessita paru o u n o conveniente dos arts. 6° e 7" da Introdução e

de os interpretar inteligentemente; porém este preceito não se refere só ao Direito Civil...

QUALIDADES DE HERM ENEUTA - CAUSAS DE INTERPRETAÇÃO