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Dissertação de Cristiane Teixeira de Oliveira “Política de Atenção à Família: uma Análise do Centro de Referência da Assistência Social em Guaraciaba MG”

Pequeno I I Médio Grande Metrópole

PRODUÇÕES CIENTÍFICAS ABORDANDO O TEMA: IMPLANTAÇÃO DE CENTROS DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)

2.1 Destaques dos trabalhos analisados

2.1.1 Dissertação de Cristiane Teixeira de Oliveira “Política de Atenção à Família: uma Análise do Centro de Referência da Assistência Social em Guaraciaba MG”

(2008)

O trabalho objetivou analisar o processo de implementação e desenvolvimento do CRAS, a partir de uma realidade concreta, caracterizando o processo de criação, implantação e o desenvolvimento, identificando seus objetivos, processos de trabalho e funcionamento; identificando a configuração socioeconômica das famílias e suas condições de desenvolvimento; examinando a qualidade das redes socioassistenciais

para o cumprimento dos objetivos do Centro e analisando o posicionamento do público envolvido, quanto aos objetivos e funções do Centro e seu papel social.

O estudo foi realizado em Guaraciaba (Minas Gerais), município de pequeno porte I, onde há predominância da economia agropecuária, com 10.140 habitantes, sendo que 70% pertencem à zona rural. A pesquisa contemplou 70 famílias (20%) atendidas no CRAS, que acompanhava anualmente 500 famílias.

O CRAS foi inaugurado em setembro de 2006, foi instalado próximo à região de maior vulnerabilidade do município que apresenta: condições de risco, situação socioeconômica precária, violência, falta de serviços de saúde avançados, ausência de acesso a informações qualificadas e legitimadoras de direitos, baixa oferta de empregos, moradias com condições críticas de higiene. Nesse processo de instalação do equipamento, foram utilizados dados do CadÚnico, visitas à comunidade e domiciliares, visando à construção de índices e indicadores territorializados de vulnerabilidade e risco social.

No território, foram identificadas também as seguintes situações: crianças e adolescentes com acesso a serviços básicos de educação e saúde, mas há falta de acesso a serviços de lazer, cultura e esportes; poucas oportunidades de emprego, serviços informais e provisórios, prevalentes na área rural.

O CRAS atende todas as famílias do município que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco. A unidade possui como estrutura física: uma recepção, duas salas de atendimento/entrevistas, uma cozinha, dois banheiros e um salão, acessíveis a pessoas com deficiência e idosos. A equipe do CRAS é composta por: um assistente social, uma psicóloga e um auxiliar administrativo, auxiliar de serviços, monitores de capoeira, dança, corte e costura. A coordenação do CRAS é exercida por uma psicóloga.

As funções desempenhadas pelos técnicos são: recepção e acolhida, acompanhamento familiar, visitas domiciliares, encaminhamentos, atendimento às demandas psicossociais, produção e divulgação de informações sobre serviços e direitos sociais. A equipe participa das capacitações promovidas pela Secretaria de Estado de

Desenvolvimento Social e Esportes de Minas Gerais; acesso ao site do MDS para atualizações e informações.

O desafio no trabalho e atendimento do CRAS é superar a necessidade de atendimentos emergenciais a indivíduos e famílias, além de ser local de controle e registro de famílias. As formas de escuta e participação dos usuários no CRAS são direcionadas e consideram a apresentação de desejos e necessidades como subsídio para elaboração das ações e serviços ofertados pelo CRAS. A escuta é realizada por meio de: acolhimento, visita domiciliar, entrevistas fechadas (cadastro feito pelo auxiliar administrativo), entrevistas abertas (atendimentos pela assistente social e psicóloga), questionários dirigidos aplicados pelos monitores após atividades (grupos de convivência, oficinas).

A coordenação do CRAS elabora gráficos e planilha dos atendimentos e realiza avaliação das demandas, com sugestões e críticas. Para estimular o empoderamento e a consciência social coletiva, a equipe realiza campanhas, palestras e oficinas socioeducativas, a partir das metodologias sugeridas pelo MDS, envolvendo os profissionais do CRAS e da Saúde, Educação, Jurídico, abordando questões dos direitos de crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência. Utiliza estratégias como sorteio de brindes, lanches e doação de alimentos. Há pouca adesão de pessoas com deficiência e suas famílias.

As intervenções são realizadas considerando o reconhecimento da diversidade dos arranjos familiares, o respeito às diferenças e os instrumentos técnicos são definidos de acordo com as demandas grupais e individuais. Os usuários chegam ao CRAS pelo trabalho de mobilização, divulgação e busca ativa. É realizado o acolhimento, a articulação e o fortalecimento de redes de grupos sociais, o encaminhamento e o acompanhamento; são desenvolvidos os atendimentos individuais ou grupais (psicoterapêuticos e socioassistenciais).

Os monitores são responsáveis pelas oficinas de convivência, inserção produtiva e palestras. As oficinas desenvolvidas semanalmente contemplam: capoeira, dança, violão, corte e costura, bordado à máquina. As palestras, realizadas mensalmente,

abordam informações às famílias, conhecimento de direitos, estímulo ao desenvolvimento de potencialidades, temas de acordo com interesses da comunidade contam com participação aberta e rotativa.

Os desafios que se apresentavam para o desenvolvimento global do CRAS e as estratégias utilizadas pela equipe foram: desconhecimento, pelos usuários, dos objetivos do CRAS, investindo em divulgação por rádio, cartazes nas escolas, igrejas, comércios; resistência aos cadastramentos espontâneos, por isso a equipe intensificou a busca ativa; poucos interessados voluntários em realizar palestras, oficinas e cursos, e a equipe procurou interessados e parceiros em municípios vizinhos; reduzido espaço físico para realização das atividades grupais, neste sentido, a equipe estabeleceu parceria com uma organização da comunidade.

Os resultados qualitativos apresentados em um ano e meio de funcionamento do CRAS são identificados como fortalecimento da autoestima, ocupação do tempo ocioso, crescimento do protagonismo dos usuários (familiar e comunitário), na redução da vulnerabilidade e alcance de alguns direitos de cidadania, apesar das restrições pessoais e do precário ambiente de inserção.

Há ações de identificação das redes sociais, onde o CRAS realiza o cadastramento da rede socioassistencial, visitas institucionais e reuniões, visando ao estabelecimento de vínculos, parcerias e a melhoria do acesso aos serviços pelos usuários.

O CRAS procura estabelecer a integração e articulação entre serviços socioassistenciais e programas de transferência de renda, principalmente com o Bolsa- Família (1.135 famílias no município), através de parcerias com saúde e educação por meio de: Programa Saúde da Família, Unidade Básica de Saúde, Escolas estaduais e municipais e Centro de Educação Infantil, Secretaria Municipal de Educação. Essas parcerias atendem casos de evasão escolar, repetência e casos psicossociais; realizam palestras, campanhas e oficinas socioeducativas com as famílias atendidas pelo CRAS.

Até 2008, o CRAS atendeu 350 famílias, e para essa pesquisa foi selecionada uma amostra de 70 famílias. O Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), criado pelo

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) foi utilizado através de seus 22 componentes e 32 indicadores, que contemplam as seguintes dimensões: vulnerabilidade, acesso ao conhecimento, acesso ao trabalho, disponibilidade de recursos, desenvolvimento e condições habitacionais. A população atendida pelo Cras possui IDF 0,54 (inferior à média brasileira, de 0,61 a 0,80, sendo que a Região Sudeste apresenta índice de 0,78), esse influenciado pelo acesso ao conhecimento e ao trabalho.

Em relação às famílias pesquisadas sobre impacto e mudanças na vida familiar, a partir da participação nas atividades do CRAS, selecionou-se uma subamostra (dez famílias) e constataram-se as seguintes situações:

- quanto aos direitos: o CRAS, como local de auxílio às famílias e não como local que concretiza direitos socioassistenciais; as formas de divulgação do CRAS constituem-se na troca de informação entre a própria população usuária e as visitas domiciliares;

- em relação aos serviços ofertados: sugeriram atividades para idosos; criação de oportunidades de empregos e não somente qualificação para geração de renda; atividades de qualificação profissional e cursos de geração de renda são considerados importantes para o aprendizado e autogestão da família;

- no que diz respeito à estrutura física: maior espaço para ampliação das atividades;

- na gestão da unidade: não há encaminhamentos, acompanhamento e monitoramento do CRAS para a rede de proteção social; o CRAS ainda não é a principal referência de Assistência Social no município, mas, sim, o órgão gestor; o CRAS possibilitou o acesso a informações e conhecimentos, porém falta a atenção à população da zona rural;

- quanto às aquisições dos usuários e famílias: novos vínculos relacionais foram proporcionados pela participação no CRAS, laços de solidariedade e apoio; melhoria das condições de vida e mudanças promovidas no cotidiano das famílias: atividades de lazer, cultura e educação para crianças e adolescentes; a população tem dificuldade para expressar o que entende, e se entende vulnerabilidade e cidadania, porém reconhece que o CRAS contribui para maior acesso a estes.

Segundo a análise da autora, há necessidade de mudanças estruturais e organizacionais no CRAS, revendo a metodologia do trabalho com famílias, atendendo a demandas e necessidades do grupo familiar. Conclui expondo que há necessidade de se considerar o pouco tempo de consolidação das ações do CRAS (18 meses). É possível levantar como principais pontos de avanços e dificuldades:

- o CRAS está atendendo em parte as recomendações metodológicas do MDS;

- a equipe técnica mínima está composta;

- o espaço físico necessita ser revisto;

- há limitação com recursos materiais;

- falta capacitação da equipe;

- há necessidade de fortalecimento do trabalho em rede;

- as famílias reconhecem o potencial mobilizador e de mudanças do CRAS;

- o CRAS tem desempenhado seu papel social de forma parcial e restrita no tocante ao acesso aos direitos sociais e ampliação da cidadania.

2.1.2 Tese de Solange Fernandes Rocha - “Estado e política de assistência social:

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