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Dissertação de Therese Abdel Messih Araújo “O CRAS como estratégia para efetivação da proteção social básica na esfera municipal: desafios, tensões e

Pequeno I I Médio Grande Metrópole

PRODUÇÕES CIENTÍFICAS ABORDANDO O TEMA: IMPLANTAÇÃO DE CENTROS DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)

2.1 Destaques dos trabalhos analisados

2.1.10 Dissertação de Therese Abdel Messih Araújo “O CRAS como estratégia para efetivação da proteção social básica na esfera municipal: desafios, tensões e

direções” (2009)

A pesquisa analisa o processo de reorganização dos serviços, programas e projetos da política de assistência social, a partir da lógica da proteção social básica e das novas matrizes conceituais estabelecidas pela Política Nacional de Assistência Social aprovada em 2004. Considerando a instalação dos CRAS, como estratégia para efetivação da proteção social básica de assistência social, a pesquisa procura demonstrar como o conceito de proteção social básica tem sido incorporado como novo

paradigma, em contraposição ao padrão emergencial e discricionário presente historicamente na trajetória da assistência social no Brasil. A dimensão espacial deste estudo está circunscrita aos Municípios de Louveira e Vinhedo, integrantes da Região Administrativa de Campinas (SP).

O universo do estudo compreendeu os Municipios de Vinhedo, que contava com três CRAS, e Louveira, com um CRAS, em 2009. A coleta de dados foi feita através de pesquisa documental e de campo, como principais fontes documentos oficias das Câmaras Municipais de Vinhedo e Louveira, dados do IBGE e Ipea. A pesquisa foi realizada com os gestores municipais de Assistência social, coordenadores da proteção social básica, trabalhadores dos CRAS e conselheiros municipais de Assistência social. Os CRAS pesquisados estão localizados em áreas de alta e muito alta vulnerabilidade.

Algumas características dos municípios são apresentadas em relação ao SUAS: ambos em gestão básica; nenhum conta com dispositivo legal aprovando a PNAS; gestores até 2000 eram primeiras-damas; atividades do Fundo Social de Solidariedade desenvolvidas pelas secretarias; estruturas administrativas não sofreram alterações a partir da PNAS; Leis Orgânicas Municipais diferem da Loas, embora revisadas em 2000.

Em Louveira, município de pequeno porte II, um CRAS foi implantado a partir de 2006, com recurso municipal, e os outros territórios do município contam somente com o plantão social, ou seja, coexistem dois modelos de atenção e gestão. Nesse município, praticamente inexiste rede privada, a execução é direta, pelo Poder Público, há pouca participação da sociedade civil.

Em Vinhedo, município de médio porte, contando com uma Secretaria de Gestão da Assistência Social, desde 2005, há três unidades descentralizadas nomeadas como CRAS, sendo este o único modelo. A rede privada é presente e conta com 19 entidades cadastradas no CMAS, que desenvolvem os serviços previstos na PNAS, porém sem normatizações que especifiquem padrão, funcionamento e articulação.

O plantão social é desenvolvido nos dois municípios, tanto pela rede pública como pela rede privada, e apresenta um número significativo de unidades executoras. As atividades desenvolvidas nos CRAS são respectivamente:

- Louveira = acompanhamento das famílias beneficiárias dos Programas Bolsa Família e Renda Cidadã, acompanhamento individual, busca ativa, inserção de famílias no CadÚnico, orientação e acompanhamento para inserção no BPC, recepção e acolhida, reuniões e visitas domiciliares.

- Vinhedo = acompanhamento das famílias beneficiárias do programa Renda Cidadã, acompanhamento de adolescentes e jovens beneficiários do Programa Ação Jovem, acompanhamento individual, encaminhamento para inserção de famílias no CadÚnico, orientação e acompanhamento para inserção no BPC, grupo/oficina de convivência e atividades socioeducativas com famílias, palestras, plantão social, recepção e acolhida, reuniões e visitas domiciliares.

Os recursos orçamentários investidos nos CRAS são quase que exclusivamente de natureza municipal, os recursos estaduais e federais são direcionados para o desenvolvimento do PAIF. A implantação do SUAS nos municípios tem exigido adequações político-administrativas, e nos dois municípios foi realizado um redimensionamento da equipe técnica para atender ao SUAS, determinadas as coordenações da PSB e da PSE, os CRAS ainda não possuem coordenador e psicólogo.

Em Louveira, o acesso a bens e serviços é reconhecido como direito fundamental garantido pela Assistência Social, ressaltando a necessidade de realização de trabalho social que possibilite a proteção social à família em uma perspectiva emancipatória. Já em Vinhedo a concepção do trabalho socioassistencial sinaliza para uma perspectiva mais subjetiva, na esfera individual, atribuindo ao acesso a bens e serviços uma posição secundarizada. O significado atribuído ao CRAS é de lócus de apoio individual, “caráter terapêutico”, identificado como ajuda.

A PSB é comumente relacionada aos CRAS e relacionada ao atendimento das necessidades sociais, como medidas de prevenção. Os depoimentos não explicitam se esses atendimentos se realizam através da provisão material ou através de programas, projetos e serviços.

Os conselheiros do CMAS entendem que o CRAS concretiza a PSB, descentraliza os atendimentos e realiza encaminhamentos para a rede socioassistencial. Os

depoimentos indicam que os CRAS vêm sendo entendidos como unidades territorializadas responsáveis pela recepção, acolhida, oferta de procedimentos profissionais em defesa dos direitos humanos e sociais e pela proteção social de Assistência Social.

Os CRAS, nos dois municípios, assumiram e absorveram atividades de competência do plantão social. Em Vinhedo, é realizado o plantão de acolhida, que atende a demanda espontânea, quatro vezes por semana, quando são liberados recursos materiais, encaminhamentos para PTR. Esse atendimento apresenta características do plantão social tradicional e benefícios da área da saúde, com a ideia de urgência social. A acolhida é vista como estratégia de humanização no processo de prestação do serviço.

Em Louveira, é realizado o atendimento social, uma vez por semana, com agendamento prévio, e concessão de bens materiais. Há uma delimitação, visto que o atendimento de urgências não é competência do CRAS, e o plantão emergencial é ligado à PSE no espaço físico do órgão gestor, que sofre interferências políticas. A acolhida tem sido utilizada como estratégia para mudança do paradigma do “favor”.

Os benefícios e serviços são objetivados no âmbito dos CRAS, além dos encaminhamentos à PSE, a interlocução com entidades socioassistenciais e com demais políticas. No trabalho com as famílias, a leitura da realidade é priorizada e as suas implicações na situação social, afastando o processo de culpabilização das famílias.

Em Louveira, o diagnóstico para instalação do CRAS foi essencial, e a definição de ações ocorreu a partir das características do território e de seus moradores. Nessa etapa, a equipe utilizou os indicadores do IBGE, Seade e dados/cadastros municipais.

Em Vinhedo, a instalação do CRAS Capela é uma “repaginação” de uma unidade descentralizada, desde 2001, que foi escolhida como experiência-piloto por se tratar de território com alta densidade demográfica, geograficamente localizada na periferia do município. Essa escolha não considerou os indicadores sociais formulados pelo IBGE e Seade, e houve falta do diagnóstico social e, consequentemente, surgiram dificuldades para o desempenho do papel do CRAS e planejamento das ações.

A mudança em Louveira tem se caracterizado por um processo lento, gradativo, difícil e com resistências, projetos isolados, e trabalho por segmentos. A implementação do SUAS vem se desenvolvendo através da construção coletiva da equipe e técnicos, de discussões conjuntas sobre a reorganização dos serviços, reuniões sistemáticas e temáticas, faltando ainda envolver demais atores sociais (conselheiros, entidades e políticas setoriais).

O espaço físico do CRAS, em Louveira, é um imóvel alugado. Em relação à equipe, contam com dois assistentes sociais, dois estagiárias de Serviço Social, um administrativo, um assistente social acumula o cargo de coordenador informalmente; trabalham 30 horas semanais. Enquanto infraestrutura possui equipamentos de informática, acesso à internet e não tem veículo exclusivo. A equipe tem discutido ações para a população específica da área rural.

Em Vinhedo, o imóvel é próprio. A equipe é composta por dois assistentes sociais, um psicólogo, um administrativo, nenhum profissional desempenha a função de coordenador; trabalham 40 horas semanais. Não possuem equipamentos de informática, acesso à internet e veículo para deslocamento da equipe. A área rural não tem sido contemplada, pela limitação de recursos.

A perspectiva da matricialidade sociofamiliar nos dois municípios é operacionalizada através da acolhida, numa abordagem individual, com o objetivo de conhecer a dinâmica familiar e identificar situações de vulnerabilidade e risco. O processo de implantação de CRAS em Louveira e Vinhedo e as atividades desenvolvidas proporcionam aos usuários a referência de uma unidade de atendimento da Assistência Social e a busca por recursos materiais.

O referenciamento das famílias em Louveira ocorreu através do PBF e da concessão de recursos materiais, agregando posteriormente demais programas e o CadÚnico. Em Vinhedo, o referenciamento do CRAS foi realizado pelo BPC, Renda Cidadã, Ação Jovem, programa municipal de segurança alimentar emergencial, mas não se utilizaram e articularam as informações do PBF e CadÚnico. Há fragilidade na

articulação entre benefícios e o serviço somente ocorre nas situações que envolve o descumprimento das condicionalidades.

Os municípios em questão não têm priorizado e desenvolvido o trabalho socioeducativo com as famílias. O PAIF também não foi incorporado como nomenclatura e referência para o trabalho do CRAS, sendo que Vinhedo adotou o Serviço de Atendimento Emergencial (SAE), substituindo o PAIF, ou seja, não há referências únicas de serviços entre municípios vizinhos.

O CRAS de Louveira, partindo do diagnóstico do território e da caracterização da população, está em processo de planejamento das ações socioeducativas, grupos de convivência e ações sociocomunitárias, através da acolhida, abordagem individual e visitas domiciliares. O CRAS, em Vinhedo, desenvolve ações socioeducativas para os beneficiários do BPC e PTR, realizando acolhida através da abordagem individual e visitas.

Há um discurso recorrente de que o CRAS trabalha na perspectiva da autonomia e do protagonismo dos usuários, porém, em Vinhedo, sentiu-se dificuldade na identificação de ações e estratégias que objetivem o desenvolvimento pessoal e o social. Ressalta-se que o CRAS de Vinhedo inicia algumas ações sociocomunitárias envolvendo a questão da habitação.

Em Louveira, assim como nos demais municípios de pequeno porte, vêm-se trabalhando e atendendo situações de PSE no CRAS, por questões de estrutura. O CRAS é entendido como unidade de referência para a gestão da Assistência Social no território, tendo como atribuição a articulação dos serviços socioassistenciais a partir das demandas do território. O CRAS de Vinhedo, pelos técnicos, é concebido como articulador da rede no processo de organização das atividades que serão desenvolvidas no território, enfatizando a participação das demais políticas públicas.

Nos dois municípios, há questões de incompreensão e equívocos de entendimento das denominações e nomenclaturas quanto a projetos e serviços. Identificam-se muitas fragilidades conceituais, metodológicas e organizativas da

incorporação dos novos conteúdos da PNAS, que estão presentes no discurso dos técnicos.

A autora conclui que os CRAS são a única referência concreta do SUAS nesses municípios. A oferta de serviços e programas é realizada de forma segmentada, a matricialidade e a territorialidade não foram assumidas como eixos centrais da implantação dos CRAS e a organização da rede socioassistencial ainda não é uma realidade.

Louveira adotou parcialmente a territorialidade como eixo estruturante do SUAS e da implantação de CRAS, com o diagnóstico do território. Porém, há dificuldades na realização da vigilância social, onde falta o reconhecimento das situações prioritárias de “monitoramento”, as vulnerabilidades e riscos, que serão objeto de proteção e vigilância.

A provisão material é realizada em Louveira e Vinhedo, contudo, com enfoques diferentes no seu posicionamento enquanto direito. O enfoque de “urgência social” persiste no CRAS. A ausência de padronização dos serviços, benefícios, programas e projetos refletem a fragilidade do processo em construção.

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