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Tese de Mauricéia Ligia Neves da Costa Bonfim “A estratégia do trabalho em rede no SUAS/CRAS – Teresina/PI: uma experiência em movimento” (2009)

Pequeno I I Médio Grande Metrópole

PRODUÇÕES CIENTÍFICAS ABORDANDO O TEMA: IMPLANTAÇÃO DE CENTROS DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)

2.1 Destaques dos trabalhos analisados

2.1.7 Tese de Mauricéia Ligia Neves da Costa Bonfim “A estratégia do trabalho em rede no SUAS/CRAS – Teresina/PI: uma experiência em movimento” (2009)

O objeto de estudo é a estratégia do trabalho em rede. Seu objetivo geral é analisar a experiência do trabalho em rede na implantação da Política Municipal de Assistência Social em Teresina/PI, no período de 2005-2008, de modo a efetivar direitos socioassistenciais de indivíduos e famílias em processo de exclusão social, com vista à construção de uma cidadania ativa.

A pesquisa contou com os depoimentos de um prefeito, dois gestores (secretários municipais), quatro coordenadores de CRAS, quatro usuários da PNAS, quatro líderes de comunidades (presidentes de Associações de Moradores), quatro dirigentes de entidades não governamentais, totalizando 19 sujeitos pesquisados. O Município de Teresina conta com sete CRAS, sendo que o presente trabalho apresenta dados de amostra de quatro CRAS.

A busca pelo entendimento da Assistência Social como um sistema passa a ser o centro das discussões para o processo de implantação do SUAS em Teresina. O Conselho Municipal de Assistência Social teve um papel significativo, e as discussões nele iniciadas repercutiram nas entidades e na sociedade. Esse processo iniciou-se em 2005 e foi marcado por momentos de intensas discussões e processo de formação de todos os atores sociais.

A primeira ação para efetivar o SUAS foi a implantação de quatro CRAS, com perspectiva de atendimento de 300 famílias em cada centro, perfazendo o atendimento de 1.200 famílias. Conforme dados do IBGE, em Teresina havia, na época, 62.188 famílias situadas no corte de pobreza.

No primeiro momento, os CRAS absorveram todos os serviços que vinham sendo desenvolvidos voltados a essas famílias: atendimento a jovens, adultos, idosos no desenvolvimento de atividades lúdicas, capacitação profissional e plantão social, devido a uma incompreensão e certa “urgência de implantação dos CRAS”. Outro aspecto que prejudicou a identificação do CRAS foi a sua imediata vinculação com a aquisição do PBF.

Os CRAS foram implantados com base nos dados do Censo de 2000 e de pesquisa realizada sobre os bairros de Teresina, eleitos os de maior concentração populacional, com maior índice de pobreza e de usuários do PBF. Contudo, o que se observa, hoje, é que esses territórios já não apresentam as mesmas características que justificaram a sua implantação.

A preocupação com a capacitação dos recursos humanos estava presente, foram realizados seminários com a equipe da secretaria e demais políticas sociais, para propiciar a articulação das políticas públicas municipais, estabelecendo uma agenda com ações que deveriam ser concretizadas para a proposta de um trabalho inter-setorial.

Houve a mudança do gestor em 2006 e a ampliação para sete CRAS, quando ocorreu também um seminário para discussão do trabalho dos CRAS nos territórios, e sobre as suas funções enquanto unidade estatal. Foi realizada também uma reforma administrativa para adequação da secretaria às normativas do Suas com a criação das gerências da PSB e da PSE; divisão de gestão de pessoas; divisão administrativa (transportes, almoxarifado, licitação); gerência de fundos; gerência legislativa; gerência de benefícios e renda mínima e a gerência de gestão do SUAS.

No município, não há uma política de recursos humanos específica, o que prejudica a efetivação do SUAS. Foi iniciado o processo de construção do sistema de informação, diagnóstico e do registro de ações, necessitando de aperfeiçoamento para estar articulado aos CRAS.

Quanto ao financiamento da Assistência Social, Teresina depende em grande parte dos recursos federais, para operacionalização da política, diferenciando-se muito dos demais municípios brasileiros. No tocante ao controle social, o município também necessita de maior reforço para a participação da sociedade civil nos conselhos e espaços públicos de participação popular.

O trabalho técnico baseado na matricialidade sociofamiliar requer extensa e qualificada intervenção, pois é uma mudança de paradigmas no desenvolvimento do trabalho social com famílias, estando em processo de construção e perseguindo uma lógica de empoderamento dessas famílias.

O processo de implantação dos CRAS e a estratégia do trabalho em rede iniciaram-se pela articulação do prefeito municipal, da secretária da Assistência Social e do CMAS.

A instalação dos CRAS seguiu a orientação do MDS, em locais de maior concentração de famílias em situação de vulnerabilidade social. A partir daí, dois grandes programas se destacaram, a partir de 2005, em Teresina: PBF e PAIF. Esse processo baseou-se em dados do IBGE, do Censo Municipal de 1999, em pesquisa sobre a realidade dos bairros de Teresina, contendo os territórios de maior concentração populacional, maior índice de pobreza e maior número de usuários do PBF (59.532 famílias).

Para a composição da base territorial do CRAS, foi utilizado o parâmetro de organização administrativa do município, que está descentralizado em Superintendências de Desenvolvimento Urbano, divididas em quatro regiões na cidade, e em cada região foi instalado um CRAS. Porém, as áreas de abrangência ficaram muito extensas.

Quanto aos programas socioassistenciais já desenvolvidos, no primeiro momento, todos foram sendo atendidos; em relação aos serviços, os CRAS iniciaram suas ações ofertando atendimento direto aos segmentos: jovens, crianças, idosos, mulheres. O CRAS também era referência e espaço para aquisição e atendimento das demandas emergenciais (cesta básica e vale-transporte).

O espaço físico dos CRAS foi constituído seguindo as orientações do MDS e apresentavam ambientes compatíveis, priorizados os prédios públicos, e, no caso de não haver no território, foram construídos ou alugados.

As equipes foram preparadas em oficinas de capacitação e contavam com a equipe mínima: um coordenador (assistente social), um técnico responsável pela divisão técnica, uma divisão de renda mínima, dois assistentes sociais, dois psicólogos e equipe de apoio com estagiários e serviços gerais. Apenas dois dos coordenadores de CRAS são concursados, os demais são contratados, contrariando a NOB/RH.

As funções e o papel do CRAS não se apresentam bem assimiladas por todos os profissionais; é um panorama heterogêneo entre a equipe. De acordo com a política, é atribuído ao equipamento a função de articulação dos serviços existentes no território e a primeira ação do município em relação a esse aspecto foi o mapeamento do território.

O trabalho foi se desenvolvendo nos territórios com atendimento às famílias beneficiárias do PBF, por meio de orientações, cadastramento e recadastramento, reuniões socioeducativas com grupo de idosos, adolescentes e jovens, orientação para BPC e capacitação para inserção produtiva.

Em relação à infraestrutura dos CRAS, as unidades contam com aparelho de som, TV, DVD, computador, ar-condicionado, ventilador, freezer, geladeira, fogão, bebedouro, armários, estantes, mesas, cadeiras, material permanente e de consumo. Nesse momento, ainda faltava o acesso à internet nos CRAS, que estava relacionado ao sistema de informação e do trabalho em rede.

A segunda etapa de implantação dos CRAS foi marcada por um processo de organização das ações desenvolvidas, com avanço na direção do reconhecimento desses equipamentos como um espaço capaz de proporcionar proteção à famílias e indivíduos no seu contexto comunitário. Houve, na administração municipal, o empenho dos gestores, prefeito, secretário e uma equipe mais preparada para desempenhar suas funções. Verificou-se a necessidade de se investir em contratação de profissionais, com a definição de uma política de recursos humanos, a capacitação contínua com a expansão do número de CRAS e maior cobertura dos serviços socioassistenciais.

O Plano de Governo 2009-2012 previu o compromisso da administração na área da Assistência Social com a universalização dos CRAS e CREAS, priorizando concurso público, combatendo a precarização do trabalho, garantindo à população o acesso à proteção social. Outro avanço constatado é o reconhecimento da população dos CRAS enquanto referência no território para atendimento de suas demandas.

O trabalho em rede, na ótica do SUAS, inicia-se pelo CRAS. Em Teresina, as primeiras ações contemplaram encontros de capacitação e discussões sobre o que seria esse trabalho em rede. Porém, a prioridade era o atendimento aos beneficiários do PBF,

ficando como secundária a criação de um plano de articulação dos serviços, programas e projetos existentes no território. Assim, a equipe iniciou sua ação sem conhecimento suficiente em sua formação para o trabalho em rede.

Os depoimentos dos pesquisados evidenciam conceitos variados de rede, e a perspectiva da construção de vínculos está sempre presente. O município, em 2005, realizou encontros com a rede de serviços, entidades, associações de moradores, órgãos estaduais e municipais, e o Conselho Municipal de Assistência Social. Foram apresentados os serviços, as formas de se estabelecer maior articulação e proposta de um plano para implantação do trabalho em rede.

A pauta de um plano de articulação da rede somente retorna à agenda do município em 2008, quando são estabelecidas prioridades de articulação dos serviços de saúde , educação e Assistência Social, na gestão de secretários que muito valorizaram o desenvolvimento do SUAS.

A partir daí, foram realizados encontros nas bases territoriais dos sete CRAS, com representantes das políticas envolvidas, para estudar e propor métodos de trabalho para o atendimento em rede. Foi apresentada uma proposta que partiu da equipe técnica das três políticas. A pesquisa constatou que se inicia um estreitamento de relações das demandas apresentadas por usuários e entidades com as políticas de educação e saúde, significando um esforço de intersetorialidade das ações empreendidas pelo CRAS, sinalizando para práticas não fragmentadas no território.

Nesse processo, foram realizadas reuniões com as entidades para capacitação, organização dos encaminhamentos, socialização de informações sobre os serviços do CRAS, porém sem apontar ainda para um estudo de conhecimento do território. Há uma carência no sistema de informações em rede, da construção de mecanismos que possibilitem a articulação.

A territorialização tem proporcionado relações mais próximas entre os serviços, entidades e CRAS, porém precisa avançar para além dos encaminhamentos, na construção de conhecimentos e práticas que tendam às peculiaridades das realidades

dos diferentes territórios. Os CRAS têm desenvolvido papel significativo com respeito à acessibilidade ao conhecimento dos direitos socioassistenciais.

As ações socioeducativas têm possibilitado à população acesso a maior informação, potencializando a participação e ampliando a consciência dos usuários em relação à cidadania, ou seja, gradualmente, os CRAS têm se constituído em referência para a população.

A autora finaliza considerando o trabalho em rede como uma possibilidade que propicia a construção de novos paradigmas, e uma gestão pública que articule descentralização e intersetorialidade, ultrapassando o traço histórico de ações fragmentadas, sobrepostas e desarticuladas.

Em Teresina, essa metodologia vem sendo implementada gradualmente e demonstra as potencialidades e os limites que apresenta na sua efetivação. Observam- se mudanças significativas, que vêm ocorrendo na organização da Assistência Social fazendo parte da agenda pública municipal. Avalia que o município encontra-se no estágio inicial de implantação do trabalho em rede. E os CRAS, nesta perspectiva, têm apontado para a direção do acesso a informações referentes a direitos, difusão do conhecimento, formação de consciência crítica, processo de empoderamento da sociedade.

2.1.8 Dissertação de Rochelly Euzebio de Lima - “O Programa de Atenção Integral à

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