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CRAS COMO NOVA REFERÊNCIA NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

3.2 Há uma nova referência na Política de Assistência Social?

Em 2010, foi publicado o livro O Sistema Único de Assistência Social no Brasil:

Uma Realidade em Movimento (COUTO, YASBEK, SILVA e RAICHELIS), que apresenta

um panorama da Política de Assistência Social no País, através dos olhares e vivências de gestores e trabalhadores sociais. O estudo foi realizado em sete Estados e 41 municípios, com o objetivo de levantar as marcas, conquistas e dificuldades nesse cenário em construção.

O importante estudo mostra o percurso e o desenvolvimento da Política de Assistência Social nos municípios e Estados nesses cinco anos de implantação do SUAS, no que diz respeito aos usuários, à abordagem territorial, matricialidade sociofamiliar, gestão do trabalho, ao papel dos gestores, à participação social, ao CRAS, CREAS, controle social, às instâncias estaduais, organizações sociais, à questão do direito.

A Pesquisa SUAS – CAPES/PROCAD apresenta-se como uma das referencias para análise dos trabalhos aqui analisados, pois é uma produção científica altamente qualificada e construída por normativas acadêmicas, que trata do processo de implantação do SUAS no território nacional.

No tocante aos CRAS, a publicação apresenta a heterogeneidade nos municípios brasileiros e a complexidade com que esse processo vem se desenvolvendo nessa realidade. Ressalta-se que o CRAS tem importante significado no processo de construção do SUAS. A pesquisa aborda e analisa as condições de funcionamento dos CRAS, trabalhadores, infraestrutura material, demandas, serviços, atenções,

matricialidade sociofamiliar, dimensão socioeducativa, plantão e transversalidade, território, rede e intersetorialidade.

É um marco teórico e conceitual para a referência bibliográfica e avaliação da PNAS/SUAS, pois, de uma forma estruturada e abrangente, analisa e reflete sobre os diversos caminhos, improvisações, a velha e a nova cultura na Assistência Social, que, diante da nova política, enfrenta mudanças estruturais e conjunturais, que demandam esforços conjuntos entre gestores, trabalhadores e acadêmicos.

Um ponto que se destaca em relação aos CRAS (CASTRO, 2008) é a variável de que essas unidades nos territórios revelam os valores da política de assistência social. Ou seja, a proximidade dos CRAS com a população e a concretude incorporada enquanto unidade estatal territorializada expressa diretamente a filosofia da política nas bases do processo, para os usuários, famílias e trabalhadores.

Nessa lógica, o que se observa, na maioria dos trabalhos analisados (teses e dissertações), tanto pelo posicionamento de técnicos como por alguns gestores, é a afirmação de que os CRAS são a maior referência da PNAS nos municípios, ou seja, a concretude da Política Nacional é expressa nos municípios pela presença dos CRAS.

Esta questão é importante e merece destaque e atenção, pois, diante de uma política arrojada e complexa, que apresenta uma série de eixos estruturantes, diretrizes, objetivos e serviços, os CRAS, independentemente de suas diferenças no processo de implantação e funcionamento, são o que há de mais “palpável” para os municípios, gestores e técnicos, quando se trata da nova política.

Segundo Raichelis (2010), a Política Nacional de Assistência Social, o SUAS e as NOBs são os novos marcos regulatórios, os novos modos de gestão da área de Assistência Social, que se apresentam como um desafio para o Estado e um desafio de enfrentamento para os municípios, equipes técnicas e demais atores sociais envolvidos no processo.

Desde 2004, está previsto na PNAS, NOB e no SUAS uma série de questões a serem implementadas pelos municípios (Proteção Social Básica, CRAS, Proteção Social Especial de Média Complexidade, CREAS, Proteção Social Especial de Alta

Complexidade, novas bases para a relação entre Estado e sociedade civil, política de recursos humanos, trabalho em rede/intersetorial, descentralização político- administrativa, controle social, monitoramento e avaliação), porém, trata-se de um panorama novo para a área, com muitas questões que contam e dependem de fatores conjunturais e estruturais para sua implementação.

Nesse contexto, a primeira ação que ganha “corpo e materialidade” é a implantação dos CRAS, tanto na ótica da administração e do órgão gestor, como na ótica da população, que usufrui do novo sistema através dos serviços territorializados, que, de forma inovadora ou sob uma diferente roupagem, apresenta a nova Assistência Social.

“O movimento de implementação dos CRAS desencadeia debates e indagações de profissionais, gestores e pesquisadores sobre as formas de implementá-lo, suas possibilidades e desafios” (COUTO, 2010, p. 151 ). Esse movimento, além de inovador, na gestão pública, traz consigo desconhecidos horizontes, que alimentam e motivam as equipes na conquista e construção de caminhos ainda não percorridos.

A existência dos Cras e dos Creas como unidades públicas estatais cria oportunidade inédita de qualificação e articulação de serviços, programas, projetos e benefícios voltados para o atendimento das necessidades sociais e direitos da população nos seus territórios de abrangência. É a presença do Estado nos territórios de moradia da população com direito de acesso a serviços e programas sociais públicos e de qualidade. (RAICHELIS, 2010)

Os CRAS, sob esse enfoque, inovam enquanto instrumento potencial de transformação das relações sociais, que, na maioria dos casos, ainda não se apropriaram dessa função, mas que estão no caminho de constituição dessa lógica. A unidade aproxima a figura tão distante do Estado da população vulnerável e cria canais de comunicação, oportunizando e incentivando maior participação e exercício de cidadania.

“Estudos tem revelado que os usuários se referenciam e reconhecem com mais clareza uma política e seus programas e serviços quando há uma base física para o seu atendimento continuado” (COUTO, 2010, p.153 ). Essa é mais uma característica da

referência do CRAS na PNAS, pois a unidade possibilita e cria para a população um canal de acesso contínuo aos benefícios e serviços.

O CRAS torna-se um referencial para o cotidiano e as necessidades apresentadas pelas famílias usuárias. É uma possibilidade concreta de reconhecer as vivências familiares e comunitárias, suas lutas e problemas, e principalmente a oportunidade da criação e/ou fortalecimento de vínculos familiares, sociais e comunitários.

O fato de os CRAS constituírem-se em uma referência da Assistência Social nos municípios, não deve ocultar que, entre o idealizado e o concretizado, há uma série de lacunas que devem ser trabalhadas e aprimoradas para que a unidade atinja melhores condições de implantação de novas unidades, funcionamento e atendimento, independentemente do histórico de implantação de unidades anteriores.

No encontro de encerramento da capacitação São Paulo Capacita CRAS, realizado em 2010 com municípios do Estado de São Paulo, a professora Raquel Raichelis afirmou: “os CRAS são instrumentos de visibilidade para a Política de Assistência Social, numa área de pouca visibilidade política”.

Ou seja, os CRAS vêm alterando o status da política pública de Assistência Social nos municípios, e essas unidades vêm gradualmente fortalecendo uma nova cultura de Assistência Social e o reconhecimento e a valorização por parte da população e demais atores das administrações públicas municipais. Ressalta-se que esse processo encontra- se em construção e há muito que se avançar.

Nessa capacitação promovida pela Seads, através da Fundação Vanzolini, em 20009/2010, na publicação do volume 2, intitulada O CRAS no Contexto dos Municípios

Paulistas: Panorama e Experiências encontram-se variados indícios apontados pelos

participantes de que os CRAS possuem maior representatividade da PNAS nos municípios.

Essa constatação dá-se por meio dos significados, com maior percentual atribuído ao CRAS pelos técnicos respondentes: “possibilidade de efetivar a Assistência Social como política pública de direitos (94%), possibilidade de trabalhar na direção da

conquista de direitos socioassistenciais (87%), inovação na lógica de organização das provisões da Assistência Social (53%)”.

Quando indagados sobre as mudanças produzidas pelos CRAS nos municípios, 92% afirmam que garantem visibilidade da Política de Assistência Social. Esta é uma questão importante, pois é por meio do trabalho dos CRAS que muitos gestores e prefeitos entendem e valorizam atualmente a área da Assistência Social, como a unidade de atendimento que concretiza a política e promove resultados materializados à população em situação de vulnerabilidade.

Ainda nesse material, nos relatos de experiências, há algumas boas práticas que são apresentadas como possibilidades que o CRAS possui para implementação da gestão e operacionalização da Política de Assistência. São relatadas experiências envolvendo o uso de tecnologias da informação, participação política e coletiva, metodologias de trabalho social, mecanismos de participação e protagonismo, rede socioassistencial e intersetorial, sistemas de monitoramento e avaliação, atuação interdisciplinar.

Portanto, a implantação de CRAS proporciona um leque grande de opções para inovação de ações na área, que atende aos diversos eixos da nova política e contribui para a quebra de padrões e práticas ultrapassadas e não condizentes com a dinâmica realidade social.

Na experiência profissional atual desta pesquisadora como consultora autônoma, encontro na maioria dos municípios a dificuldade em operacionalizar as orientações e diretrizes emanadas do MDS para os CRAS por diversos motivos, desde a capacidade operacional do órgão gestor, passando pelo perfil da equipe técnica até a escassez dos recursos materiais, humanos e financeiros.

A necessidade de adequação da PNAS às realidades locais é uma prerrogativa, na maioria dos casos, porém, é inevitável que essa adequação seja realizada de acordo com os preceitos da PNAS. Esse processo requer preparo técnico, administrativo, gerencial e, principalmente, estratégico dos órgãos gestores e equipes técnicas.

Os serviços previstos na Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009) a serem ofertados e executados pelos CRAS

exigem definições de impacto na gestão local, a partir do trabalho técnico permanente e qualificado, que denote competencia técnica-política. Sendo assim, a gestão do Cras e dos Creas, quanto aos procedimentos, fluxos e estratégias profissionais requer leitura teórica-política crítica da realidade social, com apreensão das tendências que geram demandas, planejamento, execução e avaliação das ações. (SILVEIRA, 2009)

A implantação de CRAS exige da gestão e dos técnicos novas competências, habilidades, atitudes proativas e visão estratégica, que muitas vezes ainda não estão presentes e não foram despertadas e desenvolvidas nos atores sociais. A sociedade, em constante transformação, exige profissionais atualizados, proativos, aptos para novas funções e espaços ocupacionais. O conhecimento e o domínio de informações devem estar presentes no cotidiano do trabalho.

As questões que surgem na dinâmica das equipes e na operacionalização das ações refletem o processo histórico da Assistência Social, a formação dos profissionais e as recentes mudanças na área. Contudo, constatamos um grande empenho, em muitos municípios, em adequar-se à nova política e construir bases sólidas para esse novo momento.

“No que concerne ao SUAS, ampliam-se as possibilidades de acesso, de recursos, de profissionais, de estruturas e espaços de participação” (COUTO, 2010). Ou seja, o sistema oportuniza uma verdadeira “revolução” no contexto da política pública de Assistência Social, pois suas bases, atores, canais de gestão e participação, equipes, meios operacionais foram construídos e vem sendo implementados à luz de um arrojado e complexo referencial teórico e metodológico.

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