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5 A UTILIZAÇÃO DE BIOMASSA PARA A PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS

5.1 DIVERSIDADE DE FONTES PARA PRODUÇÃO DE BIOMASSA E SUA

A princípio cumpre salientar que o Brasil consiste em um território de dimensões continentais, apresentando 8,5 (oito vírgula cinco) milhões de km², e possuindo consequentemente uma grande diversidade natural (diferentes tipos climáticos, solos, vegetações, faunas e relevos), bem como uma imensa diversidade e miscigenação étnica e cultural proveniente dos diferentes processos de ocupação do solo aqui verificados429. E esse diferente padrão sócio espacial do território brasileiro gera essa diferenciação, que quando utilizada da forma adequada pode transformar-se em importante vantagem econômica para o desenvolvimento do país.

A biomassa consiste em qualquer matéria de origem vegetal ou animal capaz de gerar bioenergia que pode ser processada para fornecer formas bioenergéticas mais elaboradas e adequadas para o uso final430. Trata-se, logo, de uma alternativa ao uso dos combustíveis

427 INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Biofuels for transport roadmap. Disponível em:

<http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/Biofuels_foldout.pdf >. Acesso em: 15 de fevereiro de 2013.

428

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília, 1988. Arts. 3º, III e 225.

429 MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. A PNDR em dois tempos: A experiência apreendida e o olhar pós 2010. Brasília: Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional, 2010. p. 7.

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SILVA, Neumara Luci Conceição. Produção de bioetanol de segunda geração a partir de biomassa

residual da indústria de celulose. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de

fósseis que utiliza quase todas as formas de matéria orgânica, especificamente resíduos animais e plantas, como fonte de energia431.

São exemplos de fontes capazes de serem utilizadas para a produção de biomassa, a lenha, os resíduos de serrarias, o carvão vegetal, o biogás resultante da decomposição de lixo orgânico e de outros resíduos agropecuários, bem como os biocombustíveis líquidos, como o etanol e o biodiesel.

E verifica-se um potencial significativo para a modernização do uso dos combustíveis de biomassa na criação de vetores energéticos convenientes e diversificados, tais como eletricidade, gases e combustíveis automotivos, ao mesmo tempo em que são protegidos os usos tradicionais da biomassa432, destacando-se fortemente o caráter de sua ubiquidade em termos de produção em escala mundial.

E nesse contexto da bioenergia, a produção de biocombustíveis líquidos a partir de fontes de biomassa tem sido considerada para atender às necessidades dos transportes automotivos, tendo em vista que para tal fim, além dos biocombustíveis, não existem ainda outras fontes renováveis com avanço tecnológico e viabilidade econômica suficientes nos dias atuais.

Apresenta o país grandes vantagens para tornar-se referência na produção de biomassa mundial, pelo fato de possuir uma das maiores áreas agricultáveis do mundo, com capacidade e disponibilidade de expandir fortemente o cultivo de grãos e oleaginosas, para que essa oferta possa atender simultaneamente à crescente demanda nas áreas de alimentos e biomassa, devendo, para tanto, ser verificada a região de plantio, a tecnologia de produção e a disponibilidade de sementes e mudas necessárias para desenvolver a produção de biocombustíveis em atendimento aos anseios de sustentabilidade da atualidade433.

O Brasil dispõe de uma grande diversidade de espécies vegetais oleagionosas das quais se pode extrair óleos para fins energéticos434. Entre os cultivos com potencial agroenergético em exploração atualmente destacam-se: soja, girassol, dendê, mamona e

431 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; FERREIRA, Renata Marques. Curso de Direito da Energia: tutela jurídica da água, do petróleo, do biocombustível, dos combustíveis nucleares e do vento. 2 ed. São Paulo:

Saraiva, 2010. p. 225.

432 HALL, David O.; HOUSE, Jo I.; SCRASE, Ivan. Visão geral da energia de biomassa. In: BAJAY, Sergio

Valdir; ROSILLO-CALLE, Frank; ROTHMAN, Harry. Uso da biomassa para produção de energia na

indústria brasileira. Campinas: Editora da UNICAMP, 2008. p. 26. 433

ANP. Biodiesel. Disponível em:

<http://www.anp.gov.br/?pg=60468&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1360783959113>. Acesso

em: 10 de janeiro de 2013. 434

VANNI, Silvia Regina. Estudo de viabilidade econômica de fontes alternativas de energia de uma

comunidade típica da região Nordeste do Brasil. Dissertação (mestrado). Instituto de pesquisas energéticas e

canola. Contudo, a lista de plantas com potencia para a produção é superior a cem, das quais no mínimo dez apresentam boa potencialidade para futura exploração em escala comercial435, demonstrando claramente a variedade de espécies que podem ser devidamente utilizadas para fins de produção de biomassa no país.

Assim, dezenas de espécies vegetais presentes no Brasil podem ser usadas como matéria-prima para gerar biomassa para a produção de biocombustíveis, todas passíveis de atender às exigências de qualidade definidas nas especificações técnicas da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis na Resolução da Agência Nacional do Petróleo (ANP) n.º 14, de 11 de maio de 2012, com vistas a assegurar a qualidade do combustível para os usuários, sempre atentos às perspectivas ambientais de cada região do país, adotando-se a cultura mais adequada para cada local436.

Todavia, com exceção da soja e da cana-de-açúcar, as tecnologias comercialmente disponíveis para a produção de biomassa atualmente ainda geram bastantes dúvidas no que diz respeito às suas efetivas vantagens ambientais e ganhos energéticos. Aliado ao fato da baixa vantagem econômica apresentada por grande parte dessas matérias-primas usualmente utilizadas para o setor, que muitas vezes encontram mercados alternativos mais remunerados e atrativos, como o de alimentos ou de geração de insumos para outras finalidades. Assim, apesar das vantagens apresentadas em termos de avanços tecnológicos e possibilidade de produção comercial em grande escala, a cana-de-açúcar não é uma opção viável para todas as regiões do planeta, nem tampouco do Brasil, de modo que vários países vêm procurando incessantemente rotas tecnológicas que permitam a produção de um biocombustível eficiente, tanto do ponto de vista ambiental quanto do ponto de vista econômico437.

Nesse sentido, observa-se uma tendência para o incremento de tecnologias voltadas para o desenvolvimento de processos biotecnológicos que permitam a utilização de biomassas residuais, como palha de milho e de arroz; o bagaço, o vinhoto e a palha da cana- de-açúcar438; e resíduos da indústria de celulose, abundantemente geradas nos setores

435 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Secretaria de Produção e

Agroenergia. Plano Nacional de Agroenergia 2006-2011. 2. ed. rev. Brasília, Embrapa Informação Tecnológica, 2006. p. 50-51.

436 ANP. Biodiesel. Disponível em:

<http://www.anp.gov.br/?pg=60468&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1360783959113>. Acesso

em: 10 de janeiro de 2013. 437

SILVA, Neumara Luci Conceição. Produção de bioetanol de segunda geração a partir de biomassa

residual da indústria de celulose. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: 2010. p. 6.

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A Petrobras Biocombustível tem desenvolvido a tecnologia na produção do etanol de segunda geração, produzido a partir do bagaço de cana, cujo principal diferencial atrativo é permitir uma produção de etanol de mais 40% em uma mesma área de plantio, e as perspectiva indicam que será iniciada a operação de uma unidade

agrícolas e florestais, para a produção de bioetanol439. Na tentativa de solucionar o desafio energético da atualidade, gerando um combustível renovável e proveniente de um processo de reutilização de recursos naturais normalmente inutilizados durante o desenvolvimento dos processos produtivos industriais.

O aperfeiçoamento da geração de energia a partir do uso de produtos derivados contribui fortemente para aumentar a competitividade da indústria, considerando a existência de um grande potencial de energia subutilizado, que caso fosse completamente explorado, especialmente no caso dos sistemas de co-geração supracitados, poderia proporcionar uma renda complementar na venda da energia excedente e aumentar a contribuição da agroindústria na redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa440.

E em decorrência da variedade de matérias-primas existentes para a produção de biomassa no país, tanto de origem animal, quanto vegetal, observa-se a ampla possibilidade de sua inserção efetiva na matriz energética brasileira, em face da possibilidade de adaptação às exigências das características naturais de cada uma das regiões do país, destacando-se especialmente a possibilidade de utilização de biomassa para a produção de biocombustíveis, como será observado nas linhas seguintes.