• Nenhum resultado encontrado

3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SÓCIO REGIONAL À LUZ DA

4.4 NOVOS DESAFIOS PARA O SETOR

4.4.3 Investimentos em novas tecnologias e eficiência energética

A partir da crise energética da década de 70 e da constatação da finitude dos combustíveis fósseis, surge um novo desafio para a humanidade, de buscar fontes renováveis de energia, de preferencia renováveis, até então não utilizadas em larga escala em face da falta de tecnologia apropriada, ou de descobrir meios de manter ou até elevar sua produtividade com menos gasto de energia. Ambas as opções dependem, fundamentalmente, de desenvolvimento tecnológico, e a atitude mais razoável será, certamente trilhar

401 GOMES, Gilson Mauriz. Energia Eólica: em busca da sustentabilidade. Disponível em:

<http://meuartigo.brasilescola.com/fisica/energia-eolica-busca-sustentabilidade.htm>. Acesso em: 21 de janeiro de 2013.

simultaneamente os dois caminhos403, buscando novas fontes e investindo em eficiência energética.

Ressalta-se, pois, a necessidade de tornar as fontes renováveis de energia comercializáveis maciçamente, uma vez que na atualidade, os altos custos apresentados pelas fontes renováveis tornam a sua utilização restrita a uma parcela mais abastada da população, não atendendo aos seus objetivos primordiais, e gerando consequentemente prejuízos ao meio ambiente.

A título exemplificativo destaca-se que grande parte da energia utilizada em uma residência dos países em desenvolvimento destina-se a cozinhar alimentos (cerca de 75%). Nesse caso, juntar lenha é uma tarefa que exige muito trabalho, e a crescente demanda por combustíveis termina por agravar os problemas ambientais, tais como o desmatamento e a desertificação404. Desse modo, em tais países o forno solar poderia ser uma solução bastante viável, capaz de reduzir a degradação de florestas, mas em de face dos elevados custos, dificilmente será aplicável em um futuro próximo na região.

E diante da necessidade de realização de novos investimentos nas fontes renováveis de energia, visando tornar a indústria das renováveis efetivamente competitivas, verifica-se uma tendência mundial para o incentivo ao aumento do uso das energias renováveis. Nesse passo, em documento produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), foi anunciado um aumento em 17% (dezessete por cento) nos investimentos do investimento global em energias renováveis e combustíveis cirando um novo recorde de US$ 257 bilhões de dólares investidos no ano de 2011. Desse montante, as economias em desenvolvimento foram responsáveis por 35% (trinta e cinco por cento), em comparação aos 65% (sessenta e cinco por cento) investidos pelas economias desenvolvidas. Destaca-se que este valor foi seis vezes maior do que aquele projetado no ano de 2004, e 94% (noventa e quatro por cento) maior do que o total observado em 2007, último ano antes da fase aguda da crise financeira mundial405.

Com base nessa perspectiva é interessante destacar que, na contramão da conjuntura observada no Brasil, mundialmente ganhou grande espaço os investimentos realizados na energia solar, que aumentou 52% (cinquenta por cento) atingindo o total de US$ 147 bilhões investidos no ano de 2011, alcançando assim um valor quase duas vezes maior do

403 BRANCO, Samuel Murgel. Energia e Meio Ambiente. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2010. p. 120.

404 WALISIEWICZ, Marek. Energia Alternativa: solar, eólica, hidrelétrica e de biocombustíveis. Tradução

de Elvira Serapicos. São Paulo: Publifolha, 2008. p. 48.

405 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME (UNEP). Global Trends in renewable energy investment 2012. Frankfurt School, 2012. p. 11 e 12.

que os investidos em energia eólica, que totalizaram US$ 84 bilhões, sofrendo uma queda em 12% (doze por cento) nos investimento406.

Deve-se ressaltar que uma das características que prevaleceu no cenário das energias renováveis no ano de 2011 foi a queda nos custos da tecnologia, quando os preços dos módulos fotovoltaicos caiu em cerca de 50% (cinquenta por cento), e os preços de turbinas eólicas em terra reduziram entre 5% (cinco por cento) e 10% (dez por cento). Mudanças responsáveis por aumentar de maneira expressiva a competitividade das duas fontes renováveis de energia supracitadas (eólica e solar) em relação aos combustíveis fósseis, tais como o carvão e o gás407.

Outro ponto que merece destaque foi o enfraquecimento do apoio político concedido para as energias renováveis observado em muitos países desenvolvidos, refletido em pressões políticas especialmente da Europa, e impasses legislativos no Congresso americano. Dificuldade política essa que surgiu ironicamente no momento em que a competitividade das energias renováveis começou a ser uma possibilidade real para os próximos anos, representando uma grande ameaça para o crescimento contínuo dos investimentos no segmento para os anos seguintes408.

Na atualidade a busca pela denominada energia verde tem atraído investimentos em todas as partes do globo, uma vez que está cada vez mais óbvio, tanto para os setores públicos, quando para os investidores privados, que a transição para uma sociedade ambientalmente sustentável, com redução nas emissões de carbono, é tanto um imperativo global quanto uma inevitabilidade409.

De tal forma, são levantados alguns princípios que devem nortear as ações a serem realizados nesse período: investimentos em tecnologias de eficiência energética, considerando que a maneira mais efetiva para reduzir as emissões de CO2 é não gerá-las;

desenvolvimento de tecnologias de energia renovável ou de baixa emissão de carbono, que visa tanto a reduzir às emissões, quanto a impulsionar o desenvolvimento tecnológico e a criação de empregos; e o investimento em tecnologias convencionais ou avançadas de geração de energia, para garantir o abastecimento da população, considerando outras fontes de energia, tais como gás natural, carvão mineral (para a alimentação das termoelétricas), e

406 Em 2010 foi o primeiro ano que a energia solar recebeu maiores investimentos em comparação com as fontes

de energia eólicas, mas foi a primeira vez que essa diferença foi tão significativa. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME (UNEP). Global Trends in renewable energy investment 2012. Frankfurt School, 2012. p. 11.

407 Ibidem, p. 11. 408

Ibidem, p. 24.

409 MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Investimentos nas alternativas. Disponível em:<http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/130>. Acesso em: 21 de janeiro de 2013.

usinas nucleares. Nesse sentido, serão avaliadas as estratégias de mitigação e o planejamento da empresa, para aferir os riscos no aumento da emissão de carbono a partir de novas fontes em um momento no qual o futuro do controle das emissões é hipotético410.

Entretanto, deve-se advertir que em que pese o aumento dos investimentos nas energias renováveis, esses valores são ainda insuficientes para gerar uma redução das emissões capaz de contribuir para a diminuição do aquecimento global. Nesse caso, de acordo como o Fórum Econômico Mundial, são necessários US$ 515 bilhões por ano até 2030 para que se crie uma infraestrutura mundial de energia limpa, caso contrário será impossível impedir que a emissão dos gases de efeito estufa atinja níveis insustentáveis e mortais. Além disso, destaca-se que o investimento em energia limpa é capaz de gerar retorno econômico, fato verificado inclusive durante o período de crise econômica411.

Na perspectiva dos países desenvolvidos, os maiores custos destas tecnologias são devidamente compensados a partir da segurança no suprimento energético e da redução das emissões dos gases do efeito estufa, cujo compromisso formal de redução foi adotado pela maior parte de seus governantes. Destaca-se ainda que referidos investimentos, ao diversificarem a matriz energética, por si só já contribuem positivamente para o aumento da segurança energética. O que ocorre especialmente se for sopesada a dependência que a maior parte destes países tem com a importação de combustíveis fósseis de regiões com grande instabilidade geopolítica. De modo que foram verificadas nos últimos anos sucesso na adoção de políticas de promoção e incentivo às fontes renováveis nos países desenvolvidos412.

O Brasil nesse contexto apresentou um crescimento mais moderado, de 8% (oito por cento) para US$ 7 bilhões, destacando-se que o progresso aqui verificado adveio especialmente da energia eólica, e não do etanol, renovável que apresentava dominância no setor de energia brasileiro na primeira década do século, enfatizando, assim, a grande mudança apresentada na dinâmica do setor nos últimos anos413.

410 MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Investimentos nas alternativas. Disponível em:<http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/130>. Acesso em: 21 de janeiro de 2013.

411

Ibidem.

411 Ibidem.

412 BRANDÃO, Roberto; et al. A Importância das Fontes Alternativas e Renováveis na Evolução da Matriz Elétrica Brasileira. Grupo de Estudos do Setor Elétrico. UFRJ. Disponível em:

<http://www.nuca.ie.ufrj.br/gesel/artigos/GESEL_-_Estudo_Mapfre_-_260809[1].pdf>. Acesso em: 21 de janeiro de 2013. p. 9.

413 Ver o ANEXO VIII do trabalho. Destaca-se que em 2010 foi o primeiro ano que a energia solar recebeu

maiores investimentos em comparação com as fontes de energia eólicas, mas foi a primeira vez que essa diferença foi tão significativa. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME (UNEP). Global Trends

O ANEXO VIII do trabalho ndica que os investimentos na eólica representaram US$ 4,7 bilhões a isso, as pequenas centrais hidrelétricas US$ 947 milhões, os biocombustíveis foram de US$ 939 milhões, e de biomassa e resíduos em energia em US$ 450 milhões. As eólicas apresentaram aumento de 144% (cento e quarenta e quatro por cento) em relação ao ano anterior, as pequenas hidrelétricas aumentaram 3% (três por cento), enquanto que os biocombustíveis reduziram 56% (cinquenta e seis por cento), e a biomassa 61% (sessenta e um por cento). E essa proeminência da energia eólica reflete a percepção por parte dos investidores que, diante das recentes reduções nos preços das turbinas e da abundancia nos recursos naturais oferecidos no Brasil, a energia eólica poderia atingir os menores preços nos leilões de energias aqui realizados414.

Destaca-se que a ANEEL possui papel fundamental para o incremento do setor, ao viabilizar projetos destinados ao desenvolvimento ou aprimoramento de tecnologias ou sistemas de geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis (energia eólica, solar, maremotriz, hidráulica, biomassa, resíduos sólidos e demais fontes renováveis não consagradas). Nesse caso, as aplicações tecnológicas incluem sistemas fotovoltaicos, geração térmica solar, turbinas eólicas e sistemas de conversão de biomassa em energia elétrica, incluindo, neste último caso, o processamento de matéria-prima, de resíduos e lixo, dentre outros. Tratam-se, portanto, de atividades destinadas a criação de novas tecnologias ou métodos para melhorar o desempenho técnico e a viabilidade econômica de fontes renováveis415.

A principal barreira enfrentada pela tecnologia de geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis ou não-convencionais é sua possibilidade de inserção competitiva em um mercado aberto. Existe, portanto, a necessidade das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) do setor buscar custos mais competitivos para essas tecnologias. O que vem ocorrendo justamente em parceria com universidades e centros de pesquisa de fontes renováveis, ao realizar alguns projetos de suprimento de energia e levantamento de fontes e potenciais de geração de energia elétrica416. Dentre os quais é possível ressaltar: projeto de referência em comunidades isoladas da Região Amazônica; sistema híbrido eólico-diesel em Fernando de Noronha; sistema híbrido fotovoltaico-diesel em comunidade isolada na região Norte; avaliação da eletrificação com energia solar fotovoltaica de comunidades isoladas na

414 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME (UNEP). Global Trends in renewable energy investment 2012. Frankfurt School, 2012. p. 11.

415

ANEEL. Fontes alternativas de geração de energia elétrica. Disponível em:

<http://www.aneel.gov.br/visualizar_texto.cfm?idtxt=1599> .Acesso em: 21 de janeiro de 2013.

região do Alto Solimões; monitoramento e criação de modelos para implementação de geração de eletricidade em comunidades Amazônicas a partir de óleos vegetais417.

É bom ressaltar ainda que o investimento financeiro maciço nas pesquisas sobre novas tecnologias energéticas não se tratam da única alternativa para satisfazer a demanda energética futura. A partir do uso consciente e da reavaliação de toda a cadeia do uso da energia seria possível fazer econômicas significativas nos atuais índices de energia consumidos. Sob essa perspectiva, verifica-se que a conservação energética permite meios tangíveis e imediatos de reduzir os efeitos negativos do uso de combustíveis fósseis, a partir de adaptações feitas em nosso estilo de vida, sem perder de mente que o aumento da eficiência energética não significa necessariamente impedir o crescimento econômico. Repensar inovações na arquitetura e no transporte da energia, bem como nos projetos das usinas e nos equipamentos elétricos estaria economizando energia e compensando a demanda crescente por combustíveis fósseis418.

E por isso grande número de pesquisas tem sido direcionadas visando desenvolver técnicas e materiais que permitam obter maior rendimento nas aplicações de energia, isto é, possuem o escopo de obter o mesmo resultado prático com menor consumo energético419.

E para reforçar a prática do uso eficiente da energia, foi criado no ano de 1992 o Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), organização não governamental sem fins lucrativos, sediada no Rio de Janeiro, que tem por objetivo promover a transformação e o uso final eficiente de todas as formas de energia. Além desta, outra entidade, a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), entidade civil, sem fins lucrativos, que representa oficialmente o segmento de eficiência energética brasileiro, fomenta e promove, desde o ano de 1997, ações e projetos para o crescimento do mercado de eficiência energética420.

A Lei n.º 9.991, de 24 de julho de 2000, dispõe sobre a realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica, quando se fixou que as referidas empresas deveriam atuar nos serviços de distribuição de energia elétrica ficam obrigadas a aplicar, anualmente, o montante de, no mínimo, setenta e cinco

417 ANEEL. Fontes alternativas de geração de energia elétrica. Disponível em:

<http://www.aneel.gov.br/visualizar_texto.cfm?idtxt=1599> .Acesso em: 21 de janeiro de 2013.

418

WALISIEWICZ, Marek. Energia Alternativa: solar, eólica, hidrelétrica e de biocombustíveis. Tradução de Elvira Serapicos. São Paulo: Publifolha, 2008. p. 28-29.

419 BRANCO, Samuel Murgel. Energia e Meio Ambiente. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2010. p. 130. 420

CUNHA, Lívia. Gerenciamento de energia no Brasil. Disponível em:

<http://www.osetoreletrico.com.br/web/component/content/article/57-artigos-e-materias/393-gerenciamento-de- energia-no-brasil.html>. Acesso em: 28 de dezembro de 2012.

centésimos por cento de sua receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico e, no mínimo, vinte e cinco centésimos por cento em programas de eficiência energética no uso final421.

421

A referida Lei foi posteriormente regulamentada pelos Decretos n.º 3.867, de 16 de julho de 2001; n.º 5.879, de 22 de agosto de 2006; e n.º 7.204, de 8 de junho de 2010. BRASIL. Lei n.º 9.991, de 24 de julho de 2000. Brasília, 2000. Art. 1º.