• Nenhum resultado encontrado

2 PRODUÇÃO ENERGÉTICA E FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA NO

2.3 FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA

Os recursos naturais podem ser renováveis ou não renováveis. Os recursos naturais renováveis incluem o sol, o solo, as plantas e a vida animal, uma vez que todos se perpetuam naturalmente. Já os recursos naturais não renováveis são aqueles que não se perpetuam, na medida em que quando usados continuamente poderão se exaurir algum dia, como os minerais e os combustíveis fósseis46.

A princípio, deve-se advertir que existem diferenças entre os termos “energia alternativa” e “energia renovável”. A energia alternativa, em termos gerais, consiste em toda e qualquer fonte energética que pode ser adotada como uma substituta de uma fonte convencional. De modo que fontes alternativas não são necessariamente renováveis, tendo em vista que uma energia, para ser considerada renovável, precisa ter origem em fontes naturais que tenham a capacidade de regeneração a curto e médio prazo.

44

MAGALHÃES, Frederico; MELO, Murilo Fiuza de. Nova Matriz Energética no Brasil. Fontes

Alternativas de Energia - combustíveis renováveis e gás natural. Rio de Janeiro: TN Petróleo, 2007. p. 10. 45 Ibidem, p. 13-14.

46

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; FERREIRA, Renata Marques. Curso de Direito da Energia: tutela

jurídica da água, do petróleo, do biocombustível, dos combustíveis nucleares e do vento. 2 ed. São Paulo:

Nesse caso, afirma-se que as fontes de energias não renováveis são aquelas que advêm de recursos extraídos da natureza e que correm o risco de esgotar-se com a sua utilização de maneira mais rápida do que o tempo exigido para a sua formação, como é o caso dos combustíveis fósseis, por exemplo. As fontes de energia renováveis, por outro lado, dividem-se nas permanentemente disponíveis (como o sol, os rios, os mares, e os ventos) e nas que requerem a adoção de tecnologia humana para o homem decidir sobre a utilização da energia de acordo com as suas respectivas necessidades (como a biomassa)47.

Verifica-se uma tendência mundial em buscar-se o desenvolvimento de tecnologias para a promoção das energias renováveis que substituam eficazmente os combustíveis fósseis, especialmente diante dos constantes aumentos do preço do petróleo, em nível mundial, e do desentendimento entre o Brasil e a Bolívia acerca do gás natural, em nível nacional48.

E por isso o Brasil apresenta as condições naturais essenciais para possibilitar o desenvolvimento das fontes renováveis de energias renováveis, como é o caso da energia solar, eólica, hidrelétrica e biomassa49. Apesar de, na prática, ser observado que os esforços pelo desenvolvimento dessas novas tecnologias ainda não terem avançado de forma mais significativa no país.

No mesmo sentido, Ignacy Sachs corrobora o entendimento das significativas vantagens competitivas apresentadas pelo país, ao afirmar que o Brasil é capaz de sair da civilização do Petróleo em um período de vinte a trinta anos, em face dos aspectos favoráveis que possui: maior reserva de biodiversidade; significativa reserva de terras cultiváveis; boa disponibilidade de recursos hídricos na maior parte dos territórios; pesquisas agronômicas e biológicas de nível internacional; e ainda uma indústria avançada na produção de etanol e biodiesel50.

De acordo com os dados contidos no documento “Tendências mundiais dos investimentos em energia sustentável de 2009”, divulgado pelo Programa das Nações Unidas

47 GUADAGNINI, Marco Antônio. Fontes Alternativas de Energia. Trabalho de Conclusão de Curso da Pós

Graduação Executiva em Meio Ambiente. UFRJ, 2005. p. 4.

48 Destaca-se ainda nesse ponto a grande instabilidade institucional da Bolívia na questão do gás natural. Nesse

sentido: HAGE, José Alexandre Altahyde. Breves notas sobre a guerra do Gás na Bolívia. Laboratório de Estudos Contemporâneo. Revista Eletrônica. UERJ. Disponível em:

<http://www.polemica.uerj.br/pol25/artigos/contemp_3.pdf>. Acesso em: 28 de Agosto de 2010.

49

De acordo com pesquisa do Laboratório de Engenharia de Processos e Tecnologia de Energia (Lepten), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é o Brasil é o único país com as condições naturais necessárias para o desenvolvimento de alternativas renováveis, como as energias solar, eólica e a biomassa. GUADAGNINI, Marco Antônio. Fontes Alternativas de Energia. Trabalho de Conclusão de Curso da Pós Graduação Executiva em Meio Ambiente. UFRJ, 2005. p. 9.

50 REVISTA DESAFIO SUSTENTÁVEL. Entrevista com Ignacy Sachs. Biomassa é oportunidade sustentável para Brasil liderar saída da civilização do Petróleo. vol. 1. nº1. Set. de 2009.

para o Meio Ambiente (PNUMA), o ano de 2008 foi o primeiro em que houve maiores investimentos em fontes energéticas renováveis em detrimento da energia nuclear e da que exige alto uso de carvão, momento no qual foram desembolsados aproximadamente US$ 155 bilhões de dólares em empresas e projetos de energias limpas, especialmente na eólica e solar51.

Entretanto, com o advento da atual crise econômica mundial52, muitos dos investimentos em projetos energéticos e em novas tecnologias sofreram adiamento em decorrência da incerteza nos mercados financeiros e da subsequente redução da demanda. De tal modo, em conformidade com o conjuntura prevista pela Agência Internacional de Energia (AIE), os investimentos em energias fósseis podem cair 21% (vinte e um por cento) este ano, aqueles direcionados às energias renováveis podem ser reduzidos em 38% (trinta e oito por cento)53.

Nesse cenário, diversos países vêm direcionando esforços e investimentos nas fontes renováveis de energia. Todavia, o Brasil, apesar de possuir altos índices de energia produzida a partir de fontes renováveis (45%), parece seguir uma estratégia de desenvolvimento contraditória no que diz respeito à questão energética, como é o caso do incentivo à ampliação de termelétricas, dos elevados investimentos desembolsados para a exploração de petróleo, com o advento da descoberta da Camada Pré-sal, bem como o incentivo à agroindústria em face da produção de biocombustíveis. Ato contínuo, o Plano Decenal de Energia apresentado pelo governo brasileiro é fortemente criticado, sobretudo pelo fato de a energia solar não ser nem mesmo citada para o planejamento do país para os

51 MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Energias renováveis: uma corrida pelo clima. Disponível em:

<http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/1127?page=0,0>. Acesso em: 20 de dezembro de 2012.

52

Desde o ano 2008, o mundo desenvolvido vem sofrendo as consequências de uma crise financeira iniciada nos Estados Unidos e que rapidamente se espalhou pelas economias europeias e, em menor medida, pelas economias emergentes, agora globalizadas. Nos Estados Unidos e em vários países da zona do euro, porém, a crise financeira se converteu em crise fiscal e, nessa qualidade, vem consumindo empregos, escolas, clínicas, proteção social, além de aumentar a pobreza e a desigualdade e gerar insegurança. Nesse cenário, os reflexos, mesmo que de forma mais modesta, já se fazem sentir nas economias periféricas. (KERSTENETZKY, Celia Lessa. A crise

econômica internacional e o Brasil. nº 289. Revista Ciência Hoje: janeiro/fevereiro de 2012. p. 23). Destaca-se

que a principal causa da atual crise econômica internacional é a ruptura do sistema de financiamento de imóveis nos Estados Unidos ocorrida entre os anos 2007 e 2008, quando houve uma ampla oferta de financiamento para a compra de imóveis, e a subsequente onda de inadimplência ocasionou a queda dos preços dos imóveis e a quebra de parte do sistema financeiro da maior economia do mundo entre os anos 2008 e 2009 (GONÇALVES, Reinaldo. A crise econômica internacional e o Brasil. nº 289. Revista Ciência Hoje: janeiro/fevereiro de 2012. p. 25 e 26).

53 MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Aposta em energias limpas já é realidade. Disponível em:

próximos anos, quando se afirma a falta a visão estratégica dos órgãos responsáveis pela condução da política energética do país54.

Adverte-se que o fato de o Brasil ter praticamente atingido a autossuficiência em petróleo e das perspectivas futuras do aumento da produção, especialmente após a descoberta da camada Pré-sal, não deve em nenhuma hipótese significar um retrocesso ao desenvolvimento das pesquisas de substituição dos combustíveis fósseis, tanto diante da possibilidade desse petróleo passar a ser uma commodity que pode ser vendida nos mercados mundiais enquanto a Matriz energética não é substituída totalmente, quanto em face dos benefícios socioambientais que tal atitude ensejaria55.

Dessa forma, deve ser ressaltada a possibilidade efetiva da inserção das fontes renováveis de energia na matriz energética brasileira diante da perspectiva natural bastante favorável do país, devendo, no entanto, serem ressaltados os impactos socioambientais ocasionados, conforme será observado no tópico seguinte.

2.4 IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DA ADOÇÃO DE FONTES RENOVÁVEIS DE