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GREENRAY — TAPEÇERIA LASER

DO PROTÓTIPO AO TAMANHO REAL

Outro dos grandes constrangimentos - encarado como desafio - na implementação desta obra foi a am- pliação do protótipo de pequena escala, para a instalação da obra em tamanho real. Em laboratório o protótipo foi construído inicialmente, utilizando um laser verde classe IIIb de 532 nm e 150 mW. Apesar de ser uma classe de laser que já pode causar lesões oculares se apontado directamente para os olhos, considerou-se que este risco seria minimizado ao colocar o feixe de laser na horizontal, a 10 cm do chão. Com dois espelhos de 42 x 5 cm colocados paralelamente, frente a frente a uma distância de 21 cm entre si, fazendo incidir o laser num dos espelhos segundo um ângulo de 80º, o fenómeno de reflexão múltipla foi eficiente, sendo que, as 12 primeiras reflexões do feixe tinham visibilidade e brilho suficientes para o resultado estético que se pretendia. Contudo, a ampliação da instalação para tamanho real, com uma área mais de 2000 vezes maior do que a área no protótipo11, levantou novo desafio: a distância a percorrer

por cada feixe de laser, entre cada reflexão era cerca de 50 vezes maior. Esta maior distância a percorrer pelos feixes laser associada aos factos de que a 'neblina'12 reduz a profundidade de penetração do laser13

e que o brilho do feixe de laser é consideravelmente reduzido após cada reflexão (apesar de se terem con- siderado espelhos planos de baixa absorção), levou a um dos grandes desafios técnicos deste projecto: a escolha e montagem dos módulos laser.

Constatou-se uma necessidade de balancear constrangimentos. A 'neblina' era necessária para a boa visibilidade do laser mas, simultaneamente reduz a sua potência ao longo do trajecto do feixe. Utilizando projectores laser mais potentes aumenta-se a distância percorrida e visibilidade do laser na 'neblina' mas também se aumentam os riscos para os utilizadores. A montagem de GreenRay resulta do balanço equi- librado entre a visibilidade e potência estética da obra com os limites da segurança dos utilizadores e a legalidade. Após observação e investigação sobre montagens típicas de laser ao ar livre, constatou-se que a potência mínima necessária para a concretização de GreenRay seriam 5 W, classe IV14, o que levou a

instalação dos lasers para um nível logístico totalmente imprevisto, no que diz respeito à segurança, à lei e ao custo.

Atendendo a que a obra GreenRay consistia na interacção da audiência com a tapeçaria de laser, mais concretamente, na interrupção dos feixes de laser pela audiência, e dada a data em que seria apresentada a instalação (Setembro 2009), final de verão, em que muitas pessoas andam por exemplo de calções ou mini saias com a pele das pernas descobertas, por questões de segurança15, optou-se por um configura-

ção óptica que permitisse reduzir a potência dos feixes de laser. A solução passou por dividir cada feixe em feixes de menor intensidade. Esta solução teve uma dupla funcionalidade: simultaneamente dividiu e multiplicou cada feixe.

11 O protótipo com 0.42 x 0.21 metros ocupa uma área de 0.0882 m2 a instalação real com 20 x 10 m ocupa uma área de

200 m2.

12 No caso concreto da Instalação GreenRay, a neblina seria a humidade natural mas na ausência desta, utilizou-se neblina

artificial produzida por uma máquina de haze.

13 ‘[...]high surface waves and heavy fog decreases the depth penetration of the lasers.’ (Stolt & Rebenhorst, 2011).

14 A classe IV é a categoria mais alta e mais perigosa de lasers. Lasers desta categoria podem causar queimaduras na pele e

danos irreversíveis nos olhos.

15 Os laser utilizados na tapeçaria de luz greenray têm 5W pelo que a sua utilização implica autorizações legais especiais de

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Utilizando um dispositivo óptico denominado gratting beam spliter16 ou divisor de feixe, cada feixe foi divi-

dido em 14 feixes, ou seja multiplicou-se o número de feixes visíveis e dividiu-se a potência de cada laser antes deste incidir nos utilizadores ou nos espelhos. Sem se considerar a quantidade de luz absorvida pelo próprio divisor, cada um dos 14 feixes resultantes da divisão tinha um máximo de 355 mW. Desta forma, apesar de ainda ser uma potência de laser muito perigosa para os olhos, cada um dos feixes visíveis na instalação já não poderia provocar danos na pele dos utilizadores. A nível prático, a opção de utilizar lasers mais potentes revelou-se muito funcional e vantajosa pois para a montagem da obra só foi necessário alinhar 8 dispositivos laser de 5W em vez dos 30 módulos de 20 mW inicialmente previstos. Contudo, a nível logístico, a utilização destes laser topo de gama levantou mais uma série de desafios. Em primeiro lugar, em Portugal, é interdito o uso por particulares de dispositivos laser com mais de 5mW de potência17

e os Laser utilizados em GreenRay são 1000 vezes mais potentes, pelo que foi necessário contratar uma empresa especializada e autorizada a operar este tipo de laser. Em segundo lugar, em GreenRay os feixes de laser também incidem sobre o corpo - pernas - dos utilizadores, esta técnica é denominada nos meios profissionais da especialidade como Audience Scanning sendo proibida em alguns países como Estados Unidos ou Suécia18. Porque a lei Portuguesa é omissa em ralação à projecção de laser sobre pessoas para

fins recreativos, considerou-se não existir ilegalidade. Após uma pesquisa a companhias que pudessem alugar e operar com segurança o tipo de laser necessário à materialização de GreenRay, optou-se por uma empresa Belga pois em toda a península ibérica não existia qualquer companhia que possuísse os recursos técnicos e humanos que garantissem o sucesso e a segurança da instalação. Na apresentação da obra Greenray foram utilizados 8 módulos laser de 5W divididos em 14 feixes cada, resultando em 112 feixes visíveis antes da reflexão múltipla nos espelhos.

CONCLUSÃO

Na noite em que foi apresentada, a obra GreenRay, foi experienciada por cerca de 1400 pessoas. Além disso, a documentação audiovisual sobre a mesma foi também vista por vários milhares de pessoas. Esta documentação foi seleccionada por curadores de importantes publicações sobre iluminação e arquitectu- ra, das quais se destacam a revista enlighter19, onde a obra GreenRay é apresentada a par de obras de

autores como Zaha Hadid ou United Visual Artists; e o blog do Media Architecture Institute20.

A obra despertou também o interesse de Vivian van Gaal, administradora da programação artística do festival STRP21 que oficialmente dirigiu um convite para que a obra fosse instalada como portal da edição

de 2010 deste festival. Por limitações logísticas e financeiras este convite não pode ser aceite. Conforme descrito, parte desta obra constitui-se de uma abordagem escultórica/arquitectónica construída com fei- xes de laser e espelhos. Apesar de se poder tratar de mera coincidência, e apesar de não ser a primeira obra de arte a utilizar laser ou espelhos, constatou-se que, posteriormente à publicação da documentação sobre GreenRay, em Outubro de 2009, surgiram outras obras de relevo no panorama internacional, que utilizam precisamente a mesma abordagem: objectos escultóricos construídos com feixes laser e espe- lhos. Destas obras destacam-se a partir de 2010 os projectos do colectivo GNI22 e em 2010 o projecto

Speed of light do colectivo UVA23. Contudo, a inclusão da audiência na modelação da obra em GreenRay

confere-lhe uma qualidade distinta: a obra que passa de objecto a sujeito provocador, actuando sobre a audiência, levando-a a praticar acções que nunca praticariam sem as obras.

16 Informação técnica sobre divisão de feixe laser pode ser consultada em: http://www.optometrics.com/Products/products_

beam_splitters.html#Transmission%20Grating%20Beamsplitters

17 O Decreto-Lei n.º 163/2002 estabelece como potência máxima de laser para comercialização e/ou uso particular os 5mW. 18 A consulta de um artigo de Benner (2001) sobre segurança com laser projectado sobre a audiência foi fundamental para

compreender a exequibilidade da obra GreenRay.

19 http://www.enlightermagazine.com/projects/greenray-lux-fragil 20 http://www.mediaarchitecture.org/green-ray-lisabon/

21 http://strp.nl/nl/

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