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INTRODUÇÃO || INTRODUCTION

Reunindo intervenções artísticas concebidas como singularidades ou conjuntos patrimoniais, quer do pa- trimónio cultural, quer do património natural ou paisagístico, nesta secção foram apresentadas reflexões teóricas e estudos de casos, agregando contributos nacionais e internacionais. Assim, foi realçada a ne- cessidade de preservar o registo artístico-cultural do efémero. Ou discutido o destino e as vicissitudes de um equipamento urbano – a resiliência de um chafariz de taças na cidade do Porto. Ou estudadas as circunstâncias de criação de dois monumentos de João Cutileiro. Ou analisada a passagem de convento a museu e como essa passagem implica articular o património arquitetónico, artístico e histórico com o religioso. Ou o papel do conservador das práticas artísticas que se produzem em plataformas online como o YouTube. Ou a preservação do património musical e a gestão dos arquivos musicais privados. Ou os problemas da conservação e restauro de obras criadas com toner seco. Ou a avaliação de risco de duas obras de arte pública, no âmbito da conservação preventiva. Ou as técnicas inovadoras de trabalho com vidro com potencial de aplicação à arte pública. Ou o azulejo e a regeneração urbana em Portugal, a partir do caso da Expo’98.

As problemáticas abordadas incidiram sobre a questão do alargamento do conceito e do espectro tempo- ral em que se enquadram os bens culturais. Ou sobre o lugar destes monumentos no discurso histórico- crítico sobre um escultor. Ou sobre a validação de processos de classificação do património assentes em critérios administrativos e de reconhecimento externos às propriedades dos bens em causa. Ou sobre as tensões entre o espaço de clausura comunitária e o espaço de uso público que um museu configura. Ou sobre as estratégias de preservação das obras da web, como o armazenamento e a recompilação do do- mínio e sua salvaguarda numa segunda web interativa. Ou sobre compositores que não possuem meios e/ ou conhecimento técnico para preservar os seus próprios registos digitais, perdendo documentos devido à obsolescência e degradação dos suportes físicos. Ou sobre a existência de escassos estudos acerca dos problemas de conservação mais característicos das impressões xerográficas. Ou sobre a constatação de que de todos os fatores que influenciam a deterioração da Arte Pública (e também da Escultura), aquele que tem maior impacto é a conduta do ser humano. Ou sobre as relações entre o vidro, a arte e a ciência e as novas aplicações à arte pública. Ou sobre um contexto de produção azulejar em que as intervenções procuraram enquadrar o tema ou colorir a cidade, embora esses aspetos se afastem da definição de arte pública.

Expõem-se em seguida algumas das teses que nesta área foram propostas e desenvolvidas:

• A perduração do efémero como signo de identidade e marca de um processo de patrimonialização. • O chafariz como elemento organizador do espaço urbano, elemento da comunidade que o ergueu e que nele celebra uma ideia tão antiga como a da própria cidade ocidental.

• A leitura do monumento público dominada pelas circunstâncias políticas do momento que não permitem uma interpretação mais rica e complexa.

• As classificações, validações e reconhecimentos administrativos comportam riscos e podem tornar-se caricaturais por desrespeitarem a premissa de representação identitária.

• A necessidade de inscrever a cultura cristã, a narrativa e a prática religiosas, no quadro do debate mu- seológico.

• A Emulação como forma de reproduzir obras noutros dispositivos; Migração como atualização periódica do formato; Reinterpretação que acontece de obra cada vez que torne a ser exposta; Recriação como o refazer uma obra “idêntica” ao original.

• A impossibilidade de o programador informático configurar, em novas versões de programação, os mes- mos efeitos visuais que originalmente havia concebido.

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• A necessidade de desenvolver mais pesquisas e melhores protocolos de ação para que os traços da história da arte digital não sejam perdidos.

• As metodologias de conservação empregues em espaços interiores não se adequam como ferramentas de diagnóstico à conservação preventiva da arte e da escultura públicas, devendo ser substituídas pelas metodologias da conservação preventiva para sítios arqueológicos.

• O azulejo assume nas últimas décadas, um papel importante na regeneração urbana, constituindo-se como suporte ideal para integrar projectos de arte pública, no contexto português.

E alguns dos contributos originais/pessoais apresentados:

• A perduração do efémero como ponto de partida para uma revisão da teoria do património cultural. • Leitura histórica e crítica de um elemento de mobiliário urbano à luz das alterações do espaço público. • Considerar o enquadramento do azulejo após, antes e depois do programa de arte pública e regeneração urbana da Expo’98.

• Alerta para a necessidade de revisão do trabalho do escultor e o abandono de alguns preconceitos his- toriográficos.

• Implementação de um projecto de investigação de dimensão performativa, intitulado Museu do Falso em redor do conceito de “paisagem mental patrimonial”.

• Fundamentação teórica dos projectos museológicos.

• Lançamento de alertas: i) aos compositores para a necessária adaptação das suas práticas arquivísticas e documentais à realidade da preservação do seu legado artístico, que é também o nosso património cul- tural; ii) aos musicólogos, intérpretes, arquivistas e conservadores, os quais são convocados a colaborar neste processo.

• O alerta para o risco de não sobreviverem impressões de toner seco.

• Aplicação de avaliação de riscos em estratégias de conservação de obras de arte pública. • Apresentação de duas técnicas de produção de vidro passíveis de utilização na arte pública.

José Guilherme Abreu Laura Castro

(Editores)

INTRODUCTION

In this section are brought together reflections and case studies from national and international sources focussing on artistic interventions that were designed, either in isolation or as part of a set, to explore pat- rimony whether cultural, natural or of the landscape. Thus the necessity of preserving the artistic cultural record of the ephemeral was underlined. The fate and the vicissitudes of a piece of urban equipment was discussed - the resilience of a fountain in the city of Porto. The circumstances surrounding the creation of two monuments by João Cutileiro were studied. The conversion of a convent into a museum and what that conversion implies for architectural, artistic, historic and religious patrimony was analysed. The role of the curator of artistic practices in online platforms such as YouTube was discussed. The conservation of musical patrimony and the management of private music archives was explored. The problems in preserv- ing and restoring works created with dry toner were investigated. A risk analysis was carried out on two works of public art in the context of preventive conservation. Innovative working practices with glass with the potential of being applied to public art were looked into. Tiles and urban regeneration in Portugal, taking Expo’98 as a case study, were discussed.

The issues tackled here focussed on the question of broadening the concept and the temporal range in which cultural assets are framed. There is a discussion of the place of these monuments in the histori- cal-critical discourse about a sculptor. The validity of classification processes of patrimony rooted in admin- istrative criteria and recognition that is external to the properties of the assets in question was investigated. The tensions between the community enclosure and the space of public use that the museum embodies were explored. Preservation strategies for online works, such as their archiving and the rebuilding of the domain and its safekeeping in a second interactive website were debated. The issue of creators, who did not possess either the means or the know-how to preserve their own digital works, losing documentation due to obsolescence or the degradation of physical media was examined. The existence of few case studies

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regarding the most characteristic issues surrounding the preservation of xerographic prints was acknowl- edged. The observation was made that of all the factors that have influenced the deterioration of Public Art (including Sculpture) the most determinant factor has been human behaviour. The relationships between glass, art, science, new applications and public art were examined. A context of tile production in which the interventions aimed to frame the topic or colour the city, while at the same time refusing to be categorised as public art, was presented.

Some of the theories that were suggested and developed in this area are mentioned below:

• The continuance of the ephemeral as an identifying sign and characteristic of a process of heritage desig- nation.

• The fountain as an organising element in the urban space, an element of the community in which it was raised and that celebrates an idea as old as the western notion of the city itself.

• The reading of public monuments dominated by prevalent political circumstances that does not allow a richer and more complex interpretation.

• Administrative classifications, validations and recognitions run the risk of turning into caricatures through the act of disrespecting the premise of identity representation.

• The necessity of inscribing the Christian culture, narrative and religious practices into the museological debate.

• Emulation as a way of reproducing works via other mechanisms; Migration as a periodic updating of for- mat; Reinterpretation as what happens every time a work is re-exhibited; Recreation as a way of remaking a work “identical” to the original.

• The impossibility of a computer programmer configuring, in new versions of a programme, the same visual effects that were originally conceived.

• The necessity of developing better studies and improved action protocols in order to not lose the historical roots of digital art.

• Conservation methods deployed in interior spaces are not adequate as diagnostic tools for the preven- tive conservation of public art and sculptures, and should be replaced by conservation methods used at archaeological sites.

• In recent decades tiles have taken on an important role in urban regeneration efforts and have become the ideal media through which public art projects can be integrated, in the Portuguese context.

Some of the original/personal contributions that were presented:

• The continuance of the ephemeral as a jumping off point for a revision of cultural heritage theory.

• Historical and critical readings of an element of urban furniture in the light of alterations in the public space.

• A consideration of the context of tiles before and after the program of public art and urban regeneration of Expo’98.

• A warning of the necessity to review the work of the sculptor and abandon some historical preconceptions. • The implementation of a research project of a performative nature, entitled Museum of the False, around the concept of “mental landscape heritage”.

• The theoretical foundations of museological projects.

• Alarm call: i) to warn creators of the necessity to adapt their archiving and documenting practices for the purpose of preserving their artistic legacy, which is in turn our cultural heritage; ii) to all musicologists, performers, archivists and curators, who are also invited to collaborate in this process.

• A warning of the risk that prints made with dry toner may not last.

• The application of risk evaluation in conservation strategies for works of public art. • The presentation of two techniques of glass production subject to use in public art.

José Guilherme Abreu Laura Castro

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