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DO CINEMA EXPANDIDO AO ESPAÇO AUMENTADO NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA UM CASO DE ESTUDO NO ESPAÇO URBANO

ESPAÇO AUMENTADO

“o conceito de Espaço Aumentado deriva do termo Realidade Aumentada (RA) Este conceito foi desenvolvi- do nos anos noventa do século vinte, opondo-se à ideia de Realidade Virtual (RV). A RA caracteriza-se pela experiência do utilizador em relação a objetos reais no espaço atual, ou seja, por uma relação direta entre o ambiente físico em que nos encontramos, com a adição de informação virtual. Em oposição, RV não contempla o espaço físico na relação entre utilizador e experiência, limitando a interação a uma interface digital.” (Manovich 2005, 224)

Podemos caracterizar o Espaço Aumentado como uma realidade convergente, que estabelece uma rela- ção entre o virtual e o mundo físico. É na junção destes dois mundos que surgem questões relacionadas com o espaço e o tempo que Manovich considera como um problema de arquitetura, ou seja, o espaço físico contém mais dimensões do que antes (2005).

Neste contexto, em The Poetics of Augmented Space, Manovich defende a evolução deste conceito a par- tir da ideia da própria história das artes, ou seja, no sentido da evolução da própria galeria, passando de uma dimensão apenas bidimensional, na mostra de pinturas, para uma utilização tridimensional do espaço da galeria, em que o espectador se encontra dentro de uma experiência dinâmica interativa e o “espaço físico é envolvido por uma modelação dinâmica de informação” (2005, 220).

Desta forma assistimos a uma mudança naquilo que são as práticas espaciais contemporâneas; “as ca- madas de informação dinâmica e contextual sobre o espaço físico, são um caso particular de um paradig- ma estético: Como relacionar dois espaços diferentes.” (Manovich, 2005, 226)

Também autores como Oliver Bimber e Ramesh Raskar, propõem hipóteses para a definição de Espaço Aumentado, referindo-se ao conceito como Espaço de Realidade Aumentada, ou seja, potenciando o uso de técnicas de projeção no espaço físico através de várias formas de usar a luz (vídeo projeção, laser, etc.). Consideram ainda estas técnicas fundamentais para alcançarmos a experiência de Espaço Aumentado através de uma maior imersão e interação na experiência artística.

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Os novos paradigmas de exposição tiram partido de elementos óticos alinhados espacialmente, tais como, lentes, ecrãs transparentes ou hologramas, assim como projetores de vídeo. (Bimber & Raskar, 2005) Assim, o projeto que descreveremos de seguida, tenta estabelecer um diálogo entre os casos e conceitos de estudo, com a nossa prática artística, de forma a conseguirmos ter um melhor entendimento através da prática.

PROJETO

Partindo da relação entre os conceitos-chave e as obras aqui apresentadas, pudemos obter o conheci- mento necessário para a conceptualização e implementação deste projeto, com o objetivo principal de criar uma performance audiovisual que potenciasse a participação e a imersão do público, e que corres- pondesse às expectativas do cliente.

Este projeto decorre no seguimento de uma proposta feita pela Porto Lazer para as festividades de São João, que decorrem durante o mês de Junho na cidade do Porto. O projeto tinha como principal objetivo a criação de uma instalação audiovisual na praça Humberto Delgado, em frente à Câmara Municipal do Porto, que decorreu durante 10 dias. No primeiro encontro com os responsáveis, foi feito um briefing, em que nos transmitiram a preocupação de criar um espetáculo imersivo, em que as pessoas pudessem participar de forma ativa e não apenas contemplativa.

Figura 15 - Esquema do projecto.

Outra das preocupações tinha a ver com o facto de esta praça, como tantas outras servirem apenas de lugar de passagem, e não de uma possibilidade para juntar as pessoas. A praça pública, na sua origem, servia de ponto de encontro onde se discutiam os assuntos da atualidade. Hoje, cada vez mais, assistimos a uma desvinculação das pessoas em relação aos ambientes físicos, em detrimento de uma experiência cada vez mais mediada pelos ecrãs dos nossos dispositivos móveis pessoais. Desta forma pensamos nos telefones pessoais como a plataforma ideal para transformar cada pessoa do público numa coluna atra- vés do som, que podia ser descarregado através de uma aplicação.

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Figura 16 - Esquema de funcionamento.

Depois de uma pesquisa exaustiva de projetos audiovisuais em espaço urbano, da sua avaliação e da relação entre estes, concluímos que teríamos que criar uma envolvência onde os materiais utilizados serviriam para integrar o público numa relação mais imersiva com a obra. Neste sentido, a escolha dos materiais, como os lasers, o fumo e o som dos telefones do público pareceram-nos os mais apropriados para corresponder às premissas do projeto, uma vez que permitiram a participação coletiva do público, a contemplação e uma maior relação com o lugar.

Assim a experiência artística deste projeto passa por atribuir ao público um papel determinante através da ativação do som do dispositivo móvel de cada um.

Figura 17 - Plataforma on-line áudio.

Desta forma os conteúdos visuais e sonoros foram predefinidos numa timeline de 20 minutos em loop, em que foram divididos por quatro temas relacionados com a festa popular São João: água, fogo, solstício e celebração. Cada um dos temas foi desenvolvido através das imagens-referente (cores e formas), como através do som.

A configuração da instalação foi composta por dois laser RGB, colocados na parte superior da praça, en- quanto à volta da praça foram instaladas quatro máquinas de fumo e quatro máquinas de haze. As formas e as animações dos lasers, sincronizadas com o som foram desenvolvidas por softwares já existentes.

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Através da projeção da luz no fumo e no haze foi-nos possível criar formas volumétricas um ambiente imersivo em que o público podia andar livremente na praça, criando assim uma performance coletiva. As- sim, através da uma relação entre as imagens e o som conseguimos criar uma experiencia de sinestesia, criando uma experiencia multissensorial.

Figura 18 - Openfield. Lasers de São João, Praça Humberto Delgado, 2016.

Vídeo: https://vimeo.com/175380946

CONCLUSÕES

No âmbito deste projeto, e de forma a percebermos quais os objetivos alcançados e os menos consegui- dos, desenvolvemos uma análise do desenvolvimento do projeto, a sua implementação e posteriormente as consequências do mesmo.

Primeiro sob o nosso ponto de vista de que desenvolveu o projeto, em segundo lugar sob o ponto de vista do público e em terceiro lugar o feedback de quem fez a encomenda do projeto.

1: sendo o primeiro objetivo deste projeto a criação de uma performance audiovisual imersiva, concluímos que os objetivos foram alcançados em quase todos os pontos: criar uma performance coletiva em espaço urbano com o objetivo de tornar a praça um lugar de encontro e contemplação. Concluímos também que os materiais utilizados para criar as imagens (laser, fumo e haze) funcionaram como pretendíamos, crian- do uma experiência imersiva em que o público se fundiu no centro da ação, tomando uma maior consciên- cia em relação ao espaço à sua volta.

2: sob o ponto de vista do público e através de entrevistas informais e de alguns registos vídeo realizados no espaço expositivo, conseguimos perceber que foram várias pessoas se deslocaram ao local em diver- sos dias, criando assim uma maior relação entre elas e com esta praça especifica. O mais interessante foi perceber que algumas pessoas que usavam esta praça apenas como local de passagem, passaram-na a usar durante os dias da performance como local de encontro e de contemplação. Podemos assim concluir que conseguimos alcançar um dos objetivos principais desta performance; criar uma experiencia imersiva através de uma performance coletiva pelos utilizadores como também criar uma nova leitura do lugar. Teremos que salientar neste ponto o facto de não termos conseguido a interação através do uso dos dispositivos móveis. Após o primeiro dia do evento percebemos de imediato que as pessoas não estavam

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a utilizar os dispositivos móveis de forma a evidenciar a performance coletiva, devendo-se tal ao facto do público preferir usar os dispositivos para registar fotograficamente o evento. Tivemos assim que alterar a forma como difundimos o som para um dispositivo clássico, ou seja, através de um sistema de som (colu- nas, PA).

Concluímos assim que entre as premissas iniciais do projeto e a sua implementação teremos que estar su- ficientemente abertos e atentos in loco para alterar aspetos que não funcionam, como neste caso, o som. 3: Sob o ponto de vista do cliente, conseguimos perceber que os objetivos foram alcançados, não só pelo seu feedback, quer nos dias do evento como nos dias posteriores, como também pela elevada quantidade de partilhas nas redes sociais entre os utilizadores. Outro fator determinante para o sucesso deste pro- jeto foram os inúmeros artigos que foram feitos por vários meios de comunicação social durante o dia do evento.

Acreditamos assim, que o projeto teve o impacto, quer nas pessoas como na cidade, como inicialmente estava previsto.

BIBLIOGRAFIA

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